Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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Maldito bolivariano!, por Gilberto Maringoni

 
 
Pronto, inventaram um novo xingamento.
 
Depois de comunista e terrorista de um lado e de coxinha de outro, epítetos que já entediavam a todos, a tendência do verão é chamar os desafetos de “bolivariano”.

– O que quer dizer?

– Não sei muito bem, mas tá bombando.

– Estão querendo transformar o Brasil num País bolivariano.

– Bolivariano? Transformar o Brasil na Bolívia?

– Não. Bolivariano, aquele troço do Chávez.

Aquele troço do Chávez precisa ser mais bem definido, antes que se encha a boca para berrar “bolivariano!” a plenos pulmões.

O que é ser “bolivariano”, termo que tanta repulsa causa a Gilmar Mendes, ao infatigável deputado Eduardo Cunha e aos soberbos editoriais do Estadão, que dia sim, dia não, botam o qualificativo para ralar?

O presidente venezuelano Hugo Chávez não se cansava de repetir: o ideário que movia seu governo era o legado político e histórico de Simón Bolívar (1783-1830). O próprio nome do país foi alterado, a partir da Constituição de 1999, para República Bolivariana da Venezuela.

Chávez não foi o único a reivindicar o personagem. O nome de Bolívar foi apropriado por um sem número de lideranças e movimentos políticos na América Latina nos quase 200 anos que nos separam de sua morte. Seus seguidores estão espalhados pelas mais diversas vertentes do espectro ideológico.

Até que ponto as apropriações de tal legado são fiéis ao pensamento original do chamado Libertador?

É difícil dizer. A “ideologia bolivariana” tem contornos vagos e imprecisos. Bolívar é possivelmente o personagem histórico mais complexo e de maior influência no imaginário político continental. Sua obra é colossal. Além de liderar guerras de independência e de exercer influência direta em pelo menos cinco dos atuais países da região – Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia -, ele deixou vastíssima obra escrita, constituída por artigos, cartas e discursos.

Culto, refinado e viajado, Bolívar era sobretudo um intelectual de ação. Estava longe de ser um líder oriundo das classes populares. Era destacado membro da elite criolla, brancos e mestiços de posses que, entre os séculos XVI e XIX, se opunham ao domínio espanhol em diversos países do continente.

Bolívar teve sua vida política marcada pela luta contra o colonialismo, pela república, pelo fim da escravidão e pela defesa de um sistema de educação pública, entre diversas outras iniciativas. Tendo visitado a França por três vezes na primeira década do século XIX, foi fortemente influenciado por correntes iluministas e antiabsolutistas.

O culto a Bolívar

O historiador venezuelano Germán Carrera Damas escreveu um livro fundamental para se entender não apenas o personagem histórico, mas o Bolívar simbólico, que segue existindo. O título é preciso: El culto a Bolívar, nunca lançado no Brasil. Carrera Damas destaca que a admiração despertada por Bolívar em seu tempo e após sua morte não é fruto apenas de laboriosa pregação. Os feitos que liderou repercutiram concretamente na vida de milhões de pessoas. Não sem razão, Bolívar tornou-se objeto de culto, realizado, ao longo dos anos, com os mais diversos propósitos políticos.

Segundo outro historiador, Domingo Felipe Maza Zavala, já no governo de Eleazar López Contreras (1936-1941), na Venezuela, “o culto a Bolívar foi elevado à significação de um fundamento político”.

Através de variadas interpretações, a figura do Libertador foi reivindicada por todas as classes sociais do país como uma espécie de fator de unidade nacional ou até como símbolo da manutenção de determinada ordem. Assim, existe um bolivarianismo conservador, traduzido na profusão das estátuas equestres disseminadas nas praças de praticamente todos os municípios venezuelanos, bem como na sacralização estática de lugares e feitos do pai da Pátria. Essa vertente tenta esvaziar a figura de Bolívar de seu conteúdo transformador e anticolonialista, destinando-a à veneração estéril.

E há um bolivarianismo  de esquerda, que busca nas lutas contra o domínio espanhol a inspiração para ações tidas como antiimperialistas. As duas visões envolvem um sem-número de nuances. O ideário bolivariano sempre foi elástico e flexível o bastante para permitir leituras de um lado e de outro.

