Desenvolvimentismo x liberalismo x crescimento: a novela que não termina

Enviado por Gunther Zibell

Uma discussão que às vezes ganha mais espaço do que deveria é a comparação de resultados em sistemas econômicos comparados.

Normalmente tal discussão passa por tentativas de se provar que um sistema, a escolher entre maior intervenção estatal (desenvolvimentismo) e desregulamentação com estado mínimo (neoliberalismo), é melhor que o outro. Mais frequentemente que não os resultados são frustrantes para quem busca comprovar algo nessa direção. As razões são várias, cada parágrafo dos próximos apresenta uma.

(A partir daqui se usará o PIB per Capita em Paridade de Poder de Compra, como calculado pelo FMI – que tem diferenças com Banco Mundial – como indicador principal. Esse macroindicador tem problemas conhecidos, mas é o mais facilmente disponível para muitos países e por prazos extensos. E como regra facilitadora será apresentado sempre como proporção da renda média dos EUA, país dos mais ricos para todo período de 1960 em diante, com relativamente menores oscilações econômicas e com relativamente poucas mudanças em condução econômica. Para 2014-2019 projeções mais recentes do FMI, em abril.)

As economias dos países são resultado da alocação eficiente de recursos (capital, mão-de-obra e infraestrutura) muito mais do que da propriedade (estatal ou privada) do capital. Empreendedorismo traz algumas vantagens para a criação de novas empresas, intervencionismo traz outras para corrigir distorções e estimular setores, mas, se tomarmos as três maiores e desenvolvidas economias capitalistas, EUA, Japão e Alemanha, e observarmos a evolução de suas rendas per capita desde 1980, veremos que países com boa escolaridade e uso de tecnologia de ponta acabam com resultados paralelos no tempo, muito embora um seja marcadamente neoliberal, outro social-liberal (o Japão é o que tem a menor concentração de renda desses três e o maior protecionismo, mas é o com menor participação de empregados públicos também), ou ainda social-democrata (modelo do qual a Alemanha nunca se afastou efetivamente, apesar de reformas recentes.) O Japão fica num longo período de 40 anos (1980-2019) sempre entre 67 e 84% da renda média norte-americana. Fala-se em longa estagnação, mas isso é mais pela questão demográfica, pois desde 1998 a renda per capita apresenta notável estabilidade em relação a dos EUA (sempre em torno de 70%) o que é um bom resultado com uma população que envelhece bem mais rápido que a dos EUA. A Alemanha oscila ainda menos, sempre numa faixa de 68 a 80%.

Não há mais milagres acontecendo nos países desenvolvidos. De 1983 a 2000 os EUA até experimentaram 9 anos com crescimento do PIB acima de 4%, em função da incorporação de novas tecnologias, notadamente informática, mas depois retornou-se a um padrão de crescimento anual em torno de 2% que é o mais comum para países desenvolvidos onde a população cresce entre 0 e 1% ao ano. Desenvolvimentos futuros nesses países dependem muito mais de novos desenvolvimentos tecnológicos e de produtividade que propriamente de estratégias macroeconômicas e financeiras, apesar de políticas monetária e cambial acertadas poderem interferir na solução de ‘gaps’ em relação ao produto potencial e no encurtamento de recessões. Mas, com poucas exceções, o que mais vemos em grandes economias industrializadas é uma convergência para cerca de 70-80% da renda per capita dos EUA. A dificuldade de ultrapassar esse patamar não significa uma virtude do sistema mais liberal, apenas reflete as vantagens comparativas dos EUA, como ser a principal origem de pesquisas em tecnologia e sua muito maior abundância em matérias-primas. Para Canadá e Austrália, mais ‘social-democratas’, acaba ocorrendo o mesmo, e são justamente esses os que hoje têm maiores chances de passar desses 80%.

Mudanças de verdade com trocas de governos podem ser poucas. Apesar de discursos políticos os mais variados, uma vez que uma economia está organizada, mudança de governos altera relativamente pouco de fato. Um pouco mais ou um pouco menos de tributação, privatizações ou estatizações (que são troca de portfólio do poder público, não geração ou perda de valor), desonerações e programas ad hoc. Mas com o acúmulo de muitos anos algumas mudanças podem ser vistas, como a reconcentração de renda nos países desenvolvidos nos últimos 30 anos. Só que justo esse exemplo independeu das várias alternâncias de partidos nos poder nesses países. Grandes movimentos mundiais influenciam mais que discursos partidários. Na Europa de pós-guerra houve ciclos de implantação de Welfare State e de criação de estatais (em um esforço para recuperar a defasagem em relação aos EUA, que nunca se aprofundaram nesses movimentos) e também ciclos de privatizações e desregulamentação de economia. Mas os vários governos foram quase como se copiando entre si nesses ciclos, com pouca relevância dos partidos no poder. É claro que os Conservadores começaram uma guinada liberal no Reino Unido dos anos 1980. Mas foram os Social-Democratas na Alemanha que organizaram uma reforma do mercado de trabalho. Foi o PSOE na Espanha que concordou com medidas drásticas no pós-crise de 2008. São os Socialistas na França que estão fazendo ajustes agora. E, num período anterior a 1980, foram em geral partidos conservadores os que implantaram o bem-estar social. O faziam porque era o necessário e ao mesmo tempo possível, não por ideologia (havia um pano de fundo geral que era competir com o socialismo real no atendimento a necessidades do fator trabalho.) Olhando após um período muito longo, fica pouco visível a diferença entre os grandes partidos mais liberais e os mais social-democratas na Europa Ocidental. A um ponto em que por indicadores econômicos não se percebe que matiz partidário governou.

Economias acompanham ciclos externos. Não importa se mais com presença de capital privado (como “Tigres Asiáticos”) ou mais com a presença de estatais (como Brasil e México) a maioria dos países em desenvolvimento sofreu duro revés nos anos 1980. Muitos passaram por hiperinflação, vários por redemocratizações e por momentos de privatização de estatais. Todos aderiram à chamada “globalização” (com a dependência cada vez maior dos fluxos de capitais), quase todos passaram por mais crises cambiais nos anos 1990 e, finalmente, a maioria se beneficiou do ciclo de valorização de commodities dos anos 2000. Valorização cambial certamente não ocorreu só no Brasil.

As taxas de apreciação cambial são obtidas com a divisão do PIB em US$ correntes pelo PIB por PPC (Paridade de poder de compra, que busca emular os preços dos EUA.) No gráfico se vê que havia uma certa estabilidade no começo dos anos 1990, depois crises em vários países (a começar pelo México no finzinho de 1994 até chegar à Argentina no começo de 2002) de modo que o período 1995-2003 foi de decréscimo das taxas cambiais para países em desenvolvimento em geral. E o ano de 2002 foi o ponto de mínimo para vários, não só para o Brasil (aqui um parênteses: dizer que havia “risco-Lula” em 2002, nesse cenário global, soa tão tolo como dizer que “FHC quebrou o país três vezes”. O constrangimento cambial e de divisas era generalizado para países em desenvolvimento e coincide com o período em que tais países cresceram menos que os países desenvolvidos e tem muito mais relação com fluxos de capital, taxas de juros nas economias centrais e baixos preços de commodities.)

Na tabela a seguir é possível ver com maior clareza a evolução no tempo. A partir de 2002-2004 começou uma valorização generalizada das commodities, o que acabou levando à valorização da maioria das moedas de emergentes. Tomando o período de estabilidade desses preços (a partir de 2010, aproximadamente) e comparando com a média do período 1995-2003, podemos ver que o Brasil nem foi o país que mais valorizou o câmbio no período. A valorização do Real vis-a-vis o US$, de 69% entre o período de maior constrangimento cambial mundial e o período mais recente de estabilização (e baixíssimas taxas internacionais de juros) foi menor que a da Rússia e Venezuela e não muito maior que a do Chile. De 2010 para cá, do grupo selecionado, o Brasil foi o país que, pela metodologia do FMI, maior apreciação cambial apresentou, sendo o único, inclusive, a chegar a ultrapassar os preços norte-americanos. Pelo que aquela percepção generalizada de que o Brasil seja um país “caro”, aparentemente, procede.

