Segurança digital: ninguém está protegido

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jornal GGN – O caso denunciado por Edward Snowden, sobre o acesso indevido do Estado americano a dados de cidadãos de todo o mundo, é uma história parecida com as de filmes de ficção. O governo tem acesso aos dados de milhares de usuários e monitora em tempo real tudo aquilo que está na rede. Esse acesso à informação, se mostra como ferramenta poderosa em um futuro cada vez mais dominado pela ferramenta digital.

Para Rubens Diniz, diretor executivo do IECint – Instituto de Estudos Contemporâneos e Cooperação Internacional e  especialista em Relações Internacionais com foco em segurança, o problema que se levanta, neste caso, é muito mais do que simplesmente a questão moral de acesso aos dados feito ilegalmente. Para ele, os fatos apontam para  algo muito mais complexo: o início de uma guerra cibernética.

Contudo, o cenário de guerra cibernética, hoje, ainda é de baixa intensidade, opina ele. “Alguns países já até tinham ideia de que isso ocorria, Essa situação tornou-se pública, internacionalmente e o Brasil começa a se preparar para isso”, diz ele.

Guerra cibernética

Diniz ressalta que a denúncia que o Snowden fez foi corajosa. “Até onde podemos falar da existência de uma ciberpirataria estatal?”, questiona. Ele aponta que o responsável pela maior a vigilância é o Estado que utiliza justamente os argumentos de segurança.  “Empresas como Facebook já foram usadas como ferramenta de propaganda para ações do governo dos EUA”, exemplifica.

Ele observa que a espionagem de informação por parte do governo poderia influir nas áreas comerciais, científicas, opiniões políticas e públicas, área de segurança, econômica, entre outras. “É essencial conhecer o que seu inimigo ou concorrente está pensando para quem quer se manter no centro do cenário internacional; trata-se da elaboração de uma dimensão estratégica. Não é simplesmente uma ação moral. Quando um país se propõe a fazer isso, é por razões profundas”, alerta.

Ele questiona por que só há governança da internet nos EUA. “Essas grandes inovações tecnológicas acabam sendo instrumento político para interesses de um determinado país. Em contrapartida, empresas americanas colaboram com o país a partir deste interesse”, analisa.

Ele comenta, como exemplo, que toda informação do Twitter fica arquivada na Biblioteca do congresso Americano. “A partir do momento que você postou algo na rede, essa informação é pública. Só é possível se proteger disso, quando investimos em segurança digital”, observa.

Rubens explica que contemplar inovações tecnológicas é essencial no redesenho das estratégicas de segurança nacional. “A guerra cibernética é real. Qualquer país que queira preservar sua segurança deve ter políticas de defesa dirigida à essa área.  Não estamos lidando com indivíduos, são ações do Estado”, enfatiza.

A forma que uma nação dispõe para se proteger de futuros ataques cibernéticos é realizar investimentos na área de inovação tecnológica e criar leis que deem suporte legislativo ao tema. “É imprescindível que os países contemplem o âmbito cibernético em sua legislação”, aponta. “A China tem denunciado ações do governo dos EUA contra seu sistema de comunicação digital. Então, existe uma nova era nas formas de combate. A internet e as empresas de comunicação fazem parte dessa estratégia”, diz.

O que aconteceu com os Estados Unidos, de acordo com Diniz, demonstra a adesão de Barack Obama a alguma máximas assumidas em geral por governantes americanos. “Podemos supor que há uma ideia avulsa presente nos EUA de que eles são predestinados e têm direito a fazer o que querem ao redor do mundo. Isso permite que eles utilizem força da guerra em alguns lugares e se sintam no direito de fazer o que querem com seus próprios cidadãos e ao redor do mundo”, exemplifica.

Entretanto, ele observa que isso demonstra cinismo da parte do Presidente Barack Obama, que foi eleito por apregoar-se contrário a esse tipo de situação.

O especialista analisa que o cenário mundial atual,onde há mudanças geopolíticas e novas potências estão emergindo, principalmente dos países do eixo Sul, pode ter gerado estratégias norte-americanas no âmbito virtual. “A partir daí, uma das estratégias dos EUA poderia ser, por exemplo, fazer a contenção dessas mudanças”, diz. “Eles argumentam ser políticas de segurança interna, mas eles promovem e estimulam o extremismo ao redor do mundo”.

De acordo com ele, existe uma colaboração das empresas de internet com os EUA. Isso é a constatação de que o país, por meio do seu aparato de Estado, faz uso da guerra cibernética, controlando informações de seu interesse sem respeitar nenhuma legislação, inclusive a de seu país. “Se isso acontecesse no Brasil ou no Irã, a repercussão do discurso seria que isso é uma violação dos direitos humanos, de privacidades”, analisa. Ele diz que poderia ser considerado como uma ação criminosa, pois houve a violação leis de acesso à privacidade.

O especialista aponta que é importante ter acesso a alguns dados, que poderiam ser considerados importantes para a segurança individual. “Existe um nível de informações que é importante que o governo tenha. Elas podem ser acessadas com embasamento legal e até é importante que se tenha isso, mas tudo dentro da ética”, finaliza.

Espionagem Brasileira

No Brasil, após a onda de manifestações que vem ocorrendo há cerca de duas semanas, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), montou uma operação para na qual destacou oficiais de inteligência para fiscalizar, por meio do Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp, a movimentação dos manifestantes. A decisão foi tomada após uma crise entre assessores civis da presidente Dilma Rousseff e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que não teriam alertado o Planalto sobre os primeiros indícios de manifestações, que desencadearam em uma onda de protestos no Brasil. 

Utilizando o mote da segurança, esse monitoramento pretende dar apoio ao poder executivo nas questões de segurança, principalmente com a proximidade dos grandes eventos internacionais que o país vai organizar.

Ver mais em Herói ou vilão: opiniões sobre o maior vazamento de dados pelos EUA são contraditórias.

Redação

2 Comentários

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  1. Monitoração

    Este é o futuro dos internautas…

    Tudo vai ser monitorado, e além disso a privacidade acaba por ai, pois uma vez publicada a informação na rede, qualquer um pode fazer o que quiser com ela…

    Lamentável …

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