O culto a Bolívar não é uma criação ficcional, fruto de um patriotismo exacerbado em alguns países. É mais do que isso. Ele se constitui em uma necessidade histórica e em um recurso destinado a compensar o desalento causado pela frustração de uma emancipação nacional que não se completaria. Bolívar seria o elo histórico com um ideal de soberania, liberdade e justiça. Daí sua força, tanto política, quanto como veneração quase religiosa.

A ignorância alheia

A acusação de bolivariano feita por Gilmar Mendes e outras figuras do mesmo nível parte de quem conta com a ignorância alheia. E é bradado especialmente por aqueles que omitem um pequeno detalhe dessa história: na Venezuela, o contrário de bolivariano é uma oposição que não vacilou em patrocinar um destrambelhado golpe de Estado, em 2002, que retirou Chávez do poder por três dias e, de quebra, todas as referências a Simón Bolívar dos símbolos nacionais. A intentona foi um fracasso e, como se sabe, desmoralizou a oposição por vários anos.

A omissão é mais do que interessada.

*Gilberto Maringoni é professor de Relações Internacionais da UFABC autor de A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez (Editora Fundação Perseu Abramo) e ex-candidato a governador de SP pelo PSOL.

 

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

32 Comentários

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  1. Muito bom artigo, embora

    Muito bom artigo, embora conciso. Tem o mérito de resgatar a figura histórica de Simon Bolivar, herói da América do Sul, herói da humanidade. Seu nome está e estará para sempre inscrito nos anais da História. Enquanto Gilmar Mendes, Eduardo Cunha, Fernando Henrique Cardoso, seus lugares estão garantidos na lata de lixo dessa mesma História.

    1. Foi libertador da Venezuela,

      Foi libertador da Venezuela, Colombia e Equador, não foi heroi da humanidade, menos, menos, não era santo, começou como democrata depois virou autoritario, como ele há outros nas Americas, a santificação foi obra do Chavez, Bolivar era humano igual a outros, tinha esposa, amante, etc.  foi um chefe politico importante, nada mais que isso, do nivel de O´Higgins, San Martin, Sandino, Jose Marti, Garibaldi,  Bolivar era homem dos tempos napoleonicos, sem Napoleão não existiria, os “”libertadores”” se aproveitaram da fraqueza da Espanha derrotada por Napoleão, menos Cuba, que foi libertada muito depois.

  2. “Bolivariano” é o novo

    “Bolivariano” é o novo “populista”.

    Como hoje em dia, todo mundo (até Aécio, pelo menos na propaganda) se mostra como “populista”, o termo perdeu a força. Além disso, seu contraponto (“elitista”) não costuma pegar muito bem.

  3. ABSOLUTAMENTE NADA A VER COM

    ABSOLUTAMENTE NADA A VER COM SIMON BOLIVAR;  O nome e a biografia de Bolivar foram “apropriados” por Chavez para usar em sua retorica vazia de socilaismo no seculoXXI. A expressão não tem nada a ver com o personagem, sua simbologia foi roubada por espertos como grife de propaganda porque muitos idiotas acreditam nisso.

     Na Alemanha do começo do seculo usaram o nome de Spartacus, o escravo rebelde do Imperio Romano, como logotipo de uma facção socialista, os “”espartacistas””, de Rosa Luxemburgo e Karl Liebkinecht, era mera apropriação de nome.

    Bolivar jamais andaria com gente dessa laia, era um homem superior em momentos e circunstancias unicas da Historia.

     

      1. Bolivar era um aristocrata,

        Bolivar era um aristocrata, um  Ponte-Andrade y Blanco, vc acha que iria andar de braço dado com Maduro , um semi-analfabeto grosseiro, nos tempos do Vice Reinado Maduro sera no maximo  ajudante de cavalariço.

        Bolivar tinha planos que era contrarios aos interesses do Imperio do Brasil, uma entidade infinitamente mais importante

        do que as republiquetas hispanicas. Para o Imperio  NÃO interessava  uma Gran Colombia ao norte, quando mais divididas as Republicas hispanicas melhor, por causa de uma Bolivia fraca foi possivel adquirir o Acfe, grande feito de Rio Branco.

        Por fim é preciso ficar CLARO, CLARISSIMO, a independencia das colonias espanholas não foi por conta do brilho e valentia de Bolivar e San Martin, foi por causa de NAPOLEÃO BONAPARTE, que depos os manarcas espanhois e colocou seu irmão no trono, foi nesse periodo de caos institucional que as Republicas se libertaram dae uma Espanha na lona, da mesma forma que o Brasil ficou independente pelas mesmas causas.

