O anti-imperialismo órfão e seu padrasto adotivo

Por Gunter Zibell

http://www.youtube.com/watch?v=tJduNNuOuyE]

Uma coisa ficou clara com as últimas aventuras de Putin: ele consegue angariar fãs fora de seu país, mesmo sendo claramente um líder populista e autocrático.

Os fatos as pessoas conhecem:

– A Rússia é a 6ª economia do mundo, mas isso significa ser apenas 7% das 5 maiores, que não têm (por óbvio) interesse nenhum em mudanças de status quo na globalização geral. É muito diferente dos anos 1960, quando a URSS era a 2ª economia, desafiadora em tecnologia, oferecia uma ideologia alternativa, e a China ainda era um país fechado em si mesmo. A economia russa é cerca de 20% da Europa Ocidental, com quem disputa a influência nas ex-repúblicas soviéticas (às do antigo Comecon já foram todas para a órbita da U.E., quando já não estão na Zona do Euro.)

– Ao contrário da economia da URSS, a atual economia russa é razoavelmente integrada à ocidental, mas com hidrocarbonetos (gás e petróleo) representando 60% das exportações (e boa parte dos impostos que mantêm o Estado Russo – e sua popularidade na forma de quase 1/3 de funcionários públicos ou de estatais.) É uma economia não diversificada, em que tirando a tecnologia militar (e o anacronismo de se fazer ameaças usando isso) não se diferencia para investidores internacionais do Brasil ou México.

– É ilusório, nesse contexto, pensar em autossuficiência: o país importa muito de seus alimentos, suas elites não estão dispostas a abrir mão das conexões com o Ocidente, o governo não pode se dar ao luxo de ser indiferente a desvalorizações cambiais ou de bolsa nem a fuga de capitais. A dificuldade em ser vista como parceiro comercial confiável será crescente e países da Europa se apressarão em encontrar fontes alternativas para sua matriz energética. As importações de gás russo já são decrescentes no tempo.

– As investidas em relação à Ucrânia são antigas, a chantagem do gás já foi usada várias vezes. Fazem parte de um projeto de tentar reatrair para a órbita russa algumas economias ex-soviéticas. Só que agora esse mesmo projeto ficou abalado, pois os outros caudilhismos nesses países do Cáucaso e Ásia Central vêem claramente que o que se espera deles é subordinação.

– No episódio atual foram usadas propagandas enganosas já desmentidas, a mais famosa a do rabino pró-Rússia que instava judeus a fugirem da Ucrânia (mas o rabino-chefe da Ucrânia é pró-Maidan desde o início.) A argumentação dos pró-Putin no exterior se sustenta muito em uma improvável dominância de pensamento de extrema-direita no novo governo ucraniano. Mas o que vier a ocorrer não ultrapassará o que já aconteceu em Hungria ou Grécia e essa propaganda logo se desinflará.

http://www.youtube.com/watch?v=JX6Yejq0HWo]

[…Se esse mundo fosse só meu tudo nele era diferente. Nada era o que é, porque tudo era o que não é. E também tudo o que é por sua vez não seria. E o que não fosse, seria…]

Ao contrário de China, EUA e países da U.E., o regime russo é personalista e dependente de gestos nacionalistas que impulsionem a popularidade do líder. Mas alguma vez na História isso se sustentou por muito tempo? Bom, na Rússia já dura 13 anos devendo se estender até 2024. O maior trunfo de Putin, na verdade, não é um programa moderno, mas ter sucedido ao desastre Ieltsin.

O que a Rússia pode obter agora já é muito claro: a influência sobre a Crimeia (que poderá ser transformada em república subserviente porque isso gera menos questionamentos que uma simples anexação.) O ‘teatro’ para isso, situação em que EUA e U.E. podem forçar Ucrânia a aceitar, está armado: plebiscito já foi marcado, seria um retorno à situação anterior ao equívoco histórico de 1954, a Ucrânia já tinha ameaçado não renovar os contratos de arrendamento de bases, 60% dos habitantes são russos-étnicos, a própria Ucrânia não-russófila se veria ‘livre’ de um eleitorado hostil, as declarações recentes de Putin dão sinais de que ele se contentaria com isso como trunfo para mostrar para sua opinião pública interna, é uma situação parecida a das porções da Geórgia tomadas em 2008 (também sem questionamento ocidental.) Mas não era esse o interesse original, a incorporação da Ucrânia a uma comunidade econômica.

Putin sai menor do que entrou após os últimos anos: imagem negativa junto às opiniões públicas no exterior, menor confiabilidade da Rússia como parceira comercial ou política, desconfianças crescentes surgindo em seus vizinhos. Mas com muito apoio interno, claro. Quem irá falar com franqueza que esse quadro mais ou menos equivale ao de um Irã multiplicado por três?

Nem a Rússia nem muito menos Putin (que tem um público interno a agradar, lembremos sempre disso) representam, portanto, um desafio concreto à hegemonia do capitalismo globalizado rconsolidado por potências como EUA, China e União Europeia. A Rússia é muito mais um possível ‘império’ formando parte que oposição a esse concerto.

Então, como explicar o fenômeno de popularidade no exterior?

Antes temos que ver que tal “popularidade” é, na verdade, muito reduzida. As pessoas às vezes, quando ficam se autorreferenciando em círculos restritos, esquecem o quanto eles podem ser minoritários. Mas não há mídias, pensadores nem governos de expressão no exterior apoiando a Rússia. É possível se fazer paralelos à aventura argentina nas Falkland/Malvinas ou dos EUA no Iraque e Afeganistão: ausência de resultados a partir de premissas falhas.

Não é preciso muito exercício de ligar pontos para se perceber que Putin (e nesse caso bem representando os interesses russos) apenas quer se aproveitar do saudosismo de poder que a URSS um dia representou. Lida com imaginários políticos nacionalistas, portanto. E para isso a manutenção de um ambiente, por ameaças a ex-satélites na Europa Oriental ou por manipulação de um ambiente instável no Oriente Médio, de elevados preços para gás e petróleo, é totalmente conveniente.

O fato de que tais preços prejudicam em muito a agricultura (via preços de fertilizantes) e desenvolvimento econômico (preços de energia) dos países subdesenvolvidos não é levado em conta pelos observadores.

A circunstância de que o regime russo garante menos liberdades para atuação de jornalistas, manifestações públicas ou agremiações políticas que, digamos, os EUA, também não é considerado. Como não é considerado que a Rússia é um país de “direita”, com pouca competição econômica e elevada concentração de renda. Se alguém apelidar de fascismo estaria muito longe da realidade? Cada um que analise.

Nada da realidade importa quando autoengano se instala. Parece haver um sentimento anti-imperialista (ou anti-americano, como se queira) que desde o fim da URSS e da China de Mao, ou também da imposição mais ou menos global de doutrinas mais liberais em economia, é claramente órfão de para quem torcer.

Por algum tempo, resultados eleitorais favoráveis à centro-esquerda na América Latina exerceram esse papel, mas agora também ficou claro que a popularidade de vários dsses regimes é, como a de tantos outros, muito atrelada a relações favoráveis de trocas externas, notadamente a triplicação de preços de minerais e grãos, quintuplicação de preço do petróleo. (Se alguém duvida disso que aguarde o próximo ciclo de desvalorização de commodities.) Esse movimento político não se verificou na Ásia nem sequer em alguns grandes países latinoamericanos.

A Crise de 2008, que levou à recessão em todo o mundo desenvolvido (e por tabela afetou Rússia e México também) e a menor crescimento nos demais países em 2009, também manteve, digamos assim, animadas as discussões. Alguns podem até hoje confundir uma crise cíclica com decadência inexorável do capitalismo, e muitos podem temer com razão o ressurgimento de discursos de extrema-direita dos países europeus mais afetados. Mas quem notou que isso ficou circunscrito a poucas economias que fizeram uma gestão temerária de endividamentos público e privado nos anos 2000?

No fim os fatos, quer sejam eleições na América Latina e países da OCDE, quer sejam golpes no Oriente Médio ou onde mais for, mostram apenas uma coisa: não existe nenhum movimento substantivo de ‘guinada à esquerda’ em lugar algum. Alguma recuperação de papel do Estado como orientador das economias até houve, mas limitado a posturas mais keynesianas e menos neoliberais dos bancos centrais. É provável que após 30 anos de reconcentração de renda nas economias centrais isso seja questionado e parcialmente revertido, mas não muito mais que isso.

O que ainda definirá a maior parte das economias (e a política de seus países) ao longo das próximas décadas será a gestão, a eficiência econômica, a competitividade, a incorporação de tecnologia, o envelhecimento de populações, as questões ambientais.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=OdjWBSkKbOA

Se alguém ‘torce’ por Putin, ou se omite propositadamente em relação às bravatas dele tão somente por algum viés anti-imperialista ou terceiro-mundista, posso me sentir muito tranquilo em dizer: isso não levará a absolutamente nada relevante. (Como, aliás, as revelações de Snowden também não representaram nenhuma mudança substantiva nas posturas de estados e suas relações.) E se, alternativamente, alguém o ‘teme’, também não há razão para tanto: a Rússia não tem capacidade de exportar modelos.

Essa necessidade de ‘adotar’ um líder externo, temporariamente em evidência, em discussões em redes sociais, expressa, assim acredito, uma ausência de modelos ou discursos mais próximos para se apoiar. Dificilmente algo pode ser mais ‘complexo de viralata’ que isso.

Mas por que eu me envolvo em discussões assim? É uma boa pergunta, não? Afinal, está claro que nada mudará de substancial no Mundo nem no Brasil com tudo isso, a transformação de Putin em um neoczar é algo que no médio prazo retornará ao interesse do público interno russo.

Acho que é porque acredito em evolução da Humanidade através da conscientização cumulativa. Informação e conhecimentos factuais são o que importam, não ‘torcidas’. Além de sabermos nos posicionar pelo que acreditamos ser melhor, devemos ter uma visão realista dos processos históricos e econômicos e de como os resultados são atingidos. E isso inclui perceber como se dão as variadas ‘propagandas’.

Putin não é esperança para nada. No que um ‘modelo russo’ seria superior a qualquer outro? Representa apenas um líder regional, como já dito, populista e autocrata. Sua visibilidade, que o faz aparecer em listas de ‘influentes’, é pelo potencial de atrasar agendas, não de fazê-las avançar. Mas mesmo isso é limitado pela realidade econômica e populacional de seu país. Um líder religioso como o Papa Francisco parece ter coisas mais interessantes a dizer.

É surpreendente, embora explicável, que pessoas se deixem envolver por uma personalidade como Putin.

E é assim que talvez não perca mais tempo com ele.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=xWXzsAib920

Redação

65 Comentários

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  1. Só surpreende quem não

    Só surpreende quem não consegue [ou não quer]enxergar os que estão do outro lado: a aliança israelo-anglo-saxônica. 

    1. Isso existe, claro

      Com muito mais, mas muito mais mesmo, gente nessa aliança.

