Resultados do leilão de petróleo agradam mercado

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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O resultado da 11ª rodada de licitações da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) agradou aos analistas do mercado financeiro, embora se deva ter em mente que o processo ocorreu com alguns anos de atraso em relação ao processo anterior, realizado em 2008.

O leilão de licitações arrecadou R$ 2,82 bilhões em bônus de assinatura – valor que as companhias pagam ao assinar contratos de concessão -, um volume R$ 823 milhões acima do recorde anterior registrado nas rodadas, de R$ 2,1 bilhões contabilizados na nona rodada de licitações. Dos 289 blocos ofertados na operação, 142 foram arrematados.

Segundo informações da Agência Brasil, a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, afirmou que os investimentos mínimos gerados pelos blocos arrematados podem chegar a R$ 7 bilhões durante a fase de exploração – o que representa um ágio de 628% sobre o valor mínimo estipulado pela agência.

Ela também destacou o bônus de assinatura ofertado pelo consórcio formado pela Total E&P (40%), Petrobras (30%) e BP (30%), que arrematou o bloco Foz do Amazonas Marítimo 57 (FZA-M-57), pagando R$ 345,9 milhões – o maior bônus pago por um único bloco na história dos leilões.

“De uma maneira geral, o impacto foi bom. Teve bastante interesse por parte de empresas brasileiras e internacionais, inclusive entre aquelas que não operavam no Brasil”, comenta Carolina Flesch, analista do BB Investimentos.

Porém, a avaliação também contém igualmente uma crítica com relação ao atraso no processo, adiado depois da descoberta do pré-sal pela Petrobras em 2007. Na ocasião, o presidente Luis Inácio Lula da Silva deu autorização para o desenvolvimento de um novo marco regulatório para a exploração das reservas, mudando as regras de contrato de concessão para partilha. Pelas novas regras, metade do petróleo encontrado pertenceria à União, que divide os riscos de exploração e depois reembolsa as companhias pelos investimentos, enquanto as companhias pagariam royalties e participação sobre a produção. O tema foi alvo de acalorados debates que acabaram por atrasar o processo como um todo.

“A licitação foi feita em um modelo semelhante ao de 2007, e nada daquele barulho aconteceu. Foi um atraso fenomenal para o país e, se tivesse sido feito antes, teríamos uma produção maior de petróleo”, afirma o analista Pedro Galdi, da corretora SLW. “Hoje, temos de importar combustível porque não tem petróleo e o país não tem capacidade de refino. Mas a licitação foi importante”.

A Petrobras arrematou 34 blocos durante o processo licitatório, sendo sete sozinha e 27 em parceria, com destaque para as áreas localizadas nas bacias da Foz do Amazonas, Espírito Santo e Barreirinhas. Segundo a estatal, “na sua estratégia para aquisição de blocos terrestres, a empresa investiu, prioritariamente, na Bacia do Parnaíba, buscando acumulações de gás natural”.  O total investido pela Petrobras e parceiros na rodada foi de R$ 1,460 bilhão, dos quais R$ 537,9 milhões foram recursos próprios e R$ 923 milhões de parceiros.

Na visão de Galdi, o fato de a estatal participar de tantos contratos na modalidade de parceria foi um sinal de que a empresa “pegou leve” neta licitação de áreas fora do pré-sal, uma vez que a Petrobras precisa ter obrigatoriamente uma participação de 30% nos leilões referentes ao pré-sal. “Ela realizou recentemente uma captação de US$ 11 bilhões, e parte desse valor será usado para o pagamento dos blocos, e parte para reforçar caixa”, pontua o analista.

A surpresa positiva ficou com a participação da OGX no processo. A companhia de Eike Batista adquiriu os direitos de concessão sobre 7 blocos exploratórios em águas profundas e 2 blocos exploratórios em águas rasas localizados na Margem Equatorial, além de 4 blocos terrestres situados na Bacia do Parnaíba. No total, a OGX adquiriu 13 blocos, somando área de 7349 km². Em 10 blocos a OGX será operadora, com 100% de participação. Nas outras 3 áreas, a empresa formou consócios com ExxonMobil (em 2 blocos), Total e Queiroz Galvão (1 bloco). 

“A gente achava que a OGX iria entrar, mas não tão forte por conta dos problemas de caixa”, diz Carolina. “Por um lado isso é bom, a empresa está aumentando portfólio, mas ainda existem muitos problemas; a operação de Tubarão Martelo está prevista para começar neste ano, e é preciso ver como a situação vai ficar”. A questão do caixa ainda chama atenção, uma vez que a empresa precisará pagar R$ 376 milhões referente a assinatura da concessão, e também será necessário investir – “e o investimento é alto, demanda risco e o retorno é de longo prazo”, pontua a analista.

Outra surpresa envolveu a não participação da HRT na licitação, embora tenha sido habilitada para tal. Na visão de Carolina Flesch, da BB Investimentos, isso foi uma surpresa. “Eles foram habilitados, mas não participaram e até o momento a companhia não se manifestou”, diz, ressaltando que a empresa deixou claro em seu último call que a recente mudança de comando – recentemente, o fundador da empresa, Márcio Rocha Mello, deixou a presidência da empresa, dando lugar a Milton Franke – não teve influência na decisão.

Quanto ao impacto do processo sobre as ações das respectivas companhias na bolsa de valores, os analistas deixam claro que isso é um ponto para se acompanhar no longo prazo.

 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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