    1. Tudo a ver com a independência da Sudamerica

      Este é o sentido chavista.

      Como vc sabe, San Martin e Simón Bolivar…

      D. Pedro é nossa jaboticaba já que, tirando exatamente a Bolivia, fomos “marraio feridô sou rei”, como na abolição.

      (essa nossa zelite histórica!…)

      Não estou defendendo o uso da palavra, apenas dizendo que está longe de não ter “nada” a ver.

    2. Comentário.

      Uma pessoa é xingada de “bolivariana”, mas o que significa ser “bolivariano”? Se for “socialismo do século XXI”, de qualquer modo, precisa explicar o que é este “socialismo do século XXI”. Afinal, continua a ilusão de conhecimento sobre o tema.

      Trocar uma denominação por outra não explica nada, é o seis por meia dúzia.

       

  4. sobre política e religião, por Simon Bolívar:

    “Legisladores! Farei agora menção de um artigo que, segundo a minha consciência, devia omitir. Numa Constituição política não deverá prescrever-se uma profissão religiosa, porque segundo as melhores doutrinas sobre as leis fundamentais estas são as garantias dos direitos políticos e civis, mas a religião não se integra em nenhum destes direitos, é de natureza indefinível na ordem social e pertence à moral intelectual. A religião governa o homem em casa, no gabinete, dentro de si próprio: ela apenas tem o direito de examinar a sua consciência íntima. As leis, pelo contrário, têm em vista a superfície das coisas: governam fora da casa dos cidadãos. Aplicando estas considerações, poderá um Estado reger a canso ciência dos seus súbditos, velar pelo cumprimento das leis religiosas e atribuir prêmio ou castigo, quando os tribunas estão no céu e quando Deus é o juiz? Só a Inquisição seria capaz de substituí-los neste mundo. Voltará ainda ‘a -Inquisição com os seus archotes incendiários? A religião é a lei da consciência. Toda a lei sobre ela a anula, porque impondo a necessidade tira mérito à fé, que é a base da religião. Os preceitos e dogmas sagrados são úteis, luminosos e de evidência metafísica; todos devemos professá-los, mas este dever é moral, não é político. “

    Alguém aí duvida que ele foi “O  Cara”???

    1. Boa ideia… E também aos

      Boa ideia… E também aos Sioux, Navajos e outras tribos americanas sobre o que os ingleses e estadunidenses fizeram com eles…

    2. O problema é que o Incas não existiam mais…

      Perguntar aos Incas sobre Bolívar será inútil pois na época de Bolivar eles já tinham sido completamente eliminados. A eliminação dos Incas começou com a traição que Francisco Pizzaro fez ao Inca Atahualpa. A partir daí chacinas constantes e doenças fizeram o resto do serviço eliminando totalmente a civilização Inca. Os índios da época de Bolivar provalvelmente sofreram com ele mas eles não eram Incas.

  5. Bolivarianismo não é isso!

    Desculpem mas, nem o autor da reportagem nem os comentaristas conseguiram ver que bolivarianismo quer dizer ‘ os planos integracionistas da América do Sul’. Aqueles que são os bolivarianistas estão na verdade tentando por em prática os sonhos de Bolívar de formaar uma, como dizem, “Grande Pátria”. Só que querem isto sob a inspiração do ‘socialismo’ que nada mais é do que um regime totalitarista a exemplo de Cuba.

    1. Bolivarianismo é um termo de

      Bolivarianismo é um termo de hoje,. não é do tempo de Bolivar e nada tem a ver com ele, foi um estelionato de sobrenome.

  6. O termo não tem nada a ver


    O termo não tem nada a ver com o Bolívar.

    Significa simplesmente o apego ao poder, fazendo-se o diabo para permancer nele, sob o argumento de proporcionar justiça social, às custas das estatais outrora rentáveis do país e se utilizando do represamento do preço de alguns itens administráveis pelo governo, além de uma contabilidade criativa, para afirmar de pés juntos perante a população desinformada de que tudo está maravilhoso nesse mundo criado artificialmente.

    1. Eu bebo e vc fica

      Eu bebo e vc fica bêbado?

      Nada a ver do que escreveu.

       Já pensou um estudante le-lo pra uma prova sobre o tema?

       Pode brincar,tirar sarro,se divertir( como eu faço) mas jamais ”ensinar ”errado.

