Tive um amigo filiado na Arena, por Silzi Mossato

mao1Do blog Lá Vem Maria, de Silzi Mossato

Tive um amigo que era filiado a antiga ARENA. Era (ou é) uma ótima pessoa. Eu não conseguia entender aquela filiação, mas minha ignorância nunca chegou a interferir na nossa convivência. Com o tempo entendi que a imensa distância entre a pessoa e o regime não podia ser percebida pela primeira e aceitei o fato.

Isto aconteceu entre os anos de 1978 e 1982. Um período em que o ABC paulista fervia. Frente a minha posição favorável ao movimento, o amigo arenista me taxava de russista, lulista e comunista. Eu contra argumentava. Esclarecia que era a favor dos direitos de trabalhadores que deixavam grande parte de suas vidas nas fabricas para que suas famílias pudessem morar, comer, vestir, ir ao médico. Natural que as pessoas que criavam riquezas transformando matérias primas em produtos, usufruíssem dos lucros. Nada mais justo que essa parcela fosse suficiente para uma vida digna, com boa moradia, carro, escola para filhos, tratamento de saúde e lazer. Eu argumentava, mas nossos universos não convergiam e o amigo nunca mudou os rótulos com os quais me definia. Repetidas vezes perguntou se preferiria viver nos Estados Unidos ou na União Soviética. Repetidas vezes respondi que preferia o meio do caminho. Hoje talvez respondesse que prefiro Cuba ou Bolivia, não por questões relacionadas aos regimes políticos ou desenvolvimento tecnológico, mas pelos aspectos humanos. Ele nunca entendeu a lógica de meus pontos de vista e creio que hoje também não entenderia.

Embora a maioria das pessoas do meu convívio direto – professores, profissionais da cultura e de outras áreas de humanas – sejam de esquerda, muitos conhecidos são claramente da direita brasileira. Sei, inclusive, de boas pessoas ligadas as bases do PSDB. Confesso que assim como em 1980 enxergo uma imensa distancia entre o jeito de ser dessas pessoas e as práticas deste partido, principalmente dos políticos que estão há muito tempo no poder.

De posse de algum conhecimento relativo a interferência da mídia na construção dos valores e vendo televisões ligadas nos cantos mais remotos do país, encontro explicação para o fato. Não há, nas transmissões destes veículos uma segunda versão, um segundo ponto de vista. Não há sequer uma fresta por onde olhar um pouco mais à frente.

Entendo que o ponto de vista único e unilateral da mídia, tão incansavelmente repetido, está tão arraigado, que concepções relacionadas a direita e a esquerda (se é que a classificação ainda tem validade), tanto quanto outros estereótipos beiram a mitificação e só pode ser quebradas pela práxis, pela reflexão e crítica.

O poder da mídia instalada no Brasil (me recuso terminantemente a chamar esses veículos de brasileiros, pois detonam o pais sem piedade) está calcada na falsa premissa da imparcialidade e da propagação da verdade. Poder que  cresce e perpetua as custas da nossa subserviência, da nossa passividade, do tempo de vida que gastamos na frente dos aparelhinhos cheio de pontos luminosos. Poder de grupos que usam esse contingente humano em detrimento do próprio, para beneficiar a si e àqueles com mantém negócios.

Usando as premissas da imparcialidade e de detentora da verdade, abusando da repetição e da mistura de conteúdos ficcionais com a realidade, impregnam em qualquer outro ponto de vista que possa ser expresso a qualidade de invencionice e inverdade.

Neste contexto, quem vê o mundo com olhos próprios tem a voz sufocada, impedida de ecoar por mãos inescrupulosas a tapar-lhes a boca.

Redação

9 Comentários

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  1. Arena

    Cai a máscara de mais um hipócrita: Heródoto Barbeiro, defensor da democracia de araque

     O blogueiro do Cloaca News, colega de guerrilha virtual contra a ditadura midiática da direita, lembrou bem de algo que eu queria falar faz tempo. É sobre o jornalista Heródoto Barbeiro, mais um daqueles hipócritas e falso moralistasta que hoje posa de defensor das democracias e vestal da ética (quando, obviamente, é para falar mal do Lula ou de qualquer outro político de esquerda), mas que no passado não muito distante esteve alinhado com o que há de mais podre no mundo. Confiram abaixo.

