A clandestinidade

Por Ivanisa Teitelroit Martins

Não vivi os anos de luta armada. Vivi os anos de clandestinidade em aparelhos cuja localização desconhecíamos. Tínhamos uma vida em que a sobrevivência dependia da capacidade de sabermos nos esgueirar pela noite para chegar às frações e células e debater o marxismo-leninismo de modo a definir uma tática de ação política nos bairros, nos sindicatos e nos grupos de educação popular. Nosso trabalho era junto à perferia de São Paulo de agitação e propaganda na venda do jornal para conscientizar a população dos desmandos e arbitrariedades da ditadura militar.

Meu companheiro e eu morávamos em um apartamento que ninguém tinha o endereço porque sua vida corria risco. Era perseguido e se fosse capturado poderia sofrer torturas e mesmo desaparecer. Respondia a um processo em que foi condenado à revelia por crime de sangue.

Éramos muito ativos também na campanha pela Anistia. Tínhamos o cuidado de adotar medidas de segurança que consistiam no chequeio permanente para evitar sermos seguidos. Para chegar a um ponto marcado eram necessárias muitas viagens, ir e voltar ao mesmo lugar para garantir que não se levava riscos ao companheiro que iríamos encontrar.

Essa prática forjou em nós uma têmpera e uma determinação inquebrantável. Tínhamos entre nós tanto eu e meu companheiro como entre nossos companheiros de luta uma solidariedade incondicional porque havia um pacto firmado de plena confiança, um pacto de vida e de morte. Se um de nós fosse capturado, havia a possibilidade de uma cadeia de companheiros vir a ser também capturada. Por este motivo sabíamos o mínimo possível e confiávamos na direção. 

Meu companheiro e eu tínhamos um acordo. Se ele não chegasse em nosso apartamento três horas depois do horário combinado, eu deveria queimar todos os documentos políticos que ficavam em um baú de vime que eu nunca abria. Um dia ele não chegou no horário combinado. Primeiro chorei supondo que o que tanto evitamos havia irremediavelmente acontecido. Depois sequei as lágrimas, abri o baú e fui retirando documento por documento. Fui à cozinha, peguei uma caixa de fósforos e comecei a queimar os documentos um a um lançando seus restos no vaso sanitário. Era preciso tomar precauções para não deixar que o cheiro de papel queimado fosse percebido pelos vizinhos. Foram três horas de trabalho que varou a madrugada. Não consegui queimar os documentos originais. Eu os reuni dentro de uma sacola e saí na madrugada pela rua fazendo o chequeio de costume. Fui em direção ao outro lado da cidade de São Paulo onde moravam meus companheiros que eram operários. Ao chegar entreguei a eles a sacola para que encaminhassem os documentos à direção.

No dia seguinte combinamos que meu companheiro Lindolfo iria ao nosso endereço para averiguar se já haviam encontrado o lugar em que morávamos. E eu segui para o Comitê Brasileiro de Anistia no Centro para ter notícias. Ao chegar lá fui recebida por Airton Soares que me tranquilizou, dizendo que meu companheiro havia sido perseguido e que estava em lugar seguro. Foi-me entregue um número de telefone para que eu fizesse uma ligação em uma central telefônica. Ao sair e passar por um tapume percebi um movimento estranho de dois homens que cruzaram o meu caminho e me perguntaram: “Está com medo?”

Tomei um taxi e pedi que fôssemos para a central telefônica mais próxima. Ao chegar lá percebi que se tratava de uma rua sem saída. Prestes a descer virei para trás e consegui visualizar dois carros parados à distância com as luzes acesas.  Dei-me conta de que havia quatro homens em cada carro apesar do escuro da noite e da pouca iluminação pública. Garoava. Voltei para dentro do carro e disse ao taxista que estava sendo seguida por motivos políticos. O taxista sem olhar para mim disse somente: “Deixa comigo, vamo dar um “chapéu neles”.

Voltamos à avenida principal e durante duas horas definimos a estratégia para despista-los. Pelas avenidas corríamos para depois entrar nas travessas de modo mais lento. Parávamos e checávamos se eles continuavam nos seguindo. Na primeira parada percebemos que somente um carro continuava atrás de nós e parava a uma distância em que tanto eles como nós podíamos nos ver. Continuamos com a mesma estratégia até a zona sul da cidade. No meio do trânsito decidimos que eu devia saltar e procurar ajuda porque com certeza eles já tinham o número da placa do carro.

Desci e fui até a central telefônica mais próxima. Tinha também o número de telefone de Luiz Eduardo Greenhalg. Liguei para ele que me atendeu com serenidade. Marcamos um ponto na zona norte da cidade em Santana. Entrei em seu carro e ele me levou à sua casa onde estavam algumas pessoas reunidas. Reconheci Gianfrancesco Guarnieri. Fui para o quarto e me deram um calmante quando desabei em um choro que até então havia controlado.