             Os meus netos e centenas e centenas de estudantes leem este blog.

      1. SEndo eu um professor jamais

        SEndo eu um professor jamais indicaria a área de comentários de um blog como fonte de estudos. Se um aluno assim o fizesse, que arcasse com o resultado. O livre arbítrio deve funcionar sempre. Acerca do meu conceito de “bolivarianismo”,é certo que ele se confunde com o lulupetismo; daí que, dadas a correlação de força existente, é o bolivarianismo  possível. Que já é muito ruim, diga-se de passagem…

  7. Vejamos o cabeçario;
    — Carta

    Vejamos o cabeçario;

    — Carta Capital 08/11/20

     E dá pra ler?

    A Carta Capital é o avesso do avesso de Veja,multiplicada na última potência.

          Nenhuma das duas são imparciais. Uma ataca reputação. a outra recupera.

              E nemhuma das duas se preocupa com a reputação de ninguém .

          Dois lixões atômicos.

  8. Quem é ”AA’ que minha xará

    Quem é ”AA’ que minha xará escreve sempre? ATÉ comheço um,mas não neste post.

      E pegando um gancho completamente fora do tema:

            Eu não acredito em AA( alcoólicos anônimos)

             Um baita grupo que só Barbara Gancia acredita.

  9. Novas tentativas, “comunista” já caiu no ridículo

    Então estão tentando alguma “marca” nova para justificar o banho maria golpista. É um tal de Cuba, Venezuela, Coréia do Norte, Irã, Bolívia, Foro São Paulo … de vez em quando ainda vem a Russia (v.Gorbatchev hoje). China já tá difícil…

    Nossa realidade é tão distante disso! Tão mais próxima do ocidente americano-europeu! Eles não entendem a saudável diversidade, nos pensam apenas um apêndice xipófago! E brigam se ameaçar não sermos.

    O recente “bolivariano” vai durar pouco, são cada vez mais ridículos!

    Não sabem discutir problemas, propostas e soluções.

    Apenas caracterizar “ameaças fantasmas” para “terem que derrubar.”

  10. o perigo é o significado do

    o perigo é o significado do oposto de bolivariano, que ]seria no brasil

    aa caracteriação perfeita dos mesmos que chamam os outros de bolivarianos.

    quer dizer, eles criam a divisão e ainda culpam as vítimas.

    tudo que sai da boca dessa direita já éuma confissão de culpa antecipada.

    só faltam investigadores para provar a culpabilidade dessa direita nefasta.

    por exempol, quando o gilmar abre  boca já está se incriminando. 

  11. Mudar o significado de bolivarianismo para nada mudar

    A primeira acepção de “populismo” é, segundo Houaiss, “simpatia pelo povo” (“povo” na acepção de conjunto de pessoas pertencentes à classe mais pobre). O significado de populismo, porém, foi deformado pelos que têm antipatia pelo povo.

    Nos antipatizantes, em grande parte coxinhas, a antipatia pelo povo é também expressão de mecanismo de defesa psicológico (chamado por Freud de projeção) por meio do qual o coxinha condena no outro aquilo que vê de plebe em si mesmo. O coxinha, no fundo, sente que é plebe, mas reprime o sentimento que considera inaceitável e o projeta no outro, ao  qual critica por ser aquilo que ele sabe que ele mesmo é, mas não aceita ser. Criticar o que ele é no outro prova a ele mesmo definitivamente que é diferentemente do outro. Muito homossexual enrustido, seja pastor, seja parlamentar e ex-militar, também se defende psicologicamente dessa maneira. A bem da verdade, todos nós, uma hora ou outra, usamos esse mecanismo de defesa psicológico.

    Exemplo emblemático de projeção freudiana, porém em circunstância diferente daquela que leva coxinhas a execrar pessoas do povo, é o proceder de Gilmar Mendes nessa história de bolivarianos (em tal proceder, Gilmar se vale, também, embora canhestramente, da falácia do espantalho). Para Gilmar Mendes, ministro bolivariano não decide com isenção, age partidariamente nos julgamentos, desrespeita protocolos, é despreparado, envergonha o judiciário, tudo o que ele mesmo é e faz. Para se defender daquilo que ele “sabe” inconscientemente ser e fazer, Gilmar Mendes inventou a abstração de um bolivarianismo brasileiro que teria repercussão no Supremo. Ato contínuo, atacou moralmente sua própria abstração delirante, o espantalho da falácia. Assim, manteve restrita ao inconsciente a visão deprimente que tem de si próprio, preservando o ego.