    – André

    A HISTÓRIA QUE HERÓDOTO APAGOU Continua aqui:http://tudo-em-cima.blogspot.com.br/2009/08/retrato-de-um-hipocrita-herodoto.html 

  2. Tenho amigos de Direita…

    Tenho bons amigos que são de Direita, mas não consigo mais conviver com eles. De um, dos mais próximos inclusive, me afastei por conta disso. Eu frequentava com habitualidade a casa dele, mas as demais pessoas que ele convidava eram todas de Direita. Eu era o único esquerdista na área.

    De início isso não causou problema, mas pouco a pouco vi que a galera começou a me topar mal. Sabe aquele pessoal que usa o IPhone em inglês e fala de bares e restaurantes de Miami e Nova York com a familiaridade de quem fala da padaria da esquina? Pois é. Tem ódio do PT, detonaram horrores a PEC das Domésticas (ficaram irritadíssimos porque eu disse que “o PT tirou o mordomo de vocês…”) e acham o Bolsa-Família compra descarada de votos. Acreditam em tudo que leem no Facebook e no resto da internet, desde que seja contra o PT…

    Resumo da ópera: deixei de ir à casa desse amigo. Passei a dar desculpas para os convites, que se espaçaram – acho que sacaram ou então cansaram de mim mesmo, este esquerdista que ficava tisnando os sonhos dourados da Classe A…

  3. é muito difícil semão quase

    é muito difícil semão quase impossível conviver

    com pessoas que desirmanam, separam, são exclusivas.

    não pensam no outro.

    a gente logo pensa na ditadura, holocausto etc e tal.

    aí a tendencia é esquecer o tal do “amigo”!

    mui amigo, hein?

    1. “Desirmanaram”

      Ótimo verbo, Altamiro! Vou adotar, é daquelas palavras que prontamente esclarecem a situação, dispensam maiores comentários e explicações!

  4. Erly Ricci, muito bom

    Erly Ricci, muito bom testemunho e reflexão. Sinto praticamente o mesmo. E isso não é o pior.Tenho a nítida sensação de que a elite midiática brasileira possui ojeriza ao PT de tal magnitude, conduzida a tal extremo, que está disposta a extirpar esse partido do poder a qualquer preço. E quando digo qualquer preço me refiro, não somente ao prejuízo ou mesmo falência de algumas delas, mas também à possibilidade de insuflar um caminho não democrático. Ainda que leve em conta o nítido elitismo e preconceito que emana dessa conduta, para mim é incompreensível tal comportamento. A não ser que existam outros atores, muito poderosos e extraterritoriais, agindo por detrás delas. Talvez, e aqui vai mais uma teoria da conspiração, as corporações que de fato controlam essas empresas não se preocupem em perder alguns peões nessa luta que envolve valores mais importantes, como o ultraliberalismo financista. Enfim, são conjecturas paranoicas criadas como tentativa de explicar o aparentemente inexplicável.

    1. George Soros e CIA?

      Marcio, vi agora mesmo no twiter de Stanley Burburinho: “Veteranos do Exército dos EUA.afirmam que CIA e George Soros bancaram Marina, agora, Aécio – /Pois é.” Fui no link e li a matéria, em inglês, que mostra realmente evidências de que a CIA está metida até as tampas numa clara conspiração para influenciar estas eleições, desde as tais “jornadas de junho de 2013 até, talvez, o acidente que matou Eduardo Campos. Armínio Fraga deixou tudo lá no norte da América para vir trabalhar com o Aécio. Os maiores investidores da elite midiática, como você diz, são as multinacionais. Pois é….

       

      1. Soros financiar o Aécio não é difícil

        O garoto-bomba do Soros, o Armínio Fraga, já ser ministro nomeado do Aécio é um claro indicativo disso…

  5. Os arenista ainda estão aí a

    Os arenista ainda estão aí a engrandecerem aquela ditadura que impediu o progresso do Brasil. São milhões de Bolsonaros espalhados no nosso território. E todos eles estão votando em Aécio, não por verem nele algum traço de arenista, mas porque odeiam o PT, e entendem que o candidato realmente é capaz de tirar esse partido do poder. 

  6. E o HB hoje trabalha na

    E o HB hoje trabalha na emissora do “bispo”, aquele que deu prá andar de boina e xale!

    O Ciro Gomes também foi da ARENA JOVEM – e hoje é um cara sensato, uma voz interessante fora do PT (acho eu).

    E o “PAULO KOBAYASHI”, professor, mencionado pelo Cloaca, seria parente do “Paulinho Kobayashi”, que jogou no Santos e no São Paulo, entre outros clubes?

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