Elementos para discutir ‘Campanha 2014’

Alguns colegas lembram que preparei avaliações sobre cenário eleitoral em 2010.

As que eu acho mais interessantes estão nestes links:

2010 07 03 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/como-o-datafolha-superestima-voto-de-serra

2010 07 26 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/rescaldo-das-pesquisas

2010 08 12 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/sobre-argumentos-de-campanha

2010 10 01 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/retrospecto-do-efeito-das-campanhas-nas-pesquisas

2010 10 01 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/as-perspectivas-do-primeiro-turno

2010 10 04 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/oposicao-comemora-o-2º-turno-governo-celebra-o-senado

2010 10 09 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/efeitos-de-campanha-2º-turno-promessometro

2010 10 29 https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/analisando-as-pesquisas-ii

Mas 2010 foi um ano com poucas questões de base. Uma delas era perceber que os elevados percentuais iniciais de Serra eram em muito devidos ao desconhecimento do nome Dilma. Outra era que, desde o início, como percebido em pesquisas espontâneas (e hoje está do mesmo modo), o ‘campo governista’ sempre teve potencial acima de 50%. Então, tratava-se de acompanhar a taxa de transferência/conhecimento e saber se as eleições iriam (e foram) a 2º turno com um artifício como o uso de campanha negativa (que temporariamente deslocou votos de Dilma para Marina.)

 

O cenário para 2014 é em geral muito parecido ao de 2010 e de 2006.

– segmentos de oposição, calculados em torno de 40%, continuam com esperanças de ‘virada’;

– segmentos de situação, também em torno de um mínimo de 40%, serão inabalavelmente continuístas.

O que pode mudar, e o que alguns atribuirão a ‘torcidas’, é a presença de maior incerteza.

Por um lado a oposição não é tão ‘firme’, afinal, nas pesquisas para 2º turno, raramente a oposição tem passado de 40%. Ou seja, Dilma é favorita inconteste tanto para vitória em 1º como em 2º turno, com grande frequência de números acima de 60% dos votos válidos.

Por outro lado, a situação também não é tão firme. E há várias explicações: a) um nome sabidamente desagregador não é mais o candidato que faz alguns rejeitá-lo; b) a alternativa ‘do meio’, em 2010 representada por Marina e agora pelo PSB, tem espaço ainda para crescer; c) a economia vai bem mas a sensação de crescimento não é a mesma que em 2010; c) entraram problemas de valores no meio (secularismo, ética, segurança, postura, novas expectativas) que, se não são determinantes para a maioria da população, podem ser para zonas limítrofes de indecisos.

De um certo modo, ao contrário de algumas situações internacionais, parece que a polarização diminuiu, ao invés de crescer. Saímos do estável fla-flu PT/PSDB para uma situação onde a 3ª. via é mais presente.

É como se Campos/Marina fossem o Plano B para ambos os polos, algo que Covas também representou em 1989 (mas foi o 4º colocado.)

Em simulações de 2º turno Campos têm alcançado Aécio. E Marina sempre suplantou ambos (com Dilma sempre vencendo.)

Então, para simplificar, eliminemos fatores mais ou menos resolvidos:

– Serra nunca esteve muito acima de Aécio nas pesquisas. Algo como 4 ou 5% que seriam cobertos com a campanha e maior conhecimento de Aécio em SP e outros estados. Logo, desconsideremos as pesquisas com Serra;

– O PSDB ainda mantém certa rejeição e anda fazendo um discurso muito ruim de hostilidade à condução da área econômica. Dizer que a economia está mal não é crível (o discurso de Campos que ‘pode melhorar’ é mais razoável para o momento.) Então, pode-se entender a candidatura de Aécio como uma obrigação do partido para reforçar posições estaduais, mas é pouca a chance de que num 2º turno ele passe Dilma (o que é diferente de reconhecer que ele tem chances de ir a 2º turno.)

Assim ficamos com algumas poucas questões:

– Haverá 2º turno?

– Há chances de, se Campos ou Marina forem a esse 2º turno, ganharem?

Vamos aos elementos a considerar, então, olhando para um gráfico de ‘nuvens’, que é um modo de colocar mais informação visual em apenas uma imagem.

