A crise hídrica é culpa da falta de planejamento e gestão de Alckmin: dados e fatos

Por SERGIORGREIS

Considerar a crise hídrica que ocorre em São Paulo como um problema de planejamento e gestão deveria ser uma obviedade, mas incrivelmente o senso comum, tão bem traduzido pelos meios de comunicação dominantes, persistiu em tratar a grave questão como fruto de mera imprevisibilidade climática. Quem se interessa por discutir Administração Pública tende a saber que não há evento que não possa estar sob a alçada dessa ciência e de seus profissionais. Mesmo quando tratamos, nos debates, sobre casos fortuitos – como desastres naturais, que ocorrem instantaneamente, ou tragédias súbitas, como incêndios –, invariavelmente compreende-se que cabe aos governos seja a prevenção à ocorrência do problema, seja a sua rápida mitigação a partir do momento em que acontece.

Ou seja, mesmo que estivéssemos observando a crise hídrica apenas do ponto de vista mais estrito da estiagem (que, conforme já abordei tantas vezes, é severa na região do Cantareira, mas não o é no Alto Tietê, e ainda assim a situação nesse segundo sistema é tão precária quanto no primeiro), na posição de gestores deveríamos, sempre, estar preparados para enfrentá-la. E isso poderia ocorrer não só mediante o uso dos instrumentos de previsão meteorológica, mas também a partir do aperfeiçoamento dos sistemas de abastecimento – seja pela ampliação da oferta, seja pela mudança cultural da demanda. Esses elementos correspondem à competência governamental de se prepararem para prevenirem problemas de ordem fortuita, conforme eu dizia acima.

Negar essa lógica, como fez o Governo de São Paulo e a SABESP o tempo todo, é de um primarismo atroz, justamente no coração da modernidade administrativa, no seio de um projeto de poder tido como o mais excelente do ponto de vista da gestão. Essa postura “inimputável” de Alckmin, em minha opinião, foi essencial – em meio ao seu tino eleitoreiro – para que a crise não tenha sido contornada até agora. E, a cada dia, sua superação se torna cada vez mais difícil.

A imensa falha de gestão e de planejamento do governo tucano, então, está ancorada nessa falácia do “apelo à natureza”, na transmissão de responsabilidades ao avarento São Pedro. Apenas para fazer um paralelo para ser didático na exposição dessa incongruência argumentativa da gestão PSDBista, a adoção dessa premissa em uma área como o combate à corrupção, por exemplo, resultaria na mais plena inércia administrativa diante da possível constatação de que a natureza humana é “vil, egoísta e tacanha”, e que portanto não haveria o que fazer.

Há, no entanto, quem continue a entender que essa construção lógica é insuficiente para caracterizar a responsabilidade de Alckmin pela iminente falta d‘água em São Paulo. A estratégia que adoto aqui, então, é ser mais concreto, apresentando duas frentes, consubstanciadas em dados, que nos mostrarão o que é que estaria acontecendo hoje se o governo tivesse sido tempestivo e sensível na condução da política de recursos hídricos em São Paulo. Esses números se referem à quantidade de água a mais que teríamos, de forma alternativa, caso uma ou outra frente tivessem sido implementadas pela SABESP. É um exercício, é claro, grosseiro, mas que deve estar acurado o bastante para não invalidar a premissa – o governo Alckmin foi trágico do ponto de vista de seu planejamento e de sua gestão para lidar com a questão da água.

A primeira frente trata das obras que o governo deveria ter feito, desde pelo menos 2004, e que não fez, ou entregou apenas parcialmente. A segunda frente apresenta uma estimativa da quantidade de água que teríamos caso os órgãos gestores tivessem passado a reduzir a produção hídrica a partir do momento em que as vazões de entrada (que é, no final das contas, o que determina se o reservatório enche ou esvazia, e não apenas as chuvas) passaram a se situar abaixo das médias históricas, em 2012.

1) O impacto na produção de água a partir dos atrasos nas obras

Uma das descobertas que fiz ao vasculhar arquivos de jornal é a de que, no contexto dos debates entre o Governo de São Paulo e o Governo Federal a respeito da renovação da Outorga do Sistema Cantareira, em 2004, a SABESP apresentou a proposta de aumentar a retirada de água para 40 m³/s (o valor era, até então, de 33 m³/s). A ideia foi rejeitada pela ANA, e então chegou-se ao consenso de 36 m³/s e à determinação de que São Paulo deveria reduzir a sua dependência desse sistema – responsável, sozinho, por mais da metade de toda a produção de água para a região metropolitana.