      E é por isso que é dominante no cenário atual. A Rússia não tem como se contrapôr e acaba sendo uma cópia em escala reduzida para ‘consumo interno’.

      1. E isso é bom??

        Até concordo com suas análises sobre Putin, de quem eu também não gosto.

        Mas vale a pena perguntar:

        Você acha bom que a dominação americana se amplie? Que eles decidam aqui e ali quem eles querem que governe os países? Você sente isso como uma evolução em relação a época de guerra fria? Você acha que estamos realmente mais seguros contra guerras, genocídios e invasões sem motivo sobre o regime hegemônico dos americanos??

        Pelo que a história recente nos mostrou não parece provavel que alguma coisa vai melhorar com esta dominação unilateral do EUA.

        1. Boa pergunta

          No caso, sim. Porque o modelo russo não representa uma alternativa melhor de dominação, mas pior.

          A dominação americana como é conhecida já foi erodida de modo digamos saudável pela concorrência de tigres asiáticos e Europa Ocidental ao longo das décadas.

          Inclusive, nos anos 1970, a América Latina experimentou taxas muito mais elevadas de crescimento pelas multis dessas regiões.

          E mais recentemente a maior parte do crescimento acima da média mundial de países em desenvolvimento é atrelado à valorização de commodities puxada pelo crescimento industrial da China.

          Achar que há dominação unilateral dos EUA é mito, esse país não deteve a aproximação dos demais aos seus níveis de tecnologia e produção, inclusive já há países com níveis melhores de renda (Austrália, p.ex.)

          A Rússia é subordinada nesse processo todo, não é agente causador. 

          Então não vale a pena ‘torcer’ por Putin. 

          Mas vale a pena entender porque ele não conseguirá mais que a Crimeia. o que já tinha, certo?

  2. 3..2..1… para alguém lembrar de LGBTs.

    Antes que alguém apareça de novo com essa ladainha, vale esclarecer que regimes usarem de artifícios como recorrer a censura, xenofobia, homofobia, restrição a manifestações ou qualquer demonização dessas, costuma ser sinal de que os governos temem resultados eleitorais futuros. É mais um indicador que algo não está certo e ao longo dos últimos 100 anos tivemos vários exemplos. Mas alguns se mantêm por muito tempo assim.

    Isso por si só já deveria servir para as pessoas pensarem se a Rússia não terá perdido sua capacidade de ‘soft power’, ou seja, de influenciar externamente sem recorrer a ameaças, bloqueios econômicos, etc.

    Usar agora de intimidação bélica é um erro correlato mas de outra natureza. De qualquer modo também não favorece a imagem de um país junto à opinião pública internacional. Mas serve para consumo interno.

     

    1. … Zero, -1, -2, -3 …

      O comentrarista transbordou o blog com LGBT (contrabandeado direta ou farsescamente em qualquer outro assunto) e agora demoniza como “ladainha” (alheia!).

      Ele mesmo lembra … o que “niguém deve lembrar”! Tá certo!

      Vai para o trono ou não vaaai? … Terezinhaaa!

       

      PS: Vai ficar Putin porque nem falei de Putin, que aliás tornou-se outra “becessão”, como se o assunto fosse “ele”…

  3. Mito do progresso

    Acho que é porque acredito em evolução da Humanidade através da conscientização cumulativa  = positivismo, mito do “progresso”.

    http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/12/conflicts-forum-comentarios-da-semana_30.html

    A experiência a partir da qual o presidente Putin da Rússia está desenvolvendo uma ideologia conservadora antissistema não é muito diferente dessa (resultado, lá, da própria experiência da Rússia, primeiro com uma “modernidade” marxista desenraizadora; e, depois, com uma “modernidade” neoliberal para o globalizamento).
     
    Em recente discurso ao Parlamento russo,Putin falou da necessidade de um novo “conservadorismo”. Esse conservadorismo deve ser definido, numa nova abordagem, segundo Fyodor Lukyanov, com bases no “fato de que todo e qualquer progresso, hoje, trará necessariamente resultado negativo”. Em outras palavras: a busca da modernidade por abordagem neoliberal tornou-se daninha em todo e qualquer lugar – além de levar a resultados estrategicamente incoerentes.
     
    Putin argumenta que a disparidade entre (a) os valores tradicionais [dos russos], um senso de ser [russo], de valores familiares herdados, de modos de criar os filhos; e (b) os novos “espaços de valores” europeus que emanam hoje do “universalismo” já é grande demais; e que os valores locais devem ser protegidos. Em outras palavras: cada nação e cada cultura é única, com seus valores; sobretudo, a específica identidade.
     
    De fato, Putin está sugerindo um novo conservadorismo estratégico que recusa o globalismo liberal – e que retoma a dimensão nacional em seus conceitos principais, de legitimidade e soberania. Chama esses valores de “conservadores”, mas não no sentido de que impeçam o progresso e, sim, como meio para impedir uma regressão, com queda do abismo moral. “Progresso” nessa definição não é o progresso da modernidade, [1] mas mais, um desejo de voltar ao humano. Ou, como Baudelaire escreveu [2] “Progredir, para eles, não é avançar, nem conquistar, mas voltar e encontrar […] O progresso, pois, o único progresso possível, consiste em desejar reencontrar a Unidade perdida”. (Em DeDefensa.org,ofereço discussão mais completa sobre as implicações das ideias de Putin [em francês]).
     
    Num certo sentido, Putin pôs o dedo na natureza da crise no Oriente Médio (apesar de estar falando sobre a Rússia). Patrick Buchanan (“conservador” norte-americano, mas não da gangue dos neoconservadores neoliberais [3]), em artigo intitulado “Is Putin One of US?”, observa que [Putin] está procurando redefinir o conflito mundial futuro do “nós vs eles” – como conflito no qual os conservadores, tradicionalistas e nacionalistas de todos os continentes e países levantam-se para resistir ao imperialismo cultural e ideológico do que, como Putin o vê, é um ocidente em declínio, cujos valores de globalização provocam “desconforto” em muitos locais.
     
    “Não atacamos interesses de ninguém” – disse Putin. – “Nem queremos ensinar os outros a viverem a própria vida”. O adversário de Putin não é os EUA onde nascemos, mas os EUA onde vivemos” [Buchanan escreve], “que, para Putin, são EUA pagãos e progressistas selvagens. Sem nomear país algum, Putin atacou as “tentativas para impor modelos de desenvolvimento mais progressivos” a outras nações, que já levaram a “declínio, barbárie e muito sangue”: ataque direto às intervenções dos EUA no Afeganistão, Iraque, Líbia e Egito” – Buchanan sugere.
     
     
    Buchanan não chega a dizê-lo. Mas a formulação “conservadora” de Putin é antipolar, antissistema – e será reconhecida por muitos na região como posição de resistência.

     

      1. Acho que a sua questão com o

        Acho que a sua questão com o Putin é outra. Normalmente voce fala que não podemos ficar no Fla x Flu do jogo politico aqui no Brasil, mas Gunter, é impossivel não pensar que você usa sua argumentações para sustentar sua posição anti  o anti homossexuais (Putin). Tudo bem, vc não tem obrigação de apoiar o Putin, mas não é preciso fazer toda essa volta. O que o colega falou sobre Outin estar criando mais uma vez a polaridade de resistencia aos efeitos daninhos do progressismo selvagem faz sentido sim. Provavelmente, o presidente Russo não encontrará ecos apenas dentro da Russia, mas e muitos locais do Planeta. É preciso tempo para desenvolver mais isso.

         

        Abs

  4. O peso das ilusões

    O peso das ilusões

    https://ateus.net/artigos/entrevistas/o-peso-das-ilusoes/

    Para o pensador inglês, a fé no progresso é uma ilusão, o homem não é dono de seu destino e os avanços científicos nada têm a ver com a ética. — Thereza Venturoli

    O inglês John Gray, professor de pensamento europeu na London School of Economics, de 57 anos, é homem de frases curtas e categóricas, como “o conhecimento não nos torna livres” ou “nenhum projeto político pode salvar a humanidade de sua condição natural”. Com afirmações como essas, ele declara, em seu mais recente livro, Cachorros de Palha (Editora Record), seu ceticismo com relação à tradição cultural do Ocidente. Gray acusa o humanismo secular moderno, que embebe a filosofia, a política e a ciência, de herdar do cristianismo a ideia — ilusória, segundo ele — de que o homem tem papel central no universo. Para o autor, ao contrário, o Homo sapiens não é mais do que uma espécie cuja passagem pelo planeta é efêmera e cujo destino é selado pelas mesmas leis naturais que regem as demais formas de vida. Pessimismo? Segundo Gray, a mensagem do livro não é de desespero, mas de libertação. Ele quer livrar o homem das ilusões que o fazem se sentir responsável por “carregar a Terra sobre os ombros”. Até porque não adiantaria nada.

    Veja — Uma das teses centrais de seu livro Cachorros de Palha é a de que a crença no progresso é uma ilusão. Mas não seria essa crença uma necessidade, digamos, darwiniana dos seres humanos — um traço desenvolvido pela espécie por favorecer sua sobrevivência?
    Gray — A crença no progresso não tem necessariamente uma razão evolutiva, não faz parte da biologia humana, em absoluto. É algo que data do século XVIII, ou seja, de cerca de dois séculos apenas. Afora aquelas que têm um sentimento religioso, as pessoas que acreditam em alguma coisa hoje acreditam no progresso — e só no progresso. Para elas, as futuras gerações sempre viverão melhor do que as anteriores, e a humanidade avança no conhecimento como avança na ética e na política. Mas isso é um mito, uma ilusão nociva, porque muitas vezes nos cega para grandes problemas e nos impede de perceber que, quando pensamos estar progredindo, na verdade estamos regredindo.

    Veja — Também na ciência o progresso é uma ilusão nociva?
    Gray — Na ciência e na tecnologia o progresso é real, mas só faz aumentar o conhecimento e o poder do homem, e esse poder pode ser usado tanto para os mais benignos objetivos quanto para os mais desastrosos. Quando o conceito de progresso é aplicado à ética e à política, ele é uma ilusão perigosa. Veja-se, por exemplo, o caso dos gregos e dos romanos antigos. É claro que eles acreditavam no desenvolvimento de novas ferramentas. Mas eles não transferiam essa noção de progresso técnico para a ética ou a política. É óbvio, também, que eles acreditavam no bem e no mal, que as sociedades podiam ser melhores ou piores, e que a prosperidade é preferível à fome e à pobreza. No entanto, para gregos e romanos, os jogos da ética e da política estavam sujeitos a avanços e retrocessos. Ou seja, a história humana era cíclica, com diferentes períodos se alternando, como ocorre na natureza.

