Democracia populista barulhenta x Ditadura politicamente-incorreta silenciosa

Os seres humanos são maleáveis do ponto de vista ideológico. Isto permite que eles vivam e defendam monarquias (Inglaterra) e republicas (França, Brasil e Alemanha), que eles construam regimes tolerantes (Holanda) e suportem ditaduras repressoras (Brasil de 1964/1988). Mas em todos lugares os seres humanos são biologicamente iguais. Todos tem necessidades básicas: sede, fome, higiene, atividade e descanso.

 

Qualquer regime político que dê aos seres humanos condição de satisfazer de suas necessidades mais básicas tem boas chances de seguir existindo. Governos que deixam suas populações sedentas, esfomeadas ou mantidas sob stress exagerado não tem futuro.

 

Mas os ideólogos acreditam que a ideologia move o mundo, que os agrupamentos humanos são conduzidos por ideologias bem concebidas, que a força e perenidade dos regimes políticos deriva da coesão ideológica que eles são capazes de produzir. A História, porém, prova que as coisas são bem mais simples.

 

As revoluções francesa e russa foram, em grande medida, produzidas pela fome e não por ideologias revolucionárias. A tensão produzida pelo terror na França à medida que começou a decapitar até líderes da revolução foi capaz de interromper a mesma, abrindo caminho para o bonapartismo.  A derrocada do socialismo real ocorreu apesar da intensa produção e difusão ideológica comandada pelos governantes autoritários que governavam os satélites da URSS e a própria URSS. O orgulho imperial português não foi uma ideologia suficientemente forte para preservar o regime salazarista em 1974. Os portugueses estavam cansados de perder seus filhos nas guerras coloniais africanas, irritados com o empobrecimento crescente e continuo do país a ponto de apoiarem o fim do império de maneira quase unânime.

 

Esta é uma lição que os petistas precisam aprender. Digo isto pensando na minha experiencia pessoal. Há dez anos moro na periferia da cidade, em um condomínio de classe média que fica próximo ao Conjunto dos Metalúrgicos. Entre ambos havia um córrego e o local era muito silencioso a noite. O córrego foi canalizado por um prefeito petista. Após o aterramento e nivelamento do local o mesmo foi  transformado num Parque pelo novo prefeito da cidade (que também é do PT). A melhoria teoricamente valorizou meu imóvel. Portanto, eu deveria estar feliz. Mas não estou.

 

A prefeitura de Osasco instalou um palco no local. E agora todo sábado a molecada da região fica tocando funk lixo alto até tarde da noite. Ontem o barulho me incomodou e à vizinhança até 3 horas da madrugada. Fiquei tão irritado que a partir das 2:30 da madrugada comecei a ofender o PT, Dilma Rousseff e o prefeito petista pelo Twitter. Sou eleitor de Dilma Roussef e defensor dos programas sociais que ajudaram a desenvolver o país desde o primeiro governo Lula, mas minha paciência tem limite.

 

Na próxima eleição municipal votarei em qualquer candidato de oposição que prometa retirar aquele palco do Parque. Pelo que tenho ouvido no ponto de onibus  toda segunda-feira, o mesmo será feito por muita gente cujo sono tem sido interrompido porque a prefeitura de Osasco resolveu propiciar “cultura” a um punhado de jovens barulhentos. Já estou sentido saudades do tempo em que meu imóvel tinha menos valor econômico e o bairro mais noites silenciosas e tranquilas. Se nenhum prefeito resolver o problema, começarei a questionar a viabilidade da própria Democracia. Uma Ditadura que me deixe dormir seria mais adequada?

 

Não, não tenho saudades da Ditadura que findou em 1988. Também a combati e apoiei a esquerda no princípio da década de 1980. Votei em Dilma Rousseff. Meu Senador é do PT, meu Deputado Federal é da base aliada do governo petista. Não será por ideologia que votarei nos opositores do PT em Osasco. Nem será por autoritarismo que começarei a questionar a viabilidade do regime democrático. A verdade é que o stress provocado pela cretinice de um prefeito petista que não mora próximo ao barulho que produz é mais forte do que qualquer convicção que eu tenha tido.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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