Defendo que, se há alguma parcela de responsabilidade por parte da União, ela está na autorização para esse aumento das vazões de saída. A permissão, em si, já faria pouco sentido diante da cobrança pela redução da dependência do Cantareira. Considerando-se, no entanto, que esse sistema tinha acabado de sair daquela que tinha sido, até então, a maior crise da sua história (alcançando 0,6% do seu volume operacional à época), o ato faz ainda menos sentido. Talvez, contudo, possa ser compreendido do ponto de vista da gritante necessidade da SABESP de expandir a sua capacidade de produção e a impossibilidade de fazê-lo diante dos históricos atrasos nas obras. Por sinal, esta reportagem da Folha, de 2003, mostra a corrida contra o tempo enfrentada, desde há muito, pela SABESP: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1210200301.htm .

Nesse mesmo ano, a SABESP apresentava o seu Plano Diretor de Águas para a Região Metropolitana de São Paulo, contendo vários cenários para a expansão da oferta e da demanda de água até o ano de 2025. Conforme nos mostra a Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1303200401.htm), a companhia de abastecimento imaginava investir 15% a menos nos próximos 20 anos (período 2005-2025) quando comparado com o período imediatamente antecedente, de 8 anos (1995-2002). Evidentemente, a proposta sofreu críticas de especialistas, que apontavam para a eventual insuficiência de recursos. O que a SABESP defendia era que era mais eficaz investir mais em redução de perdas, no reuso da água e na mudança da cultura de consumo de água, de forma geral – sabemos, hoje, que a empresa fracassou retumbantemente em todas essas iniciativas.

Além disso, o órgão público direcionava sua lógica de intervenção para o cenário otimista, no qual seria possível controlar a demanda sem que houvesse a necessidade de expandir, enormemente, a oferta – a partir de obras grandes, caras e distantes de São Paulo. Ainda nesse contexto, contudo, seria necessário realizar empreendimentos, e a SABESP delineou um planejamento da expansão da produção de água. O gráfico abaixo, do próprio relatório mencionado, nos mostra essa possibilidade:

Enquanto a linha sólida nos mostra qual seria a evolução tendencial da demanda, a linha tracejada nos indica a evolução “controlada” dessa demanda, a partir das ações que enunciei mais acima, dentre outras. Pensando em 2014, teríamos, nessa prospecção, uma “capacidade instalada”, hoje, de aproximadamente 79 m³/s, ao passo em que, tendencialmente, a demanda estaria em aproximadamente 75 m³/s, e na lógica controlada, em pouco menos de 71 m³/s. O planejamento proposto seria efetivo, então, em sair do déficit hídrico vigente à época para um cenário de superávit razoável, mesmo se persistisse o cenário tendencial. Mais adiante, veremos o que ocorreu aí.

Do ponto de vista das obras, teríamos um cenário no qual haveria, inicialmente, a adequação do Sistema Rio Grande (Billings), significando a adição de mais 1,7 m³/s (o que, na verdade, já tinha ocorrido à época); posteriormente, a expansão do Alto Tietê por meio da inauguração de Paraitinga e Biritiba (mais 5,6 m³/s – uma obra que deveria ter sido inaugurada em 2002-3); depois, a captação do braço do Rio Pequeno, também para o Rio Grande (mais 2,2 m³/s); a seguir, o incremento oriundo do Alto Juquiá (o chamado Sistema São Lourenço), adicionando mais 4,7 m³/s; em seguida, a reversão do Itapanhaú e, finalmente, do Itatinga (ampliando o Alto Tietê em até 4,9 m³/s).

Tragicamente, contudo, a gestão Alckmin não deu conta da imensa maioria desses desafios. A SABESP foi capaz de inaugurar Paraitinga e Biritiba em 2005-6, mas essa capacidade extra só pôde ser utilizada 6 anos depois. Isso porque a Estação de Tratamento Taiaçupeba só possuía a capacidade de tratar 10 m³/s – que era a produção do sistema Alto Tietê em 2004. A PPP, que deveria ter sido lançada nesse ano, só o foi em 2007 e, após uma série de atrasos, foi concluída apenas em 2011. É muito importante dizer que, nesse momento, São Paulo vivia uma grande abundância hídrica. No entanto, um relatório de 2009 mostrava que, na verdade, a capacidade de produção dos mananciais tinha caído 5,1 m³/s em apenas 5 anos (vejam a reportagem da Folha: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2203200901.htm). Já nessa época (e, na verdade, muito antes) se apontava que, em caso de seca, teríamos uma grave crise.