 

– os números atuais de votos válidos para Dilma, em torno de 60%, podem ser um teto. Que substituiu o teto de 70% de antes das manifs. Isto porque, tanto faz se é oposição ou governo, o candidato mais conhecido costuma cair um pouco quando candidatos menos conhecidos fazem campanha. E temos dois ou três para fazer isso. Dilma terá um fantástico tempo de TV (quase 55%?) mas isso será redundante agora, ao contrário de em 2010. No gráfico isso é apresentado pela certa estabilidade das bolinhas vermelhas;

– o PSB terá que escolher entre Campos e Marina. Como Marina talvez já esteja em seu ‘teto’, é possível que o partido aposte em Campos + transferência de votos. As pesquisas de antes da filiação de Marina ao PSB a apresentavam como candidata ao mesmo tempo que Campos. As bolinhas amarelam apresentam esse potencial de eleitores não-dilmistas. A questão para o PSB é conseguir que os eleitores de Marina endossem Campos, para que isso seja o mínimo dele e possa crescer a partir daí (essa é praticamente a única chance de uma candidatura de oposição ser competitiva e pode-se considerar essa simbiose um acerto político.) E se isso dá resultado ou não poderá ser acompanhado pela aproximação entre as nuvens laranja e verde. Alguma aproximação houve (e as bolinhas laranjas são a nuvem mais inclinada), mas não o suficiente para a oposição comemorar;

– apesar de ainda não estarmos em campanha aberta, é claro que Campos (bolinhas laranjas) está crescendo e se aproximando da menos crescente sequência de Aécio (bolinhas azuis.) Isto é, o conjunto Aécio + Campos (bolinhas roxas) é moderadamente crescente e com chances de Campos passar, durante a campanha, a 2º colocado.

– o percentual de brancos/não sabe/nulos anda muito elevado, entre 20 e 30%, mas sabemos que até a eleição isso irá para 8 ou 10% (fora abstenções.) O maior dinamismo foi claramente no 2º semestre/2013, já que as pesquisas recentes (fev./2014) apresentam resultados muito parecidos aos de outubro/novembro/2013. É quase como se dezembro e janeiro não tivessem gerado fatos políticos.

O quadro geral, resumindo, parece:

– menos definido que a eleição anterior;

– governismo como favorito (há estudos que apontam para 85% de chance);

– oposição com chances, mas dependente de muita coisa: apoio sistemático de mídias (deve obter); transferência de votos entre os oposicionistas (ainda há muito ‘vazamento’ para Dilma nas simulações para 2º turno, Campos só recebe 2/3 dos votos de Aécio, por exemplo); campanhas bem feitas e que realmente aumentem o conhecimento dos candidatos e propostas.

– uma rara oportunidade de um(a) vice (Marina) fazer ‘diferença’.

(Nota: o autor prefere Campos/Marina às alternativas Dilma e Aécio. Que o leitor leve isso em conta e dê o desconto de eventual ‘fator torcida’, se achar relevante.)

 

 

Redação

17 Comentários

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  1.  
    Fazer todo esse estudo

     

    Fazer todo esse estudo ,escrever tanta merda pra arrematar que Dilma é fa’vorita hoje?

          A minha auxiliar de trabalho diria:

               ”JESUIS”

        Eu sou mais direto:

       Vc quer provar a origem do óbvio?

       Hoje é domingo dia 23/2 2014 e Dilma é favorita pra ganhar as eleições;

                E ?

        Qual é a novidade perpetuada nos últimos 3 anos?

               Em que periodo ela não foi?

           A minha auxiliar de trabalho diz ”JESUIS—como escrevi.

              Já o meu ajudante no volante disse:

                ”CARAIO”.

                 Ou seja,estamos todos estupefatos.

                 Oh………….

  2. Olá, Gunter, não sou revisor

    Olá, Gunter, não sou revisor nem professor de português, mas lendo um texto seu -como sempre bem elaborado e escrito- com um descuido no uso do verbo ser (se Campos e Marina serem esse 2º turno) me decidi por sugerir que o corrija. Evitamos assim que algum safado coxinha galhofe ou que algum sociólogo reitor de universidade particular paulista passe a menosprezar o texto como fez ao acusar a Profª Marilena Chauí de falar “menas” nos debates televisivos da eleição de 1989. Evitamos assim, também, de ter que esticar o 3º dedo da mão para eles.

