Entrevista: A Droga Social é a Desigualdade

do blog de Antonio Ateu

do Fluxo.net

CARL HART: ‘É POSSÍVEL ENTENDER O CRACK’

“A SOCIEDADE USA O CRACK COMO UMA DESCULPA PARA VILANIZAR UMA CAMADA DA SOCIEDADE. E PARA NÃO LIDAR COM O PROBLEMA REAL: A DESIGUALDADE”

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Fluxo acompanhou a visita do neurocientista Carl Hart ao Brasil. De laboratórios às favelas, de universidades às bocas de crack, a demonstração de que o “problema do crack”, no fundo, não é o crack…

Carl Hart não veio ao Brasil a passeio. Não mesmo.

Hospedado de frente para o mar em Ipanema, o neurocientista mal olhava pela janela. Deu de ombros para o Pão de Açucar nem colocou o pé na areia do Rio. Seu interesse estava a 180o e muitos quilômetros da orla. “Paisagem bonita tem no mundo todo. Eu vim para conhecer a questão do crack”, disse no topo do castelinho da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, entediado com o tour pelo mais antigo e importante centro de pesquisas de saúde pública no país. Mas daquele mirante ele podia enxergar mais do que os morros a matas ao horizonte. Era possível ver a comunidade de Manguinhos, onde havia, segundo escutou, uma das “cracolândias” brasileiras.
Era lugares como esse que Carl Hart queria conhecer. E era sobre as pessoas que viviam ali, particularmente as em situação de exclusão extrema, que Carl Hart queria falar em sua série de compromissos públicos no Brasil.

Falou em auditórios lotados no Rio, São Paulo e Brasília. Deu dezenas de entrevistas e autografou centenas de cópias de seu livro “Um Preço Muito Alto”. 

Fluxo acompanhou de perto a estada de Carl Hart. Esteve com ele nas conferências, nas visitas às comunidades, hospitais e cenas de uso de crack. Na Marcha da Maconha e nas vans que o levava dos hotéis 5 estrelas para as periferias. Em salões nobres e em comunidades ocupadas pelo exército.

E produziu um min-documentário sobre Hart testemunhando a manifestação das contradições entre o que a sociedade pensa e o que a ciência tem a dizer sobre o “problema do crack” no Brasil. E sobre como ele lamentou perceber que hoje nosso país está repetindo os mesmos equívocos e a mesma paranóia em relação ao crack que os EUA viveram nos anos 1980.


Direção: Bruno Torturra
Câmeras: Fernando Ligabue, Bruno Torturra e Tatiana Tófoli.
Edição: Felipe Carreli e Bruno Torturra.

http://www.fluxo.net/tudo/2014/8/19/carl-hart

 

Redação

3 Comentários

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  1. “A SOCIEDADE USA O CRACK COMO

    “A SOCIEDADE USA O CRACK COMO UMA DESCULPA PARA VILANIZAR UMA CAMADA DA SOCIEDADE…”

    A sociedade que constitui o problema real não é a mesma presumida pelo significado da palavra que procede o caminho de volta para o “valor” de alguns de nós.

    Ou seja: a sociedade se tornou a força para praticar um sistema indicado que, em seguida, não consiste em medida para ela mesma praticar o seu valor imanente.

    A sociedade real pertence a sociedade dos bancos que remontam os valores para aqueles que precisam apenas do seu ponto de partida, mas os dados dos fatos que os dirigem não pertencem a eles. 

    Enquanto a propriedade privada vilaniza os diferentes dados sociais, a identidade civil não existe.em uma situação idêntica.

    Dai a desigualdade social.

     

  2. Erro de tradução:

    ADDICTIVE = VICIADO, VICIANTE

    Na legenda está aditivo, mancada total. Ele quis dizer na parte do texto referida :

    “Eu penso que cocaína, em qualquer forma, é potencialmente VICIANTE…” e no restante das drogas citadas ele segue o mesmo raciocínio quando diz toda droga pode ser VICIANTE ( Com alto potencial de deixar o usuário viciado = ADDICTIVE).

    Gente… um vídeo tão bem feito dar uma mancada básica dessa de tradução ??!!! Cadê o revisor ???

  3. Não passamos de Avestruzes!


    São vários os problemas para serem resolvidos apenas com uma penada de um “neurocientista”, seja lá o que isto representa.

    Querer igualdade social de toda a comunidade negra apenas pouco mais de 100 anos após a sua libertação da condição de escravos, onde a maioria estava amontoada em senzalas, é esperar demais. Em poucas gerações os escravovratas teriam que mudar muito seu modo de pensar e sentir. Se há alguns anos atrás eram capazes de admitir o domínio cruel sobre outros seres humanos, seria de admirar se todos se penitenciassem de sua arrogância, pretensão e brutalidade em tão pouco tempo e pasassem a transmitir aos seus descendentes valores culturais completamente opostos. De igualdade, fraternidade e solidariedade. Se a reparação deste erro não houve, acho até que, sob certos aspectos, muito se avançou nesta questão racial e social.

    Por decreto pode-se imediatamente dar fim à discriminação, mas a mudança da cultura leva mais algum tempo. Históricamente têm-se que levar em conta que a escravidão de seres humanos por outros seres humanos não era uma premissa de brancos contra negros. Mas existia em várias culturas e etnias, inclusive de negros contra negros.

    Como vivi e trabalhei em cidade africana, posso dizer, por incrível que pareça, que a condição de melhoria de vida de muitos negros que lá ficaram, e não foram submetidos a degradação e humilhação de serem trazidos para o Brasil na condição em que foram, é muito pior que a condição dos que para cá foram arrastados.

    Quanto a criminalização da droga é outro erro cruel da sociedade!

    Não sei como não percebem que se toneladas de drogas são apreendidas é por que existem consumidores para estas toneladas de drogas. Ao invés de pararem para pensar e resolver o problema, preferem ficar “brincando de gato e rato”. E nesta brincadeira, no limiar da ilegalidade, prosperam todas as degradações humanas.

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