É mais ou menos esperado que economias desenvolvidas cresçam relativamente pouco (algo como 1 a 2% ao ano), que economias em desenvolvimento as alcancem aos poucos (com taxas em torno de 4%), que países mais pobres (desde que não imersos em problemas políticos e conflitos) cresçam ainda mais (como os 6 ou 7% que nos acostumamos a ver para China, Índia, Vietnã e Indonésia.) Mas isso não é, claro, automático. A maior parte da América Latina entrou nos anos 1980 como ‘economias de renda média’, só que nessa década e na seguinte não conseguiram reduzir a defasagem em relação aos países desenvolvidos. Isso ocorreu durante os anos 2000 com a valorização das commodities (que ajudam muito a aumentar o poder aquisitivo geral e a promover desconcentração de renda) e as grandes importações da China, mas esse ciclo também parece estar se esgotando. Por outro lado, há aquelas situações em que uma economia cresce bastante por muito tempo, mais que o Mundo em geral. Isso depende da incorporação de tecnologia (o que é comum nos processos de substituição de importações ou de transformação em país exportador de manufaturas), de rápida industrialização e disponibilidade de capitais e formação de mão-de-obra. São os chamados ‘milagres econômicos’. O que ocorreu com Brasil e México de 1930 a 1980, Alemanha e Japão de 1950 a 1970, Espanha e Coreia de 1960 a 2000, está acontecendo em China e Indonésia de 1980 para cá. Mas quando essas economias forem de renda média apresentarão taxas menores de crescimento. Ainda se espera uma continuidade dessa aproximação mais geral, entre países subdesenvolvidos e desenvolvidos, promovendo uma desconcentração de renda em nível global (ainda que não em cada país em particular) mas não na mesma intensidade dos anos 2000.

Algo que pode ser bem interessante: considerando um conjunto muito grande de países, digamos as economias com mais de 10 milhões de habitantes (para excluir economias dependentes muito de petróleo, como Noruega, ou de algum outro minério e/ou atividade, como Irlanda e softwares, e/ou  cidades-estado industriais, como Hong Kong e Singapura, que melhor seriam comparadas a metrópoles de outros países, não a economias diversificadas); para um período longo de tempo (que pode ser desde 1960, quando começam as estatísticas internacionalmente comparáveis de PIB em US$ correntes, ou 1980, quando ficam disponíveis em Paridade de Poder de Compra); levando em conta os vários sistemas econômicos (socialismo real, capitalismo de estado, desenvolvimentismo, social-democracia, social-liberalismo, neoliberalismo) o que temos de “ultrapassagens” de uma economia em relação a outras é relativamente muito pouco. É certo que nos anos 1960/1970 Brasil, Portugal, Grécia, Espanha passaram alguns países que se lhes estavam um pouco acima (os mediterrâneos podem ter passado a Argentina nesse período, embora as estatísticas disponíveis fiquem sujeitas a oscilações cambiais.) Também é notório que a China nos últimos 30 anos ultrapassou a maioria dos países tidos como pobres ou subdesenvolvidos (após uma longa estagnação até 1978, note-se), da Índia a quase toda a África (que se ressentiu, além das guerras civis, da longa queda dos valores nos minérios de 1970 a 2000.) Mas movimentos significativos mesmo, de países antes subdesenvolvidos tornarem-se desenvolvidos, praticamente só é possível citar Coreia do Sul e Taiwan para os últimos 50 anos. Grosso modo, quanto mais um país se desenvolve (através de educação, formação de mercado de capitais e incorporação de tecnologia) mais difícil é a etapa seguinte. Para a história de quase todos os países há uma curva em S para a renda per capita: um platô como subdesenvolvido, uma etapa de rápido crescimento e posteriormente crescimentos decrescentes até chegar ao lento crescimento de uma economia já desenvolvida.

Estagnações são seguidas de recuperações. Esse truísmo não é algo, no entanto, determinístico. Após longas estagnações ou profundas recessões (como Argentina-1998-2002, Rússia 1991-1998, Peru 1983-1991, etc) a recuperação acontecerá, pois se apresentam recursos humanos ociosos, preços competitivos e inclusive disposições políticas a realizar reformas (para a direção que forem…) Há mais de uma estratégia: economias podem se abrir a investimentos externos, abordagens mais keynesianas podem ser usadas, mas, ainda que mais ou menos rápido, um limite de curto prazo se alcança com a redução expressiva do desemprego (situação que o Brasil alcançou em 2010, aproximadamente, após o período mais rápido de crescimento que se seguiu o baixo crescimento com aprofundamento de desemprego de 1997 a 2003.)

Mas, o que é especialmente importante, há desdobramentos políticos. E não são poucos. É razoável esperar que após uma recessão prolongada haja desgaste de projetos de poder. Consequentemente há grande probabilidade de mudança de orientação em política econômica. E não é inesperado que os gestores seguintes colham os frutos da recuperação econômica (desde, é claro, que se revelem bons gestores no aproveitamento de oportunidades.) Se olhamos apenas para uma economia em relação a si mesma somos tentados a imaginar a gestão durante a recessão como ineficiente (é o que a história relega a FHC, por exemplo) e a gestão durante a recuperação como a melhor (a razão da grande popularidade de Lula e, porque não dizer, de Putin.) Aí surge, claro, como recurso de propaganda política, a tentação de se atribuir a uma gestão e/ou modelo (lembremos que frequentemente mudam após períodos econômicos difíceis) os bons resultados. Mas será que é assim mesmo? Afinal, que mudanças significativas de modelo econômico ocorreram no Brasil recentemente, pelo menos a partir de 2003? A carga tributária, a política monetária e as taxas de investimento mudaram relativamente pouco.

Há aqui três coisas aqui a considerar. A) a situação internacional. Como visto acima, países de renda média são submetidos a crises de constrangimento cambial quase que de forma coletiva. Assim temos que de 1981 a 2003 muitos desses países experimentaram contínua redução na sua renda média como comparação a dos EUA (escolhemos os EUA como parâmetro por sua estabilidade relativa, tanto em taxas de crescimento como de políticas econômicas, como também por ser quase um paradigma de maximização de uso de tecnologia e educação.) A exceção mais visível foi a Coreia do Sul (depois desta, dos países selecionados para este post, o Chile.) E, de 2003 em diante, ocorre o contrário: a maioria ‘enriquece’ vis-a-vis os EUA (aqui assumidos como paradigma do mundo desenvolvido), não apenas por valorização cambial mas substancialmente em renda real. Então, as recessões e recuperações não são demérito nem mérito exclusivo de seus governantes, que podem influenciar, mas também do momento.

B) o modelo econômico. Quando olhamos para uma economia isoladamente, podemos ver gestores diferentes para um mesmo modelo (o que é o caso dos ‘estáveis’ EUA, quando se alternam entre Democratas e Republicanos), mas, como dito, somos tentados a associar, como no caso brasileiro, estagnação a liberalismo (período FHC) e crescimento a desenvolvimentismo (período PT.) Ocorre que mudando o país pode mudar o sinal político. Países como Perú, Turquia e Chile ou mantiveram ou aprofundaram sistemas mais neoliberais e obtiveram resultados em crescimento econômico superiores aos do Brasil na maior parte dos últimos 30 anos, inclusive nos de crise internacional.

C) as dimensões da recessão anterior. É quase como a inversão do dito popular: quanto maior a queda maior o salto. Isso pode ser visto nas recuperações de Argentina e Rússia, onde crescimentos (sempre relativos aos EUA) de 22 a 25% em períodos de apenas 4 anos sucederam justamente quedas de 20 a 30%. Circunstâncias assim são raras e mais ligadas a problemas internos que à conjuntura global, e acabam se anulando no longo prazo. Isto é, as recuperações se esgotam (e justamente são esses dois países, junto com Espanha, que o FMI projeta como os de menor crescimento até 2019 dentre o G-20.)

Um parágrafo relevante para o Brasil: de 1993 a 2002, período que podemos apelidar como ‘modelo FHC’, de fato o Brasil cresceu menos que os países desenvolvidos,o que se evidencia por uma redução de 9% na proporção da renda per capita dos EUA [caiu-se de 22% em 1992 para 20% em 2002] e, de 2003 a 2014 – este último ano projeção do FMI, período que podemos apelidar como ‘modelo PT’, de fato o Brasil recuperou 15% na proporção da renda dos EUA, indo de 20% para 23% em 12 anos [o que dá uma idéia de como é longo o caminho para se tornar desenvolvido: em 12 anos se aumentou apenas 3% da renda norte-americana…] Em uma primeira visão, a queda e o crescimento relativos mostram um contraste entre gestão FHC e gestão PT.  