No dia seguinte Greenhalg me levou ao aeroporto e me colocou no voo pela pista. Ao chegar à cidade do Rio de Janeiro me dirigi à sede do Jornal do Brasil para encontrar minha cunhada que trabalhava como chefe de um departamento do jornal. Era a segunda vez que a encontrava. Ela chamou Técio Lins e Silva que me levou para um local que me serviu de esconderijo. Fiquei sozinha no apartamento. Às vezes o dono do apartamento aparecia para conversarmos e para me levar alguma comida. Deu-me um livro: “Alice através do Espelho” e me mostrava os desenhos dos dois filhos: Rodrigo e Pedro.

No dia em que houve a promulgação da Anistia, dia 28 de agosto de 1979, ouvia no rádio a notícia e soube que um de nossos companheiros pôde finalmente ir à praia, Carlos Alberto Muniz. Tocavam então a música “E vamos botar água no feijão”. Fiquei emocionada. Como gostaria de estar ao seu lado para dar o meu abraço mas precisava me manter escondida. Meu companheiro somente seria anistiado três meses depois.

Duas semanas depois foi montado um esquema para que eu reencontrasse meu companheiro. Foi marcado um ponto ao qual eu compareci. Tomei o carro com mais três companheiros e subimos a serra. Ao nos aproximarmos do local fui vendada para não saber onde me levavam. Cheguei finalmente e encontrei meu companheiro lendo O Pasquim. Ele ficou muito feliz em me ver mas havia algo em seu semblante que me preocupou. E ele me disse: “Como o Fernando Gabeira pôde publicar um livro sobre o sequestro do embaixador americano sem conversar com os outros companheiros que participaram da ação?”

A volta do exílio foi muito comemorada, mas aqueles que como nós continuávamos clandestinos, precisaram esperar mais algum tempo para ter onde morar. Esta foi a minha tarefa: encontrar uma casa na zona oeste de São Paulo. Depois recebi um bilhete em que meu companheiro, que eu chamava de Beto, me dizia que deveria procurar na zona leste porque na zona oeste já havia outros companheiros morando. Saí andando pelas ruas à procura de uma casa para alugar enquanto pernoitava na casa de meus companheiros Lidia e Lindolfo que tinham acabado de ter um filho. Dormia na cozinha no colchão do bebê com alguns jornais para evitar o chão frio. Sou grata a Lídia e Lindolfo como àquele que me escondeu em seu apartamento no Rio. Sou grata aos meus companheiros, ao Greenhalg e ao Técio. Enfim, são muitos episódios que aconteceram em nossas vidas durante o período da ditadura. Este é somente mais um.

Redação

30 Comentários

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  1. lindo depoimento!
    Me dá

    lindo depoimento!

    Me dá calafrios pensar que os que são hoje perseguidos pelos terroristas do Estado não tem o tipo de solidariedade que havia nas organizações políticas de esquerda da época da ditadura civil-militar, nem contam com parentes de destaque na sociedade. Por serem de pessoas pobres e humildes, são mortes que em sua maioria não serão lembradas no futuro.

  2. Eu era menino, tinha uns 8 ou

    Eu era menino, tinha uns 8 ou 9 anos e estava vindo do centro da cidade ( que é no interior de SP e bem pequena naquela época) com minha prima quando passamos pelo cemitério que fica em frente de uma antiga fábrica textil, hj transformada em shopping, e no enorme muro branco dele estava pichado em vermelho “Viva O Comunismo” com o símbolo nazista desenhado em vez da foice e o martelo. Lembro de ter perguntado para minha prima o que era Comunismo. Ela me explicou meio por cima, apesar que acho que ela tb não sabia direito. Mas me lembro de ela dizer: -Tem certas coisas que a gente não pode falar, pq é perigoso.Eu deixei por isso mesmo, pq era um menino do interior e minha maior preocupação era brincar, jogar bola, caçar passarinho etc… No entanto nunca esqueci aquela pichação e aquele momento. Anos mais tarde. com um pouco mais de informação detectei a contradição entre a frase “Viva o Comunismo” e a suástica pichada no muro branco e só muito tempo depois fui saber que era uma tática da polícia pichar o muro assim para confundir e ver se aparecia novas pichações e detectar possíveis simpatizantes do comunismo na pequena cidade do interior da época. Escrevi isto pq é o que eu me lembro daquele ano 1972 ou 1973.

  3. Quem não conhece pode comprar

    Quem não conhece pode comprar esta história.

    Dissidência da DI/GB – MR-8

             O ano de 1966, marca a afirmação da dissidência do Movimento Estudantil do  Partido Comunista Brasileiro. Estava criada a Dissidência Comunista da Guanabara, com uma definição orientada para a luta armada.

           Muitos estudantes queriam ser os “novos guevaras”. A agitação estudantil era insuflada principalmente pela Ação Popular (AP), pela Dissidência da Guanabara (DI/GB), pelo Comando de Libertação Nacional (COLINA), pelo Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e pela Ala Marighela – futura Ação Libertadora Nacional – ALN.  