    “Bolivariano” não tem o significado que Gilmar atribui ao termo. Segundo Houaiss, “bolivariano” significa “pertencente ou relativo a Simón Bolívar, militar e estadista venezuelano (1783-1830)”. Bolívar é reconhecido como herói sul-americano, o que qualquer estudante de segundo grau sabe. Portanto, pessoas com um mínimo de informação e bom senso, mas, principalmente, de boa fé, não emprestam ao vocábulo acepção pejorativa como o faz Gilmar Mendes e como fazem alguns aqui. Além disto, eles não têm conhecimento para se contrapor ao que está nos dicionários, nos livros de história e ao senso comum. Não são etimologistas, filólogos, historiadores e, muito menos, etnologistas. Se há quem pode definir o vocábulo com mais precisão, embora não sendo especialista na questão, é quem o usou eventualmente em nova acepção, e este alguém é venezuelano.

    Querem fazer com “bolivarianismo” o que fizeram com populismo, como lembrou um colega aqui, com sindicalismo, com trabalhismo e, até, com comunismo. Querem deturpar o conceito para justificar golpe de Estado “preventivo”, impondo ao país o pior, o péssimo, para impedir o surgimento de abstração paranoica vendida como se fora fato. Trata-se da tática de sempre, criminalizar os movimentos populares e suas lideranças; para realizar a estratégia de sempre, manter o povo esmagado e miserável, pois explorado até os ossos.

  12. Cuba

    Cuba é um pequeno país insular, com parcos recursos naturais, sob cerco americano há mais de 50 anos, e cuja população é aproximadamente igual à do Grande Rio, menos de doze milhões de pessoas. É, realmente, um país pequeno e pobre, mas não por culpa de seu povo e dos atuais regime de governo e governo.

    Em 1959, Fulgêncio Batista, que governava Cuba, foi derrubado pelo movimento revolucionário liderado por Fidel Castro e Che Guevara. Houve razões para tal.

    Durante o governo de Batista, havia terrível desigualdade em Cuba, poucas pessoas riquíssimas, muitas americanas, ao lado de maioria miserável e degradada. Nessa época, em Cuba, antes da revolução, havia mais prostitutas registradas do que trabalhadores sindicalizados! Cuba era o bordel dos americanos, um país inteiro bordel de outro!

    Alguma coisa tinha de ser feita, e foi. A dignidade do povo cubano foi resgatada com a derrubada de um governo corrupto e cúmplice da exploração humilhante de seu povo, especialmente de suas mulheres, por estrangeiros e por seus testas de ferro.

    A humilhação imposta ao povo cubano pelos americanos até a revolução, prosseguiu, porém, com o embargo econômico (empresas do mundo inteiro foram proibidas de comerciar com Cuba; as que violassem a proibição seriam punidas economicamente pelos americanos; por iniciativa e pressão americanas, Cuba foi expulsa da OEA). O embargo econômico tinha e tem o propósito de derrubar o governo cubano ao levar o povo cubano à miséria, gerando descontentamento, crueldade vergonhosa com o povo cubano. E é um embargo que tem mais de 50 anos! Cuba, por causa do embargo econômico americano (um ato de guerra cruel equivalente a terrorismo, pois agride inocentes para atacar o inimigo, o governo cubano) tornou-se realmente um país ainda mais pobre.

    Mas Cuba reagiu na adversidade. Tornou-se democracia social (a verdadeira democracia, pois a democracia política é quase que apenas votar, e isto é pouco mais do que nada) e, mesmo na pobreza que lhe foi imposta, melhorou a qualidade de vida da população! O embargo deu errado. A democracia social cubana pode ser percebida por diversos indicadores. Por exemplo, a taxa de alfabetização cubana é superior à americana; a mortalidade infantil cubana é menor do que a americana; a expectativa de vida cubana é maior do que a americana. Tudo isto pode ser confirmado na Wikipedia e no site da CIA, The World Factbook. Cuba tem sistema de saúde universal gratuito, o que os EUA (e o Brasil) não têm. Tal seria feito espetacular, mesmo que Cuba não fosse tão pobre e sob cerco, isto é, se não estivesse em guerra. O Brasil, por exemplo, em termos de qualidade de vida, está muito distante dos americanos, e muito mais ainda dos cubanos (vivemos aqui sob ditadura social, e dizemos que a ditadura é em Cuba!).

