A resposta da Globo ao GGN

Da Comunicação da Globo

Reportagem do Fantástico de ontem: clique aqui

 1)         As mães paulistas que adotaram crianças na cidade de Monte Santo, na Bahia, foram apresentadas pelo Fantástico como integrantes de uma quadrilha que traficava crianças (14/10, 21/10, 28/10 e 4/11). Quais as provas levantadas pelo programa de que elas cometeram esse crime?

O Fantástico nunca se referiu às mães paulistas, cuja identidade jamais revelou, como integrantes de uma quadrilha que traficava crianças. O programa revelou um processo considerado irregular de adoção, que não considerou exigências legais, como a presença do Promotor de Justiça e dos pais biológicos na audiência com o juiz que autorizou a entrega das crianças. A irregularidade foi constatada pela Secretaria de Direitos Humanos do governo federal, conforme informado pelo Fantástico. A ministra Maria do Rosario afirmou em entrevista ao programa que a secretaria acompanhou o processo e constatou “irregularidades absurdas” no mesmo.

O Fantástico, repetimos, não apresentou, em momento algum, os pais adotivos como parte das irregularidades verificadas no processo. Muito menos os acusou de fazer parte de uma quadrilha.

2)         Para caracterizar o tráfico, é preciso ficar provado que as pessoas envolvidas receberam ou pagaram dinheiro para dar as crianças em adoção ou para adotar. Quais as provas de pagamento levantadas pelo programa?

O Fantástico comprovou nas reportagens que o processo de adoção não respeitou os preceitos legais. Nos processos relatados uma mesma intermediaria – Carmen Topschall – levou as famílias interessadas na adoção até cidades do interior da Bahia. Carmen Topschall está sendo investigada pela CPI da Câmara que investiga tráfico de pessoas. Mas o programa não acusou as mães de nada.

Foto: Ignacio Lemus3)         As mães denunciadas pelo Fantástico estavam inscritas no Cadastro Nacional de Adoção, algumas já tinham filhos adotados, têm bons antecedentes, vida familiar estável, emprego e garantem não terem pagado nada pelas adoções. O Fantástico chegou a ter acesso a essas informações? Não as considerou relevantes para a reportagem?

O Fantástico não denunciou mãe alguma. O programa não entrou no mérito da questão. A reportagem, conforme registros exibidos, tentou, por várias vezes, contato com as famílias, sem sucesso.

4)         A família biológica das crianças de Monte Santo (o pai, Gerôncio, e a mãe, Silvânia) colecionava uma extensa lista de denúncias contra ela no Conselho Tutelar da cidade. Silvânia foi acusada de maus tratos e abandono das crianças e recebeu termos de advertência do Conselho Tutelar. Há igualmente queixas contra Gerôncio. Essa documentação baseou a decisão do MP da Bahia de pedir medidas de proteção para as crianças, que foram consideradas em risco. Por que o programa afirma que as crianças foram tiradas da mãe sem que fossem ouvidos os pais, se o Conselho Tutelar fazia o acompanhamento da família desde 2010 e produziu essas provas? Por que o Fantástico considerou que existiam provas suficientes para acusar os pais adotivos de tráfico, e não considerou as provas produzidas pelo Conselho Tutelar de que a família biológica mantinha as crianças sob risco?

O Fantástico nunca insinuou que os pais adotivos participaram de tráfico. Nem mesmo revelou a identidade deles.

Na primeira reportagem, está dito que o juiz que autorizou as adoções se baseou em 2 relatórios contraditórios: o do Conselho Tutelar, que não encontrou irregularidades na casa da mãe biológica das crianças; e o da assistente social da prefeitura de Monte Santo, que registrou que os meninos faltavam a escola. O Fantástico foi até a escola e entrevistou a diretora. Em entrevista exibida, a diretora disse que as crianças frequentavam a escola, levadas pelos pais. E que não tinham comportamento agressivo próprio de crianças maltratadas. A diretora afirma na entrevista que as crianças eram bem cuidadas. Os agentes municipais de Saúde também elogiaram o cuidado dispensado às  crianças e não encontraram nelas qualquer sinal de desnutrição. Vizinhos da família ouvidos pelo Fantástico não apontaram qualquer indício de maus tratos.

5)         Três dias antes da devolução das crianças, Gerôncio, o pai biológico, foi detido por ameaça de estupro. Por que isso não foi noticiado, na matéria do Fantástico sobre a devolução? Essa informação não foi considerada relevante pelo programa, sendo que o argumento fundamental para o andamento do processo de adoção das crianças e a entrega delas a famílias adotivas foi o fator risco para a segurança delas?

Já no inicio da primeira reportagem do Fantástico, o telespectador é informado que os pais biológicos das cinco crianças levadas à adoção já eram separados, vivendo em casas diferentes. Era a mãe biológica quem tinha a guarda dos filhos e era responsável por eles. Geroncio, o pai biológico, sequer estava presente no momento em que as crianças foram levadas de casa, porque já não vivia com Silvania, a mãe biológica. No momento da devolução, as crianças foram entregues à mãe biológica, que tinha a guarda das mesmas. Na última reportagem exibida, mostrando a chegada das crianças a Monte Santo, Gerôncio aparece como visita à casa de Silvania.

6)         No segundo programa da série, é apresentado o caso de outra mãe de Monte Santo que teria perdido o filho irregularmente. O fato de existir um segundo caso, segundo o programa, era a prova da existência, de fato, de uma quadrilha de tráfico de crianças que atuava em Monte Santo. Por que o Fantástico não informou ao telespectador que o juiz que liberou essa segunda adoção era Cappio, aquele que denunciou ao repórter José Raimundo a existência de uma suposta quadrilha que atuava sob a proteção do juiz anterior, Vitor Bizerra?