Mas como é em relação a outros países? Apresentamos (tabela abaixo) 10 economias de renda média, 5 mais ‘desenvolvimentistas’ e 5 mais ‘neoliberais’ e o que vemos é o seguinte: de 1993 a 2002, destarte a queda em relação aos EUA (o que não necessariamente é recessão, é uma estagnação relativa ou não acompanhamento do paradigma de desenvolvimento, pois aquele país cresceu 39% no período, então o Brasil cresceu isso decomposto de 9%), o dempenho brasileiro foi dos melhores entre países de renda média: apenas os ‘neoliberais’ Chile, Perú e Coreia foram melhor. Por outro lado, na fase de recuperação, de 2003 em diante, apenas México e África do Sul não foram melhor. Desse modo, independentemente de modelos econômicos e crises externas, de 1993 a 2002 o Brasil ganhou participação no conjunto de países de renda média estudados. E no período 2003 em diante perdeu participação dentro desse mesmo grupo. Quer dizer, não é apenas o crescimento absoluto que conta, mas o sucesso relativo aos pares e competidores mais próximos.

Quanto a questão liberalismo/desenvolvimentismo, estamos assim: as mudanças de modelo durante o caminho em alguns países parece que pouco agregaram na capacidade de crescimento. Mas será que realmente “mudaram de modelo”? Ou mudaram de discurso?

Brasil, Argentina, Rússia, Venezuela cresceram sim, mais, a partir de 2000/2003 (dependendo do país) mas não parece ter sido resultado de ‘desenvolvimentismo’, ao contrário. Foi um padrão mundial economias de renda média crescerem bem nesse período, principalmente se exportadoras de commodities (que triplicaram de valor, hidrocarbonetos quintuplicaram), principalmente quando aproveitando capacidade ociosa herdada em recessões anteriores. E, tirando o México (*), as economias mais ‘liberais’ cresceram consistentemente mais que as ‘desenvolvimentistas’ na maioria dos períodos (na tabela acima linha Grupo B menos Grupo A), ainda que algumas dessas economias tenham sido também intervencionistas no passado mais remoto. (Mas sobre o quanto outros fatores como desconcentração de renda e programas sociais compensam um menor crescimento econômico fica pendente.) Outros conjuntos de países poderão ser escolhidos, mas não haverá resultados muito diferentes. 

Quer dizer… Se os modelos mais intervencionistas e/ou desenvolvimentistas dão bons resultados, não necessariamente estes são os melhores resultados possíveis… E, de qualquer modo, no longo prazo, não é isso o que mais importa, mas uma estratégia voltada para aumento de investimentos e melhoria de educação, ou seja, aumento de produtividade.

(*) Há uma subnovela na novela geral desta discussão que é Brasil x México. Se comentamos que a renda média do México passou de 146% da brasileira em 2007 para os atuais 127% (uma queda relativa de 13% em 7 anos), também devemos comentar que se prevê um retorno para 131% em 2017, o que não é muito diferente dos 136% de 1980… Novamente não se pode atribuir esses resultados a modelos econômicos, pois em um período muito longo de tempo, de 40 anos, e assumindo como realistas as projeções do FMI para até 2019, o que temos é muito próximo de duas curvas paralelas e sem sinais de que o Brasil alcançará o México no curto prazo, ao contrário, é o Perú que provavelmente passará o Brasil, em renda per capita, em 2017 ou 2018.

 

Redação

27 Comentários

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  1. Parabens

    Caro Gunter

    Escrevo para parabeniza-los pelo texto, há tempos não leio algo tão explicativo de economia mundial.

    Como sempre digo, EUA tem algo desejado pelo resto do mundo, e somente eles fabricam, é feito de papel e tinta, sua fabricação não custa 2% do seu valor nominal,  tambem conhecido por dolar, creio que isso explica tudo.

    Otimo feriado

    abraços

  2. Interessante, mas cadê os dados de distr.renda/bem estar ?

    Dei uma olhada nos gráficos, mas ainda não li todo conteúdo.

    Pergunta de um desenvolvimentista convicto e que sempre atuou no setor privado:

    Gunter, você considerou a estatística de distribuição da renda, bem estar e como isso impactou na economia ?

    Por ex., a renda per capita estadunidense é a maior do mundo e eles estão com 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.    É como aquela piadinha infame, se no domingo você come um frango assado sozinho e eu não como nada, na média estamos os dois alimentados, mas efetivamente eu estou passando fome e você passando mal porque comeu um frango inteiro sozinho…..

    abs caipiras,

    1. Ainda vou fazer uma comparação

      EUA X Europa Oc. x Brasil usando os quintis de renda.

      Os EUA são na prática uma sociedade com sobreposição de classes, como a famosa “Belíndia”.

      Mas se você retirar os 1% mais ricos, que amealharam a maior parte do crescimento dos últimos 30 anos, se ficará com uma pirâmide muito parecida à da Europa Ocidental.

      E inclusive sumiria a diferença de 25 ou 20% entre a renda média dos EUA e dos maiores países europeus e Japão. Também sumiria o crescimento maior dos EUA (note como, apesar de sutil, houve um distanciamento nos últimos 30 anos entre EUA e os outros desenvolvidos.) E o índice de Gini também seria parecido.

      É quase como se esses 1% fossem “transnacionais”, ocorrendo de residir nos EUA (que têm um sistema tributário favorável aos superricos.)

      O que os burôs americanos chamam de pobre nos EUA é uma família de 4 pessoas viver com renda inferior a uns US$ 2 mil mensais. Se isso fosse aplicado ao Brasil pegaria uns 80% da população. Se aplicado à Europa também surgiriam uns 15% classificados como pobres. Ou até percentual bem maior nos países mediterrâneos.

      Tem diferenças na rede de proteção social, claro. E os EUA fariam muito melhor se copiassem a Europa ou Canadá em algumas coisas. Possivelmente não viveriam o drama do excessivo estado penal. Certamente os 2 milhões de presos nos EUA vêm dessa camada inferior de renda. 

      As consequências do excessivo liberalismo na pobreza dos EUA parecem ser muito mais nisso do criminalidade e insegurança psicológica quase permanente de milhões de famílias que propriamente em níveis de consumo.

      É um grande problema para eles sim, mas eles convivem com isso pelo menos desde os anos 1950, quando abdicou-se de avançar em Estado de Bem-estar Social. Não é a única diferença flagrante entre EUA e outros países ricos. E pode muito bem ser uma diferença cultural, construída ao longo de décadas de doutrinação política (a um ponto que sumiu o antigo partido socialista de lá, atuante até os anos 1930 mas cujos integrantes acabaram se fundido aos grandes partidos, especialmente os Democratas.)

      De qualquer modo, o sistema lá é esse. Nem o establishment nem a classe média local se mexerão na direção de mudar para um sistema mais inclusivo (e até que o Obamacare é um relativo sucesso nessa direção.)

      Inclusive porque nada disso desestimula 1 milhão de pessoas, principalmente da América Latina, a emigrarem para lá por ano.

      Certamente a questão é muito estudada nos EUA, se alguém quiser pesquisar encontrará bons artigos. Mas o uso desses “50 milhões de pobres” em discursos de esquerda fora dos EUA me soa muito inapropriado também. Basta alguém comparar com cuidado o estilo de vida dos 15% mais pobres dos EUA com os 15% mais pobres de qualquer país latinoamericano.

       

       

       

    2. A comparação do Gunter é falsa

      O Sr. Gunter só compara dados econômicos gerais e isso não define as diferenças entre Desenvolvimentismo X Liberalismo.  Pra mim na verdade as diferenças maiores entre os dois modelos são variáveis sociais relacionadas a desemprego, distribuição de renda e bem estar social.  Países desenvolvidos são mais desenvolvidos devido principalmente à estas variáveis e não renda per capita e PIB.  Se se compara com estas variáveis o modelo desenvolvimentistas é muito mais eficiente do que o Liberal. Por isso a comparação do Gunter é falsa.

  3. (*) Há uma subnovela na

    (*) Há uma subnovela na novela geral desta discussão que é Brasil x México. Se comentamos que a renda média do México passou de 146% da brasileira em 2007 para os atuais 127% (uma queda relativa de 13% em 7 anos), também devemos comentar que se prevê um retorno para 131% em 2017, o que não é muito diferente dos 136% de 1980… Novamente não se pode atribuir esses resultados a modelos econômicos, pois em um período muito longo de tempo, de 40 anos, e assumindo como realistas as projeções do FMI para até 2019, o que temos é muito próximo de duas curvas paralelas e sem sinais de que o Brasil alcançará o México no curto prazo, ao contrário, é o Perú que provavelmente passará o Brasil, em renda per capita, em 2017 ou 2018.

     

    Vc usou indicadores de distribuicao de renda?

    Vc considerou as reservas cambiais?

     

    Pergunto isso porque ontem mesmo um texto dizia o oposto do que vc expoe sobre o “modelo mexicano”.