    Veja — O senhor discorda de qualquer pensamento que considere o homem como o centro do universo. Mas é possível existir uma moral que não seja antropocêntrica?
    Gray — Sim, é possível. Na verdade, na maior parte da história, a moralidade não foi antropocêntrica — nem no budismo nem no taoísmo, por exemplo. O antropocentrismo é característica do cristianismo e do humanismo secular — que nada mais é do que uma versão do cristianismo sem Deus. Como qualquer outro animal, o homem também aspira ao bem-estar. E o bem-estar humano é em muitos pontos similar ao bem-estar dos outros seres vivos. Eu sustento que o homem é um animal como outro qualquer, produto do mundo natural e passível de ser eliminado por mudanças ambientais, como ocorreu com muitas outras espécies no passado.

    Veja — Se o homem é um animal como outro qualquer, como nossa espécie chegou a dominar o mundo?
    Gray — O homem é um sucesso evolutivo: desenvolveu uma linguagem sofisticada, uma incrível capacidade de construir ferramentas e de registrar e transmitir uma memória cultural. Alguns grandes primatas também detêm algumas dessas habilidades. A diferença é que nenhum deles atingiu o nível alcançado pelos humanos. Some-se a essa habilidade uma extrema ferocidade — que também não é característica única de nossa espécie — e temos aí as condições que permitiram ao homem tornar-se a espécie dominante do planeta. Mas é um engano pensar que o homem tenha conquistado a Terra. Somos a espécie dominante simplesmente porque eliminamos grande parte da biosfera. E, ao fazermos isso, geramos condições pouco promissoras para nossa própria sobrevivência. O poder que temos sobre o meio ambiente não nos dá o controle sobre ele. O homem tem muito poder, a ponto de destruir a Amazônia, mas não o poder de recompor a mata rapidamente. Ora, se você não tem o poder de redesenhar a biosfera, então não tem o controle sobre o planeta. Assim, acho praticamente impossível que se concretize a previsão de que a população humana chegue aos 8 ou 9 bilhões de pessoas daqui a cinquenta ou sessenta anos, vivendo em certo nível de prosperidade, sem que se desestabilize a ecologia do planeta. Calculo que, daqui a um século, a população mundial terá encolhido bastante. E essa queda poderá se dar de duas maneiras: uma seria pelo declínio da taxa de fertilidade, como já acontece em países como Japão e Itália. Outra, por meio de guerras, doenças e pelos efeitos deletérios das mudanças climáticas. Se eu tivesse de apostar, apostaria na segunda opção. Seja como for, o sucesso do homem no planeta é real, mas extremamente precário e muito mais curto que o de outras espécies, como os dinossauros, que dominaram o planeta por milhões e milhões de anos. Pode acabar muito em breve.

    Veja — As habilidades humanas sempre trazem consequências negativas, então?
    Gray — Nem sempre. As habilidades do homem produziram, por exemplo, a anestesia. Quem gostaria de tirar um dente como se tirava no início do século XIX, sem nenhuma anestesia? No entanto, essas mesmas habilidades causaram guerras mais devastadoras, criaram novos tipos de arma, e aumentaram nossa capacidade de cometer atrocidades numa escala jamais vista. E os assassinatos em massa são um efeito colateral do progresso tecnológico. O homem sempre usou as ferramentas que cria para abater seu semelhante, desde a pré-história. Mas o genocídio é uma prática dos tempos modernos. Entre 1492 e 1990, ocorreram cerca de 36 genocídios, que ceifaram de dezenas de milhares a dezenas de milhões de vidas. Só de 1950 até hoje, foram cerca de vinte grandes matanças, ao menos três delas — em Bangladesh, Camboja e Ruanda — com mais de 1 milhão de vítimas. Não há dúvida de que os seres humanos herdaram esse comportamento violento de alguns de seus parentes na linha evolutiva. Como o biólogo americano Edward O. Wilson observou uma vez, se alguns de nossos primos babuínos tivessem acesso a armas nucleares, o mundo já teria sido devastado há muito tempo.

    Veja — O cientista americano Ray Kurzweil diz que o desenvolvimento tecnológico — particularmente a biotecnologia, a nanotecnologia e a teoria da informação — trará um futuro promissor para a espécie humana. Onde está a falha nessa ideia?
    Gray — A falha está em pensar que esse progresso seja real. A ciência, no geral, chega mais perto da verdade do mundo que outros sistemas de crença, e nós temos testemunhado seu sucesso pragmático em aumentar o poder humano. Mas, do ponto de vista ético, o conhecimento é neutro, desprovido de valor — pode tanto nos levar a realizações maravilhosas quanto atender a propósitos terríveis. A ciência não é feitiçaria. Deixe-me dar um exemplo do que é a ilusão no poder científico: na Califórnia, as pessoas contratam organizações para ter seu corpo congelado assim que morrerem. Esperam voltar à vida quando a tecnologia assim o permitir, daqui a um século ou dois. A ilusão não está em pensar que a tecnologia tornará isso possível — provavelmente tornará, um dia. A ilusão está em não imaginar o que acontecerá nos próximos 100 ou 200 anos. Se a história se repete em seus aspectos éticos e políticos, como eu acredito, haverá várias quebras nas bolsas de valores, ataques terroristas, guerras civis, mudanças de regime e talvez até outras guerras mundiais. Nesse processo, muita coisa vai mudar: o direito à propriedade poderá ser abandonado, empresas quebrarão e governantes serão substituídos. É muito difícil que um contrato assinado hoje com uma empresa californiana possa sobreviver aos próximos séculos. Em outras palavras, mesmo que a tecnologia se desenvolva a ponto de levar o homem à imortalidade, as instituições e a sociedade na qual vivemos não são imortais, um dia acabarão.

    Veja — Então o limite para o progresso não está na ciência, mas na sociedade?
    Gray — A ilusão está em não perceber que, por mais que o conhecimento avance, as instituições impõem um limite. É completamente possível que a genética chegue à clonagem humana, talvez não tão já, mas daqui a cinqüenta anos. Eu faço uma predição: se isso se realizar, a tecnologia será usada por terroristas e organizações criminosas para criar seres humanos insensíveis à piedade e à simpatia, e soldados ou assassinos que jamais precisem dormir. Não duvido que a genética traga muitos benefícios para a humanidade, erradicando distúrbios, corrigindo deficiências e curando doenças. Mas é claro que a genética pode, também, ser usada no desenvolvimento de novas armas e na perpetração de mais genocídios.

    Veja — Mas não foi sempre assim, a ciência e a tecnologia podendo ser usadas tanto para o bem quanto para o mal?
    Gray — Absolutamente, sim. Mas ainda não aprendemos a lição. Lembro-me de quando as pessoas imaginavam que as fotocópias acabariam de vez com as falsificações. Mais tarde, o mesmo ocorreu com as câmeras de vídeo. Tudo não passou de ilusão. Hoje acontece o mesmo: as pessoas veem a internet como um instrumento de liberação, mas ao mesmo tempo ela torna nossa privacidade muito difícil. Tudo o que você faz eletronicamente pode ser monitorado. Eu repito: o conhecimento não liberta o homem, apenas aumenta seu poder — um poder que pode ser usado para o bem ou para o mal. Nesse ponto, sou um pessimista: o futuro da humanidade será igual a seu passado, só que com mais conhecimento.

    Veja — Se a felicidade e a salvação humanas não estão na ciência e na tecnologia, onde estão elas?
    Gray — A ciência não é essencial para a felicidade. Basta lembrar que milhões e milhões de indivíduos têm vivido felizes ao longo de toda a história, mesmo sem acreditar no progresso. Na essência, nosso sentimento de felicidade não é diferente do sentimento do homem que viveu no Império Romano ou na Índia de Buda, cinco séculos antes de Cristo. Isso não mudou. A única coisa que mudou foram o conhecimento e o poder humanos, que cresceram muito.

    Veja — Qual o papel da religião hoje?
    Gray — Acho que a religião tem um papel central na cultura humana. Não acredito que existam religiões verdadeiras ou falsas — apenas as mais e as menos bonitas, ou as mais e as menos esperançosas. Quem gosta de religião se aproxima mais da poesia do que da ciência. A religião ocidental tem se intimidado por rivalizar com a ciência. Mas a ciência diz respeito ao poder, não dá um sentido à vida — isso é função da religião. E precisamos de mitos, de ilusões. Nem todo o avanço científico pode eliminar a religião, pois suas raízes não estão na ignorância, mas na necessidade humana de buscar um sentido para as coisas. Prova disso é que, para muitas pessoas, a ciência — com sua promessa de eterno progresso — torna-se ela mesma uma religião.

    Veja — Os Estados Unidos, líderes mundiais em ciência e tecnologia, enfrentam hoje um renascimento do fundamentalismo cristão, particularmente nos embates entre evolucionistas e criacionistas. Como o senhor vê esse conflito?
    Gray — O conflito entre ciência e religião é uma peculiaridade das culturas moldadas pelas tradições ocidentais, que dão uma importância exagerada à fé nos assuntos do espírito. A briga entre evolucionistas e criacionistas nos Estados Unidos é um modo com que o fundamentalismo cristão resiste às implicações antiantropocêntricas da teoria da seleção natural do inglês Charles Darwin. Esse conflito não acontece com a mesma intensidade nas culturas ligadas ao budismo e ao taoísmo, por exemplo, que são religiões nas quais as práticas e as experiências místicas importam mais do que a crença em si.

    Veja — O senhor diria que existem religiões que conflitam menos com a ciência?
    Gray — Religiões não-antropocêntricas, como o taoísmo, parecem mais próximas do mundo que nos é apresentado pelo que há de mais avançado na ciência contemporânea. E, porque pregam uma certa modéstia sobre o lugar dos seres humanos no esquema das coisas, essas religiões são mais capazes de promover a felicidade. No entanto, recomendo também algumas filosofias ocidentais, como o epicurismo. O grande poema A Natureza das Coisas, de Lucrécio, é um antigo guia para viver feliz num mundo em que o homem não é a figura central.

    Veja — Para o leitor, seu livro pode deixar um certo sabor de desesperança. Qual a saída? Ou não há saída?
    Gray — A mensagem central de Cachorros de Palha não é de desesperança, mas de libertação. O que eu pretendo é sugerir ao leitor: leve sua vida da maneira mais bela e inteligente possível, pois o destino da Terra não está sobre seus ombros. Na verdade, foi assim que viveu a maioria dos milhões e milhões de seres humanos que já passaram pelo planeta. A necessidade de acreditar que o futuro será melhor é uma ilusão. A felicidade não vem daí, mas de aceitar a nossa natureza animal, que, ao contrário das crenças, é imutável.

    1. Dominante? Ta doido?
      Parei de ler nesse trecho “e temos aí as condições que permitiram ao homem tornar-se a espécie dominante do planeta”. Acho q nenhum cientista ou até “pensador” que se preze faria uma declaração dessas… Espécie dominante?

  5.  Um líder religioso como o

     Um líder religioso como o Papa Francisco parece ter coisas mais interessantes a dizer.

