Da arte (política) de desagradar a gregos e a troianos

[Já vimos muitas manifestações de desagrado de LGBTs em relação aos recuos do governo federal e do Distrito Federal. Mas há também as insatisfações entre fundamentalistas (dois artigos a seguir.) O paradoxo contraditório é o que parece ocorrer no Estado de São Paulo. O estado tem um governador tido como ‘simpatizante’ (desde, pelo menos, esta entrevista: http://goo.gl/BF6ErT, que antecedeu em mais de mês declarações similares de Obama), uma que talvez seja a melhor legislação de proteção de direitos civis (http://goo.gl/aKZyBA) e ainda tem programa próprio antibullying em escolas (http://goo.gl/zmYNZc). Que não há, portanto, críticas incisivas de ongs LGBTs em direção a Alckmin, é sabido (mesmo após os 12 senadores do PSDB não terem sido contra o apensamento do PLC 122, já que 8 dos 12 do PT, incluindo Lindbergh, fizeram o mesmo.) Não obstante isso, os partidos de matiz religiosa (PSC, PR, PRB) não cobram concessão nenhuma de Alckmin para lhe dar apoio em 2014… (não é certa ainda a adesão desses partidos à candidatura de Padilha.) Mesmo após 4 ou 5 cerimônias de União Civil Homoafetiva e/ou Casamento Igualitário sob os auspícios do estado. Para quem for defensor de concessões políticas a antissecularismo: o que significam as diferenças entre o que ocorre em São Paulo e Brasília? O artigo é do GospelPrime, que é dos portais de notícias mais sérios e não inflamados do meio, inclusive publica matérias inclusivas de igrejas e pastores com essa visão.]

http://artigos.gospelprime.com.br/plc122-reforma-codigo-penal-igreja-homofobia-criminalizacao/

Igreja ainda corre risco e opinião contra a homossexualidade ainda pode virar crime

 

 

Igreja ainda corre risco e opinião contra a homossexualidade ainda pode virar crimeIgreja ainda corre risco e opinião contra a homossexualidade ainda pode virar crime
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Não sou uma pessoa pessimista. Aliás, ando otimista demais, principalmente diante dos últimos acontecimentos – mas isso não vem ao caso. Otimismo sempre é bom. Mas é preciso uma boa dose de cautela e precaução. Sei que parece coisa correlata, mas acredite, não são. Você pode ser cauteloso em uma questão e acabar não tomando precauções para que ela não insista em ser um problema.

É o caso do agora sepultado PLC 122/2006, que partia do princípio que toda a manifestação contrária à homossexualidade é homofóbica e devia ser punida. Sim, caro leitor, digo “devia”, pretérito imperfeito do indicativo, que se refere a um fato ocorrido no passado, mas que não foi completamente terminado. Apesar do burburinho de que o PLC 122 não existe, o contexto na verdade é outro. O número não existe, é fato, mas o texto ainda está ai, foi apensado a reforma do Código Penal.

Assim, que fique claro: não há motivos para comemorar o fim do PLC 122 se o texto passa a ser parte na reforma do Código Penal. Parece pessimismo, mas é cautela. Ao ser apensado ao Código Penal a comunidade LGBT tem mais motivos para comemorar que nós, evangélicos. Sim, pois é mais fácil um texto sobre criminalização da homofobia – ou da opinião contra a prática homossexual, dependendo dos olhos de quem lê – passar atrelado a reforma do que individualmente, como no caso do PLC 122. Além disso, o projeto já era amplamente rejeitado pela sociedade cristã (evangélicos e católicos) e o Governo sabe que ao aprovar o texto individualmente provocaria a ira do segmento religioso.

Os ativistas gays sabem bem que ao atrelar as preposições do PLC 122 na reforma terão uma chance bem maior de aprova-lo do que deixando que o texto ganhe ainda mais fama de concessor de privilégios. Acho, sim, que existe um gostinho de vitória na retirada do PLC 122, mas com precaução. Pois ainda existe um texto a ser apresentado na reforma que dará mais trabalho a bancada evangélica do que o famigerado Projeto de Lei 122.

Aí, então, se procede à pergunta óbvia: por que estão comemorando se o texto ainda existe, apensar de excluído o número? Por otimismo. Coisa que os ativistas gays também têm. Após ser apensado a reforma os ativistas disseram que “não há recuo” em relação à criminalização da homofobia. E, ironicamente, avisaram os evangélicos que não permitirão que o Brasil se torne um país onde não é possível “falar o que pensam”.

Mas posso ser ainda mais pessimista. O PT havia pedido a suspensão do PLC 122 temendo perder apoio evangélico nas eleições de 2014 (escrevi sobre isso aqui). Logo em seguida os ativistas – e pode se dizer que os evangélicos também – são tomados de surpresa com a exclusão definitiva do Projeto de Lei. Talvez um acordo político? Não é impossível. O PDT, que está com a relatoria da reforma do Código Penal, é da base do governo. Paulo Paim, que era relator do PLC 122, é do PT. Então ficaria tudo em casa.

Pode parecer tautológico, mas partidos da base do Governo estão no mesmo lado, fazem parte do mesmo time. Ou seja, porque a solução é simples não significa que seja a mais transparente. Começando pela própria reforma do Código Penal. Tem gente que defende a pena maior para bicho do que para gente – talvez se identifiquem mais com os animais – enquanto tem outros que consideram manifestação pública um tipo de terrorismo.

Antes que prossiga: os leitores sabem, considerava o PLC 122 um crime ao estado democrático de direito e uma ditadura contra a opinião. Mas duvido que o Governo tenha mesmo se rendido aos apelos evangélicos, por mais otimista que eu possa ser, acredito que existe um jogo por trás deste negócio e por isso acho que deve haver cautela e precaução.