             Os principais líderes estudantis eram Vladimir Palmeira e Franklin Martins, da DI/GB, e José Dirceu, da ALN.

             Em abril de 1968 a DI/GB  realizou uma conferência. Na ocasião foram tomadas pela organização importantes decisões: profissionalizou diversos “quadros”; montou “aparelhos”; elegeu uma Direção Geral (DG), integrada por Daniel Aarão Reis Filho, Franklin de Souza Martins e José Roberto Spiegner.  

             Franklin de Souza Martins era o encarregado da Frente de Trabalho Armado (FTA), a qual era dirigida por João Lopes Salgado.

             A FTA era responsável pelas ações armadas, roubos e assaltos a bancos, ataques a sentinelas, roubos de armas e explosivos, assassinatos (“justiçamentos”).  A violência estarrecia, porém perdera o ineditismo; a repetição sistemática das ações tirava-lhe o impacto gerador de curiosidade.

    Era necessário imaginar algo que mexesse com a opinião pública.

    Com esse pensamento a direção da DI/GB imaginou, em meados de 1969, o seqüestro de um representante diplomático. O pensamento inicial da DI/GB, além, da repercussão internacional, era libertar o seu militante e líder estudantil Wladimir Palmeira, além dos dirigentes do movimento: José Dirceu de Oliveira e Silva e Luiz Gonzaga Travassos da Rosa.

    A idéia partiu de Franklin de Souza Martins, preso junto com os demais líderes no congresso clandestino da UNE, em Ibiúna, em outubro de 1968, que saíra da cadeia na véspera de 13 de dezembro do mesmo ano e, pasmem,  teve a hombridade de declarar que não foi torturado.

    O alvo mais significativo seria o embaixador dos Estados Unidos, o representante e defensor dos “interesses imperialistas norte-americanos em nosso país”.

    A direção da DI/GB liderada por Franklin de Souza Martins, concluiu que seria necessário o apoio de uma equipe de outra Organização. A ALN foi a escolhida, já que havia conseguido notoriedade através da intensificação de suas atividades, principalmente em São Paulo. Além do que a constante divulgação de textos de Marighela incentivava todo o tipo de “violência revolucionária”.

    Por tudo isso, Marighela afigurava-se como o auxílio mais competente a ser tentado.

     

    Conseguido o apoio da ALN, os levantamentos, reconhecimentos e providências logísticas da operação foram tomados.

    O seqüestro foi realizado com sucesso.

    Durante o rapto, a DI/GB assumiu, definitivamente, o nome de Movimento Revolucionário 8 de Outubro ( MR-8), que praticou inúmeras ações e no qual Franklin de Souza Martins passou a ser, como na DI/GB, um “quadro” da  direção.

     Com medo de ser descoberto, Franklin de Souza Martins, após a ação criminosa passou a viver clandestinamente. Depois foi para Cuba, onde fez intenso treinamento. Aprendeu técnicas de guerrilha., manuseio de explosivos, etc. E ainda ironiza a sua periculosidade… Pela sua ótica, perigoso era o general Médici, Presidente do Brasil, que recebia aplausos em Maracanãs lotados, driblando a sua própria equipe de segurança pessoal, simplesmente para ver o seu time do coração jogar.  

    Franklin esteve em Cuba por 11 meses, voltando para atuar no MR-8 em fins de 1970 .Viveu em exílio na Argentina e no Chile. Nessa época a cúpula do MR-8 ditava  as ordens para os militantes, que permaneciam no Brasil, diretamente do Chile. Nessa época, Franklin Martins esteve clandestinamente no País por duas vezes. Um anjo escondido…

    Fonte: Projeto Orvil    .

     Só para se ter idéia da periculosidade dos componentes do MR-8, essa organização terrorista praticou inúmeras ações, entre elas:

    “8 assaltos a bancos;

    11 assaltos a supermercados;   

    10 assaltos a casas comerciais diversas;

     6 assaltos a carros transportadores de valores;

     2 assaltos a residências;

     Primeiro seqüestro de um diplomata;

    Primeiro seqüestro de um avião comercial, no Brasil;

    3 ataques a sentinelas de unidades militares, com furtos de armas;     

    3 assaltos a garagens, de onde roubaram mais de 20 carros e inúmeras placas.

    – 4 de abril de 1971, assassinato do Major José Júlio Toja Martinez Filho

    – 8 de outubro de 1969, Elmar Soares de Oliveira, Cláudio Augusto de Alencar Cunha, Ronaldo Fonseca Rocha e Edgar Fonseca Fialho seqüestraram um Caravelle da Cruzeiro do Sul, quando voava de Belém para Manaus, e o levaram para Cuba.

    – 13 de setembro de 1970, assalto à Churrascaria Rincão Gaúcho, na Tijuca, Rio de Janeiro. Irritados com os dizeres “Ninguém Segura o Brasil”, colado num painel de vidro, o explodiram uma bomba e deixaram outra, felizmente, desativada pela polícia. Participaram da ação: Sônia Lafoz, Solange Lourenço Gomes, Maria da Glória Araújo Ferreira, Roberto Chagas da Silva,  Cid Queiroz Benjamin, Nelson Rodrigues Filho e João Lopes Salgado.