    Gunter,

    Tipo essas abaixo, antes dele dar um giro de 180 graus (digno de um trabalho de relações públicas de primeira) ao assumir o papado, abandando um discurso típico de Felicianos e Bolsonaros da vida?

    http://infocatolica.com/?t=noticia&cod=6783

    El arzobispo de Buenos Aires y primado de Argentina, cardenal Jorge Mario Bergoglio, ha advertido que, de aprobarse, el proyecto de ley para permitir «el matrimonio» entre personas del mismo sexo «puede herir gravemente a la familia». El Cardenal asegura, en una carta dirigida a las religiosas carmelitas de Buenos Aires, que no se trata de una simple cuestión política sino de la pretensión de destruir el plan de Dios, una «’movida’ del Padre de la Mentira que pretende confundir y engañar a los hijos de Dios».

    Que ele é um cara mais pé-no-chão e próximo de causas populares é fato. Mas na questão LGBT ele só está procurando uma forma de tirar o bode de sala da ICAR e por no armário, assim como a igreja já fez com outras questões pra lá de resolvidas na sociedade ocidental, como o divórcio.

    1. Olha, Ed,

      Ocorre que Putin não tem nada interessante a dizer. Ele não tem um discurso para fora de seu país.

      Francisco, mesmo se eventualmente vier se equivocar, ganha mais atenção e pode sim influenciar indiretamente, apesar de não ser político. Pode exercer ‘soft power’.

      E essa notícia que você colocou é de 2010. As pessoas evoluem. Ano passado já fez algumas frases simpáticas a LGBTs, todo mundo percebeu.

      Em 2008 Obama era a favor apenas da União Civil, em 2012, do Casamento Igualitário.

      Em 2010 Alckmin era a favor apenas da União Civil, dois meses antes que Obama, em março/2012, já era pelo C.I.

      O mesmo para Marina Silva.

      Sem contar para que a direção da evolução todo santo ajuda, né? São discursos de retrocesso que não convencem ninguém.

      Enfim, se Francisco e Obama ganharam a simpatia de LGBTs com simples mudanças de discurso, good for them.

      Não é proibido aos outros fazerem o mesmo, certo? Simplesmente, não faz que não quer mesmo.

      E sim, ele está pondo no armário a questão do divórcio:

      http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/renuncia-do-papa/papa-pede-que-casais-separados-nao-sejam-condenados,411dda10ff474410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html

      Esta notícia já tem 10 meses mas ainda é interessante:

      http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/04/1266505-cnbb-quer-recuperar-as-comunidades-eclesiais-de-base.shtml

       

       

      1. Não acho errado que as

        Não acho errado que as pessoas mudem de opinião, mas em alguns casos é difícil dizer ou saber se houve mudança de consciência, oportunismo ou coragem (ou contexto) para dizer o que antes não se podia ou não era adequado.

        Dos que citou, até aceitaria a Marina como o primeiro caso, pois ela é confusa para mais de metro. Já o Papa, deixo no balaio dos oportunistas. Não me convence nesse ponto, mesmo que traga benefício com a nova postura.

        Já o Alckmin apesar de toda “pose família” e o Obama, colocaria na terceira opção sem problemas.

        1. É difícil diferenciar.

          Não sei se sabe, mas acho que você acerta na avaliação dos dois executivos.

          Obama lá em 1996 preencheu a um formulário de candidatura (nos tempos em que ele concorreria a senador ou menos) em que ele respondia favoravelmente a LGBTs a todas as questões (alguma coisa da patrulha interna democrata que existe, hoje é praticamente proibdio um político democrata se manifestar contra algumas coisas, mesmo que seja religioso e tals.)

          E Alckmin, lá em 2001, sancionou a que hoje é a única lei estadual antihomofobia já regulamentada (isto é, com a indicação das multas), o que ocorreu em 2010, quando ele era canidato e participou do evento (assinado por aquele que ninguém ousa dizer o nome. rsrs)

          Existe ‘pose família’ e existe ‘discurso demonizador sobre fim de família’. São coisas distintas.

          Meu discurso geral pode passar tranquilamente como ‘pose família’ de um certo modo, não?

          Não sei se o Papa é oportunista ou evoluiu na consciência ou antes era disciplinado (afinal, o chefe era Bento 16.) De qualquer modo, cabe a cada personalidade lidar com seus passados e os efeitos em imagem.

          Não convenceu você, convence a tantos outros. Mas acho que no geral se saiu bem.

          Mudando um pouco de tipo de celebridade, um que ajudou a melhorar a imagem da ICAR é, na minha opinião Fábio de Melo.

          [video:http://www.youtube.com/watch?v=ywEvx5cXBcE%5D

      2. Ocorre que Putin não tem nada

        Ocorre que Putin não tem nada interessante a dizer. Ele não tem um discurso para fora de seu país.

        Não morro de amores pelo Putin, e parte do apelo que ele tem mundo afora é pela imagem de “badass” (o cara é praticamente um meme) que criou. Esse apego da esquerda ou anti-imperialista parece algo mais local, restrito ao Brasil, pois não estou vendo lá fora algo parecido … e sim algo mais na linha da geopolítica pragmática…ou seja, está fazendo o que pode, porque interessa..ou que interessa porque pode.

        E a coisa teria sido diferente na Síria se não fosse o papel da Rússia para evitar uma invasão, papel desempenhado claramente com segundas intenções. E o país estaria hoje nas mãos de Al Qaeda e outros islamistas que são bem piores que o secular Assad.

        Tirando a Coreia do Norte, todo mundo faz parte da mesma “comunidade global” apesar das diferenças culturais, políticas, etc…e tem o seu direito ao pitaco…assim como qualquer um tem direito de não escutar ou ignorar eles.

        Ambos os lados estão agindo nessa questão da Ucrânia pensando primeiramente nos próprios interesses. Não tem herói e vilão (tirando o presidente que caiu que não era santo) nessa história…ainda.

        Se tem gente vendo esquerda onde não tem, tem também não vendo neonazista onde claramente tem.

        1. Acho que não é só Brasil

          Talvez o fenômeno dessa fantasiação em relação a Putin se estenda à América Latina e mais alguns lugares..

          A imagem dos EUA pode contribuir para isso: na A.L. e no Oriente Médio é ruim em função de todos os apoios a ditaduras nos anos 1960 a 1980, até em torno da Primavera Árabe e Revoluções Coloridas, sem esquecer do desastre no Iraque, claro.

          Imagino que na Europa Ocidental o pensamento mais comum seja o do estilo ‘The Guardian’.

          Ou seja, admite-se que ele faz o que lhe interessa, o que é bem realista. Quem de fora cita Putin ou Rússia como modelo pra algo?

          E também é clara a visão de que o alcance da política externa é limitado (o próprio Putin não gostou quando alguém se referiu a potência de 2a. linha, isto é, regional, mas potências mesmo são EUA, U.E. e mais recentemente China.)

          No entanto, mesmo no Brasil esquerda teórica percebe que os elementos do regime na Rússia não têm nada a ver com esquerda. Admite-se apenas o interesse em uma desconcentração do poder nas mãos dos EUA.

          Pode ser que as coisas tivessem sido diferentes na Síria… Mas seria para pior do que um país ainda em guerra civil, ainda que em semi-suspensão? Não podemos garantir que estaria nas mãos de Al Qaeda, a Líbia está?

          De qualquer modo, não está pior para os EUA do que há 3 anos atrás. Antes a Síria era sólida antagonista. Mas já vi ‘torcedores’ chamando de vitória de Putin apenas a interrupção do processo de término do regime sírio. E torcedores do tipo que agora dizem que a Ucrânia é um cadáver.

          Torcida mórbida é pouco…

          O que também não têm a ver com pensamento de esquerda, né? Pelo menos não deveria.

          E afinal, o que é esquerda e onde e como ela se manifesta?

          Está cada dia mais parecida com o Unicórnio Azul. A gente sabe que existe, mas não vê.

          Heroi não tem. Vilão, como você diz, é o Yanukovich. Putin se precipitou e ainda está a tempo de se contentar com a Crimeia e não sair desta como vilão. Depende do bom senso dele, claro. Esperemos que já tenha retornado.

          Vou roubar uma frase sua para enriquecer o quadro sobre extrema-direita.

  6. O post, ora

    Passaste o dia a desancar o Putin…
    Para um coitado falido, nossa, quanta atenção…

    Não entendi por que você acha que á torcida é pró-Putin, quando, a meu ver, é apenas pró-qualquer coisa que enfrente os EUA, nem que seja a Terra do Fogo…

    1. Não se preocupe que a atenção diminuirá

      “E é assim que talvez não perca mais tempo com ele.”

      Estou respondendo neste post por cortesia.

  7. Five possible ways to end the Ukraine crisis
    http://edition.cnn.com/2014/03/05/world/europe/ukraine-crisis-five-possible-outcomes/index.html?hpt=hp_t2

    As so often happens in big international confrontations, Ukraine is devolving into a complicated mess from which no one has yet outlined a reasonable retreat acceptable to all sides. Russia did not push into Crimea just to put its tanks in reverse and go home. The Ukrainian government can’t very well tolerate a land grab within 400 miles of Kiev. And the big Western powers, including the United States, have raised so many threats and objections, they will look weak, dishonest, or both if nothing is done now.
    So let’s sort through some options as laid out by many of our expert analysts on CNN.
    Going to the guns: This is a good one to dispense with first, because no one wants it. Ukraine, absent massive and sustained outside help, would be decimated by the Russian bear. The Russians are better trained, better equipped and better funded. By virtue of geography and their superior navy, they would start the fight with Ukraine 60 percent encircled by hostile forces. But Russia has reason to keep the pistols holstered, too. Turning eastern Ukraine into a battlefield would disrupt critical industry, agriculture, and oil and gas sales in the region for years. Also, a pitched battle could draw in other players, and then the whole World War III discussion lights up.
    Russia retreats: Unlikely. They didn’t steam into Crimea just for a getaway weekend. The Russians have important assets to protect there, and that does not necessarily mean the 60 percent of the Crimean population that grew up speaking Russian. The vaunted Black Sea Fleet counts on its Sevastopol port for year-round access (via Istanbul) to the warm waters of the Mediterranean. Arguably, the fear of losing that route to an unfriendly Ukrainian government was what drove Russia to take Crimea in the first place.
    Russia retreats with some conditions: More likely. What conditions? Crimea votes to separate from Ukraine and become a semi-independent nation with great affection for Russia (read: a puppet state ready to do whatever Moscow wants). Or Russia gets a permanent agreement to turn Sevastopol into Russian territory, like the arrangement the United States has with Guantanamo Bay in Cuba. Either way, Russia denies ever having designs on all of this even as the mysterious troops in the peninsula melt away, the rest of the world grumbles and Ukraine goes back to trying to pay its debts.
    Russia advances: Not content with Crimea and eager to show Kiev just who they are messing with, the Russians storm across the border and take much of eastern Ukraine. No one knows if this is in Russian President Vladimir Putin’s plans, but if it happens … see option 1.
    The Western World turns on the squeeze play: The White House appears to want a unified effort in which nations all over the globe use their political and economic might to punish Russia and leave the new Ukrainian government triumphant. Problem is, several big countries seem reluctant to take that course, and unless everyone is on the same page, any sanctions would be weakened. And even though it was hit hard in 2008 by the recession, Russia is not Syria, Iran, or North Korea. This is a big nation that is unlikely to buckle quickly to any amount of pressure.
    There are plenty of other possibilities, but conventional wisdom says these are the most likely options at the moment. The biggest danger? Everyone is wrong … and some unforeseen, uncontrolled options arise, making the situation not better, but even worse.