Com relação às demais iniciativas, o Governo de São Paulo não foi sequer capaz de entregá-las, mesmo que com atraso. A expansão do Sistema Rio Grande via aproveitamento do braço do Rio Pequeno, que deveria ter sido entregue em 2008, ocorrerá apenas em 2015, de acordo com a própria SABESP. O tão falado Sistema Produtor São Lourenço (Juquiá-Juquitiba) que deveria, conforme o gráfico acima, estar pronto em 2010, só será entregue em 2018.

No contexto dos compromissos que a SABESP deveria atender após a renovação da Outorga do Cantareira em 2004 estava a realização de estudos e projetos, no prazo de 30 meses, para identificar formas de redução da dependência do Cantareira. Uma primeira versão foi entregue em 2006, mas, por sua precariedade, não foi aceita pela ANA. Após outros 7 anos de atraso, um novo documento foi elaborado, o Plano Diretor da Macrometrópole, que buscou mapear outras possibilidades para a expansão da produção de água. A transposição do Paraíba do Sul (que garantiria mais 5,1 m³/s), a qual surgiu, subitamente, como um grande factoide agora em 2014, já tinha surgido como uma ideia, sem estudo aprofundado, em 2003 (conforme esta notícia, já colocada mais acima: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1210200301.htm) . À época, foi vista como uma solução muito cara. Em 2009, voltou a ser apresentada como uma possibilidade: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0707200914.htm . Em 2013, no Plano mencionado acima, foi admitida como uma alternativa, mas não dentre as mais plausíveis.

Outra iniciativa que não constava dos estudos originais é a construção das barragens Pedreira e Duas Pontes. Na verdade, a sua inclusão como projeto dependeu do comitê PCJ, que solicitou estudos de viabilidade ainda em 2006 – a demanda foi feita à Refinaria de Paulínia, a REPLAN, da Petrobras. Apenas agora, em 2014, é que teremos a abertura das licitações para a contratação das obras, com previsão de conclusão para 2017. O aumento esperado da produção global de água é de 7,7 m³/s. Vale dizer, contudo, que esses reservatórios não atenderiam à região metropolitana de São Paulo, embora possam vir a contribuir para a redução da dependência do Cantareira.

Vemos, então, que nesta década que passou o Governo de São Paulo foi especialmente incompetente ao cumprir os desafios concernentes à necessidade de expansão da capacidade de produção de água para seus cidadãos. O que proponho abaixo é um simples exercício de quanto mais de água teríamos caso apenas algumas das obras previstas em um relatório de mais de dez anos atrás estivessem prontas. No caso, então, considerarei a expansão de mais 2,2 m³/s do Rio Grande, a partir de 2008, e de mais 4,7 m³/s a partir do Sistema Produtor São Lourenço, que deveria estar pronto em 2010 e, na coluna ao lado, a produção para um cenário (também não realizado, já que as obras estão longe de serem concluídas) de um atraso de 4 anos. A tabela abaixo sintetiza os achados:

Vemos, então, a enorme falta de que essas contribuições fazem para o nosso contexto crítico atual. Tivessem sido entregues no prazo, hoje teríamos mais de 1,15 trilhão de litros de água a mais à disposição. É claro que cumprir prazos em obras de infraestrutura não é um processo trivial. Por isso, incluí o cenário ao lado, sugerindo um atraso de 4 anos, o que significaria que a expansão do Rio Grande passaria a ocorrer a partir de 2012 e o lançamento do São Lourenço, em 2014. Ainda assim, teríamos quase 300 bilhões de litros de água a mais a disposição. Também é evidente que nem toda essa produção poderia corresponder a um dispêndio equivalente de água a menos no caso do Cantareira, mas não há dúvida de que esse grande sistema e os demais, que também enfrentam uma situação cada vez mais difícil, estariam em condições muito melhores (hoje mesmo uma reportagem do G1 nos mostrava que os seis principais reservatórios que atendem a Grande São Paulo estão com apenas 300 bilhões do total de 1,8 trilhão de litros de capacidade – http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/10/reservatorios-da-grande-sp-tem-158-do-volume-de-agua-disponivel.html ) . Apenas para que tenham uma ideia, vou dividir as contribuições totais desses dois aumentos de produção para o Cantareira e o Alto Tietê (que já colapsaram), de forma que o primeiro fique com 75% da água e o outro, com 25%. Em outras palavras, o que estou propondo aí é o nível que cada sistema teria se deixasse de produzir o tanto de água que produziram a partir da compensação trazida por essas duas medidas. A tabela abaixo mostra os resultados:

Faria uma boa diferença, não é verdade? No caso do Alto Tietê, ele estaria, hoje, com níveis observados para o mês de Junho, ao passo em que o Cantareira se encontraria com os níveis de final de Abril (deixei os 28% didaticamente, fazendo referência à métrica atual, em que a SABESP eleva a capacidade do sistema, artificialmente, a partir da inclusão na conta da primeira cota do volume morto – na contagem oficial, seria algo como 10%). Não há como não percebermos que a situação estaria em um patamar muito menos grave se o Governo de São Paulo tivesse cumprido suas obrigações mínimas e lançado, ainda que com muito atraso – afinal, 4 anos, conforme aventado na hipótese, já constituem um lapso temporal impressionante – essas duas medidas de expansão da produção de água.

