O Brasil e suas fragilidades

Em texto publicado no GGN Luis Nassif fez considerações sobre o presidencialismo frágil e as lições de JK http://www.jornalggn.com.br/noticia/o-presidencialismo-fragil-e-as-licoes-de-jk

A abordagem histórica é interessante, mas devo discordar do grande jornalista. O presidencialismo no Brasil não é frágil. O que é frágil é o próprio Brasil.

Nosso país foi colonizado por aventureiros portugueses (eufemismo para predadores brancos analfabetos, semi-bárbaros e precariamente catequizados) individualistas com uso de extrema violência. Durante o processo de invasão do continente (que os historiadores chamam pomposamente de colonização) a discriminação racial e exclusão social eram a regra e fonte de lucro obtido com a extração do pau-brasil, a produção de açúcar e a mineração de ouro e pedras preciosas.

Em 1822 nos libertamos da Portugal. Mas herdamos no sangue lusitano um país sifilítico. Em 1888 abolimos a escravidão, mas os negros-coisas não foram incluídos na sociedade brasileira, não tiveram acesso á terra ou educação. Em 1889 proclamamos a república, que em pouco tempo estaria cheia de “pratiotas” como disse Benjamin Constant http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/jose-serra-o-mais-novo-pratiota-na-republica-de-benjamin-constant .

É fato: o Estado brasileiro nasceu antes da nação e esta foi imaginada antes do surgimento de seu povo. Se é que se pode falar em “povo brasileiro” neste momento em que vemos eleitores do sul e sudeste (que eu chamo de sudestinos) querendo destituir uma presidenta porque ela, segundo os mais honestos corruptos da república, foi eleita por nordestinos inferiores que recebem Bolsa Família. O território é certamente um, mas como no tempo do descobrimento ele contém vários povos.

Em recente discurso FHC disse que o povo não aceita a volta de Lula. Difícil dizer de que povo ele está falando. Certamente ele não falou dos brasileiros historicamente excluídos que, pelas mãos de Luis Inácio da Silva, puderam ter acesso à educação universitária, uma melhor remuneração em razão da valorização do Salário Mínimo e até conseguiram se transformar em consumidores de eletrodomésticos, carros, viagens aéreas…

FHC só pode ter falado do “povo dele”. Dos brancos bem nascidos e remediados que odeiam o PT, dos corruptos, policiais e militares aposentados que no dia 15/03/2015 resolveram sair do esgoto para exigir a deposição da presidenta eleita pelo “outro povo”, aquele que tem feito maiorias eleitorais nas disputas presidenciais que o partido dele perdeu.

A existência de dois povos num mesmo território não é uma novidade em Pindorama. Quando cá chegaram os portugueses encontraram centenas de povos, alguns deles em conflito com outros. Os portugueses souberam explorar as disputas indígenas. Os seus descendentes já não conseguem mais fazer isto. Prova desta incompetência é a proposta de revisão da Lei do Pré-Sal apresentada por José Serra no Congresso Nacional.

É curiosa a naturalidade com que a elite branca do início do século XXI pretende entregar a riqueza do litoral do Brasil aos norte-americanos. Os descendentes dos colonos portugueses e seus agregados (o ítalo brasileiro José Serra entre os tais) age com a mesma ingenuidade ou malícia dos tupis que habitavam Pindorama no século XVI.

Os belicosos tupis viram nos poderosos portugueses, armados com sabres de aço, arcabuzes e canhões, aliados inestimáveis contra seus inimigos tupinambás. Os tupinambás foram derrotados e expulsos do litoral, mas a vitória não resultou em proveito dos tupis. De fato, os tupis foram moídos de trabalhar, infectados por doenças que não conheciam e, depois, escravizados durante o processo de colonização.

Após sucessivas derrotas eleitorais, a elite branca e malvada, legítima descendente dos colonos, encara o povo brasileiro como seu inimigo. E vê nos norte-americanos, sempre dispostos a usar suas frotas de porta-aviões nucleares, mísseis balísticos e milhares de caças supersonicos, um aliado inevitável contra os índios que elegeram Dilma Rousseff e Lula antes dela. O PSDB quer transformar o litoral de Pindorama numa província petrolífera dos EUA. A nova colonização será pacífica e dará segurança ao povo de FHC.

A fragilidade do Brasil faz a roda da História girar e ela se repete. Os atores não são os mesmos e alguns deles ocupam posições diferentes. Alguém sentirá pena dos tupis de FHC quando eles forem moídos no processo de colonização norte-americana do litoral de Pindorama?

Fábio de Oliveira Ribeiro

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