    1. hitler nuca teve maioria eleitoral

      Hitler nunca teve maioria eleitoral na Alemanha, os nazis nuca tiveram mais do que aproximadamente  um terco dos votos. Chegaram ao poder com apoio do partido conservador(ops, como na U crania onde o partido do atual governo pos- golpe e nacionalista, o terra patria  em portugues) , colocando o partido comunista na ilegalidade ( mais uma coincidencia, uma das primeiras propostas do novo governo ucraniano foi essa), e coma tropa de choque da SA espalhando terror nas ruas( nem preciso falar da coincidencia nesse ponto) …

      1. O fator mais importante para

        O fator mais importante para a tomada de poder pelos fascistas na Itália e nazistas na Alemanha foi o fato de term sido subestimados quando estavam fingindo participar do processo democrático enquanto aplicavam sua estratégia de tomada do poder.

         

        1. Eles deram golpe mesmo,

          inventaram ‘demonizações’ e colocaram partidos políticos na ilegalidade.

          Note-se que não há mudança nenhuma no parlamento ucraniano agora. Até representantes eleitos do partido de Yanukovich apoiam o novo governo.

           

           

    2. “Noruega, Finlândia, Suíça, Áustria e Hungria…”

      Em todos os que você cita, de fato, existem partidos com índices mais alto de votação, do que o obtido pelo Sloboda há dois anos.

      Primeiro cabe lembrar que eleição é momento. Se as condições de uma sociedade se deterioram com rapidez; se cresce o desemprego; se cai a renda das famílias; se as instituições políticas se tornam escandalosas e a corrupção se destempera; tudo isto pode desestabilizar e alterar a sociedade a tal ponto, que resultados eleitorais passados não têm significado no presente.

      Segundo, devemos tomar como sinal alarmante, o ressurgimento das ideologias fascistas na Europa, num período de depressão econômica, de crise profunda que leva a índices de desemprego de quase metade da força de trabalho. Se há fascismo é porque há um caldo para sua cultura; longas crises econômicas chocam o ovo da serpente.

      Por último, perguntas:

      1 Em qual desses cinco países, um partido com ideologia e símbologias expícitas do fascismo chegou ao poder e por qual método?

      2 Algum desses partidos têm ministros encaregados de assuntos de segurança pública e das forças armadas?

      3 Quais desses partidos possui milícias armadas para confronto de rua?

      4 Houve algum caso nesses países, em que milícias fascistas tomaram prédios públicos na Capital e pressionou diretamente o parlamento, para destituir um governo eleito?

      Um abraço.

       

      1. Hungria, sem dúvida

        Na Hungria, os partidos de direita e extrema-direita conquistaram uma maioria expressiva, a ponto de reescreverem a constituição húngara com um viés explicitamente fascista. Inclusive, a união europeia se nega até o momento a referendar essa nova constituição. (Apesar de ainda não estar na zona euro, a Hungria é estado-membro da UE.)

        Desde então, várias leis polêmicas foram propostas e aprovadas, como por exemplo uma em que só se consideram “famílias” os casais heterossexuais com filhos. Essa lei, inclusive, afeta os pedidos de adoção de crianças, pois pretendentes a adoção com guarda de crianças não são mais consideradas famílias. Mães (e pais) solteiras(os) enfrentam os mesmos problemas.

        http://www.ionline.pt/artigos/mundo/hungria-reforma-constitucional-assina-fim-da-democracia

        1. Sei da situação da Hungria.

          E olha que “..o partido conservador de Orban detém dois terços das cadeiras do Parlamento, um outro, ainda mais extremista, o Jobbik, obteve 15% dos votos”!

           

          Por isso que escrevi como segunda consideração: “devemos tomar como sinal alarmante, o ressurgimento das ideologias fascistas na Europa…”

          Escrevi também, em resposta a um comentário de outra postagem do blogue:

          Só um reparo.

          “Quanto ao fato de nazistas chegarem ao poder pela via legal, do voto, respeitando as regras da democracia liberal, sem problema algum”.

          Nem assim eu apóio, pelas razões que você mesmo deu abaixo. Hitler foi nomeado legalmente por Hidenburg e tratou logo de mostrar ao que veio; montou a farsa do incêndio do Reichstag e iniciou sua escalada de horrores.

          Não se monta barricadas junto com o fascismo. O diálogo das forças democráticas com o fascismo só pode ser um só: meter uma bala de frente.”

           

          Não podemos ficar indiferentes com a instalação do fascismo, nem mesmo quando ela é pacífica; uma vez instalado, ele avança. O que aconteceu na Ucrânia foi um putsch, exatamente isso, o Putsch da  Praça (ou Putsch da Maidan).

          Na foto, a “Maidan” de 1923:

           

           

    3. O problema é a explosão de

      O problema é a explosão de votos desses partidos, notoriamente capazes de se expandir em tempos de crise. Em eleições anteriores nem chegaram a 1% dos votos, em 2012 passaram de 10% e esse ano estiveram nas linhas de frente da revolução.
      Talvez ocorra nova eleição em breve, daí veremos quanto esses partidos ultranacionalistas(Svoboda e o Right Sector) vão ganhar. De qualquer forma eles já estão no novo governo de Kiev e provavelmente permanecerão após novas eleições.

      1. Isso é uma incógnita

        Só que imaginar que em futuras eleições legislativas os nazistas tomarão o poder não é exatamente um pretexto válido para se intervir num país.

        A eleição prevista é só para executivo, não para legislativo.

        Então, a incógnita permanecerá por mais tempo. Mas isso é uma questão que cabe a U.E. analisar antes de conceder empréstimos ou estimular maior cooperação econômica.

        Não é razão para se ameaçar soberanias nacionais.

        E menos ainda pela Rússia, que não somente convive com ditaduras fascistas (como a Bielorússia) nas suas fronteiras como as convida para cooperação econômica. 

         

         

         

        1. Nisso concordo com você. A

          Nisso concordo com você. A ameaça que esses partidos representam, embora real, não justifica uma intervenção armada unilateral russa, muito menos a anexação de parte do território ucraniano.

  8. Eu não sou um admirador do

    Eu não sou um admirador do Putin no estrito sentido da palavra, mas ele é um mal muito necessário no equilibrio de força e geopolitico da atual ordem mundial,  Putin esta trazendo o mundo  algo mais multipolar do que um império americano fazendo o que quer..

    Quanto ao incidente, vale lembrar que parte daqueles golpistas apoiados pelos EUA (o Bobama) são neofascistas do Partido Svoboda, agora com cinco membros ocupando cargos de ministério no  interino governo ilegitimo..

  9. Putin está entre os candidatos para o Nobel da Paz

    http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2014/03/05/putin-esta-entre-os-candidatos-para-o-nobel-da-paz.htm

    MOSCOU, 05 MAR (ANSA) – O presidente russo, Vladimir Putin, está entre os candidatos a ganhar o prêmio Nobel da Paz. Quem fez o anúncio foi o diretor do Instituto Nobel, Geir Lundestad. Putin está envolvido diretamente na crise política da Ucrânia, em que ameaça defender os russos que vivem na região da Crimeia com seu exército. Ele ainda sofre críticas contra a lei que proíbe propaganda gay no país.   

    Outro indicado com Putin, é o ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, Edward Snowden. Ele está asilado na Rússia por ter revelado ao mundo documentos secretos que mostravam o monitoramento que o governo americano realiza com autoridades e empresas pelo mundo.   

    Os escolhidos para ganhar o prêmio serão anunciados no dia 10 de outubro. (ANSA)

      1. Depois que o Obama ganhou

        Depois que o Obama ganhou esse prêmio estou convencido que qualquer um pode ganhar. Não é um prêmio da paz, é um prêmio negociado para fazer propaganda.

  10. A Rússia continua decadente.

    A Rússia continua decadente. Tenta se impor comc um terceiro poder entre EUA e a ascencente China. Mas não tem nada a oferecer. Talvez vejamos em breve este país incendiar em manifestações populares que desaguarão em guerra civil. E tudo será resolvido por acordos entre EUA e China que dividirão o que sobrar do velho urso. A partir daí teremos nossa nova guerra fria, entre o “Ocidente” capitaneado pelos EUA e o “Oriente” sob influencia chinesa.

  11. Todo jornalista, político ou

    Todo jornalista, político ou até diplomata americano e consequentemente também os europeus, mesmo aqueles que são conhecidos por suas posições em todos os níveis de esquerda, antes de falar qualquer coisa de Putin, teem obrigatoriamente que dizer que Puyin é “populista e autoritário”. É uma chave para tentar ser levado a sério ou não sofrer represálias em um universo comunicativo ocidental fechado e dominado, onde Putin é um dos mais demonizados líderes mundiais. Quem quiser que se engane, não custa nada… por enquanto.

    1. Não é isso.

      É que populista e autoritário são coisas que a própria torcida pró-Putin já reconhece, então serve de ‘gancho’.

  12. Ninguém (ou quase ninguém)

    Ninguém (ou quase ninguém) escreveu que a Rússia disputava a hegemonia econômica com os EEUU. Então não sei porque razão escrever tanto sobre o porque do país não ser agora uma superpotência mundial.

    O que se tem falado, em minha opinião, é sobre o poder dissuasório militar de Moscou e do poder regional que este exerce. A Rússia não contra-ataca as iniciativas do Ocidente tentando instalar uma base militar na Venezuela, ou financiando protestos em Bogotá ou Cidade do México. A querela é regional, razão pela qual você se utiliza de uma discussão para replicar outra completamente diferente.

    O poder de Moscou pode não ultrapassar seu quintal, mas este fato já é suficiente para incomodar Washington e Otan. Porque a Rússia, sobre esta região, não exerce uma “liderança” igual o Brasil na AL, mas uma disputa real sobre a hegemonia militar e operacional.

    Se Maduro cair, Dilma não poderá fazer nada além de protestar na OEA, no Mercosul, no que seja. Agora a Rússia, tanto na Geórgia quanto na Ucrânia, contra-atacou e manteve o que Realmente interessa (suas bases militares). Conseguir um regime títere em Kiev, dominado por nazi-fascistas, é vitória de Pirro para o Ocidente.

