O pós-protestos e a conjuntura política

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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As recentes pesquisas do Datafolha sobre a avaliação do governo e as perspectivas eleitorais de 2014 indicam que está em curso uma reacomodação da conjuntura política, depois que os protestos de junho abalaram a ordem existente da política brasileira. As manifestações de rua haviam derrubado a avaliação do governo federal, de 65 para 30 pontos. Agora Dilma recuperou 6 pontos.

A compreensão dessas variações implica em perceber que nos momentos de comoção ocorrem bruscas mudanças de humor dos grupos sociais. Já existia uma percepção de que o governo federal e os demais governantes não vinham bem, mesmo antes de junho. Mas em condições normais da política, a queda nas avaliações seria lenta e gradual. Os protestos provocaram uma ebulição na percepção política das pessoas e derreteram a gordura dos governos que lhes era conferida pela passividade dos cidadãos e pela inexistência de oposições, fossem lá quem fossem os governos e os partidos governistas.

As manifestações retiraram a blindagem dos governantes, em três sentidos: 1) Os governantes estavam numa zona de conforto e se sentiam imperturbáveis pela sociedade, fizessem eles o que fizessem ou deixassem de fazer; 2) As manifestações retiraram o salvo-conduto popular para uma série de ações como manter corruptos nos governos, nomear e apertar a mão de inimigos políticos, praticar todo tipo de incoerência etc.; 3) A população aumentou seu grau de intolerância em relação à não produção de resultados satisfatórios nas ações governamentais, principalmente nas áreas de serviços públicos. As manifestações foram, também, uma crítica ao modo de fazer política e à cultura política dos políticos e uma reprovação ao modo de governar pouco ativo e de baixa produção de resultados.

Ao que parece, as tentativas atabalhoadas do governo de dar respostas à crise (constituinte, plebiscito e saúde), se refletiram negativamente mais nos setores da opinião pública especializada do que no grande eleitorado. O controle da inflação, depois dela ter erodido parte da renda, e a manutenção dos níveis de emprego contribuíram para que o governo Dilma recuperasse alguns pontos na avaliação. O Congresso, cuja avaliação negativa subiu de 33% para 42% após os protestos, paga um preço maior pela falta de sintonia com a sociedade.

Há que se levar em conta outro dado significativo na pesquisa do Datafolha. No final de junho, 65% dos pesquisados diziam que as manifestações traziam mais benefícios do que prejuízos. Agora, este número caiu para 49%. Podem ter ocorrido dois problemas neste ponto: as manifestações não apontaram para pautas concretas e, a violência e depredações provocaram perda de adesão de setores sociais aos protestos. Estas circunstâncias, normalmente produzem temores e fazem com que setores sociais busquem a ordem e não a mudança indefinida.

Quanto às eleições de 2014, Dilma mantinha o favoritismo mesmo quando a avaliação do governo e a intenção de voto haviam caído para 30%, no final de junho. Agora a presidente recuperou 5 pontos, Maria Silva ganhou mais 3 e foi para 26%, Aécio Neves caiu de 17% para 13% e Eduardo Campos subiu um ponto alcançando o patamar de 8%.

Se nada de extraordinário acontecer, tanto a avaliação do governo, quanto a intenção de voto em Dilma tenderão a se recuperar letamente. Os dados da economia e os possíveis resultados das políticas públicas, principalmente nas áreas de serviços, não apontam para desempenhos excepcionais no futuro próximo. Desta forma, é improvável que Dilma recupere os índices anteriores às manifestações de junho. O cenário mais provável é que a presidente caminhe para 2014 como favorita, mas num contexto de alta probabilidade de segundo turno.

Se este cenário se confirmar, é preciso levar em conta dois elementos políticos. Primeiro: a pesquisa do Datafolha mostra que nas cidades com mais de 500 mil habitantes, a avaliação positiva de Dilma é de apenas 27%. Esses grandes centros urbanos costumam ser os polos dinâmicos de eleições presidenciais. São 38 os municípios com população acima dos 500 mil, com cerca de 30% da população. Nos 1.302 municípios com até 5 mil habitantes, onde Dilma tem 50% de avaliação positiva, moram cerca de 2,26% de brasileiros. Segundo: Quando existem governos que não são bem avaliados, o eleitorado sempre tende a buscar alternativas. Essas alternativas costumam viabilizar-se no próprio processo eleitoral e não antes dele. Os governantes não bem avaliados, mas que lideram as pesquisas, tendem a cair na armadilha de uma falsa segurança.