Na segunda reportagem, o Fantástico mostra outros casos de mães pobres, que também perderam seus filhos em processos de adoção considerados irregulares pelo Ministério Público da Bahia, conforme exibido pelo programa. Nenhum desses processos foi autorizado pelo juiz Cappio, que ainda não respondia pela comarca de Monte Santo. Todos os casos mostrados em nossas reportagens aconteceram na gestão do juiz Vítor Bizerra e seus antecessores.

Respostaclique aqui para ler documento comprovando que o juiz desse processo era Luiz Cappio.

7)         Em entrevista ao JornalGGN, uma das mães acusadas pelo Fantástico, Letícia Fernandes, afirma que o repórter José Raimundo, ao ser abordado por ela em Monte Santo, disse que a motivação da reportagem foi apenas “negócios”, numa alusão ao fato de que uma matéria desse teor deveria sair antes de iniciada a novela Salve Jorge, que trata de tráfico de crianças. O que a emissora tem a dizer sobre essa afirmação?

O Fantástico não fez qualquer acusação a citada senhora. A informação atribuída ao repórter José Raimundo é falsa e injuriosa. O repórter não falou o que lhe foi atribuído por Letícia Fernandes. 

8)         Na mesma entrevista, Letícia afirmou que o juiz Cappio, que interveio no processo de adoção, depois da denúncia do Fantástico colocou um carro de polícia na porta da casa de Silvania para impedir que ela saísse para trabalhar na boate, de noite, enquanto deixava os filhos sozinhos, como costumava fazer, pelo menos até que saísse a sentença sobre a guarda das crianças. Ela teria escapado uma vez e foi escoltada de volta para casa pelas autoridades policiais da cidade. O Fantástico não registrou essa medida atípica da autoridade judicial?

O repórter José Raimundo, que foi à cidade de Monte Santo por cinco vezes durante a preparação das reportagens, desconhece esse suposto fato e jamais ouviu falar dele. Não há registro do fato acima mencionado na delegacia de Monte Santo.

No final da tarde de ontem (6), a assessoria da Rede Globo solicitou ao Jornal GGN que acrescentasse aos esclarecimentos o seguinte parágrafo:

“O Fantástico apura as notícias sempre com zelo, e foi o que ocorreu também neste caso. Diferentemente do que diz a matéria “CNJ abre procedimento contra adoções do juiz Luiz Cappio”, o CNJ não mandou apurar nenhuma adoção feita pelo juiz Luiz Cappio nem tampouco nenhuma atividade do mesmo juiz. Todos os processos mencionados na nota do Tribunal de Justiça da Bahia dizem respeito às adoções autorizados pelo juiz Vitor Bizerra, este sim objeto de investigação pelo CNJ. As requerentes são as mães adotivas que tiveram de devolver as crianças à mãe biológica (basta ver o nome das requerentes). A nota do TJ da Bahia diz respeito à sindicância aberta pelo próprio tribunal para apurar o que considera comportamento indevido do juiz Luiz Cappio junto a promotores e advogados e a suposta baixa produtividade do magistrado, acusações que ele nega. Basta procurar o CNJ e perguntar se há ali algum procedimento aberto contra o juiz Cappio. Além disso, o Fantástico reitera que não noticiou adoção autorizada pelo juiz Cappio. Basta rever as reportagens. Nelas, as mães biológicas citadas são Marivalda de Souza Santos, Eunice de Jesus e Odília Barbosa. O documento anexado não traz esses nomes, mas outros: trata-se de um processo de adoção autorizada pelo juiz Cappio em outra comarca e que não foi objeto de nenhuma matéria do Fantástico.”

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Monte santo

    Meu nome é Silvia Quelhas Rachid, moradora da cidade de Americana, quero dizer que como uma telespectadora do programa do fantástico que fez a denuncia de Monte Santo, declaro que, o mesmo, fez com que as mães adotivas parecessem pessoas da quadrilha de trafico de pessoas. Pode não ter sido diretamente a acusação, porém nas entrelinhas estava claro que a Globo quis acusa-las. Não apenas eu, e sim, todas as pessoas que assistiram concordam que a Globo fez com que elas parecessem parte atuante da quadrilha. Podem não ter citados nomes, nem feito a denuncia claramente, porém se questionar qq pessoa que assistiu ao programa acusará 100% as mães adotivas como “receptoras” das crianças e participantes ativas do trafico. Acho sim que a GLOBO tem que se retratar com elas.

  2. Rede Globo DEVE se retratar

    Demorou para a Rede Globo se retratar publicamente. 100% das pessoas com quem comentei sobre o caso me disseram: Como vc pode defender aquelas ladras de crianças, com certeza elas deram dinheiro pra alguém ir lá e arrancar as crianças da mãe, vc não viu a reportagem???

     As crianças chegaram com sérios sinais de maus tratos, este fato foi totalmente ignorado.

    Ignorado tbm foi o fato de a mãe frequentar uma boate, de ter sido chamada várias vezes ao conselho tutelar por maltratar as crianças…

    Parabéns Rede Globo, você conseguiu! Tirou a oportunidade q essas crianças tinham de ter um futuro melhor, ao lado de pessoas que lhe davam amor, tudo isso pra promover uma novelinha de merda q nem audiência teve direito.

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