    Este negócio de dizer que os outros comentaristas defendem que Moscou é uma superpotência capaz de rivalizar hegemonia com Washington é projeção. O seu temor que a meta de Putin de projetar (novamente) internacionalmente o país é tanto, que você acaba rotulando todo mundo que não quer a derrocada russa como “anti-americano”. O título do post é um exemplo, bizarro porque você não admite personalizar a discussão (ou seja, que mencionem sua militância Lgbt), mas ao mesmo tempo personaliza, falando de “anti-imperialismo órfão”.

    Agora, apelando ao seu bom-senso, queria que você lesse este artigo, do Seumas Milne, no THE GUARDIAN, falando sobre a composição do novo governo de Kiev. Um trecho aqui que acho importante e sublinhei:

    “O partido de extrema-direita, o Svoboda [ex-Partido Nacional Socialista], cujo líder denunciou “atividades criminosas” do “judaísmo organizado” e que foi condenado pelo Parlamento europeu por sua visão “racista e antissemita”, tem cinco postos ministeriais no novo governo, inclusive o vice primeiro-ministro e o procurador geral. O líder do ainda mais extremo Right Sector, que esteve no coração da violência nas ruas, agora é vice-chefe de segurança nacional da Ucrânia.

    Vice-premiê, Vice da segurança nacional e cinco Ministros que defendem o nazi-fascismo. A extrema-direita praticamente se transformou num PMDB dos “moderados”, e você aí falando de evolução da humanidade. Para se contrapor a URSS, o Ocidente já fechou os olhos para a ascensão do nazi-fascismo, por meios anti-democráticos, e parece que estamos vendo a mesma história novamente.

    Com uma tragédia dessas, a única coisa que dá para ser é analítico, defender que pelos fatores X ou Y a Rússia não tem condições de se tornar superpotência. Falar de “valores”, fechando os olhos e apoiando tacitamente uma nova ascensão do nazi-fascismo na Europa, me parece desbaratado e algo que provavelmente você reveja posteriormente.

    Link do artigo: http://www.viomundo.com.br/denuncias/seumas-milne-pela-primeira-vez-desde-a-segunda-guerra-neonazistas-integram-governo-europeu-com-apoio-dos-eua-e-da-ue.html

    1. Não estou inspirado só pelos comentários daqui, Arthur

      Mas muito pelo que andei vendo no facebook. Se você tiver conta me adicione que posso lhe compartilhar.

      O que eu disse ontem e anteontem é que eu ser LGBT – e por óbvio anti-Putin – não tem relação com essa análise. Talvez eu devesse passar a escrever sob pseudônimo e com outra redação pras pessoas desencanarem disso. Posto que há muitos motivos para ser anti-Putin, eu expus alguns e não falei nada sobre LGBTs, certo?

      Mas LGBTs devem poder escrever sobre qualquer coisa que julguem correta sem que se tente desqualificar os comentários com um simples ‘você é LGBT, não deve opinar sobre isso’. Certamente você concorda comigo.

      Senão qual o sentido de se analisar política ambiental, política indígena, redução de Estado Penal, falta de planejamento econômico? Qualquer coisa que eu criticar do Brasil as pessoas vão dizer: ‘você não gosta do governo por ser LGBT’?

      É o que se faz com a mídia, qualquer crítica consistente da mesma não é debatida por comentaristas governistas com essa defesa: “é coisa do PIG”. Assim não se vai a lugar algum.

      x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

      Falo da fantasia de superpotência porque ela constou de uma entrevista de Putin e porque há quem fora fantasie com isso. Você sabe que é fantasia, eu também sei, mas nada impede que contemos que é uma fantasia. É até recomendável, não?

      Não estou negando o poder militar de Moscou, tanto que é óbvio que foi assim que obteve a Crimeia. Estou dizendo que isso prejudica a imagem externa da Rússia e afeta seus planos de ampliar a comunidade econômica com países próximos.

      Você fala em regime títere dominado por neo-nazistas. Está no artigo que isso é considerado propaganda, então você deve apresentar a contraprova, não repetir o que já foi questionado.

      Você deve ter lido uma frase do artigo sobre ‘não se deve temer a Rússia do exterior’. Está na parte final.

      Mas é bom manter um olho no gato e outro no peixe se tem gente no Brasil apoiando a Rússia e fazendo discurso homofóbico no Brasil. (Certamente você sabe que há gente assim.)

      ‘Anti-imperialismo órfão’ é um apelido para um pensamento, como ‘órfãos da ditadura’. Não é um personalismo. A menos que alguém se reconheça nesse chapéu.

      Políticos de direita falarem bobagem contra minorias é comum. Você sabia que temos líderes do PMDB, do PP e do PR falando em ‘ditadura gayzista’, ‘ditaduraíndígena’ e outras bobagens assim? E sem o benefício do Parlamento Europeu condenar.

      E certamente você já viu comentaristas aqui falando em ‘judaísmo organizado’. E garanto que não são do Svoboda, até declaram suas preferências políticas para o Brasil em público.

      Esse pensamento é comum na Rússia também, mas os deputados da extrema-direita russa também autorizaram o eventual uso de força contra a Ucrânia, certo?

      Algo errado assim, como o antissemitismo, não pode nunca ser acobertado. Só que vemos o processo do ‘pega ladrão’, isto é, o ladrão apontando para outros para tirar a atenção de si mesmo.

      O rabino-chefe da Ucrânia apoia o novo governo ucraniano. Os EUA (de quem não se suspeita antissemitismo) também. É o suficiente para pensar que as acusações de neonazismo antissemita são tentativa de demonização da Rússia.

      Nós vemos o mesmo no Brasil na questão evangélicos x LGBT: o governo do PT é que faz os retrocessos e coloca militantes nas redes sociais para demonizarem Marina Silva, só porque em alguns círculos LGBT ela é mais popular que Dilma. Propaganda, só isso.

      Sua analogia com a 2a. Guerra não procede na minha opinião. Os elementos de autoritarismo, repressão a minorias e a jornalismo são praticados pela Rússia, não pelo novo governo da Ucrânia nem por seus apoiadores.

      Acho que o Ocidente não deveria fechar os olhos para isso, mas infelizmente, por razões comerciais, fecha.

       

       

       

       

  13. Pra variar, a boa análise é

    Pra variar, a boa análise é prejudicada pela motivação que o levou a escrever o texto. No caso foi considerar que Putin seria como um “Joaquim Barbosa travestido de Batman” para os críticos ao golpe na Ucrânia. Menos, Gunter, bem menos… Na verdade muuuiiiiito menos. Se pudéssemos escolher um destino para essa geopolítica seria a destituição da ultra-direita e a realização imediata de eleições. Mas é óbvio que inexiste lideranças aglutinadoras na Ucrânia e lhes falta até uma história de independência e auto-determinação para ajudá-los a escolher um caminho. A Rússia cumpre seu papel na defesa dos seus interesses. Se ela é hoje o único contraponto ao golpe e ao retorno do nazismo, então deve ser considerada positivamente. Não dá para apoiar a movimentação do Ocidente só porque é contraria aos interesses de Moscou, ignorando-se o que está moralmente posto. No mais, a Rússia não vai mesmo sair maior do que entrou, logo torcer pela birra de Putin fica fácil, pois no máximo evita a instalação de uma nova ditadura. Ou realmente se acredita que as eleições de maio ocorrerão e, se ocorrem, um resultado que não referende o atual governo golpista será aceito? Lembrem-se do Egito.

    1. Olha, Jaime

      você estaria adivinhando motivações?

      Sejamos mais objetivos.

      O argumento que você coloca é de ‘contraponto ao golpe e ao retorno ao nazismo’.

      Só que isso já foi falado no texto. Que essa é a maior sustentação da propaganda no exterior pró-intervenção da Rússia, que a farsa do rabino já foi desmentida, que há outros países europeus onde partidos de extrema-direita têm mais votos que o Svoboda.

      A propaganda torcia para que surgissem vítimas, populações minoritárias sofrendo agressões, etc. Só que isso não aconteceu. o único grupo em risco, mesmo, é o dos tártaros na Crimeia.

      Então, o que é necessário para contrapôr é mostrar que existe mesmo esse perigo nazista, se ele não é inflado pela propaganda (aliás, anteontem teve post com vários textos falando que é ‘propaganda’)

      E essa informação precisa ser independente, não serve como fonte a mesma mídia que faz a propaganda.

      Seria como comprovar a justeza da AP 470 usando a mídia convencional, certo?

      Bom, eu acredito que as eleições de maio ocorrerão. Se alguém não acredita, deve justificar o porquê, posto que pressuposição não é base para intervenção externa ‘preventina’. Seria repetir o que os EUA fizeram no Iraque.

       

       

       

       

      1. Gunter, em primeiro lugar eu

        Gunter, em primeiro lugar eu nunca acreditei em perseguição aos judeus neste momento. Vi a notícia, mas nenhuma notícia é confiável vinda de lá e nem me preocupei em saber qual rabino falou o quê. Se houvesse escalada anti-semita o melhor seria esperar o pronunciamento de Israel demonstrando preocupação ou solicitando contenção. E isso ainda não aconteceu (É claro que Israel nunca daria razão á Rússia, mas se a coisa estivesse mesmo ruim…)

        Tirando isso, as cenas da praça durante a campanha falam por si. Os nazistas estavam lá, o partido oposicionistas tem legítima vinculação nazista e os 89 mortos num único confronto diz muito sobre o clima local

        (Em off: há fotos e vídeos das marchas nazistas em Kiev e o Nassif já pubicou o depoimento gravado entre a UE e os oposicionistas admitindo que os franco-atiradores eram deles. Mas não estou nem considerando isso porque é tão grave que teria que haver consequẽncias. Se não tiver é porque foi desimportante, mas não necessariamente mentira, porém ainda seria irrelevante para se considerar)

        Sobre as eleições, eu expus o argumento: foi um movimento golpista de gente que não conseguiu ascender o poder pelo voto nas duas últimas eleições e ainda tem um histórico de corrupção na administração pública. Há muita gente querendo o papel de herói nessa minissérie. Aqueles que tomaram o poder de assalto não necessariamente tiveram essa posição de mando defendida pela população na praça, muito menos na maioria da população que não compareceu.

        Posto isso, uma eleição pode muito provavelmente trazer resultado adverso para quem está no poder agora e isso consolidaria o golpe de estado. Haverá pressão internacional para que as eleições ocorram, mas acredito que este governo irá esperar ter alguma garantia de vitória antes de iniciar esse processo.

        Os caras assumiram o poder se aproveitando de um golpe depois que não quiseram esperar eleições já acordadas. Esse é o meu pressuposto. Se perderem as eleições eles vão dar outro golpe e se inventará uma desculpa contra os vitoriosos como sempre acontece. Com aval dos EUA.

        1. Foi armação de novo.

          Esse ‘depoimento’ gravado na verdade foi um hoax que um ministro estoniano lançou.

          Já foi desautorizado pelo governo estoniano.

          A Rússia anda fazendo muita propaganda manipulativa.