    1. A distribuição de renda no México e no Perú

      não é pior que a do Brasil.

      Eu achei uma bobagem esse artigo sobre ‘modelo mexicano’. Deixei um comentário lá mostrando como o autor é muito seletivo no uso de dados.

      O México teve um desempenho pior que o Brasil de 2007 a 2010. E daí? Também teve desempenho melhor de 1990 a 2000, quando a renda brasileira caiu 18% em comparação a dos EUA e a do México caiu apenas 2%.

      E, como ontem salientou Motta Araújo, o México consegue isso com menos recursos naturais que o Brasil. E, como o mencionado (no rodapé do artigo de ontem) artigo de Castañeda, manteve melhor a indústria industrial que o Brasil.

      Atrelar-se aos EUA tem os ônus e os bônus, o México vai acompanhar um pouco mais o ciclo americano e o Brasil o ciclo chinês.

      De resto, cresceu antes, e não foi o México que empobreceu nos últimos 10 anos, foi o Brasil que recuperou um pouco da defasagem da década anterior. Então, que desvantagem o México teve? No fundo nenhuma, usufrui de melhores indicadores antes e por mais tempo.

      E isso usando os dados do FMI. Pelas contas do Banco Mundial (que é uma organização, responsável pelo Relatório do Desenvolvimento Mundial, tida até como menos influenciada pelo liberalismo que o FMI) o México ampliou a distância em relação ao Brasil no mesmo período.

      O México sempre foi mais rico que o Brasil, sempre teve indicadores sociais melhores e continuará assim por décadas, até porque o Brasil não tem modelo de desenvolvimento melhor. 

      Parece-me de uma futilidade extrema esse esforço que alguns dispendem para tentar provar que o modelo brasileiro é melhor que o do México. é só politica.

      E fica evidente que isso se dá apenas por dois motivos: 1) por mídia e bancos estarem dando atenção ao México agora, já que daqui até 2020 deve ampliar a distância em relação ao Brasil (então é necessário “hay que ser contra el PIG pero sin perder la ternura jamás”); 2) pela coincidência do México ter crescido menos que o Brasil justamente no período do segundo mandato bem sucedido de Lula. Para propaganda política essas circunstâncias servem.

      Mas no longo prazo a história dos dois países é mesmo paralela.

      E também fica evidente que os que se esforçam em achar pontos negativos no México (por este representar Alca, neoliberalismo, etc) também se esforçam por esconder Chile, Perú e Colômbia. E também se esforçam por omitir o longo declínio econômico da Venezuela. E a estagnação atual argentina.

      Olha, não vale a pena dar bola pra esses discursos seletivos de inspiração bolivariana. Os sucessos pontuais de alguns países foram marcadamente resultado de condições favoráveis no mercado de hidrocarbonetos. Aceite-se isso e lide-se com isso. Governos ‘liberais’ teriam usado recursos do mesmo modo para programas sociais (tanto que a desconcentração de renda no Perú ocorreu muito similarmente à do Brasil.) Mais alguns anos e todo esse discurso se desmonta por si só.

      A começar pelas próximas eleições presidenciais na Venezuela e Argentina.

      O que não vai levar a nada de fundo, na verdade. Discurso bolivariano não faz autocrítica, dirá que a direita venceu nesses países por manipulação dos PIGs locais, nunca dará o braço a torcer de que os governos foram apenas populistas e não deixaram nenhum legado em termos de infraestrutura ou atração de investimentos.

      Discursos bonitos se vão, realidades econômicas se impõem.

       

       

  4. Ótimo

    Gunter,

    Belo trabalho! E ainda, feito pela madrugada afora…

    Não tenho o saber econômico suficiente nem o saco (rs) para fazer o mesmo…

    Mas deixarei algumas dúvidas provocadas pelo o seu artigo:

    Indicadores macro, continuam sendo indicadores, não um fato determinado. Ora, trabalhar com PIB per Capita em Paridade de Poder de Compra, é melhor do que trabalhar só com o PIB. De qualquer forma, permanece fora uma variável importante ao utilizarmos este índice para analisar politicamente os resultados apresentados num determinado período. As políticas “liberais” e “desenvolvimentistas” se diferenciam fortemente em relação aos benefícios sociais (Moradia, Educação e Saúde Publica), não? 

    Este fator influenciará  fortemente a Paridade de Poder de Compra, não? Isto é levado em consideração para determinar esta paridade? Nos modelos “liberais” a saúde e a educação são, de maneira geral, serviços que devem pagos pelo contribuinte, ao contrário do que ocorre no modelo “desenvolvimentista”. A recente crise americana teve forte ligação com a ausência da política de saúde, influindo diretamente na inadimplência do setor imobiliário, certo?

    Penso que os governos, de fato, tem hoje uma margem de manobra relativamente estreita. A política dos países sofre enorme pressão de grupos financeiros com capital e interesses cada vez mais concentrados, voláteis e poderosos. É evidente que isto também mascara os resultados de uma ou outra política adotada e as faz, na realidade, semelhantes na questão econômica. A maior diferença residirá na escolha dos setores que serão beneficiados com o aporte dos recursos do estado. Uma base menor e de capital concentrado beneficiada pelas ações de governo no caso “liberal”, e uma base maior e numericamente mais expressiva no caso “desenvolvimentista”. Não interessa tanto a mim quanta riqueza foi produzida e sim como ela foi distribuída, de fato e não na média, no período. 

    1. Oi Gilberto., boas colocações.

      >>> também acho melhor trabalhar com Paridade de Poder de Compra. Exceção é quando se trabalha com comércio exterior. Análises que busquem ver a fragilidade em contas comerciais ou capacidade para comprar armas, influência na OMC, etc devem usar US$ correntes. >>> Aplicar políticas diferentes traz resultados diferentes, claro. Os EUA são uma coisa com Obamacare, seriam outra sem ele. Mas essa ‘clareza’ é típica dos EUA, não do mundo. Políticas populistas, distributivistas ou “de ajuste” são adotadas pelo mundo muito mais em função de momento econômico externo que por conta da ideologia vendida em eleições. No caso brasileiro eu insisto que não houve mudança em políticas a partir de 2003 (ainda que essa assertiva não agrade a alguns discursos políticos.) >>> Boa pergunta mas acho que não influencia. PPC é metodologia só para comparar preços. O que geralmente muda mais de um país para o outro são os serviços internos (no seu exemplo salários de professores e profissionais de saúde.) Se uma economia oferece saúde e educação públicas isso não deixa de ter preços atribuídos em contas públicas. Ou a população os paga a um setor privado ou paga impostos. >>> A crise americana de 2007/2009 foi de explosão de bolha de endividamento, não vejo ligação direta com política de saúde. >>> As margens de manobra são mesmo muito pequenas. Mas não apenas para partidos mais à esquerda serem mais desenvolvimentistas ou tributaristas, mas o reverso também é verdadeiro: partidos mais à direita não conseguem desmontar estados já organizados. As ondas “liberais” removem alguns excessos mas não são irracionais. Só que a História dos últimos 35 anos sorri um pouco para os liberais… As experiências dos EUA, Reino Unido e mais recentemente Alemanha foram boas no sentido de manter renda vis a vis as economias mais intervencionistas. Então os defensores da atuação do Estado ficaram com uma responsabilidade maior, especialmente em mostrar eficiência e resultados (eu ser pessoalmente social-democrata não impede de ver que houve acertos de um lado e erros de outro.) >>> O quanto de riqueza produzida é tão importante quanto a distribuição. Não adianta muito uma sociedade igualitarista improdutiva…

      1. Só um adendo

        Creio que concordamos no principal. 

        Uma única observação, quando a minha última colocação:

         Não interessa tanto a mim quanta riqueza foi produzida e sim como ela foi distribuída 

        Pretendi com ela frisar que crescimento do PIB não servirá nunca (para mim) como justificativa para o aumento da concentração de renda. Se, numa situação hipotética eu tiver que escolher, optaria por um crescimento menor desde que assegurada a distribuição equânime da riqueza produzida.

        Tenho plena consciência de ser esta uma decisão moral, não econômica. Não penso, por exemplo, que os trabalhadores gregos devam pagar pelos maus e improdutivos negócios realizados por elites econômicas locais, com a conivência e interesse da União Europeia (que sabia a medida exata do risco envolvido). Não faço portanto, de maneira alguma, a defesa de uma sociedade igualitarista improdutiva. Os responsáveis pelo (mau) investimento serão, sempre, os que merecem pagar a conta.   