    1. Quem se mete a corrigir,

      Quem se mete a corrigir, acaba também cometendo gafes: “evitamos ter que esticar” estaria correto, mas se coloco a preposição “de” parece que tenho de flexionar o verbo ter: “evitamos de termos que esticar”  ou não?

        1. Ivan, só fiz o comentário

          Ivan, só fiz o comentário porque sei que foi apenas um descuido do Gunter e não ignorância. Quem aqui pensaria que o Gunter é iletrado, tendo ele já demonstrado exaustivamente quem é, um dos mais participativos e competentes produtores de conteúdo do Blog? Esses descuidos acontecem com qualquer um, acontecem comigo direto. Desculpe a comparação, mas quando você vê um amigo com uma indiscreta sujeirinha no nariz, é daqueles que fingem não ver, para ser “elegante” ou daqueles que avisam o amigo para que se recomponha e evite passar mais vexame diante de terceiros? Eu aviso e gosto de ser avisado. Acho mais honesto.

          1. (“Quem aqui pensaria que o

            (“Quem aqui pensaria que o Gunter é iletrado”:

            Nada a ver, Gomes -e eu nem vi que era post do comochama, nao registrou!)

        2. Tranquilo, Ivan

          Foi pertinente a correção, estava prejudicando a leitura mesmo. E ainda não estou convicto de ter acertado.

          Mas a ideia passou. 

          Abs.

      1. Mudei de ‘ser’ para ‘ir a’

        Ficou melhor?

        Eu continuo em dúvida, deu-me vontade de mudar a frase toda para:

        ‘Caso Campos ou Marina passem para o 2º turno, haverá chances de ganharem?’

    2. (ZeGomes, so os idiotas ou os

      (ZeGomes, so os idiotas ou os que desconhecem o blog corrigem portugues aqui.  Irrelevante:  se o ponto esta feito com garra ou nao, com elegancia ou nao, ta feito e pronto.  Ninguem dos regulares nota.  Sei disso porque nunca usei um acento e ainda por cima meu purtugueis eh menos que louvavel.)

  3. Se não para todos, mas o mundo gira.

    Gunter,

    Esperei ler em seu texto um elenco do que os candidatos deveriam discutir na campanha que se avizinha, mas o que vi foi uma lista de suas manifestações em momentos que já se foram, enquanto a realidade que nos é posta hoje é totalmente outra, bastando ver que naquelas ocasiões o PT era o grande puxador de povo, o que já não consegue por  não ser mais quem era, pois optou por escantear as bandeiras que então encantava a todos

    Em 2010 eu atuei na campanha meio que encarnado em Lula, mas hoje me desencarnei do lulismo e, com certeza, não me vejo repetindo nada do que fiz no passado sob a bandeira do PT e de seus representantes mor, pelo simples fato que esse governo não se ocupa nem um pouco com um projeto de país, um projeto que seja fruto de uma radiografia ampla, mais a participação do povo que continua à margem de opinar sobre o que lhe interessa e a reboque de programas pontuais feitos sob a perspectiva de resultados meramente eleitorais.

    É um governo que se nutre de uma autosuficiencia que não lhe deixa perceber que nem tudo estão flores e/ou amores.

    A Marina estará vindo em minha Cidade quando eu e outros esperamos poder colocar-lhe esse enfoque, não porque seja ela, a Marina, mas porque à mingua de quem melhor fosse.

     

     

    1. Acho que ninguém quer discutir muita coisa…

      …mas até agosto há esperança de que alguém se anime.

      Fiquei surpreso com suas colocações, pela minha lembrança você era mais governista. Eu também não gosto do jeitão autocrático da coligação de governo.

      Como querem crescer nas pesquisas, talvez Marina e Campos sejam sim mais sensíveis a demandas.

      Boa sorte!

  4. Enfim uma visualização gráfica produzida pelo Gunter

    Caro Gunter, em um outro post (“Por que Dilma empacou?”), comentei que aguardava ansiosamente teus excelentes gráficos.