          Compra quem quer…

          Aguardemos 25-maio então, ok?

  14. Onde está essa “esquerda que

    Onde está essa “esquerda que admira Putin”? De quem você está falando, Gunter?

    O que eu vejo é uma reação ao fato de um governo eleito por maioria ser deposto por uma minoria (com explícita retórica anti-rússia e anti-putin, diga-se). Por que não esperaram eleições?

    A preocupação que eu identifico “nas esquerdas” é o declínio do ideal democrático.

    1. Eu também não sei.

      Essa frase “esquerda que admira Putin” não é minha.

      A minha frase é “anti-imperialismo órfão”

      Não consigo imaginar um pensamento de esquerda admirando Putin, já que esquerda deve prezar desconcentração de poder econômico, liberdade para manifestações, imprensa sem ameaças, transparência, né?

      E não estou falando sobre o processo de mudança de governo na Ucrânia. Essa discussão se houve impeachment, se houve repressão excessiva na praça Maidan não é minha.

      Estou falando especificamente que o sistema político russo não se me afigura um modelo válido a seguir e que isso até contribui negativamente para o próprio.

      São hipóteses que se permanecerem sem contestação se configurarão como fatos.

      1. Ok, Gunter, você não

        Ok, Gunter, você não mencionou esquerda, mas, sim, anti imperialismo. Mas é importante deixar claro porque há uma interseção muito grande dos conceitos, sobretudo à partir do proprio Lênin e sua crítica seminal ao Imperialismo.

        Por outro lado, tenho alguma dificuldade de identificar um “anti-imperialismo”, por assim dizer, de direita. Mesmo as vertentes “nacionalistas”, penso, não podem ser assim caracterizadas.

        Continuo com dificuldade de identificar alguém que admire o sistema russo ou o próprio Putin. Nunca vi. Imagino que possa haver, sobretudo entre aqueles que não prezam muito a democracia e se impressionam com demonstrações de força. Mas, repito, não tenho notícias desse pessoal que parece ser o alvo de suas críticas.

        1. Compreendido,Lucinei

          Então, pra não repetir coisas, veja o debate que tive com o Ruy.

          Concordo que não há anti-imperialismo de direita (a não ser pensamentos meio utópicos social-liberais) e que há intersecção entre anti-imperialismo e esquerda.

          Mas é por isso mesmo que falo em ‘anti=imperialismo órfão de modelos’.

          O anti-imperialismo racional e que percebe que a Rússia é uma propaganda, está fora.

          Ah, esse pessoal ironizado por mim no texto, olha, me acrescenta no facebook que eu te passo os links. É um festival muito engraçado! (se não fosse trágico por alguns torcerem pelo belicismo e para que ocorram mesmo tragédias neonazistas.)

  15. Prefiro essa versão

    The clash in Crimea is the fruit of western expansion

    The external struggle to dominate Ukraine has put fascists in power and brought the country to the brink of conflict25951inShare7Email The Guardian, Wednesday 5 March 2014 20.30 GMTJump to comments (1102)Troops under Russian command fire weapons into the air in UkraineTroops under Russian command fire weapons into the air in Lubimovka, Ukraine. Photograph: Sean Gallup/Getty Images

    Diplomatic pronouncements are renowned for hypocrisy and double standards. But western denunciations of Russian intervention in Crimea have reached new depths of self parody. The so far bloodless incursion is an “incredible act of aggression“, US secretary of state John Kerry declared. In the 21st century you just don’t invade countries on a “completely trumped-up pretext”, he insisted, as US allies agreed that it had been an unacceptable breach of international law, for which there will be “costs”.

    That the states which launched the greatest act of unprovoked aggression in modern history on a trumped-up pretext – against Iraq, in an illegal war now estimated to have killed 500,000, along with the invasion of Afghanistan, bloody regime change in Libya, and the killing of thousands in drone attacks on Pakistan, Yemen and Somalia, all without UN authorisation – should make such claims is beyond absurdity.

    It’s not just that western aggression and lawless killing is on another scale entirely from anything Russia appears to have contemplated, let alone carried out – removing any credible basis for the US and its allies to rail against Russian transgressions. But the western powers have also played a central role in creating the Ukraine crisis in the first place.

    The US and European powers openly sponsored the protests to oust the corrupt but elected Viktor Yanukovych government, which were triggered by controversy over an all-or-nothing EU agreement which would have excluded economic association with Russia.

    In her notorious “fuck the EU” phone call leaked last month, the US official Victoria Nuland can be heard laying down the shape of a post-Yanukovych government – much of which was then turned into reality when he was overthrown after the escalation of violence a couple of weeks later.

    The president had by then lost political authority, but his overnight impeachment was certainly constitutionally dubious. In his place agovernment of oligarchs, neoliberal Orange Revolution retreads and neofascists has been installed, one of whose first acts was to try and remove the official status of Russian, spoken by a majority in parts of the south and east, as moves were made to ban the Communist party, which won 13% of the vote at the last election.

    It has been claimed that the role of fascists in the demonstrations has been exaggerated by Russian propaganda to justify Vladimir Putin’s manoeuvres in Crimea. The reality is alarming enough to need no exaggeration. Activists report that the far right made up around a third of the protesters, but they were decisive in armed confrontations with the police.

    Fascist gangs now patrol the streets. But they are also in Kiev’s corridors of power. The far right Svoboda party, whose leader has denounced the “criminal activities” of “organised Jewry” and which was condemned by the European parliament for its “racist and antisemitic views”, has five ministerial posts in the new government, including deputy prime minister and prosecutor general. The leader of the even more extreme Right Sector, at the heart of the street violence, is now Ukraine’s deputy national security chief.

    Neo-Nazis in office is a first in post-war Europe. But this is the unelected government now backed by the US and EU. And in a contemptuous rebuff to the ordinary Ukrainians who protested against corruption and hoped for real change, the new administration has appointed two billionaire oligarchs – one who runs his business from Switzerland – to be the new governors of the eastern cities of Donetsk and Dnepropetrovsk. Meanwhile, the IMF is preparing an eye-watering austerity plan for the tanking Ukrainian economy which can only swell poverty and unemployment.

    From a longer-term perspective, the crisis in Ukraine is a product of the disastrous Versailles-style break-up of the Soviet Union in the early 1990s. As in Yugoslavia, people who were content to be a national minority in an internal administrative unit of a multinational state – Russians in Soviet Ukraine, South Ossetians in Soviet Georgia – felt very differently when those units became states for which they felt little loyalty.

    In the case of Crimea, which was only transferred to Ukraine by Nikita Khrushchev in the 1950s, that is clearly true for the Russian majority. And contrary to undertakings given at the time, the US and its allies have since relentlessly expanded Nato up to Russia’s borders, incorporating nine former Warsaw Pact states and three former Soviet republics into what is effectively an anti-Russian military alliance in Europe. The European association agreement which provoked the Ukrainian crisis also included clauses to integrate Ukraine into the EU defence structure.

    That western military expansion was first brought to a halt in 2008 when the US client state of Georgia attacked Russian forces in the contested territory of South Ossetia and was driven out. The short but bloody conflict signalled the end of George Bush’s unipolar world in which the US empire would enforce its will without challenge on every continent.

     

    Given that background, it is hardly surprising that Russia has acted to stop the more strategically sensitive and neuralgic Ukraine falling decisively into the western camp, especially given that Russia’s only major warm-water naval base is in Crimea.

    Clearly, Putin’s justifications for intervention – “humanitarian” protection for Russians and an appeal by the deposed president – are legally and politically flaky, even if nothing like on the scale of “weapons of mass destruction”. Nor does Putin’s conservative nationalism or oligarchic regime have much wider international appeal.

    But Russia’s role as a limited counterweight to unilateral western power certainly does. And in a world where the US, Britain, France and their allies have turned international lawlessness with a moral veneer into a permanent routine, others are bound to try the same game.

    Fortunately, the only shots fired by Russian forces at this point have been into the air. But the dangers of escalating foreign intervention are obvious. What is needed instead is a negotiated settlement for Ukraine, including a broad-based government in Kiev shorn of fascists; a federal constitution that guarantees regional autonomy; economic support that doesn’t pauperise the majority; and a chance for people in Crimea to choose their own future. Anything else risks spreading the conflict.

    http://www.theguardian.com/commentisfree/2014/mar/05/clash-crimea-western-expansion-ukraine-fascists?CMP=EMCNEWEML6619I2

  16. Achei muito boa e

    Achei muito boa e esclarecedora essa matéria postada pelo Gunter. Com exelente fundamentação, contribui enormemente para a compreensão das forças sócio-políticas que estão em movimento naquela região, da qual temos (pelo menos eu tenho) tão pouco conhecimento.

    Não concordo com a afirmação de que a participação dos grupos e partidos fascistas no governo de Kiev seja de menor importância e acho que o peso do poderio militar russo foi subestimado nessa análise. Pode ser fruto de imnha ignorância, mas é baseada e comparações entre este texto e outras fontes.

    Também acho que deve ser condenada a forma como o ocidente insuflou manifestações violentas como forma de destituir um governo eleito (com todos os seus defeitos) para impor um governo sem a legitimidade das urnas (por mais que seja questionada essa legitimidade, o fato é que a violência praticada com financimento estrangeiro tem legitimidade zero, portanto por mais defeitos que se veja na eleição do governo anterior, a legitimidade deste é maior que o zero dos que tomaram o poder.

    Mas nenhum desses pontos demerece o belo trabalho informativo e opinativo postado pelo Gunter, que novamente (e isso é uma constante) está de parabéns pelo seu post.

    Acho que os que discordam da opinião do Gunter deveriam antes de bater de frente com ele, promover um debate que seria muito proveitosos para todos, inclusive para mim que estou aprendendo tanto com o post quanto com os comentários.

     

     

    1. O problema é que Gunter não é
      O problema é que Gunter não é nada diplomático. Ele bate de frente ao afirmar erroneamente que todo mundo é admirador de Putin e “anti-imperialista”. Talvez queira aproveitar a crise da Ucrânia para destituir Putin ou mesmo ocupar a Rússia numa outra dessas primaveras. Falta encontrar a Marina Silva ucraniana que irá fundar o novo partido e ameaçar o poder central… Ele poderia ter se detido na ótima análise pró-ocidente, mas não teria um terço dos comentários.
      Como já dizia o poeta: indelicadeza gera indelicadeza.

      1. Nananinanão, Jaime.

        Não coloque pensamentos no discurso dos outros, ok? Isso seria indelicadeza.

        Eu não estou batendo de frente com nada e ninguém.

        Apenas estou contando que percebo que há um sentimento anti-imperialista órfão de modelos.

        E que nessa busca não achou nenhum modelo válido.

        Quanto ao sentimento anti-imperialista que encontrou modelos substantivos e consistentes a seguir, nada a obstar.

        Você pode dizer quais partes do texto você considera que são inverdades ou inconclusivas.