Mantida a tendência de um quadro de candidaturas, configurado por Dilma, Marina, Aécio e Eduardo Campos, os dados da pesquisa Datafolha sinalizam que um risco maior para a presidente poderia vir mais de Marina e de Campos do que de Aécio Neves. A candidatura de Aécio, a rigor, está posta desde o final do segundo turno em 2010, mas até agora não conseguiu decolar. Marina é a principal beneficiária dos protestos de junho. Campos poderá surgir como a novidade que o eleitorado espera se se configurar uma conjuntura de mudança. Um ou outro tenderiam a unificar o leque oposicionista num segundo turno. Já Aécio teria mais dificuldade de agregar esse apoio.

Eduardo Campos e Marina enfrentarão problemas mais ou menos iguais: apoios partidários estreitos, estruturas de campanhas precárias, tempo de TV escasso e necessidade de geração de confiança quanto à capacidade de governar. O governador de Pernambuco tem o problema adicional de não ser nacionalmente conhecido. Mesmo em conjunturas de crises e de mudança, se os candidatos de oposição não gerarem confiança suficiente, tendem a ocorrer dois fenômenos: opção da maior parte do eleitorado pela candidatura do status quo e aumento do número de votos brancos, nulos e das abstenções.

*Aldo Fornazieri – Cientista Político e professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1.  
    Já  é de um bom tempo que

     

    Já  é de um bom tempo que estamos sofrendo com esses representantes politicos que temos há decadas e que ainda não se mancaram que o que eles tinham que fazer pelo Brasil e por nos (eh claro brasileiros),eleitores ou não ja tinham que ter feito pelo menos o básico que tanto ouvimos em ano eleitoral. Esses mesmos que estão aí prometem sempre e nada de concreto fazem a não ser uma lambança atras da outra se envolvendo em negociatas e outras tramoias que infestam a cada dia os noticiarios.É lamentável que sentem  VERGONHA na cara. A exemplo de outros paises os que teêm os nomes envolvidos no menor escandalo que for imediatamente se afastam da Vida publica e nem se atrevem em querer perpetuar a sua Imagem no Poder.Deveriam se espelhar nesses pois teem dignidade.Bem o que me deixa esperançoso eh que um dia isso tudo vai acabar e que essa Raçada de inescrupulosos vai deixar de existir ou pensam eles que são eternos? tipo Sarney, Maluf,Calheiros e os demais Maiase Barbalhos pra não dizer paspalhos que estão aí nas Mídias sendo nefastos como exemplo de uma classe que deveria se sentir honrada em representar seus compatriotas que os escolheram para TAL.

  2. A “NOVA POLÍTICA” NO BRASIL É FAJUTA!

    A “Rede”, partido da Marina, já começou mal, apresentando um estatuto pouco debatido aos filiados, e registrando outro em Brasília. No estatuto apresentado, os políticos do partido eram obrigados a consultar os filiados pela internet, antes de votar em Brasília, sob pena de uma multa de 12 salários. 

    Depois disso, a “Rede” fez uma convenção secreta em Brasília, em que seus filiados não puderam acompanhar pela REDE, e dificultou ainda mais as participações e deliberações dos filiados. Fora isso, rejeitou as propostas de que os casos conselho de ética fossem decididos pelos filiados, e a regulamentação do mandato coletivo obrigatório, como havia no primeiro estatuto apresentado.

    A “Rede”, do jeito que está é um estelionato eleitoral, uma aberração cínica, de quem quer pegar o nome “NOVA POLÍTICA”, dado aos movimentos de partidos ultra democráticos que surgem na Europa; mas no fundo ser apenas um partido tradicional. Eles têm o direito de ser apenas mais do mesmo. O que não podem é hipocritamente dizer ser o NOVO. A prova cabal de tudo isso foi o apoio ao Aécio Neves…

    Vejam a diferença:
     

    Novo partido REDE na Argentina, é diferente da “REDE” no Brasil. O partido argentino propõe que toda vez que seus políticos forem votar, deverão consultar obrigatoriamente seus filiados.

    http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/09/1347614-red-especie-de-clone-do-partido-de-marina-silva-faz-estreia-na-politica-argentina.shtml

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