        1. Eu tinha entendido.

          Cuidado numa coisa em relação a concentração de renda x crescimento. Existe um efeito estatístico com o surgimento de nova renda. Quando novos negócios surgem muito rápidoe são bem sucedidos eles se sobrepõem ao que já existe, não competem. Veja-se a China, a concentração de renda aumentou por isso, mas não piorou em nada a vida dos que ainda não entraram na nova economia. é diferente de quando a concentração se dá por mudança de leis e tributação para negócios pré-existentes.

          Isso acontece parcialmente para os EUA também. Podemos condenar que novas fortunas tipo ponto.com não tenham sido tributadas ou parcialmente distribuídas. Mas teria sido melhor para a sociedade norte-americana se tais fortunas tivessem sido construídas fora dos EUA? 

           A questão grega é complicada mesmo. Mas houve duas possibilidades eleitorais para a população optar por um governo que tivesse declarado default. Nãoaconteceria nada muito diferente do que foi com a Argentina. Mas se na primeira vez não se formou maioria, na 2a. o povo grego deu maioria à coalização que topou seguir com o ajuste. 

          A mídia local e os bancos europeus fizeram campanha de medo? De que o apocalipse viria com a saída da Zona do Euro? Sim, fizeram. Mas qual é o limite aonde quem enxerga os processos pode questionar? Seria muito paternalismo nosso.

          Chega uma hora em que temos que deixar as pessoas (povos) pagarem contas. Alguns caminhos para conscientização são dolorosos.

          A sociedade brasileira também vai pagar uma conta pelo resto dessa década na forma de baixo crescimento econômico. É só aguardar.

          Felizmente não será grave, talvez nem seja cotidianamente percebido. Estagnação é algo fácil para se conviver, depressões é que seriam graves. 

           

           

          1. Se bem entendi

            A mídia local e os bancos europeus fizeram campanha de medo? De que o apocalipse viria com a saída da Zona do Euro? Sim, fizeram. Mas qual é o limite aonde quem enxerga os processos pode questionar? Seria muito paternalismo nosso.

            Gunter,

            Não considero paternalismo questionar. É uma questão de ser fiel a própria convicção. Isto não faz com que eu não aceite o processo grego, mas não me impede de colocar a crítica. Quando a política é exercida com habilidade, não há imprensa ou ameaça capaz de mudar o jogo.

            Quanto ao exemplo chinês, e ao fenômeno ponto . com,  creio que a minha formação em  exatas fala mais alto:

            Não há ganho sem perda para alguém. Esta perda pode não estar dentro do próprio país, como no caso chinês. Sua política agressiva e a percepção exata do momento certo para executa-la, virou a  economia mundial de cabeça para baixo. No caso americano, há também uma  certa ligação da crise que persiste com a excessiva valorização dos papéis da atividade ponto.com. Ao menos, é uma hipótese que já li mais de uma vez. 

            Bom, mas toda esta discussão é assunto para outra discussão. Dado o avançado da hora, para mim, minha cabeça já virou abóbora!

          2. Jajajaja

            Como falei no fb, eu prefiro das 22:00 às 02:00…

            Tem razão, podemos ter opinião sobre o que outros povos decidem. 

            Depois que lhe escrevi esse parágrafo sobre a Grécia fiquei pensando… E se o inconsciente coletivo grego estiver acertando?

            Não é assim que não há ganho sem perda. Há sim. Se uma pessoa tem um terreno pode escolher plantar e ter produto ou pode não fazer nada. Para economia isso é um ganho. No caso essa pessoa perdeu a oportunidade de se divertir ou distrair com algo não econômico, mas isso não é refletido em índices econômicos.

            As ponto.com agregaram valor ao facilitar a vida do mundo todo. Com a informática erros e desperdícios deixaram de ser cometidos. As indústrias chinesas criaram valor ao reunir matérias-primas e pessoas e passarem a produzir. Ninguém perdeu, ao contrário. Centenas de milhões de pessoas no resto do mundo deixaram de produzir os bens que importam da China e passaram a produzir coisas ainda mais interessantes. 

            O aumento de produção chinesa desde 1978 simplesmente não levou a aumento de desemprego no resto do mundo. Nem a quedas de produção.

            A China não virou o mundo de cabeça pra baixo, na minha opinião, deu a oportunidade para os países desenvolvidos se livrarem da parte das indústrias que virou commodity. Do mesmo modo que a América Latina produz para a Europa os grãos e carnes que antes eles teriam que fazer.

            O desemprego europeu estava perto de mínimos históricos em 2007 (Especialmente Espanha) Outros países só viram desemprego menor no boom dos anos 1960/1970. E nessa altura a produção chinesa já estava mais que absorvida.

            Fora isso esses operosos chineses puderam passar a consumir também, muito bom para todos os produtores de matérias-primas.

            Eu acho que a evolução chinesa foi boa para o Mundo:

            https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/quem-teme-a-china

            Os problemas da Europa com o desarranjo de 2007/2009 tem muito mais a ver com decisões internas erradas, como sustentar bolhas imobiliárias em alguns países e salários irreais para funcionários públicos em outros (parte do problema grego, não sei se grande.)

            Mas falamos falamos e não chegamos a conclusão nenhuma…

            Quem está em crise? O neoliberalismo ou o neodesenvolvimentismo? Ou nenhum, posto que as diferenças são mais de discurso que de prática?

             

          3. Mito e sinceridade

            Falamos tanto dos gregos, e a situação se assemelha ao Mito de Sísifo. É uma tarefa eterna. Uma enorme pedra levada para cima da montanha que, apesar de todo esforço, rola de novo ladeira  abaixo. Segundo Camus, a aceitação deste absurdo exige de nós revolta, liberdade e paixão.

            Penso se tratar da própria práxis da vida. Cabe a cada um de nós escolher o lado que melhor atenda a nossa expectativa. Penso que aos três pressupostos de Camus, eu adicionaria mais uma premissa: a sinceridade da expectativa.

            Até porque, estatísticas, só podem ser feitas após a realização da escolha. O que aconteceu ontem, não necessariamente, se repetirá amanhã. A pedra, não sobe nem desce de igual forma duas vezes. Tudo que a estatística nos mostra, é uma tendência não a verdade. 

  5. Renda per-capita, o que é isto?

    O trabalhador, no dia em sua homenagem, precisa saber que renda-percapita tem um nome sofisticado, mas isso significa o VALOR que se rouba per-capita (por capitar de cada trabalhador) para servir de base ao capita-lismo, seja lá como liberalismo ou desenvolvimentismo.

    A verdade é que, só o trabalho pode criar valor porque só o trabalhador pode trabahar; para que o futuro valor do objeto seja o que trabalhador produziu, por exemplo, crescendo o valor do trabalho com o PIB.

    O Sistema de Valor, portanto, poderia muito bem ser a ferramenta do investimento para que os valores que surgirem sobre o objeto criado não se separem daqueles que o geraram, com a possibilidade potencial de existir um dinheiro correspondente a função socio-econômica da capitação de valor.

    Entretanto, quando o valor é capitado ao invés de ser reproduzido pelo Estado, para estabelecer o meio de circulação de mercadorias e gerar os empregos de valor agregado, como fonte de um sistema público, os agentes financeiros que exploram o trabalador se apropriam dele sem informar de onde ele veio.  

  6. A democracia atual é baseada na fraude

    Você escreveu:

    “Quanto a questão liberalismo/desenvolvimentismo, estamos assim: as mudanças de modelo durante o caminho em alguns países parece que pouco agregaram na capacidade de crescimento. Mas será que realmente “mudaram de modelo”? Ou mudaram de discurso?”

    Não importa se o sistema que está rodando no País é de cunho desenvolvimentista ou liberalista, na verdade a desigualdade surge pela imposição da vontade da elite que cooptou a moeda e determinou a taxa de extração do País submetido.

    Vivemos em democracias que perpetuam a fraude e portanto são fraudes também, os oligopólios dominam a política no mundo hoje.

    Todos os indicadores macro e micro econômicos dependem hoje da vontade destas elites que farão o que for preciso para manter os seus interesses. 

    Assim a única certeza que existe é o alinhamento do “modelo”  ou do “discursso” a estes interesses que não têm a menor vontade de se tornarem públicos e notórios.

    1. Você pode estar certo.

      Mas, como vc mesmo diz, não é público.

      De qualquer modo, eu também acho muita coisa no mundo atual fraude.

      Inclusive a propaganda ‘desenvolvimentista’.

  7. Haitianos

    Gunter, Se o Peru é uma astro latino-americano, porque os haitianos não ficam por lá, quando na migração para  Brasil? Muitos relatam que eles são extorquidos pelos policiais peruanos no trajeto para o Brasil.