    – 20 de novembro de 1970, assalto ao Banco Nacional de Minas Gerais, Agência Ramos, Rio de Janeiro. Participaram da ação: Mário Prata, Marilena Villas-Boas Pinto e Stuart Angel. O assalto terminou em intenso tiroteio, sendo feridos dois guardas e um transeunte, além de Stuart Angel que, mesmo baleado no joelho, conseguiu fugir.

    – 13 de março de 1971, assalto às Casas da Banha, na Tijuca, Rio de Janeiro, onde imobilizaram, com metralhadoras e coquetéis molotov, 100 pessoas que faziam compras. Na rua, dois terroristas, usando fardas roubadas, manobravam o trânsito para facilitar a fuga. Participaram, entre outros, Carmen  Jacomini, Stuart Angel e Mário Prata.

    – 22 de novembro de 1971, os militantes Sérgio Landulfo Furtado, Norma Sá Pereira, Nelson Rodrigues Filho, Paulo Roberto Jabour, Thimothy William Watkin Ross e Paulo Costa Ribeiro, todos do MR-8, “em frente” com a VAR-Palmares, assaltaram um carro forte da firma Transport, na Estrada do Portela, em Madureira, Rio de Janeiro. Na ocasião, morreu o tenente da reserva do Exército José do Amaral Villela e ficaram feridos os guardas Sérgio da Silva Taranto, Emílio Pereira e Adilson Caetano da Silva, que faziam a segurança do carro-forte.

    Com a prisão de vários militantes e a morte de Lamarca, a desarticulação do Comitê Regional da Bahia e o desmantelamento do “trabalho de campo”, o MR-8 voltou sua ação para São Paulo. Na realidade, a estrutura brasileira da organização estava esfacelada. Muitos presos, alguns mortos e outros refugiados no exterior. Nessa ocasião, o MR-8 contava, apenas, com pouco mais de 15 militantes para realizar suas atividades, passando a atuar “em frente” com outras organizações. Em contrapartida, crescia o grupo do MR-8 no exterior, com os militantes que fugiram para o Chile, além da adesão de membros de outras organizações.

    As palavras de ordem do MR-8 passaram a ser ditadas do Chile. As divergências eram evidentes e havia uma divisão clara entre “militaristas” – que defendiam o imediatismo revolucionário – e “massistas” que, primeiro, queriam preparar melhor as massas. Em novembro de 1972, em Santiago do Chile, a organização convocou uma assembléia-geral, com o comparecimento de seus principais militantes, onde se oficializou o “racha”. Em dezembro, durante três dias, os “massistas” realizaram reuniões preparatórias para a assembléia que fariam ainda nesse mês, a qual foi denominada Pleno.

    No artigo primeiro dos “Estatutos Provisórios” aprovado no Pleno, que tinha como um dos seus integrantes Franklin de Souza Martins, o MR- 8 definia os objetivos da organização:

    “Somos uma organização política marxista-leninista, cuja finalidade é contribuir para a criação do partido revolucionário do proletariado no Brasil, que assuma a vanguarda da luta da classe operária e da massa explorada, pela derrubada do poder burguês, pela supressão da propriedade privada dos meios de produção e pela construção da sociedade socialista como transição para a abolição da sociedade de classe e o ingresso numa sociedade comunista.”

     O artigo primeiro dos Estatutos Provisórios  do MR-8, não deixa dúvidas, mas mesmo assim,  o Sr Franklin Martins ainda tem a coragem de declarar, como a maioria desses “heróis”,  que lutava contra a ditadura !… Franklin lutava pela implantação de uma ditadura comunista no Brasil. E ele tem de reconhecer isso em nome da verdade  jornalística.

    Mais honesto é o seu companheiro Daniel Aarão Reis Filho, que com ele integrava a Direção Geral da DI/GB/ MR-8, que em entrevista publicada em O Globo de 23/09/2001 declarou:

    “As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática.

    Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática.”

    Após o Pleno, a organização desenvolveu suas novas atividades com a Direção Geral dividida em duas seções: a do exterior, com Carlos Alberto Vieira Muniz, João Lopes Salgado, Nelson Chaves dos Santos e João Luiz Silva Ferreira; e a do interior, no Brasil, com Franklin de Souza Martins e Sérgio Rubens de Araújo Torres.

    Em fevereiro de 1973, Franklin retornou ao Brasil, instalando-se em São Paulo e estruturando um Comitê Regional, dirigido por José Roberto Monteiro e Albino Wakahara, para incrementar a guerrilha no País.

    A queda do presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dificultou os planos iniciais da organização, com seus militantes fugindo do Chile e se reagrupando em Paris., onde Franklin Martins ficou até 1977. Em 1979, conseguiu anistia política.