Hoje, conforme nos mostra essa matéria recente da Folha (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/189213-relatorio-de-2011-ja-falava-em-risco-de-desabastecimento.shtml) , há um déficit evidente entre a produção e o consumo de água em São Paulo. Os paulistas demandam entre 71-74 m³/s (um valor próximo da tendência inercial observada no gráfico contido no relatório de planejamento de 2004 – acertaram, então, pelo menos nisso), mas a oferta de água é deficitária em até mais de 5 mil litros por segundo (ou seja, mal alcançaram a marca de 70 m³/s (o que faz sentido se pensarmos no patamar, visto também no gráfico mencionado, de 74 m³/s a partir da inauguração das duas represas do Alto Tietê e as perdas da capacidade de produção de 5 m³/s observadas no relatório de 2009). Em síntese: em meio a uma imensa incapacidade de planejar adequadamente e de cumprir cronogramas, a tragédia hídrica não era nada mais do que uma bomba-relógio.

2)O impacto na produção de água a partir da manutenção de vazões elevadas de saída: problemas de gestão operacional do Sistema

Se é enorme o efeito negativo nos níveis atuais dos reservatórios diante de tantos atrasos em obras de expansão que a SABESP não entregou, o mesmo pode-se dizer a respeito do fato de a companhia manter extremamente elevadas as vazões de saída de água dos reservatórios do Sistema Cantareira, mesmo quando as vazões de entrada permaneceram abaixo das médias históricas.

Em 2004, quando ocorreu a outra grande crise do sistema (muito menor do que a atual, por sinal), Marussia Whately, do Instituto Socioambiental, apresentou um estudo no qual se apontava que, caso a SABESP tivesse reduzido as vazões de saída a partir dos primeiros indícios da crise hídrica, ainda em 2001, o Cantareira estaria, no começo de 2004, com 34% de sua capacidade, e não apenas com 6%. A reportagem da Folha que esmiúça esse relato está aqui: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1702200420.htm

Lamentavelmente, esse relatório não influenciou o processo de renovação de outorga desse sistema, dado o fato de ter ocorrido, até mesmo, a promoção do aumento das vazões de saída – como vimos antes. O essencial, contudo, é que falhas de diagnóstico (e não só de planejamento e, mais especificamente, de implementação, como vimos na seção anterior) resultaram na crise hídrica atual. E aqui fica mais clara a reflexão feita no começo do texto a respeito do papel intrínseco da gestão de antecipar tendências, de promover a proatividade da intervenção em contextos que começam a se tornar adversos, de se antecipar às crises. A SABESP, supostamente dotada dos mais modernos instrumentos gerenciais, deitou em berço esplêndido em todos os últimos anos – em uma das reportagens que linkei mais acima, Dilma Pena, então Secretária de Recursos Hídricos, agradecia pelas chuvas muito acima da média que caíam por sobre os reservatórios em 2009-2010. Aliás, foram precipitações tão elevadas que forçaram a abertura de comportas das represas, desperdiçando bilhões de litros que, hoje, também fazem muita falta (um reservatório de espera, nessa época de cheias, poderia ter armazenado toda a água que São Paulo está precisando neste momento, mas nunca foi construído).

Nós podemos observar mais claramente a falha de diagnóstico por meio da observação da tabela abaixo, retirada dos relatórios diários de monitoramento feitos pela ANA:

Essa tabela nos apresenta a relação entre as vazões médias de saída no mês em comparação com as médias históricas para o mesmo mês ao longo do período 1930-2012. Então, se formos olhar de Janeiro de 2012 até hoje (Outubro/2014) – ou seja, um período de 33 meses – , nós tivemos 31 deles em que as vazões que ocorreram no mês ficaram abaixo das médias históricas. Mais gravemente, as vazões estão reiteradamente abaixo da média desde Agosto de 2012 – são 26 meses seguidos, e desde então o sistema praticamente só teve déficits de água, excetuando-se um breve período no começo de 2013, absolutamente insuficiente. E, para piorar, desde o começo de 2012 esses valores não correspondem sequer a 80% da média, o que já configuraria uma situação capaz de chamar a atenção das autoridades. Finalmente, em apenas 8 desses 33 meses nós tivemos vazões de saída que corresponderam a mais de 70% das médias históricas.