    Peru é uma sociedade com ganhos altamente concentrados.Sem analisar o indice de Gini e IDH seu estudo é manco…

    1. Pergunte pros haitianos.

      Ou divulgue em redes sociais a denúncia sobre policiais corruptos peruanos. Eu não vou me ocupar disso.

      Quanto a este post…

      A desconcentração de renda no Perú aconteceu similarmente à do Brasil. O Gini atual é similar (Em 2007, que é o último dado que vi, o Gini do Perú era bem mais baixo que o do Brasil.)

      Até mais ou menos 1970 o Perú sempre foi mais rico que o Brasil. Só que tiveram duas décadas muito problemáticas (anos 1970 junto com os anos 1980, enquanto outros países da Am. latina não tiveram os mesmos problemas na primeira delas), que agudizaram a pobreza, e só mais recentemente o país está se recuperando disso.

      O IDH do Perú sempre foi melhor que o do Brasil. Apesar do período de Renda per Capita menor a expectativa de vida é desde os 1990 maior e a universalização da educação é muito mais antiga lá. (aliás, o conjunto dos países andinos, incluindo Colômbia, Equador e Bolívia sempre teve melhores indicadores de educação de adultos e alfabetização que o Brasil.)

      Se houve um momento em que o IDH do Brasil alcançou o do Perú foi até 2005, então para discurso político pró-opções atuais do Brasil não serve. O Min. da Educação do Brasil reclama da imputação dos dados, mas eu acho isso mimimi.

      Esses dados são de conhecimento público, não achei necessário citá-los. 

      Mas você pode pesquisar tudo isso e elaborar um post “não-manco”.

      Cada coisa…

       

  8. “desenvolvimentistas” e

    “desenvolvimentistas” e “liberais” não podem ser considerados como categorias muito apartadas. Embora existam certas discrepâncias, este termo, “desenvolvimentismo”, pelo menos como aplicado no Brasil, não tem um rigor analítico muito grande, serve mais para propaganda política e tentativa de se diferenciar dos “neoliberais”.

    Não é, por exemplo, uma diferença tão explícita igual ocorre com o modelo social-democrata implantado nas economias centrais da Europa e o modelo liberal estadunidense em vigor desde Reagan. Neste caso, temos diferenças tanto quantitativas (% do PIB destinado ao Welfare) quanto qualitativas (universalização da saúde).

    Foi o que você comentou mesmo: o problema dos EEUU não é em termos absolutos (o pobre estadunidense vive muito melhor que muito “classe média” brasileiro), mas em relativos, pois, enquanto na Europa houve um razoável sucesso em distribuir a grana lá do topo, nos States muita da bufunfa concentrada poderia servir para sustentar um modelo mais razoável de Welfare.

    Paul Krugman sustenta que a tibieza dos estadunidenses em aprofundar o seu sistema de Bem-Estar se deveu às tensões raciais, a direita soube explorar muito bem o racismo e o medo dos negros ao se opor a universalização da saúde (várias foram as tentativas, todas infrutíferas).

    Bem, neste caso (“Social democracia europeia vs Liberalismo estadunidense”) podemos ver diferenças bem delimitadas, mas qual a diferença entre o modelo mexicano e brasileiro? Ou entre o brasileiro e o chileno?

    Todos estes países dependem fortemente da exportação de commodities, foram nos anos 90 contagiados pela “onda neoliberal”, o que reduziu sua autonomia em termos de política industrial, proteção do mercado interno, dentre outras questões.

    Lógico, a excessiva dependência da economia mexicana com a norte-americana, na minha opinião, é um fator negativo, mas mesmo nos EEUU já existem intelectuais que defendem que deve ser prioritário ao país transformar o México em um país harmônico, já que existe uma relação de interdependência entre os países, principalmente por questões fronteiriças. O que hoje é sua danação, amanhã pode se tornar uma benção.

    Confesso que até hoje não sei o que significa ser um “desenvolvimentista”. Mas a sua explanação vai direto ao ponto, ao colocar que o que importa mesmo, para um país mudar de clube (subdesenvolvido para emergente, emergente para desenvolvido) depende do básico do básico: melhora na educação, aumento da produtividade, incremento na produção científica e tecnológica.

    O Japão, por exemplo, foi muito beneficiado pelo investimento norte-americano no pós-guerra, mas antes disso já tinha passado por um surto educacional na Era Meiji, que universalizou a educação em termos de décadas, num contexto em que as elites japonesas tinham um projeto de industrialização para competir pau a pau com as potências pan-europeias.

    Nestes termos, temos dois bons exemplos para desmistificar a questão: o intenso crescimento das economias desenvolvidas no pós-guerra, mesmo adotando estruturas de Estado que hoje são vistas como “mastodônticas” pelo establishment que advoga pela privatização e liberalização, e a estagnação brasileira na década de 90, mesmo seguindo a risca o receituário de um Estado mais “leve”.

    O fato de um país investir mais ou menos no social, ter uma economia mais ou menos liberalizada, pode influenciar na concentração de renda (como vemos na oposição EEUU liberal vs Europa Ocidental social-democrata), mas em termos de crescimento econômico e da renda per capita, não tem como escapar mesmo da fórmula educação/desenvolvimento industrial/desenvolvimento científico.

    Stiglitz, no “the price of inequality”, advoga de uma forma consistente sobre as consequências nefastas que a desigualdade traz em termos econômicos, mas isto é questão para outra discussão. O essencial mesmo, é que esta briguinha desenvolvimentistas vs liberais torna-se estéril, quando um país igual o Brasil não coloca como prioritário o incremento na qualidade da educação básica e não possui um bom planejamento na área de pesquisa nas suas universidades e instituições.

    1. Concordo no geral, Taguti

      Vou copiar algumas coisas que falei agora para Gentilhomme.

      Comentei em alguns pontos do texto que essa divisão entre ‘liberalismo’ e ‘desenvolvimentismo’ é artificial (e para fins de discurso) em muitos casos. (Concordo muito com você que é mais para propaganda política mesmo.)

      Pegue-se o exemplo dos países latinoamericanos. No que de fato (ações) e de substantivo (dimensões relevantes) o Brasil mudou de modelo a partir de 2003? (Eu sempre pergunto isso e nunca tem resposta.) E Argentina?

      Criaram estatais? Subsidiaram fortemente setores? Formaram reservas? (como a China faz para evitar apreciação cambial) Aumentaram impostos? Praticaram taxas negativas de juros?

      Nada, os estamentos em geral foram todos mantidos em relação ao “antes”. Os EUA e o Japão serão mais desenvolvimentistas que o Brasil?

      E pior… Se aceitarmos os apelidos para separar os países em grupos, os assumidamente liberais crescem mais rápido (e sem pior concentração de renda) que os que se dizem desenvolvimentistas.

      (E a desconcentração de renda na Venezuela não justificou a queda pela metade em relação a renda dos EUA. Como saber se não seria melhor para os mais pobres uma economia mais rica pior distribuída? Teríamos que ficar olhando então a evolução do quintil mais pobre.)

      Eu não sou contra o intervencionismo/desenvolvimentismo. Mas é necessário que ele se apresente realmente melhor. Ter sido melhor até os anos 1920 (em bloco) e até os anos 1970 (em partes) não é garantia de que será melhor daqui para a frente.

      A prova de que seria melhor é resultado em produção.

      E isso não estamos vendo. E se tem o exemplo dos vários países da Aliança do Pacífico vis-a-vis Mercosul, tem também EUA vs Europa e, dentro da Europa, Reino Unido e Alemanha (pós-reformas) vs outros países. Ou ainda Turquia vs Irã. Sem falar de China e Vietnã, que por mais intervencionistas que sejam hoje, bom, são menos que no passado. Lá sim pode-se dizer que houve mudança de modelo.

      Como lidar com isso?

      Talvez não seja uma questão de um vs o outro, mas ‘qual o tamanho certo para a intervenção’.

      Sobre os EUA também já comentei abaixo longamente. A questão não é exatamente que houve uma concentração de renda nos EUA. Há um indicador que se mostra mais concentrado, sim, mas a renda foi de um lado para o outro ou renda nova foi criada “à parte”? Os EUA cresceram uns 15% mais que a Europa, por habitante, nesse período de 40 anos. E essa renda foi apropriada pelos mais ricos. Pois então, seria melhor para os pobres americanos se essa renda fosse gerada fora? Provavelmente não, então o modelo americano de subtributação de novos negócios alguma vantagem trouxe. 

