Sei de amigos que participam do GGN ou visitam este blog e nos servem com seus talento e amor pela escrita poética. Romério Rômulo me honra, Edson Cruz me estimula, Odonir e Anna me informam. Preenchem uma lacuna que, não sabia a razão, me levou a somente prosear.
Até que o fraterno amigo Márcio Alemão, cronista também, mas muito, muito mais do que eu, um dia me disse: “Rui, fazer boa poesia é muito difícil”. Se ele não se arriscava, imagina eu. Foi o argumento final para que eu continuasse admirando os poetas e não me incluísse entre eles.
Ontem, sábado (28), fui ao lançamento de dois livros, tiragem pequena, limitada apenas a familiares e amigos, sem pretensão comercial, homenagem póstuma a uma pessoa muito especial
“Margens”, de Helena Rios, e “Chuva, Afeto e Saudade”, de Kiko Haberland, foram lançados em espaço muito agradável, o “Obra de Arte”, em São Paulo.
Conto a história, que bonita ela é.
Helena é fotógrafa, prima do poeta Kiko, e responsável por organizar e completar a obra depois de Kiko ter falecido na Alemanha, em setembro de 2013, aos 38 anos de idade.
Deixo com ela o pontapé inicial:
“Deficiente físico, tendo grande parte dos movimentos comprometidos em consequência de um acidente que sofrera aos 9 anos, Kiko escrevia, ora em textos mais diretos, ora mais poéticos, sobre sua forma de olhar o mundo, a vida na Alemanha, a condição física, as pessoas importantes e queridas, os amigos e a família, as fantasias e os sonhos”.
Amigo de sempre de seus pais, na época em que o Kiko foi morar em Gladenbach, na busca de melhores tratamentos, eu mantinha um blog no Terra Magazine. Não duvido, pois, ter sido o primeiro a divulgar publicamente suas poesias. Encantavam. Ainda mais a mim, que vivenciei sua história desde o dia do acidente.
Poemas curtos. Poucas palavras. Sentimento longínquo de uma mente privilegiada. Causas verdadeiras de sua alma. Às vezes, elas vinham em e-mails formais como se eu fosse famoso editor. Outras seus pais me entregavam impressas. Punha o Kiko “Pra Sabadear”, título que eu dava à coluna nesses dias.
Ontem, a obra de Kiko e Helena se completaram. Amigos eternos se uniram para saudar a poética vinda das palavras do Kiko e das imagens da Helena (http://www.helenarios.com/). Todos se fizeram felizes, talvez o poeta mais ainda.
Que bom sabermos que arte e natureza deificam o planeta.
Mando aqui duas poesias do Kiko. Como não posso emprestar o livro a todos amigos do GGN, a cada domingo, mesmo após a volta do “Dominó de Botequim”, irei postando uma poesia de Kiko Haberland, na ordem do livro, para que vocês possam amá-lo como fizeram sempre sua família e os amigos.
Beijo, eterno Kiko.
SEM TÍTULO (PRIMEIRA POESIA)
Triste é viver só.
Só e calado.
Sempre parado.
Parado quase imóvel.
Imóvel, mas não morto.
Torto sentado numa poltrona.
Sem amigos com quem dividir dor e prazer,
Que me façam ver como lindo é o mundo.
Ainda que sujo e triste.
No qual seriam bem-vindos, e como …
Que me façam ver como sou feliz!!!
CHUVA, CHUVA, CHUVA (30.11.1999)
Chove, chove, chove sem cessar …
Céus e nuvens escurecem.
Tristeza no coração das pessoas:
Pôs-se a chover.
Tempestade forte e pesada,
medo que nada,
puro reboliço,
gelo … medo? que nada …
Moderada chuva, sem assustar,
duradoura,
para as plantas alegrar.
Pronto …
tonto quem tem medo.
Fraca garoa chuvinha à toa,
não molha ninguém,
vai e vem como se não fosse,
só se percebe se fica mais forte …
E, após tudo isso …
Um arco-íris no céu …
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Mais um Adeus
[video:https://youtu.be/MUKGuBRB9qE%5D
Vinicius de Moraes y Toquinho
Na voz de Toquinho e Marilia Medalha.
eu confesso, Rui:
sou seu leitor sempre.
e, como diz o Kiko, “triste é viver só. só e calado.”
um abraço.
romério
Kiko
Rui !
Que bonito! As amizades verdadeiras devem ser reverenciadas; costumam nos trazer grandes aprendizados e a força para prosseguirmos, quando tudo se torna árido e mais difícil.
Lamento pela ausência do teu amigo; saudade é sempre ardida. Mas a homenagem vai aliviá-la, tornando-a mais doce, semana a semana. Recordar é inevitável; há que se permitir acomodar a perda no coração.
Que bom que você postou. Estava eu com o coração apertado de ter sido um estorvo.
Abraço.
Anna.