Torna-se uma obviedade ululante, então, que a crise hídrica atual tem, sim, a estiagem como um fator, mas a causa preponderante é a absoluta inação da SABESP em gerenciá-la quando ela começou a ocorrer. Em outras palavras, não era preciso que tivéssemos as menores precipitações em 3300 anos (ou em 10 mil anos, como arriscaram alguns) para que estivéssemos vivenciando o trágico problema. Como mostram os dados, de forma clara, o cenário hidrológico já era adverso há quase 3 anos, e absolutamente nada foi feito até Março/2014 – e apenas a partir da instauração do Comitê Anticrise. Uma inércia de mais de 2 anos, pelo menos.

E, mais absurdo ainda, conforme as denúncias do Ministério Público (que já tinham sido apresentadas aqui mesmo no Jornal GGN, há algum tempo, pelo prof. José Roberto Kachel), não só a SABESP não fez nada como aumentou as vazões de saída para além dos limites da outorga, chegando a 38 m³/s. Além disso, desrespeitou um dos elementos desse acordo, que eram as curvas de aversão ao risco – conhecidas por qualquer interessado na questão hídrica – as quais determinam os limites de retirada de água a partir do momento em que os reservatórios se situam em determinados níveis (mais baixos). É uma tecnologia para garantir a sobrevivência do sistema, e a SABESP a jogou no lixo.

É preciso insistir, então, que o argumento que sempre é apresentado – de que a crise hídrica deriva da pior estiagem em 84 anos – não se sustenta diante dos fatos. Já seria o bastante que as vazões de 2014 repetissem 2013 e 2012 para que estivéssemos, hoje, enfrentando um cenário terrível. O Alto Tietê, que apresenta em 2014 vazões superiores a essas encontradas no Cantareira em anos anteriores, já está no volume morto, e tinha mais de 60% de sua capacidade há menos de 12 meses. Ou seja, a ultraestiagem apenas acelerou para este ano eleitoral um colapso inevitável diante da falta de capacidade de implementação da SABESP, incapaz de agir para contornar o esgotamento de seus sistemas de produção – uma sina vivida desde sempre em São Paulo e, a bem da realidade, jamais superada. É necessário, portanto, desconstruir a falácia climática, que aponta para uma imponderabilidade da atuação governamental, como se a seca fosse tão excepcional que não houvesse o que o governo pudesse fazer. Em 2012 e em 2013, as chuvas ficaram praticamente na média histórica. Se sabemos, pelo exposto acima, que as próximas obras de expansão do sistema só ficarão prontas, na melhor das hipóteses, em 2016, as chuvas e vazões que viessem a ser, em 2014 e 2015, similares às dos anos anteriores nos levariam para o colapso da mesma forma, apenas mais lentamente.

Abaixo, apresento a evolução do quadro do Sistema Cantareira, do ponto de vista de sua capacidade, vazões de saída (para São Paulo e para o PCJ) e vazões de entrada, até o momento em que o volume morto começa a ser sugado:

Também como mero exercício, gostaria de apresentar o quanto de água teríamos se, desde Janeiro de 2012, tivéssemos reduzido as vazões de saída para São Paulo para 21 m³/s e para o PCJ para 3 m³/s. Adotei esses valores, que correspondem, grosso modo, ao observado em Março de 2014 por ser este o último mês antes das primeiras grandes denúncias de que estaria faltando água na Região Metropolitana. Vale dizer que as chamadas vazões primárias – os mínimos que precisam, em tese, ser respeitados – são de 24 m³/s para São Paulo e de 3 m³/s para o PCJ. Diante de um contexto em que as vazões de entrada se situam abaixo das médias históricas por longos períodos contínuos, parece razoável conceber a redução das saídas para um nível um pouco inferior a esse mínimo:

Vejam vocês, então, que caso tivéssemos promovido a redução das vazões de saída – em um exercício razoavelmente similar ao feito por Marussia Whately há dez anos – nós teríamos mais 542 bilhões de litros de água à disposição no Sistema Cantareira. Coloco abaixo qual o significado disso em termos percentuais, do ponto de vista do incremento da capacidade do sistema:

Em outras palavras, teríamos o Cantareira, hoje, com o nível de um ano atrás – um crescimento de quase 55 pontos percentuais diante dos (negativos) níveis atuais. Evidentemente, trata-se de uma estimativa grosseira, mas ela aponta no sentido de refletirmos sobre a completa inadequação real do modo com que o Cantareira foi gerido até agora. Indica, ainda, que mesmo diante da “pior estiagem da história”, poderíamos estar numa situação bem mais confortável se a SABESP tivesse, de fato, adotado mecanismos básicos de gestão. E, por outro lado, diante do contínuo déficit entre produção e demanda, estaríamos em uma situação quase tão grave quanto agora, ou tão difícil quanto – pensando em 2015 – se as chuvas e vazões fossem próximas às que ocorreram nos anos anteriores.

