Roma x Roma: um épico histórico pós-moderno

 

Além de financiar nazistas na Ucrânia e de enviar tropas para aquele país a fim de desafiar os russos, o governo dos EUA intimou os líderes mundiais a não participarem da comemoração da vitória da Rússia na II Guerra Mundial  http://linkis.com/sputniknews.com/poli/g54si .

Uma nova guerra fria está prestes a ficar quente? A conduta dos líderes europeus, que estão se afastando dos EUA e se aproximando da China, sugere que sim.  

EUA e Rússia são diferentes e, paradoxalmente, semelhantes.

Entre os séculos IX a XI  os “rus de Kiev” se tornaram ortodoxos e ficaram sob a influência política da II Roma (Império Romano do Oriente com sede em Bizâncio). No século XIII os “rus” já haviam transferido sua capital de Kiev para Moscou e se transformado num reino ortodoxo mais ou menos unificado que sofria, entretanto, constante pressão militar da Horda Dourada (mongóis) e do poderoso império da Lituânia. 

Após a queda da II Roma (1453), os “rus de Moscou” (cujos reis já descendiam de príncipes russos casados com princesas bizantinas) assumiram o principal símbolo imperial romano: a águia bifronte. A Rússia se livrou da influência mongol e começou a se expandir para dentro do decadente império da Lituânia, emergindo como o poder dominante entre a Europa e a Ásia (posição que ocupa desde então). Data desta época a profecia ortodoxa segundo a qual a I e a II Roma caíram, mas a III Roma não cairá. A III Roma é, evidentemente, a Rússia.

Os russos já tinham um império quando os norte-americanos resolveram colonizar o interior do seu país. O poder norte-americano cresceu I Guerra Mundial e se expandiu ainda mais com a derrota do Japão imperial e a ocupação da França, da Bélgica e da Alemanha nazista. Os edifícios estatais vagamente inspiradas na arquitetura imperial romana que decoram Washington sugerem que, assim como os russos sucederam Bizâncio, os norte-americanos tem a pretensão de reencarnar o Império Romano do Ocidente. A águia que simboliza o poder internacional dos EUA não é bifronte como a da Rússia.

O império norte-americano tem apenas um século e já se encontra em frangalhos. A China financiou a guerra do Iraque e emerge como poder mundial dominante a quem a Rússia já começou a fornecer petróleo e gás em abundância. Os EUA não conseguiram tirar grande proveito econômico e militar da invasão e saque do Iraque. Os parceiros tradicionais europeus dos EUA aderiram ao Banco de Investimento chinês contra a vontade expressa da Casa Branca. A América Latina já está fora da esfera de influência norte-americana há algum tempo. O destino da África parece não despertar muito o interesse dos EUA. Os únicos a investir em obras de infra-estrutura de grande porte naquele continente são os chineses.    

Washington e Moscou, a nova Roma do Ocidente e a antiga Roma do Oriente estão em rota de colisão. Uma representa e se apóia na ortodoxia cristã de origem bizantina. A outra nasceu como resultado de um cisma herético dentro do catolicismo e está cheia de anti-papistas declarados. A China, fiel da balança, instiga esta disputa. Os líderes chineses, porém, parecem ter consciência de que estão geograficamente condenados a conviver com os russos, de quem compram energia para continuar crescendo e ampliando sua influência nas antigas áreas de influência norte-americana.

A disputa entre PSDB e PT no Brasil refletem de certa maneira a disputa entre as duas Romas. Os tucanos já decidiram lustrar as botas dos norte-americanos a quem prometeram entregar o Pré-sal a fim de garantir a vitória dos EUA na guerra que consideram inevitável (e eventualmente desejam). Os petistas apostam na construção do BRICS e defendem a paz mundial, em caso de guerra querem afastar o conflito do Atlântico Sul.

Os imperadores das duas Romas estão prestes a brigar. As ironias desta nova guerra são evidentes. Os racistas e machistas brasileiros, além de derrotados nas urnas, serão condenados a apoiar o negro Barack Obama se a guerra começar agora ou a agüentar o tacão de uma mulher (caso Hillary Clinton seja eleita presidenta dos EUA). Os pacifistas, patriotas e democratas serão obrigados a torcer por um ex-general da KGB. Apertem os cintos, os pilotos do mundo sumiram.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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