Dólar, ideologia e economia

Decidi retomar este texto que escrevi no início do ano em razão de uma notícia recente https://www.rt.com/business/322879-ruble-goldman-sachs-currency/. A análise feita pelo Goldman Sachs hoje confirmou a avaliação que eu havia feito do grande potencial lucrativo da moeda russa. Meu texto passou despercebido e nem mesmo foi destacado no GGN. Melhor assim, várias pessoas deixaram de ganhar dinheiro. Azar delas. De resto não vejo porque mudar uma só palavra do que escrevi.

Economia deveria ser uma atividade racional. Mas não é. A prova empírica desta conclusão é dada pelo dólar.

Desde a década de 1970 a moeda norte-americana não tem lastro em ouro. Portanto, o dólar é um papel moeda auto-referente, que expressa mais ideologia do que valor. O único valor agregado ao dólar é a existência de uma máquina de guerra imperial capaz de impor a vontade dos EUA fora do país. Mas a vontade soberana da Casa Branca encontra limites onde quer que exista uma potência militar  capaz de ferir mortalmente os EUA com centenas de bombas de hidrogênio e milhares de bombas atômicas.

Funny money… era assim que os soldados Aliados chamavam a moeda impressa às pressas para circular na Alemanha ocupada. No setor soviético o dinheiro era outro e igualmente engraçado.

O dólar ancorado no ouro foi a moeda internacional ocidental no pós-guerra. Agora ele mesmo é uma espécie de funny money e isto explica o porque os EUA tem que estar constantemente em guerra. No dia em que parar de impor sua vontade à força ou ter suas forças armadas destruídas, o dólar deixará de ser engraçado e perderá totalmente seu valor. Portanto, as pessoas deveriam pensar duas vezes antes de transformar suas economias em dólar. Do ponto de vista estritamente econômico, há décadas é suicídio econômico considerar a moeda dos EUA uma reserva de valor confiável.

A ideologia, porém, é mais forte que a racionalidade econômica. Os brasileiros são devoradores de dólar que detestam a variação cambial da moeda norte-americana. Quando o preço dólar cai os americanófilos ficam felizes porque podem ir para Miami passear e fazer compras, mas os exportadores se afundam na depressão psicológica e econômica (não necessariamente nesta ordem). Quando a moeda norte-americana sobe, os exportadores ficam eufóricos, mas os turistas reclamam que não podem viajar por causa do preço proibitivo das passagens aéreas e das acomodações nos EUA.

Nossa moeda é o real, mas realmente a única coisa que interessa aos ideologizados agentes econômicos brasileiros é o dólar. Como os soldados Aliados na Alemanha ocupada eles acreditam no  funny money e ficam tristes quando não podem participar da festa.

A dependência da civilização atual do petróleo transformou este produto numa outra referência de valor e, por isto mesmo, ele é chamado de ouro negro. Os EUA esgotaram suas reservas do produto e compram petróleo no exterior. A Rússia tem imensas reservas petrolíferas e, prevendo o colapso do funny money  impresso pelos norte-americanos, está comprando ouro. Do ponto de vista econômico, neste momento o rublo é a moeda mais promissora, pois ficará escorada em duas reservas de valor (petróleo e ouro). A capacidade militar dos russos de defender seus interesses também milita em favor de sua moeda.

O Brasil tem reservas em dólar, mas não deposita todas suas esperanças no funny money  norte-americano. A união monetária dos BRICS sugere que, levando em conta o longo prazo, nosso país olha o futuro com mais cuidado do que os devoradores de dólares brasileiros, quer eles sejam turistas quer sejam exportadores. O pré-sal é um recurso importante. Não pode ser desperdiçado, nem entregue aos norte-americanos como querem os amantes do dinheiro engraçado que irriga as contas-correntes de vários deputados e senadores da oposição.

Quem quiser cuidar de seus interesses levando em conta apenas e tão somente os critérios econômicos não apostará no dólar. O rublo e o real são apostas bem melhores. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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