    Fonte :  “A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça” – Carlos Alberto Brilhante Ustra

    Trechos do Manifesto lido nas rádios por ocasião do seqüestro do embaixador americano:

    Grupos revolucionários detiveram hoje o Sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado. Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à   luta do povo; explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores.

    Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural.

     

    Com o rapto do embaixador, queremos mostrar que é possível vencer a ditadura e a exploração, se nos armarmos e nos organizarmos. Apareceremos onde o inimigo menos nos espera e desapareceremos em seguida, desgastando a ditadura, levando o terror e o medo para os exploradores, a esperança e a certeza da vitória para o meio dos explorados.

    O Sr. Burke Elbrick representa em nosso país os interesses do imperialismo, que, aliados aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantêm o regime de opressão e exploração.

    Os interesses desses consórcios de se enriquecerem cada vez mais criaram e mantêm o arrocho salarial, a estrutura agrária injusta e a repressão institucionalizada. Portanto, o rapto do embaixador é uma advertência clara de que o povo brasileiro não lhes dará descanso e a todo o momento fará desabar sobre eles o peso de sua luta . Saibam todos que esta é uma luta sem tréguas, uma luta longa e dura, que não termina com a troca de um ou outro general no poder, mas que só acaba com o fim do regime dos grandes exploradores e com a constituição de um governo que liberte os trabalhadores de todo o país da situação em que se encontram.(…)

    A vida e a morte do Sr. embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela atender a duas exigências, o sr. Burke Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária. Nossas duas exigências são:

    a) A libertação de quinze prisioneiros políticos. São quinze revolucionários entre os milhares que sofrem as torturas nas prisões-quartéis de todo o país, que são espancados, seviciados, e que amargam as humilhações impostas pelos militares. Não estamos exigindo o impossível. Não estamos exigindo a restituição da vida de inúmeros combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados, é lógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação desses quinze homens, líderes da luta contra a ditadura. Cada um deles vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um embaixador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de vista da ditadura e da exploração.

    b) A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões de todo o país.

    Os quinze prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial até um país determinado _ Argélia, Chile ou México _, onde lhes seja concedido asilo político. Contra eles não devem ser tentadas quaisquer represálias, sob pena de retaliação.

    A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos quinze líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado. Os quinze companheiros devem ser libertados, estejam ou não condenados: esta é uma “situação excepcional”. Nas “situações excepcionais”, os juristas da ditadura sempre arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da junta militar.

    As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que atenderá às exigências.

     

    O método será sempre público por parte das autoridades e sempre imprevisto por nossa parte.

     

    Queremos lembrar que os prazos são improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nossas promessas.

    Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros: não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente.”

    Ação Libertadora Nacional (ALN)

    Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) 

     

    E se o governo não tivesse cedido ? O que teria acontecido? Esses terroristas não estavam brincando!

    Diziam a verdade, sedentos por fazer a sua criminosa “justiça revolucionária”

    Brincando estão agora, fingindo-se de inocentes e de pacíficos, mentindo quanto à sua verdadeira intenção, que era de instalar no Brasil uma ditadura comunista sanguinária.

    Brincam tanto que ainda escondem, sob o embuste de um governo “democrático popular”, a indormida intenção de comunizar o país.

    Enquanto isso, empanturram-se de dinheiro às nossas custas, pois aprenderam, muito cedo, a “expropriar”.

    Chega de mentiras, com essa conversa fiada de que lutavam contra 

     

      1. SUTIL, FEITO PATA DE ELEFANTE
        Além de revelar a atávica propensão fascista ao “dedodurismo”, mostra-se estultamente bruto e pouco dado a perceber nuances desconhecidas, pois mais apropriadas a seres humanos dotados de ideais, ética, pudor, retidão de caráter e respeito ao semelhante, próximo ou não, mesmo que intimo a qualquer tempo, dai e por aí, o cuidado de quem conta a estória em preservar o direito a privacidade do outro, tendo por certo apenas o objetivo de contribuir em testemunho, como viviam e sobreviviam os que se esgueiravam perigosamente nos anos de chumbo, até a anistia. Aí aparece o figura, sutil, feito pata de elefante.

    1. “Quem não conhece pode

      “Quem não conhece pode comprar esta história.” Alianca”Liberal”, na verdade, um apoiador da ditadura, acha que tudo tem preço, afinal é um defensor da liberdade… de mercado. Para que este seja livre, não importa prender, torturar e assassinar os outros. Já sua versão da história é a da ditadura que usurpou o poder em 1964, e não vale nada. Deveria ter respeito pelo depoimento de uma colega, que rememora seu sofrimento causado por gente como você,”Liberal” da ditadura.

      1. Por mim ela nunca

        Por mim ela nunca sofreria.

        Claro se ela se aliar a quem  por ação deliberada subverte a ordem por meio da violência que aceite sua escolha, e não coloque a culpa das suas escolhas nos outros.

        Aquele que tenta e ainda tentam escravizar o meu povo, não se pode ter compaixão. Como vc quer que eu tenha compaixão respeito por quem apoia a violência como meio de transformação da sociedade e  acham acima da lei.