    Neste, encontrei alguns erros (datas ainda não ocorridas: 02/03/14 e 21/04/14) e percebi também que o amigo já foi capaz de produzir mapas bem mais claros. Confesso ter ficado um pouco confuso com este.

    Não é uma crítica, pois todos conhecemos o potencial que você tem de produzir mapas bem mais claros e por que este ainda é o primeiro. Com o tempo, tenho a certeza de que virão coisas melhores.

    Respeitosamente, entretanto, discordo das preferências manifestadas.

     

    1. Agradeço que comentou, Galileu

      Isso das datas é fácil de corrigir. Aproveitei para por a data da eleição no mesmo gráfico. Assim as pessoas poderão imaginar visualmente que haverá 2º turno se a ‘nuvem’ de bolinhas roxas (Aécio + Campos) alcançar algo como 38%, contando que PV e algo mais possam chegar a uns 5% e que Dilma fique nos 43%. O que acha?

      Este ano não pretendo abordar o assunto com a intensidade de 2010. Aquele ano foi de aprendizado de algumas coisas, que agora já estão na cabeça das pessoas (as diferenças de metodologia, a questão do conhecimento de nome, a importância de acompanhar também as pesquisas espontâneas.)

      Acho que se este ano acompanharmos uns poucos indicadores, e apenas uma vez ao mês ou a cada dois meses, teremos um bom quadro geral. Esses indicadores podem ser:

      – percentual de votos válidos de Dilma no 1º turno: isto é, se a eleição caminha para vitória em 1º turno ou em 2 turnos

      – trajetória de PSB vs PSDB, para ver quem poderá ir para 2º turno. Vamos dar como certo que, nessa circunstância, PSB captará mais votos do PSDB que o contrário

      – percentual de votos válidos de oponente no 2º turno: isto é, há chances de passar dos 50%?

       

       

       

  5. “Isso das datas é fácil de

    “Isso das datas é fácil de corrigir. Aproveitei para por a data da eleição no mesmo gráfico. Assim as pessoas poderão imaginar visualmente que haverá 2º turno se a ‘nuvem’ de bolinhas roxas (Aécio + Campos) alcançar algo como 38%, contando que PV e algo mais possam chegar a uns 5% e que Dilma fique nos 43%. O que acha?”

    Valeu Gunter, pela resposta e pela correção às datas.

    O mapa modificado, com projeção para o futuro, me pareceu mais claro. Agora compreendi melhor o que o amigo desejou mostrar.

    Você me pergunta o que eu acho? Tenho muitas dificuldades em fazer projeções para o futuro.

    Tenho me limitado a observar o filme das pesquisas até a data atual. Daí minha observação produzida no post “Por Que Dilma Empacou?”

    Para projeções futuras, me parece necessária a evidência mais clara de uma tendência consistente. Acho que ainda não temos. Muita coisa ainda pode acontecer até outubro. No início de 2013 parecia haver uma tendência consolidada e que se desfez ante ao imprevisível.

    Achar que as itenções de voto em Dilma permanecerão constantes até outubro me parece um pouco precipitado. É claro que tenho minhas preferências (votarei em Dilma), mas neste momento acho que essas intenções até outubro podem tanto cair, como subir, ou mesmo permanecerem estáveis (menos provável ante uma situação com tantas variáveis em jogo).

    Não consegui perceber nas últimas pesquisas essa tendência de subida de Aécio+Campos. Ao menos no DataFolha.

    Em outubro, a soma dos dois era de 36%;

    Em novembro, de 30%;

    Finalmente, agora, é de 29%.

    Em resumo, de novembro para agora a variação foi dentro da margem de erro. Mas de outubro para novembro a variação foi elevada e negativa.

    Alias, seu mapa representa isso corretamente. De onde veio, então, a inclinação positiva nas intenções futuras de Aécio+Campos? Eu seria mais tentado a apostar exatamente no contrário.

     

    1. Nos últimos meses não teve mesmo mudança

      E a soma deles caiu um pouco sim.

      A inclinação da nuvem decorre da comparação período pós manifs com período anterior. 

      E não dá para saber se haverá nova mudança do patamar dessa soma de opositores.

      A linha tracejada é somente para indicar o caminho esperado pela oposição, mas não é uma previsão. Melhorarei isso numa próxima.

      Abs.

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