    Outro indicador da qualidade de vida cubana é o fato de, sendo um país pobre e cercado pelo império dos tempos atuais, os EUA, ter sido potência olímpica, com resultados esportivos rivalizando com os dos países desenvolvidos e muito mais populosos. A excelência de seus atletas, fisicamente fortíssimos e saudáveis, é outro indicador da boa qualidade de vida da população cubana, e, consequentemente, da democracia social cubana.

    Cuba, aquele “paiseco” sob ditadura, como seus detratores dizem, oferece à população qualidade de vida muito melhor do que a oferecida pelo Brasil à sua. Enquanto Cuba oferece atenção universal e gratuita em saúde, nossos médicos se rebelam contra a iniciativa do governo de oferecer atenção em saúde em municípios sem médicos, e nos quais os médicos brasileiros se recusam a trabalhar, mesmo que a peso de ouro! Enquanto os cubanos são nacionalistas (os entreguistas e exploradores do povo cubano vazaram para Miami), brasileiros fazem petição pedindo ao governo americano que intervenha militarmente no Brasil! Enquanto os cubanos são solidários, a elite brasileira, incluindo seus médicos, é mesquinha. Algum médico brasileiro se ofereceu para combater a epidemia de ebola na África? Não, mas pessoal médico cubano está lá.

    Dizer que Cuba é uma ditadura é injustiça, para se dizer o mínimo. Essa injustiça é também fruto da desinformação produzida por uma imprensa polarizada ideologicamente e que instila irracionalidade na população (a imprensa brasileira conseguiu o feito de fazer seus leitores defenderem com unhas e dentes teses que são contrárias aos interesses deles!). Também não se explica racionalmente o ódio que muitos endereçam a Cuba (aliás, ódio não é coisa boa em qualquer circunstância). Que mal Cuba fez ao Brasil? Quando Cuba teve qualquer atitude agressiva em relação ao Brasil? Ao contrário, participando do programa “Mais Médicos”, Cuba ajudou e ajuda o Brasil e os brasileiros mais carentes. Alguns de nós, infelizmente, cospem no prato em que comem.

    Cuba, um país pobre, sob cerco americano há mais de 50 anos, é exemplo a ser seguido. É país socialmente democrático, solidário e digno. Quem dera que o Brasil tivesse as qualidades de Cuba.

    1. Cuba

      Logo ali temos o vizinho  HAITI ,exemplo de sucesso de capitalismo puro e justo. Uma maravilha.A geraçao sem sem que votou no aecio pelo impulso midiatico.Os sem noçao/sem estudos imaginam que gerondinos e jacobinos sao duplas do sertanejo universitario e Rousseau é filho de franceses nascido em terras Russas.

  13. Nassif
    A pantomima que

    Nassif

    A pantomima que pseudos articulistas nos taxam não tem senso de pudor.

    Brincam com a história como se eles a conhecessem.

    Será que algum dia esta ressonância maldita cessará,  heim?

  14. Isto de demizar a palavra

    Isto de demizar a palavra “bolivariano” não é coisa de brasileiros, é coisa de setores dos Estados Unidos especialiazos em golpes no exterior.

  15. Bolivariano

    Bolivariano. Presente.

    Há, nos notáveis livros infantis de Monteiro Lobato, uma interessante reflexão, que sumarizo de memória: a vaca, um animal utilíssimo para o homem, constitue uma ofensa quanto aplicada a uma pessoa, enquanto o tigre é um epíteto laudatório.

    Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios (1783-18300 tem seu nome associado a esta dilogia; um íntegro e idealista libertador de vários dos atuais países sulamericanos faz do bolivarianismo a sugestão de ditadura, opressão e uma ofensa política.

    Conhecer seus traços mais importantes como homem público evita propagar esta sandice.

    No século XVIII, os países libertados da colonização espanhola por Bolívar constituiam os Vice Reinos de Nova Granada e do Peru e a Capitania Geral de Venezuela (Venezuela, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia).

    As relações sociais e econômicas vigentes nesta época e que ainda permanecem em diversos países ajudam entender as mudanças e os retrocessos nas conquistas e as traições que atingiram Simón Bolívar.