        Soma se ainda,  quem os financiava e dava apoio eram oriundos de ditaduras.

    2. Por favor, cite a fonte.

      Texto longo Aliança, foi você mesmo que o redigiu ou trata-se de uma citação?

      Por favor, forneça a fonte dos dados.

      1. Sergio,

        Ele colocou, acima, entre outras: “Fonte :  “A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça” – Carlos Alberto Brilhante Ustra”. 

          1. É a tal coisa.

            Você está querendo dizer que quem sai aos seus também se degenera?

            Tadinho do Aliança.

          2. Esse cara é um troll, provavelmente profissional

            E acho que os leitores daqui dao bola demais para ele e o Leônidas, o que só os alimenta. Às vezes nao dá para passar em branco, em nome dos outros leitores, creio até que essa foi uma delas, era importante mesmo mostrar a fonte dessas barbaridades. Alguém citar torturadores, realmente, além de ser prova do caráter repugnante da pessoa, é também prova de muita falta de noçao. 

          3. Aliança é porta-voz de Brilhante Ustra

            O Aliança cita esses textos publicados em site ligado ao torturador Brilhante Ustra, insclusive esse pseudo-artigo ai sobre o MR8 dias atrás foi elevado a post mas logo em seguida removido pela equipe do blog por causa da fonte não merecedora de menor credibilidade, muito pelo contrário

          4. Vc nega quais fatos(ou

            Vc nega quais fatos(ou versão) do texto?

            O que vc acha que esta errado e onde poderia se verificar.

            “MR8 dias atrás foi elevado a post mas logo em seguida removido” tiraram pq vcs precionaram para que a verdade não seja exposta.

             

             

        1. Passou me distraído.

          Obrigado Jair, tinha me passado distraído.

          A outra fonte é ORVIL (ou livro escrito ao contrário) parece ser do General Leônida Pires Gonçalves.

          É sempre bom conhecer a fonte para saber quem está comprando a história de quem.

          1. Eu não acredito nem na versão

            Eu não acredito nem na versão A nem a B, o país ainda deve para a história.

            Tudo é contaminado por ideologia

            Alguma coisa do texto tem como verificar outras o tempo não permite..

      2. Você admite que não sabia dos

        Você admite que não sabia dos fatos acima relatados.

        Quer prova maior de que a história é contada pela metade.

        1. “Você admite que não sabia

          “Você admite que não sabia dos fatos acima relatados”:

          Procure em sofisticadissimo dicionario online a diferenca entre “fato” e “versao”.  Ate la, voce ta mentalmente aleijado.  O que nao passa de maneira nenhuma eh essa “versao”, e pra te falar a verdade, eu tou de saco cheio de estar de saco cheio ao me deparar com qualquer segundo paragrafo de qualquer comentario seu.  Da pra escrever um paragrafo somente?

          1. “eu tou de saco cheio de

            “eu tou de saco cheio de estar de saco cheio ao me deparar com qualquer segundo paragrafo de qualquer comentario seu.  Da pra escrever um paragrafo somente?”

            Quando escrevo pouco pedem para escrever mais, quando escrevo mais longo pedem para escrever menos. Não aturam o contraditório, se pudessem eliminariam qualquer voz contrária.

            Na verdade é que são acustumados a  lamber um o cu do outro, um fica massageando as bolas do outro, numa confraria de elogios ao governo repetindo o mantra nuncaantezneztepaíz, olha como somos donos das verdades absolutas, como sabemos o que é melhor para o país, como somos bonzinhos, como somos virtuosos justos caridosos com o dinheiro dos outros.

             

        2. Zifio

          Conheço muito mais do q vc a respeito.

          E não tenho tempo de conversar com covarde. Eu fui um dos caras que lutou contra essa ditadura sanguinária enquanto vc bebia uísque.

          Me respeite.

    3. processo de crítica e autocrítica

      Toda organização de esquerda debatia à exaustão em todos os níveis de representação o efeito de suas ações políticas. Este procedimento sempre foi adotado pelo MR-8. Muitas das vezes éramos voto vencido e decláravamos esse voto. Havia muita disciplina e respeito entre nós. Em 1982, nos desligamos da organização por não concordarmos com os prognósticos e as formas de luta que foram aprovadas.

      Franklin e eu ao nos conhecermos costumávamos debater o marxismo e o estruturalismo althusseriano (por minha formação em psicanálise). Este debate entre nós teve um efeito fecundo apesar das divergências.

      Sobre esse período que aliança liberal menciona não tinha nenhuma informação, somente as versões oficiais que nos eram impostas por força da censura. Ao debater com o Franklin e conhecer a seriedade e coerência de seus propósitos generosos pude, sem fazer perguntas, me alinhar ao seu lado nessa luta fundamental, em um processo permanente de crítica e autocrítica, pela redemocratização do país.