Nesse sentido, caberia até a sugestão de uma lógica que, no final das contas, poderia ser mais efetiva para lidar com um cenário em que ocorra esse descompasso entre a oferta e a necessidade dos cidadãos. Proponho, em síntese, que em vez de se adotar a curva de aversão ao risco atual (que, como disse, não foi respeitada), venha a ser utilizada uma estratégia que respeite as vazões de entrada. No fundo, era essa a cobrança recente da ANA no contexto das reuniões do Comitê Anticrise – proposição, mais uma vez, não aceita por São Paulo, o que levou à saída do órgão federal desse grupo. Ou seja, por vermos que o esquema atual não funcionou – pois há um processo de longo prazo de esgotamento histórico do sistema (eventos climáticos, perda da capacidade de produção diante do assoreamento dos rios e da degradação ambiental, captações ilegais de poços, etc) – e a SABESP não produziu alternativas a contento, pensamos, como um esboço simples, em redirecionar o planejamento hídrico para que passe a considerar, sempre, as vazões de entrada, independentemente do nível dos reservatórios (ou sendo esse um fator não tão relevante para os cálculos).

Vejam vocês que a premissa é simples: considerando-se a existência de um contexto hidrológico (que deveria se repetir, ano a ano, mês a mês), termos vazões que fujam dessas referências significa a necessidade de intervirmos nessa realidade para enquadrarmos a disponibilidade do recurso que estamos ofertando. Isso é gestão pública.

Esse mecanismo poderia ser elaborado da seguinte forma: 1) quando as vazões de entrada estiverem entre 80 e 120% da média histórica, adotam-se as vazões primárias (24 m³/s para SP, 3 m³/s para o PCJ); 2) quando as vazões de entrada estiverem abaixo de 80% da média história, reduz-se as vazões para 21 m³/s para SP e 3 m³/s para o PCJ; 3) quando as vazões de entrada estiverem acima de 120 % das médias históricas, aumenta-se as vazões de saída para 27 m³/s para SP e 4 m³/s para o PCJ. Fazendo mais um pequeno exercício a partir dessas hipóteses, teríamos a seguinte situação:

Chegamos, então, a um valor bem parecido com a hipótese simplificada apresentada logo antes. Todos os números são exemplificativos, e obviamente os engenheiros, com décadas de experiência, teriam muito mais condições do que eu para pensar minuciosamente a questão, adaptando-a e a aperfeiçoando, dentro de contextos específicos de cheias. O ponto é trabalhar uma outra mentalidade diante da crônica escassez hídrica. Não há para permitir que saiam 36-38 m³/s de um sistema que não está recebendo nem metade da média, mesmo que esta seja de 50 m³/s. O ponto, também, é mostrar que a crise poderia ter sido contornada caso a SABESP tivesse uma visão adequada e realmente estruturada de gestão – o que se provou falso, como mostram os resultados. Não é à toa que, simplesmente, não possuem alternativas a não ser extraírem os volumes mortos até secarem completamente as represas – o que constitui, acima de tudo, improbidade administrativa e crime ambiental.

O fundamental a ser evidenciado, em conclusão, é que a crise hídrica, que hoje assume proporções assustadoras, poderia ter sido contornada, mesmo diante de um cenário pluviométrico ou hídrico considerado como extremamente hostil (para o Cantareira, e não para o Alto Tietê), e mesmo que o fosse ainda pior. Bastaria, dentre tantas outras possibilidades – como os investimentos na redução das perdas, na promoção da água de reuso, na preservação mais adequada dos mananciais, no estímulo à mudança da cultura de consumo, etc – que a SABESP tivesse entregue apenas algumas das várias obras que prometeu inaugurar há mais de dez anos, mas que sequer o fez, mesmo que com atraso. Bastaria, alternativamente, que sua “war room” tivesse tido a sensibilidade de reduzir as vazões de saída do exaurido Sistema Cantareira para ajustá-lo ao cenário desfavorável.