        Também pode dizer o que eventualmente julga que seria interessante de copiar no ‘modelo russo’, na eventual hipótese de crer que haveria algo assim.

        Mas….

        “Talvez queira… ocupar a Rússia numa outra dessas primaveras…. ameaçar o poder central”

        O uso exagerado de ironia, quase deboche, é diplomático, Jaime?

        Diplomacia é respeitar as pessoas, e eu nunca escrevo nada contra ‘pessoas’. Apenas contra ideias que considero furadas.

        Omitir-se nessas situações não é diplomacia, é falsidade.

         

         

        1. Mas por que o

          Mas por que o anti-imperialismo deveria ter um modelo para ser copiado?

          Eu me considero anti-imperialista, mas não vejo a Rússia (sim, a Rússia, não o Putin que é apenas o dirigente atual, como o Obama é dos EUA) como um modelo a ser seguido.

          Vejo a Rússia como uma potência regional com sua área de influência específica.

          O contraponto do imperialismo não é um império diferente (e menos ainda um império melhor). O contraponto do imperialismo é o multilateralismo, onde existem várias potências regionais interagindo, assim como países que escapam da área de influência dessas potências.

          Não acho que o Gunter está dizendo que todos os anti-imperialistas veem no Putim herói, modelo ou “pai” de alguma coisa. Pode ser que haja pessoas que pensem e se manifestem assim. Mas a minha posição mais favorável à Rússia nessa questão específica da Ucrânia se deve mais por achar que a divisão do poder é melhor que sua unificação em um pensamento ou ideologia únicos, além de uma rejeição ao neoliberalismo. Não que o Putim seja algum modelo anti-neoliberal, porque acho que não é, mas porque encontra-se nesta questão específica como antagônico à ação das forças neoliberais que promoveram a queda do governo eleito em Kiev.

          1. Você não vê, Ruy.

            Porque está lúcido a respeito. Exatamente, a Rússia é uma potência regional, como Japão e Brasil.

            Mas hoje mesmo vi amigo no meu facebook torcendo pra Putin cortar o gás da Europa, entre outras fantasias.

            Olha, não tá fácil!!!

            Eu discordo de você numa coisa: o regime russo é mais personalista e mais frágil que o norte-americano. Obama pode ser substituído por qualquer um, já se o mito em torno de Putin desabar, a Rússia volta a ser meio sem eixo.

            Você está certo, a Rússia nem como modelo anti-neoliberal serve… Putin foi populista e bem sucedido em reestatizar empresas de mineração, mas a distribuição de renda é pior que EUA, o IRPF é linear, há maior concentração relativa de poder econômico que nos EUA.

            Pra atender essa intenção de se contrapôr aos EUA, o Japão foi muito, mas muito mais útil ao mundo que os EUA.

            Se você estiver sendo favorável á Rússia só por causa da Ucrânia, lamento dizer que está fazendo a coisa errada por razões erradas.

            Está apoiando um regime em qualquer medida pior que os EUA. E está cada vez mais claro que o movimento na Ucrânia é internamente popular e legítimo e não neonazista.

            Mas a confirmação disso só teremos em 25-mai.

            Sendo assim, quem quiser me fazer cobranças, só poderá fazê-lo após essa data!

        2. Há uma carência de modelos,

          Há uma carência de modelos, nisso está correto, mas isso não significa que se queira agarrar algum “modelo russo” ou ideologizá-lo. Se Obama tivesse denunciado o golpe na Ucrânia ele seria tão apoiado como quando criticou Putin por causa das leis homofóbicas aprovadas na Rússia. Igualmente Obama foi do céu ao inferno da opinião pública progressista quando se elegeu prometendo fechar Guantânamo e dois anos depois recuou. Aí, sim, havia ideologização.

          Essa sua preocupação com uma ascensão de Moscou no imaginário “anti-imperialista” é muito exagerada.

          E sobre a ironia, Eu não disse que seria diplomático para compensar a falta que afirmei ter do outro lado. Nesse caso eu apelei mesmo para a máxima “perco a razão no debate, mas não perco a piada”.

          Daqui a 2 anos vamos saber o que aconteceu com a Ucrãnia e quem teve mais vitórias. Se as eleições vão confirmar ou não os nazistas no poder, se isso será pretrexto para um novo golpe (ou auto-golpe), quem vai financiar esse país e por quanto tempo, se Moscou vai manter pressão e sufocar de alguma maneira a Ucrania… Estou considerando que a Crimeia fica com os russos, não vejo como ser diferente.

    2. Obrigado, Ruy

      Talvez você não tenha acessado um post de anteontem com uma lista de artigos da posição alternativa à do discurso russo. O Internet Explorer não permite copiar o link (estou usando como quebra-galho até o Chrome voltar a acessar), mas chama “Quando as pessoas acreditam na sua própria propaganda” (o título é até frase de um dos artigos.

       

  17. Eu não sei Gunter.
    As suas

    Eu não sei Gunter.

    As suas hipóteses me parecem resultado de um conjunto de impressões empíricas, que carecem de dados ou fatos. Um conjunto de ilações. E isto não é uma ofensa.

    Putin realmente me parece não ter projeto político para além das fronteiras russas. E é de se perguntar se, estrategicamente, a Rússia se beneficiara de alguma forma tentando ocupar o espaço da antiga URSS, coisa que pessoalmente não acredito que esteja nos planos de Putin. Mas, por outro lado, suas ações no sistema internacionatoal são de fato mais reação a agentes políticos externos que, historicamente, possuem ou possuíam pendengas com a antiga URSS, do que a defesa de algum projeto político-ideológico-econômico.

    E a afirmação sobre a “torcida” que você afirma que apenas enxerga um lado das ações da Rússia (ou de Putin) me parecem resultado de quem acompanha(ou) os blogs brasileiros sobre defesa ou geopolítica, aonde infelizmente não há espaço para discussões mais profundas. Qualquer argumento a favor ou contra este ou aquele ator político é tomdo como adessão à causa, o que é lamentável. Se defender a Rússia, você é comunista comedor de criancinha. Se defeder EUA você é capitalista selvagem.

    Então, não creio em órfãos. Mas na forma com que a sua análise está deturpando boa parte das críticas que se faz a favor ou contra a Rússia. Ou Putin.

    1. Certamente tem a ver com blogs brasileiros,

      no máximo latinoamericanos. Ontem à noite mesmo eu e Ed falamos que isso não se aplica, por exemplo, à Europa Ocidental.

      Mas eu também digo que não há nada a elogiar na atuação recente de Putin/governo russo. Isso poderia parecer uma ilação se eu não tivesse dado exemplos do porquê. Não inventei nada

      Sendo que não houve argumentos em contrário.

      Isto é: não houve nenhuma argumentação do tipo: “eu acho boa a atuação da Rússia para a humanidade por A, B e C”. Ou, “eu acho Putin um líder e modelo elogiável por A, B e C”.

      Não houve isso, como eu já imaginaria que não haveria.

      Só houve a repetição da hipótese “a Ucrânia vai virar neonazista”, o que já foi rebatido por muitos artigos nos últimos dias.

      Mais a mais, se não houvesse a ‘torcida’, porque haveria preocupação com os fatos expostos (vide o post de ontem sobre propaganda)

      Sendo assim, qual a deturpação?

      1. “Qual a deturpação”
        A sua

        “Qual a deturpação”

        A sua conclusão.

        A conclusão sobre como as “torcidas” produzem isso, junto com as análises sobre o que você considera falta de estofo da Rússia para oferecer, atualmente, uma alternativa de fato as forças que controlam o sistema internacional.

        Veja, no meio do seu artigo você cita informações importantes sobre a situação da antiga URSS durante a década de 1960, mas não faz ao longo do resto do texto qualquer análise que possa justificar o que poderia ser uma tentativa de “resgate” atual, por parte da Rússia, daquela posição perdida para ser um ator político central atualmente. E acho que isso ocorre justamente porque “as torcidas” já te azucrinaram tanto que a única conclusão possível para isso é a de que ainda existem pessoas que acham que a Rússia vai reerguer o antigo império soviético, coisa que você claramente rejeita mas não mostra o porque.

        Então chegamos ao ponto em que a conclusão “deturpa” uma situação porque ela é baseada em condições e situações que ainda são muito mal explicadas, e sobre a qual apenas agora começamos a entender como funcionam. E não é apenas você, pois tem muito sociólogo e cientista político que esta escrevendo um monte de besteiras a la Fukuyama, querendo fechar questão quanto ao que acontece nesse momento na História. Coisa de pós-moderno.

        1. Não vejo assim.

          Não disse que ‘torcidas’ produzem algo. Digo que ‘torcidas’ apenas se iludem e torcem contraditoriamente.

          Se a intenção for ser anti-imperialismo, não há razão para torcer por um regime que é mais concentrador de renda, mais neoliberal (na Rússia o IRPF é alíquota única), com mais bilionários/PIB, com menos vida partidária, com repressão a protestos, etc etc.

          Essa é a contradição.

          E falar que a Rússia não tem estofo é só apresentar a ilusão.

          A Rússia não tem mesmo como resgatar nada, é discurso para público interno, para manter o mito político vivo. Eu acho que em uma década vai ficar claro que o projeto dele é uma fraude, só estou antecipando isso.

          E não ligo pra azucrinação dos colegas não… É claro, tem algumas azucrinações toscas e preconceituosas, mas isso tiro de letra.

          Eu só estou com boa vontade para fazer amigos perceberem que se estão autoenganando. 

          Eu publiquei esse texto no meu facebook e o público-alvo são amigos de quem gosto, mas que andam pagando o maior mico ao elogiar Putin em público.

          Se a deturpação a que você se refere é a revolução na Ucrânia, olha, até o hoax divulgado pelo ministro estoniano de origem étnica russa já foi desmentido. Até o rabino-chefe da Ucrânia disse que há muito mais grupos neonazistas a temer na Rússia que na Ucrânia.

          A Rússia mente e manipula grampos telefônicos.

          Compra quem quer, claro. Mas quem está escrevendo besteiras são os sociólogos que ainda estão pró-Rússia.

          Estou super tranquilo em relação a isso.

  18. Evolução sem Snowden e sem ‘torcida’?

     

     

    Aquilo que falamos expressa a nossa verdade principalmente naquilo que não dizemos. Nesse sentido acreditar em uma evolução sem fé (em seu sentido mais amplo) e crenças, e torcidas sim, as vezes tolas, as vezes pré existentes e e desonhecidas, me parece uma tolice maior. Essa evolução pragmática por si só é um sistema de crenças, uma torcida, como preferir. Tolice ainda a reflexão de sentido amplo a respeito da troca de uma dominação por outra, sem a apresentação de nenhum contexto político que endossasse essa posição já de tendência contraditória. Por fim o caso  do Snowden foi muito mal abordado. Ele não é só um joguete político fora de órbita… ele envolve questões fundamentais de liberdade que não são em nenhum ponto desprezíveis.

     

     

     

     

     

     

     

     

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