El Dorado, ontem e hoje – amanhã talvez não

O Brasil começou a ser colonizado por causa de um mito. Milhares de camponeses e aventureiros portugueses foram atraídos para a Colônia com esperança de encontrar o El Dorado, que seria uma cidade feita de ouro http://www.infopedia.pt/$o-eldorado . Os índios, que não eram as bestas-feras descritas pelos cronistas portugueses, tomaram conhecimento do mito e passaram a utilizá-lo para desviar os violentos conquistadores de suas terras. Quando lhes perguntavam sobre o metal amarelo reluzente, os indigenas diziam aos portugueses que mais para adiante, no interior de Pindorama, havia uma serra cheia do metal (tema, aliás, explorado de forma magistral no filme Caramuru https://www.youtube.com/watch?v=nOEuBAdzsKk).

O sonho da riqueza fácil embaralhou a vida dos colonos e de seus bastardos nos tempos coloniais. Os pesadelos imperiais e republicanos não foram muito diferentes. Primeiro a riqueza fácil foi obtida com a produção de açúcar pelos negros-coisas moídos nas fazendas de cana. No final do século XVII o ouro foi realmente encontrado numa região montanhosa no interior, que recebeu o nome de Minas Gerais (mas que também poderia ser chamada de El Dorado brasílico). Café, borracha, algodão e tabaco explorados com mão de obra escrava ou semi-escrava também realizaram os sonhos de alguns a custa do pesadelo de muitos.

O Brasil chegou ao século XX rural e com algumas indústrias. Saiu dele industrializado e com uma população urbana. O sonho de enriquecer rápido, porém, não foi esquecido. Ele está na origem de três comportamentos típicos e patológicos dos brasileiros remediados: sonegação fiscal, desrespeito à legislação trabalhista e pagamento/recebimento de propinas para obtenção/facilitação de vantagens contratuais. O “outro” nunca é encarado como um conterrâneo. O Estado é apenas uma fonte de riqueza fácil (idem para as empresas estatais, como sugerem os escândalos do Metrô SP e da Petrobras).

O mais novo El Dorado que atiça a cobiça dos descendentes dos colonos bestas-feras é o pré-sal. Este mar de ouro negro no subsolo do litoral brasileiro, prontinho para ser pilhado e depois bebido, comido e vestido… nos EUA e na Europa. A mentalidade de pirata explica não somente as contas de brasileiros no HSBC na Suíça, mas o desejo de exploração rápida e lucrativa desta poupança nacional. Ninguém ficaria suspeito se alguém conseguisse comprovar que alguns tucanos (peemedebistas e outros “istas” também) estão aceitando adiantamentos em dólar e em euro das petrolíferas norte-americanas para facilitar a entrada delas na exploração do petróleo.

Quando falam “O Petróleo é Nosso”, os oligarcas do sul e do sudeste que reiniciaram a Guerra de 1932 no dia 15/03/2015 (provavelmente porque desejam embolsar no todo ou em parte os trilhões de dólares do pré-sal) querem dizer “Este Petróleo será Meu”. O povo brasileiro não é uma categoria fundamental no pensamento individualista dos colonizadores e no dos seus descendentes. Razão pela qual a minoria quer governar e dá bem pouco valor aos votos dos brasileiros que elegeram Dilma Rousseff de maneira legítima, limpa e nas urnas.

O El Dorado é uma tentação. É também uma maldição. Muitos dos colonos que se internaram na mata em procura da cidade feita de ouro morreram de doenças tropicais que eles desconheciam, de picadas de cobras venenosas, devorados por onças e feridos por índios que defendiam seu território como podiam: fazendo emboscadas, disparando flechas e dardos mortais e correndo. Aqueles que enriqueceram, o fizeram à custa do sofrimento do índio, do negro, dos seus bastardos e, mais modernamente, dos seus trabalhadores semi-escravos, mácula degradante que carregaram e que transferiram e transferem aos seus descendentes.

A vergonha da riqueza acumulada desde o início do país, porém, não faz corar os “melhores brasileiros” que foram às ruas em 15/03/2015. Eles afugentam quaisquer sentimentos humanos, patrióticos e nacionais (não necessariamente nesta ordem) com uma racionalização e uma maldição “Este Petróleo será Meu”. E sonham menos com a deposição de Dilma Rousseff do que com o tilintar do ouro e o reluzir da prata que se quer facilmente obter para se poder enterrar num Banco distante, onde se pode usufruiu a boa vida longe dos olhos do povão.

Mas a paciência do povão sempre tende a diminuir. Quem conseguiu universidade, casa e carro, agora quer mais. A maldição do El Dorado, que o índio usava para afugentar o colono português de suas terras, inoculou-se enfim no povo brasileiro. E o povo vai às ruas para dizer “O Petróleo é Nosso”  e tentam evitar as oligarquias sulistas e sudestinas de concretizar seu mantra “Este Petróleo será Meu”. Há cheiro de sangue, fezes, urina e tripas no ar. O El Dorado será enfim o barril de pólvora que explodiu na cara dos descendentes dos “senhores e doutores do Novo Mundo”. Melhor assim… 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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