Não seria preciso que isso ocorresse já em Janeiro de 2012: Se fosse tomada em Outubro desse ano, por exemplo, hoje ainda teríamos algo como 20% do volume operacional – o que não seria muito, mas provavelmente evitaria o uso da primeira cota do volume morto até, realmente, o começo de 2015 em caso de continuidade do cenário adverso (uns 8-9 meses após a sua utilização pela SABESP). Agir apenas em Março de 2014, como ocorreu, mostra o despreparo da companhia de abastecimento e do governo tucano para lidar com a questão. É um indício, também, de que os bilionários lucros auferidos pela empresa não foram, efetivamente, utilizados para fortalecer os instrumentos de governança e de compliance – ou, talvez, estes apenas foram relevantes, como grifes, nos relatórios de sustentabilidade apresentados aos acionistas. Fato é que o Governo Alckmin foi lento, claudicante, desatento, incompetente.

Quem causou a maior crise de abastecimento de água da história do Estado não foi a maior estiagem da história do Estado, mas sim, por tudo o que vimos, o governo mais inócuo e inábil da história de São Paulo – capitaneado pelo reeleito Geraldo Alckmin e escudado pelos meios de comunicação, também, mais coniventes da longa duração paulista.

Redação

22 Comentários

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  1. Não, a crise hídrica é culpa

    Não, a crise hídrica é culpa do PT. Foi o que o meu sogro disse que viu no  jornal da goebbels. E de certa forma ele tem razão. É culpa do PT por que durante seus 12 anos no poder, encheu as burras da goebbels de publicidade, foi fazer farofa com aquela mocréia que tem programa de manhã e fica dando entrevistas exclusivas pra mocréia da noite. Não enfrentou a rede mafiosa, se acovardou, não esclareceu pra população que esta empresa é o inimigo número 1 do Brasil e agora acho que vai merecer sim perder a eleição pra um sujeito que nunca trabalhou na vida, sempre ficou pendurado em cargos públicos, deitou e rolou na corrupção macomunado com a mídia, mp e judiciário mineiros, enfim,  um inútil netinho do vovô, fantoche da irmã, que vamos ter que aguentar por 8 anos. Antes fosse o Alckmin ou o Serra, pelo menos esses têm luz própria.

    1. lamento pelos desinformados

      Perder a eleição em SP, para o PT é a vitória. A turma do psdb terá longos quatro anos para chamar em causa todos os santos do Paraíso.

  2. Poie é, o aecio já teve

    Poie é, o aecio já teve alguma vez a sua carteira de trabalho assinada? E qual é o diploma universitario do aecio?Ou será que essas coisa só cobram quando o candidato é do PT?

  3. Peço desculpas, não li o

    Peço desculpas, não li o texto inteiro, mas discordo que seja falha de gestão. Não é, e nunca foi o caso. Isso acontece, inclusive faz lembrar o apagão do Sistema Elétrico, pq está no DNA do PSDB. Não se preocupam, os neoliberais lambe botas da direita inimputável, com nada exceto o lucro das empresas que financiam suas campanhas, não há traço de compromisso com o cidadão (consumidor – pra quem perdeu a noção da cidadania depois de FHC). Não vou me alongar pra não ficar cansativo. Imaginem ou escrevam sobre isso o que quiserem.

    1. Pois é, lamento, mas é falta

      Pois é, lamento, mas é falta de gestão, mesmo. Supondo verdadeira a afirmação de que a seca atinge a todos no sudeste, o poderoso Governo de São Paulo nos exibiu a mesma capacidade de planejamento dos mais nanicos municípios mineiros. Terrível, especialmente se compararmos o número de cidadãos afetados.

    2. Mesmo que fosse apenas isso,

      Mesmo que fosse apenas isso, o Alckmin foi um canalha, escondendo a gravidade da crise. Poderia minimizá-la se começasse o racionamento no final do ano passado. Mas é um canalha protegido pela mídia e por pessoas como você. Se você mora em SP torço como nunca que na sua casa fique sem água até que nem sua esposa aguente ficar perto de você  por causa do mau cheiro.

  4. Sim … mas … e daí ?Agora

    Sim … mas … e daí ?

    Agora já era.

    O homem já foi reeleito.

    Agora tudo que se disser não tem a mínima importância.

    Até porque, paulistas e paulistanos já sabim disso.

    Que morram de sede, mas com orgulho por não terem votado nos petralhas.

      1. 2014, Gilson, é só o primeiro

        2014, Gilson, é só o primeiro ano de desgrasseira em São Paulo. Os pobres vão se ferrar, não só com a falta dágua, mas também com a falta de empregos (muitas indústrias, restaurante, etc. vão parar de funcinar por falta dagua e demitir). Os ricos vão esticar as temporadas fora do estado, em angra, nordeste (ô ironia!), talvez fora do país. Os “melhorzim de grana”, que se acham parte da elite(?), vão abrir tantos poços artesianos que vão ferrar, secando ou contaminando, os aquíferos sob a região. Aí vai começar os “afundamentos” de solo, as rachaduras em prédios, estradas, pontes, etc. O malacheia e o pastor(?) everaldo vão alegar que são as agonias do fim dos tempos. Coisinhas que alguns dízimos não possa resolver ou abreviar. Sem brincadeiras, essa falta dágua vai infernizar os paulista por anos (uns cinco ou seis).