      Pelo meu lado, fundei com companheiros do PCB o MDB da Lapa. Participei intensamente do Movimento pela emancipação das mulheres, ao lado das sindicalistas metalúrgicas, bancárias e gráficas, depois eleita representante da seção regional do centro de São Paulo. Fiz algumas palestras em defesa da saúde das mulheres trabalhadoras pelo CEBES e pelo MDB. Instalei junto com outros companheiros um centro de estudos: Centro de Estudos Noel Nutels.

  4. Só sendo degenerado e

    Só sendo degenerado e fascista

    ou degenerado nazi-fascista

    para apoiar esse câncer que foi a Ditadura Militar, câncer esse que nos causou muitas feridas

    algumas sem cura até hoje.

     

    desaparecidos, torturados, assassinados, mortos sem que a familia saiba onde está o corpo…

     

    aqui no blog os destaques para o liberal e o leônidas.

     

    inda bem que a tal marcha com Deus pela Familia e Propriedade versão 2014 minguou nas ruas

    apesar do forte apelo que ainda repercute nos fascisbuques da vida.

     

    Um viva a todas as revoluções, mas as verdadeitas, aquelas que basicamente buscam a dignidade humana e não se travestem de justas quando na verdade sufocam todas as liberdades, inclusive as de poder-mos nos exprimir em pensamentos e palavras viu senhores trolls escrotinhos de uma das direitas mais nefastas do planeta Terra, a direita brasileira.

  5. Lucas G, me emociona o fato

    Lucas G, me emociona o fato de você identificar coincidências entre os tempos de outrora e os de hoje. Sei do que você fala porque lutei por todos vocês ao participar da mudança do Código de Menores para o Estatuto da Criança e do Adolescente. Depois fui presidente do CBIA ( antiga FUNABEM ) e transformamos o atendimento que era prestado a toda criança e jovem que precisava do amparo do Estado. Mais ainda: fui chamada por José Genoíno para ajudar o Patrus Ananias a implantar o Bolsa Família e sou autora do Bolsa Jovem. Acho que fiz a minha parte até aqui… no futuro… quem sabe!!!

     

  6. O texto mexeu com os brios dos torturadores e cia

    Eh Ivanisa, o seu texto mexeu com o brio de gente que fica por ai postando textos de site ligado ao torturador Brilhante Ustra, essa gente não se emenda. Parabéns pela capacidade de discernimento, que pesadelo essa fuga, imagino só vários carros de arapongas se revesando e mesmo assim vc conseguindo identificar que era eram as mesmas  partes de um comando de milicos no seu encalço, vc escapou por um triz e pela astúcia do taxista, que esse tempo não volte jamais

    1. o taxista um bravo guerreiro do povo

      Devo minha vida a esse taxista… como gostaria de encontra-lo para agradecer… nem sei o seu nome, não me lembro sequer do seu rosto… mas de sua solidariedade e coragem… não me fez perguntas nem perguntou o meu nome e sequer me cobrou por uma corrida de 2 horas. Esses são os bravos guerreiros do povo que estão por perto quando precisamos de ajuda e surgem inesperadamente em nossas vidas, generosos e sábios, como todos vocês e em especial você, IV AVATAR.

      1. Grandiosa é vc

        Amiga Ivanisa, obrigado mas grandiosa é vc, imagina só passar pelo que passastes não é prá qualquer um e logo de início vi que vc é uma pessoa grata, que agradece a quem te ajudou, mesmo a quem vc, por conta da situação, viu apenas de relance para nunca mais, o caso do taxista, mas com certeza vc repassa essa gratidão para os demais, para todos nós, isso é muito bonito, não sei pq quando li seu texto tive a percepção sobre o oposto disso, ou seja, o Joaquim Barbosa Silvério dos Reis, o qual me leva a questionar como podem existir pessoas tão infelilzes e que exalam veneno por todos os poros, gente que não agradece a nada, pelo contrário, sente é ódio mortal até de quem algum dia as ajudou, quero é distência desse tipo de gente, para mim são lixo em estado in natura,..bjs amiga

  7. ao lambedor de coturnos dos torturadores

    Quem subverteu a ordem foram os terrorista que tomaram o poder em 1964.

    Um passarinho terrorista

    Por Sebastião Nery

     

    (…)

    GOLPE DE 64

    Segundo a Constituição, foram “terroristas”. Derrubaram o presidente e assaltaram o Executivo. Cassaram metade do Congresso e mutilaram o Legislativo. Expulsaram ministros do Supremo e castraram o Judiciário.
    Mourão Filho foi terrorista. Castelo foi terrorista. Costa e Silva foi terrorista. Médici terrorista. Geisel terrorista. Figueiredo terrorista. Golbery terrorista. Todos os que comandaram o golpe de 64, militares ou civis, Lacerda, Magalhães ou Ademar, “contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”, foram terroristas. Quem diz é a Constituição e o Supremo.