      O que não quer dizer que aceitem apenas como consequência os resultados, tanto que o percentual de renda por faixa da população é um dos assuntos mais debatidos nos EUA, o que não ocorre nem no Brasil.

      O próprio Krugman escreveu recentemente sobre como foram os EUA os primeiros a tributar ricos e desconcentrar renda. Até os anos 1970 a distribuição não era tão pior que a europeia não. E a renda do trabalho/das famílias é uns 2/3 do PIB, percentual que não é comum na Europa.

      Assim, a concentração se dá entre trabalhadores também, não necessariamente opondo capital a trabalho (no modelo europeu o capital lucra e é tributado e há as transferências através de serviços, etc.)

      Não dá pra dizer que a dependência dos EUA é negativa para o México (também tem comentário mais detalhado abaixo.) Não se pode usar essa seletividade de pegar apenas o período 2007-2012, em que o México sentiu queda de demanda externa pela recessão dos EUA de 2007a 2010, porque os EUA viveram um boom de 1983 a 2000 e em parte desse período o México cresceu mais que o Brasil.

      Isto é, cresceu antes, aproveitou antes. Simplesmente não é honesto usar apenas os maus períodos do México. Alguém gostaria de dizer que o desenvolvimentismo brasileiro é um fracasso por causa de 1981-1983? Não tem sentido.

       

       

  9. o uso de PPP é simplesmente inapropriado

    Não sei porque vc insiste nisso, Günter. Para séries muito longas, como as de Maddison e as do Gapminder, de fato é cabível usar dados em PPP, porque supôe-se que turbulências cambiais fortes serão anuladas. Mesmo assim, não seria uma boa idéia olhar para, por exemplo, os clicos de governos usando esse critério. 

    Para quem não sabe, a tentativa de igualar os PIBs per capita via paridade de poder de compra tras implícita pergunta “quanto vale um dólar (ou outra moeda base) no país A relativamente ao país sede da moeda base?”. Isso é apenas aparentemente simples. Sabe-se que imóveis, serviços e comida costumam ser bem mais baratos em países pobres e eletrônicos e bens de capital mais baratos em países ricos. O problema é como ponderar essas variações. O mais imples é extrair variação cambial e diferencial de inflação. Mas ocorre que tanto câmbio como a inflação incidem de formas diferentes entre os diversos bens. Ademais, os cestos de consumo, para serem comparáveis, tem de ser muito enxutos, deixando de captar uma série de itens que tem elevado peso no PIB. Um exemplo drástico é o ìndice BIG MAC.

    Quando não se tem outra alternativa, fazer o quê? Todas ciências tem que usar aproximações grosseiras às vezes, desde que sejam as melhores disponíveis, para fazer inferências sobre temas relevantes – naturalmente, o desenvolvimento econômico aí se situa no âmbito da Economia.

    O problema é que vc está interessado em um período para o qual existem séries de crescimento da rpc baseado nos próprios deflatores implícitos do PIB e nas contas de crescimento real de cada país, inquestionavelmente melhores medidas que o PPP. E o BIRD eo FMI disponibilizam (a partir de dados oficiais nacionais cuja qualidade é apena atestada pelo FMI) esses números para todas grandes economias desde, que eu me lembre, desde 1960! 

    Se eu quiser ter uma aproxiamção de quanto é o bem estar médio dos canadenses vis-à-vis o dos sul-africanos, de fato vou ter de recorrer ao melhor cálculo de PPP disponível (creio que o último órgão multilateral a fazê-lo foi o BIRD, dados divulgados esta semana). 

    Mas se eu quiser comparar o quanto a rpc sul-coerana aumentou mais que a francesa de 1980 para cá, é non-sense usar PPP. basta eu usar um ano base qualquer – como 1980 – e ir variando o índice desse ano pela variação aferida da rpc ano a ano desses dois países.

    Infelizmente, não consigo postar dados aqui. Mas o Gûnter, com sua conhecida honestidade intelectual (nenhuma ironia) e infinita capacidade de trabalho poderia nos brindar com os mesmos dados que ele coletou aqui em PPP apenas usando um ano base qualquer corrigido pelas taxas oficiais de crescimento real da renda per capita. Nesse caso, o México cresce menos da metade de 2002 a 2013, e pouco mais da metade de 95 para cá

    (a propósito, falando-se de períodos  realmente longos, não custa lembrar que em às vésperas da Primeira Guerra, antes de o Brasil se tornar o país internvencionista por excelência na América Latina, a rpc em PPP do Brasil era menos da metade da do México, segundo a base de dados atualizada de Angus Maddison (em http://www.ggdc.net/maddison/oriindex.htm, “world population and gdp 1a.d. to 2008”))

    É completamente fora de dúvida que países internvencionistas foram os que se saíram melhor desde a Segunda Revolução Industrial (1880 – 1920, grosso modo). De fato, o único ponto debatido pela literatura acadêmica relevante é  a intervenção “certa” vs a intervenção “errada”.  Normalmente, considera-se que entre os intervencionistas, Coréia e Taiwan – os únicos que conseguiram sem ser ricos antes da 1a. Guerra, terminarem o Século XX no grupo de elite – saíram-se melhor que Brasil, Índia e México. Mas todos eles cresceram muito mais que os países desenvolvidos (atenção: é claro que em períodos isolados certos países que já eram desenvolvidos crescem mais que um país que está vindo de baixo, mas isso reflete apenas uma recuperação, como o que se passou com os países europeus nos anos 50 e parte dos 60, aí é preciso bom senso em olhar com lupa o que parece ser excepcional dentro de uma série longa para separar o joio do trigo; outro exemplo é a aceleração do PIB de países cuja economia é baseada em um produto cujo preço disparou por condições exógenas etc.).

    Há um debate sobre se a chamada globalização – na verdade, a liberalização financeira que se seguiu à violação das regras de Bretton Woods pelos EUA em 1971 – não revogou esse padrão, já que a própria Coréia (que era muito mais intervencionista que o Brasil até 1980, mas era mais inserida no comércio internacional) se tornou mais liberal a partir de meados dos anos 90 (e continuou a crescer relativamente muito). A Índia e a China também eram exemplos complementares a esse caso até os anos Clinton. Essa alteração de cenário foi rapidamente aborvida pela Economia ortodoxa, que desenvolveu modelos de crescimento com hipóteses heterodoxas (em particular por tratar a tecnologia como um fator de produção auto-reprodutível mas desigualmente distribuído entre países), chegando em certas versões a conclusões próximas às dos “desenvolvimentistas”, exceto quanto à gestão macroeconômica.  

    Naturalmente, mais recentemente, depois que ficou claro que as reformas liberalizantes foram apenas correções de rumo marginais em modelos de crescimento liderado pelo Estado – focados em absorção de capacidades tecnológicas estratégicas e em formação de grupos empresariais de grande porte de preferência nos setores na vizinhança dessas tecnologias – voltou a ficar muito difícil defender o liberalismo como estratégia de crescimento econômico (embora não necessariamente de “estabilidade dos preços”, é claro).

    A notar que alguns autores, como os da chamada “teoria do sistema-mundo” simplesmente acham impossível que um país não rico ascenda dentro das regras internacionais. Na verdade, para autores como Arrighi e Gunder Frank, que já foram referências importantes para  o José Luiz Fiori, essa ascensão só é possível por “desenvolvimento a convite” (para eles, esse foi o caso da Coréia e de Taiwan). Nesse sentido – e no âmbito estrito dessa teoria – pode-se dizer que intervencionismo e liberalismo acabam cedo ou tarde dando no mesmo. 

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    1. “Não sei porque vc insiste nisso, Günter.”

      Achei um pouco indelicada a forma como essa ‘cobrança’ foi feita. Até porque sua argumentação omite a inapropriedade maior que é confiar em séries acumuladoras de taxas de crescimento. Séries de inflação, necessárias para obter aquelas, são muito menos confiáveis que séries nominais de produto.

      Mas vamos lá.

      A resposta está no 3º parágrafo.

      “Esse macroindicador tem problemas conhecidos, mas é o mais facilmente disponível para muitos países e por prazos extensos.”

      De 1960 a 1980 não estão disponíveis sempre os dados de crescimento, apenas para alguns países.

      Os de PIB em US$ correntes, sim, estão, mas evito ao máximo usá-los.

      Se fosse como vc fala seria simples, bastaria puxar para trás os PIBS de 1980. Mas isso requereria confiar nas séries de taxas de crescimento, calculadas com deflatores implícitos, séries que justamente acho mais fracas que as séries de PIBs por PPC.