O texto do PLC 122 era uma aberração jurídica, violava a liberdade religiosa e criava uma categoria de indivíduos intocáveis. À diferença do que vem sendo festejado, o texto permanece vivo, em outro número, em outras circunstâncias, mas o ativismo gay ainda quer criminalizar a opinião contra a prática homossexual. É preciso uma boa dose de cautela para que a comemoração pela garantia da liberdade de expressão não vire lágrimas pela falta de precaução.

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http://artigos.gospelprime.com.br/pt-evangelicos-abre-mao-eleicao-plc122/

Ao tirar de pauta PLC 122 para não perder voto evangélico PT mostra desrespeito e intolerância

O PT viu que não será possível ter sua própria igreja até as eleições de 2014. Só até lá, pois assim que passar as eleições pretendem trazer a pauta e aprovar o projeto de lei 122/2006. Como não conseguiu acordo com a bancada religiosa no Senado, o partido decidiu suspender a votação do texto polêmico para não criar inimizade com as igrejas às prévias das eleições.

Em janeiro de 2012 durante o Fórum Social de Porto Alegre, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, considerado o homem mais importante no PT depois de Lula e seu provável futuro presidente, disse que o partido deveria se preparar para fazer “uma disputa ideológica com as lideranças evangélicas para conquistas a classe C”.

Pois bem! O PT passou a confrontar os evangélicos. O governo permitiu a imposição do casamento gay. Sim, chamo de imposição, pois legalizado não foi. Para ser legalizado é preciso que haja legislação e não cabe ao Supremo legislar. Lembro que Dilma havia prometido em 2010, quando corria risco de não se eleger, que não tomaria iniciativa de enviar ao Congresso projetos de lei que permitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Leia um trecho:

“Eleita presidente da República, não tomarei a iniciativa de propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto e de outros temas concernentes à família e à livre expressão de qualquer religião no País”.

 

Redação

5 Comentários

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  1. Existe uma hipótese…

    que é: o PSDB em SP parece não atrair antipatias nem de fundamentalistas nem de LGBTs. E o governo federal parece receber críticas de ambos. Isso não deveria ser pesquisado/debatido?

  2. Mateus 6:24

    “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.

    Pois é, querido amigo, convivendo com os cristãos tão fundamentalistas, e outros mais esclarecidos também, o PT devia ter aprendido a lição política singela encerrada nesse versículo; até mesmo lutadores socialistas, ateus e materialistas, como N. Lênin, demonstraram isto extensamente em suas obras. O mesmo erro de posicionamento vem se verificando com outros setores sociais; ambientalistas, agricultores familiares, trabalhadores rurais sem terra, populações ribeirinhas, quilombolas e índios são preteridos, na opção preferencial do PT pelo latifúndio, o agronegócio e suas multinacionais.

    Veja esses exemplos:

    2013: um balanço negativo para os trabalhadores do campo

    Núcleo Agrário do PT se posiciona contra minuta do Ministério da Justiça

    Documento Final da XX Assembleia Geral do Cimi
     

    Até na própria carne, nas suas bases, o PT vem cortando. Poderiam se posicionar com os cristãos mais abertos e progressistas e aprenderem com estes a lição do versículo, mas preferem a aliança eleitoreira, alguns minutos a mais no horário eleitoral. Em vez de darem atenção aos cristãos esclarecidos, preferem a lição do fundamentalismo, que vemos expresso na linguagem de muitos de seus militantes: a visão estreita, o dogmatismo e sectarismo, para quem qualquer crítica à atuação petista se caracteriza, como comportamento “coxinha” ou direitista.

    1. Psé,  Almeida. eu já usei

      Psé,  Almeida. eu já usei essa parábola do não servir a dois senhores… Em conversas no facebook.  Melhor seria não servir a nenhum, né? (o que equivaleria a apenas seguir estritamente o secularismo.)

      O mesmo é válido para todas as questões ligadas a campo e meio-ambiente. E eu reconheço que muitos grupos estão ainda pior no filme, por não terem sequer a mídia para apoiá-los.

      Mas não há muito mais o que fazer a não ser trazer notícias e análises. Ainda que isso tenha se tornado “subversivo” em certos círculos.

  3. Não se aplica a partidos políticos.

    A opção de não servir a nenhum é própria da individualidade. Um partido, o nome já diz, tem de tomar parte, fazer suas opções e escolher as classes e grupos sociais a quem quer servir e representar; se não serve para e não representa ninguém, é carta fora do baralho.

    Optaram por bajular o fundamentalismo religioso, de olho calculado nos votos que isto em torno pode lhes trazerem, avaliam que isto traz mais do que perdem. Na opção pelodo latifúndio e o agronegócio, calculam o quanto se vai render de caixa de campanha e esperam – o tempo dirá – aquietar as bases insatisfeitas com as derrotas sofridas no campo. No passado, o PT foi caudatário da esperança das classes e agrupamentos sociais populares que enumerei; agora, por conta de seus novos aliados, a quem caninamente quer servir, o governo do PT está numa ofensiva tão forte contra essas classes populares, que até sua base interna pertencente a esses segmentos acusa o golpe. Uma ruptura com essas bases causará uma mutilação interna profunda; as sinalizações do MST, do Cimi e até dos núcleos internos apontam para isso.

    Eles vão dar a desculpa de que as alianças são para alcançar, os votos congressuais para a governabilidade, mas omitem que essa governabilidade é para servir ao agronegócio, ao latifúndio, ao fundamentalismo…

    Em política não se pode servir a dois senhores, ou, se preferir, agradar dois lados em guerra aberta, como os gregos e os troianos.

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