    Jarbas Passarinho também foi terrorista. Tenente-coronel e chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia, juntou-se a um grupo de militares, sem nenhuma decisão judicial, derrubou o governador eleito do Estado, assaltou o governo, pôs na prefeitura da capital um afilhado de casamento e passou a agir como se o Pará fosse a casa da mãe Joana.

    ***
    BAHIA

    Então, o homem que mandou “os escrúpulos às favas” diz que “facções desencadearam a luta armada de 1967 a 1974, todas terroristas”. E o que aconteceu de 64 até 67 e 74 não existiu? Como um Hitlerzinho ou um Stalinzinho de gaiola, Passarinho corta a História com uma bicada.

    Como é que ele assaltou o governo do Estado? Dançando uma valsa, rodando um carimbó? Nada disso. Foi numa “ação de grupos armados, militares e civis, contra a ordem constitucional e o Estado de Direito”.

    Não foi só o Pará. Na Bahia, a mesma coisa. Queriam era assaltar e usar o poder. O bravo prefeito Virgildásio Sena, de Salvador (por sinal, da UDN), foi derrubado, preso e expulso para o Rio, sem qualquer acusação nem pedido de desculpa. Em Feira de Santana, o inesquecível Francisco Pinto foi derrubado da prefeitura, seqüestrado, a Câmara toda presa, levado preso, sem nenhuma acusação ou condenação. E Pedral Sampaio, de Conquista, o deputado Mario Lima, líder dos petroleiros, eu. Centenas.

    Todos nós enfiados no medieval Forte do Barbalho. Meses e meses depois, soltos. Nenhuma acusação. Os terroristas fardados queriam o poder.
    Passarinho põe a carapuça: “Apareceram juristas doutrinando sobre a imprescritibilidade da tortura, mas omitem o terrorismo”. Nunca omiti. Constitucionalmente, ele e os chefes de 64 foram terroristas. 

    1. Com o AI-5 não havia outra saída senão resistir

      Com o fechamento brutal do regime militar os jovens como a coleta Ivanisa não tiveram outra saída senão ir para o enfrentamento mesmo na clandestinidade, muitos foram imolados na luta pela volta da democracia,  era uma luta desigual, jovens praticamente esmulambados reagindo contra o poderio do aparato estatal e correndo os riscos que correram, muitos não sobrevieram

  8. uma contribuição ao debate por Veríssimo
    Luis Fernando Verissimo – O Estado de S. Paulo

    Eu sou um oficial do exército brasileiro. Estou numa sala de interrogatório, cumprindo minha função, a de obter informações do inimigo. Por qualquer meio. Fui designado para fazer isso pelos meus superiores e sou um bom soldado. O inimigo à minha frente é um ser indefinido. Humano não é. É um subversivo, um desalmado, uma coisa abjeta. Ele e os outros animais como ele querem que o Brasil também seja uma coisa abjeta. Se ele não estivesse aqui, estaria na rua, matando e conspirando, construindo a coisa abjeta. Mas está aqui. Frente a frente comigo. Tem a informação que eu quero e não tem como fugir de mim. Minha função é arrancar a informação dele por qualquer meio, para que o Brasil se livre deles. Para que a coisa abjeta não se crie. Ele é um ser sub-humano, mas um ser sub-humano falante. E vai falar. Por qualquer meio, vai me dizer o que eu quero saber. Tenho toda a autoridade que preciso para estar aqui, frente a frente com ele. Sou autorizado por cima, pelos meus comandantes até o mais graduado, por baixo pelo meu próprio asco, e pela História. Posso fazer o que quiser com o animal. É isto, enquanto salvo a pátria também estou exercendo a minha liberdade ao extremo. Não há limite para o que estou autorizado a fazer para arrancar dele a informação que preciso, que o Brasil precisa para que eles não vençam. Posso até matá-lo, está previsto. Por descuido ou por intenção, não importa. Depois, é só cuidar para que ele nunca seja identificado, quebrando sua arcada dentária e cortando seus dedos. Meu poder sobre ele, sobre a sua vida e sua morte e a integridade final do seu cadáver, é absoluto. Total. E ali está ele, um ser reduzido à dor e ao medo, um bicho assustado. Talvez já tenha se borrado. Meu poder se estende até ao movimento dos seus intestinos! Se ele fosse um ser humano e não uma coisa abjeta também teria uma noção filosófica do momento que estamos vivendo, ele e eu. Este sentimento de liberdade completa – a minha do meu poder total sobre ele, a dele da definição do seu destino nas minhas mãos – seria de ambos, perante a História. Diante da posteridade.

    A posteridade… É, tem isto. Se a História não nos der razão, a posteridade vai nos pedir explicações. Vai querer que eu tenha remorso. Vai insistir que eu tenha remorso. Vai até me perdoar se eu tiver remorso. Mas se eu sou um sádico que deve explicações, se o que me move não é o horror à coisa abjeta que ameaça a pátria, então toda a cadeia de comando que começa lá em cima e termina no pau de arara é sádica e deve explicações. E deles não se ouve um pio de remorso. Eu? Estou apenas cumprindo ordens.

     

     

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