      “e infinita capacidade de trabalho poderia nos brindar com os mesmos dados que ele coletou aqui em PPP apenas usando um ano base qualquer corrigido pelas taxas oficiais de crescimento real da renda per capita.”

      Não pretendo ter esse trabalho não. Pegar séries não-confiáveis para multiplicar por um dado-base para obter séries-índice não comparáveis entre si (teria que em algum ponto aceitar ou o US$ corrente ou o US$ PPP)

      Estou satisfeito com o uso das séries em PPP. Não me preciso me preocupar com inflação, com taxa de crescimento, nada. No máximo com superestimativas ou subestimativas de apreciação cambial que não são cumulativos. Erros em inflação são cumulativos.

      No caso do México, o problema está justamente no que se tem como taxas reais deflacionadas. É a comparação com as séries em PPP que mostra como as mesmas estão subestimadas (ou o deflator implícito superestimado, o que é raro, geralmente é o contrário, mas acontece.) Se alguém começar a atualizar o PIB mexicano de 1980 para a frente com tais taxas vai chegar em um PIB baixo para agora, que não combinaria com os preços mais baixos nesse país. 

      Vejamos: se o PIB mexicano em dólares correntes era US$ 200 bi em 1980, é bem aceitável aceitar US$ 350 bi (FMI) ou US$ 266 bi (Banco Mundial) para PPC. Afinal, é razoável supor que os preços internos eram mais baixos, só há divergência na correção.

      Aí vamos para 2013. Se o PIB em US$ correntes foi US$ 1,25 tri, também é bem aceitável US$ 1,83 tri (FMI) ou US$ 2,00 tri (BM) para PPC. Mesmo usando o menor crescimento (por óbvio, o apontado pelo FMI) e deflacionando pelo deflator dos EUA, o crescimento será maior do que usando as taxas oficiais de crescimento. 

      Se usarmos US$ correntes o crescimento é ainda maior! (6,25 x 5,25.) E perdemos a comparabilidade da renda média com outros países. (E o ufanismo brasileiro atual até prefere que se use US$ correntes pela óbvia valorização cambial, mas quando houver desvalorização, irão pedir que se use PPC, conheço esse filme.)

      Assumamos que o equivalente ao BACEN/IBGE no México pode ter um problema. E assumamos também que todas essas tentativas de dizer que o crescimento mexicano é baixo, são só por razões políticas, para desdizer de liberalismo, ALCA, EUA, o que seja.

      O México só aparece nessas discussões justamente por essa circunstância, porque as taxas oficiais de crescimento podem estar subdimensionadas. E o PPC só costuma ser questionado também nesse caso, porque atrapalha a um discurso político.

      Mas se em US$ correntes o PIB é US$ 1,25 tri, se os preços atuais são 60% dos dos EUA, o PIB comparável internacionalmente é US$ 2 tri. Tem-se que se lidar com isso.

      Se uma série com determinada metodologia é o mais adequado para períodos longos, é também o mais adequado para os trechos. Eventuais erros são corrigidos no longo prazo.

      Você está simplesmente desconsiderando todas as distorções do uso de deflatores implícitos do PIB e propondo para acumular esse erro em longas séries! (como no exemplo França x Coreia) Menos perigoso é usar os US$ correntes… Distorções em séries de inflação ou de deflatores se acumulam, apreciações cambiais têm limite.

      Não só seria mais trabalhoso como seria errado. Séries em PPC são mais confiáveis no longo prazo que séries acumuladas de taxas de crescimento. E, como você mesmo reconhece, são indispensáveis para comparações de padrões de vida. Mesmo que para prazos muito curtos a chance de erro em PPP seja maior, isso também é conhecido e aceito. É por isso mesmo que nas tabelas que comparam os crescimentos de vários países para um ano só aí só é mostrada a taxa de crescimento.

      Mas eu nunca preciso dessa abordagem, acho bobagem coisas como dizer que o Brasil foi o 9º maior crescimento do G-20 em 2013, isso é tão relevante como dizer que o Paraguai cresceu 15%. O que importa é a trajetória no longo prazo. E a do Brasil é menos boa, internacionalmente falando, do que alguns estão dizendo. Ser realista nesse caso é o modo de se pedir por um Brasil melhor. 

      Melhor conviver com erros pontuais de subestimativa ou superestimativa do PPP para alguns anos. Suponha que haja justamente um erro em um ano de fim de mandato. Se alguém tentar usar isso politicamente o afetado vai chiar, não precisamos nos preocupar com isso.

      E uma coisa que você pode não ter notado: falei em alguns pontos que essa divisão entre ‘liberalismo’ e ‘desenvolvimentismo’ é artificial (e para fins de discurso) em muitos casos. Pegue-se o caso dos países latinoamericanos. No que de fato (ações) e de substantivo (dimensões relevantes) o Brasil mudou de modelo a partir de 2003? (Eu sempre pergunto isso e nunca tem resposta.) E Argentina?

      Criaram estatais? Subsidiaram fortemente setores? Formaram reservas? (como a China faz para evitar apreciação cambial) Aumentaram impostos? Praticaram taxas negativas de juros?

      Nada, os estamentos em geral foram todos mantidos. Os EUA e o Japão serão mais desenvolvimentistas que o Brasil?

      E pior… Se aceitarmos os apelidos para separar os países em grupos, os assumidamente liberais crescem mais rápido (e sem piora de concentração de renda) que os que se dizem desenvolvimentistas.

      Eu não sou contra o intervencionismo/desenvolvimentismo. Mas é necessário que ele se apresente realmente melhor. Ter sido melhor até os anos 1920 (em bloco) e até os anos 1970 (em partes) não é garantia de que será melhor agora.

      A prova de que seria melhor é resultado em produção.

      E isso não estamos vendo. E se tem o exemplo dos vários países da Aliança do Pacífico vis-a-vis Mercosul, tem também EUA vs Europa e, dentro da Europa, Reino Unido e Alemanha (pós-reformas) vs outros países. Ou ainda Turquia vs Irã. Sem falar de China e Vietnã, que por mais intervencionistas que sejam hoje, bom, são menos que no passado. Lá sim pode-se dizer que houve mudança de modelo.

      Como lidar com isso?

      Talvez não seja uma questão de um vs o outro, mas ‘qual o tamanho certo para a intervenção’.

      1. Números índices e intervenção

        Primeiro que números índices é o erro ao quadrado, assim, séries históricas em períodos curtos de tempo não trazem confiabilidade.

        Por outro lado, discordo sobre a frase “qual o tamanho certo para a intervenção”, na verdade o problema é determinar qual a intervenção necessária, seu tempo e eficácia.

      2. dados desde 1961
        Embora eu não seja muito assíduo, não é de hj que comento posts teus, de forma que escrevo como se já nos conhecêssemos, o que dispensaria maior formalidade. Não pretendo te cobrar nada.

        No endereço http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP.KD.ZG há dados de variação real do PIB per capita para quase todos países importantes desde 1961.

        Günter, comparar trajetórias de crescimento usando as estimativas de rpc PPC ao invés das taxas calculadas pelos respectivos institutos nacionais equivaleria aproximadamente ao seguinte.

        Um médico pesquisador dispõe de radiografias de vários pacientes e deseja avaliar sua evolução, para digamos, avaliar a eficácia de uma nova droga. Ele acha as radiografias de qualidade desigual, as de alguns pacientes melhores que as de outros, embora cada paciente tenha sido radiografado pelo mesmo técnico usando a mesma máquina . Ao invés de olhar as radiografias de cada paciente em sua evolução, o cara pede pra que tirem fotos de todas radiografias usando a mesma câmera.

        Quanto ao teu ponto sobre inflação, não sei se entendi bem. Porque os deflatores de PIB nacionais seriam piores que a inflação implícita na variação de PPC (descontado o câmbio)? Isso só faria sentido se quem estima PPC fizesse sua própria POF e pesquisasse diretamente preços. Não estás pensando no caso do Indec argentino? Ora, o FMI e o BIRD rapidamente pararam de aceitar as estatísticas de PIB argentino diante das dúvidas sobre a inflação – apesar de o deflator implícito do PIB divulgado ser muito maior que a inflação oficial.

    2. Teoria do sistema do mundo

      Veja Gunter que apesar de não publicisarem existe até teoria explicando. 

      A China é caso à parte, por isto está na vanguarda, usa astrologia, tarot e geometria para auxiliar e orientar suas políticas públicas em prol do povo e da nação. Com isto usa o renmimbi como moeda e abre espaço para aproveitar sua mão de obra e recursos naturais em favor de seu povo.

       

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