    No topo da sociedade a elite espanhola, os “peninsulares”, que controlavam o estado e sua burocracia, secundariamente eram também proprietários, mas nesta categoria predominavam os “criollos”. Estes eram os brancos nascidos na América e formavam a burguesia mercantil. Bolívar era um criollo. Sua família, de origem basca, saiu da Espanha entre os séculos XVII e XVIII, sendo seu pai, Don Juan Vicente Bolívar, um rico proprietário de terras e minas. Isto lhe permitia transitar tanto em Caracas quanto em Madri. Aos nove anos, Simón fica órfão de pai e mãe e aos 14 anos se alista como cadete. Vive por longos anos na Espanha e na França, onde estuda e frequenta a sociedade. Morrerá pobre, tendo amigos a seu lado.

    Na estrutura hierárquica colonial seguem-se os “mestizos”, resultado das uniões de branco com índios, e “mulatos”, de branco com negros. Os mestiços tinham posição social mais elevada, dedicando-se com “criollos” ao pequeno comércio e a fabricações corporativas, enquanto os mulatos eram agricultores e artesãos livres. Claude Morin (Universidade de Montreal) alerta que, malgrado a riqueza e a condição jurídica, o papel social variava conforme as circunstâncias. É um padrão de relacionamentos que será descrito e estudado por Fred Riggs (Sociedades Prismáticas) e verdadeiro ainda hoje para o Brasil e a América do Sul. Na base da pirâmide, índios e negros (trabalhadores e escravos).

    É importante salientar que estas referências são estatísticamente majoritárias e, como é óbvio, não constituem papéis e comportamentos homogêneos. É igualmente importante lembrar que as lutas bolivarianas se deram no rescaldo da Revolução Francesa, com a ascensão napoleõnica e a reação dos reinos e impérios europeus. A propósito de Napoleão, de quem Bolívar tinha uma avaliação conflituosa, segundo seu biógrafo Indalecio Lievano Aguirre, Gabriel Garcia Márquez narra no livro “O General em seu labirinto” uma passagem curiosa. Lia-se um poema e perguntou-se pela autoria. Alguém disse: Napoleão, ao que o poeta Bolívar replicou haver uma enorme diferença moral, pois o autor da poesia não permitiu que o coroassem.

    Importa entender o pensamento de Bolívar. Antes de tudo um nacionalista. Sua justificativa para a criação de um enorme país, da América Central à fronteira chilena, era que um país grande mais facilmente se oporia aos colonizadores. Entendamos que esta grandeza não era apenas territorial, mas populacional, de recursos naturais e da integração dos povos sob uma bandeira.

    Havia, mesmo após a derrota espanhola de Ayacucho (1824), uma luta que alguns pretendem de classes, como as descritas anteriormente. Mas sem dúvida influenciando uma classe social mais do que a outra, os interesses em autonomias locais e as fraquezas morais de generais de Bolívar, o que se cuidava, efetivamente, era a sujeição ao exterior destas populações e de suas riquezas.

    Nas cartas e na Constituição para os Estados da Venezuela de 1811, o pensamento de Bolívar aparece claro: a liberdade, a igualdade, a propriedade e a segurança, sendo esta a proteção que a sociedade dá a cada um de seus membros, os quais tem “a faculdade de fazer tudo o que não prejudicar os direitos dos outros indivíduos, nem o corpo da sociedade”.

    Conclua-se com o artigo 198 desta constituição bolivariana de mais de dois séculos: “Sendo constituídos os governos para o bem e a felicidade comum dos homens, a Sociedade deve proporcionar auxílio aos indigentes e desgraçados e a instrução de todos os cidadãos”.

  16. Acho que dá para medir o

    Acho que dá para medir o nível da falsidade intelectual do sujeito, quando ele pega um texto seu de 2007, faz uma nova introdução e republica sete anos depois sem avisar seus pobres leitores, meros consumidores de porcarias escritas.

    É evidente que o termo bolivariano, pós-Chávez, não é o mesmo. O bolivarianismo  hoje nos remete a revolução bolivariana, a uma constituição bolivariana, a uma República bolivariana com seus ministérios do poder popular, a um exército bolivariano, etc

    Chávez e seu socialismo do século XXI tornaram-se sinônimo de bolivarianismo, tomaram posse do termo e se outrora ele tinha outro significado, hoje não tem mais.   

    Hoje, bolivarianismo é sinônimo de uma política de governo baseada em conselhos comunitários ( consejos comunales bolivarianos ). Quem nunca leu Gramsci, que faça o favor de ler. 

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