  5. Quando vai faltar água em São Paulo ?

    Sérgio: sei que é uma pergunta cuja resposta envolve diversas variáveis. E a resposta só pode ser dada envolvendo cálculos probabilísticos.

    Qual a data mais cedo ? Qual a data mais provável  ? Qual a data mais tarde ?

    Qual o dia que acordaremos, abriremos a torneira e não vai cair um pingo dágua.

    Imagino que diversos setores da economia que dependem pesadamente do insumo água também devem estar se perguntando: quando vai faltar água e em que regiões da cidade. e do Estado ? E quanto isto afetará a vida das pessoas e a economia do Estado de São Paulo e do país ?

    Imagino que diversas consultorias estão trabalhando para informar isso aos seus clientes.

    Quando ouvimos ou lemos a expressão “colapso de fornecimento de água”, a associamos a uma tragédia. Aí já não importa o governante: o estelionatário já está eleito, O “golpe de mestre” já foi dado e só resta aos trouxas eleitores paulistas enganados “tomar banho de cuia”, se alguma água houver.

    Então fica a pergunta: quando vai faltar água em São Paulo, em que regiões da capital e do Estado e por quanto tempo ?

    1. Jorge, de fato é uma pergunta

      Jorge, de fato é uma pergunta difícil de ser respondida, pois a transparência do governo de São Paulo é mais do que insuficiente. Mas é uma ótima ideia para um artigo. Vou tentar desenhar alguns cenários e publicar em breve. Agradeço pela questão.

  6. Ótima contribuição do Sérgio

    Ótima contribuição do Sérgio para esclarecimento dessa questão.Não interessa se passou ou não passou a eleição. A vida não se resume ela.

    A realidade é que irmaõs e irmãs nossos estão passando por agruras que, se não pudessem ser evitadas, mas que pelo menos fossem mais amenas. Eles não podem pagar pela desídia de governantes inaptos.

    Torço para que chova e os paulistas e paulistanos voltem a ter tranquilidade no que se refere a esse insumo tão essencial. 

  7. Analise Falha

    “Além disso, o órgão público direcionava sua lógica de intervenção para o cenário otimista, no qual seria possível controlar a demanda sem que houvesse a necessidade de expandir, enormemente, a oferta – a partir de obras grandes, caras e distantes de São Paulo.”

    Pelo controle da demanda, entenda-se também a redução das perdas. Com elas saindo de um patamar de 30% no inicio da década de 2000 para 13% em 2019, isso possibilitaria a postergação de investimentos em novos sistemas produtores.

    O autor sequer cita o Programa de Perdas da Sabesp, que é uma componente fundamental da equação de disponibilidade hídrica. Uma redução de 5 pontos percentuais no índice equivale a quase o Sistema São Lourenço, que vai custar absurdos R$ 2,2 bilhões, uma das águas mais caras do Brasil.

     

     

    Além disso, “litro” não é terminologia de engenheiro. Volume se mede e se fala em “metro cúbico”, conforme o Sistema Internacional de unidades, vigente no Brasil.

     

     

    1. Uma pena que as metas de

      Uma pena que as metas de redução de perdas ficaram absolutamente distantes de serem cumpridas – como tantos e tantos itens dos planos da SABESP. Já escrevi outros textos sobre a manutenção dos índices em patamares elevadíssimos, algo como 31% de acordo com o IGP do Instituto Trata Brasil. Não tendo havido evolução nesse quadro otimista (justamente o que você apresenta), não conseguiram atenuar o estresse hídrico vigente. Foi um erro primário de metodologia de construção de cenários. 

      Desnecessário, então, falar sobre o Programa de Perdas, a não ser como mais um elemento para sintetizar a incompetência da SABESP. Essa reportagem da Carta Capital, de Maio (compartilhada aqui no GGN), nos conta sobre a inefetividade da iniciativa e a respeito de denúncias sólidas a respeito de cartéis que a compunham: http://www.cartacapital.com.br/blogs/blog-do-serapiao/falta-agua-jorra-dinheiro-6176.html

      Só a análise da gestão operacional recente do Cantareira e dos atrasos nas obras de expansão de produção de água, portanto, já foram mais do que suficientes para mostrar a falta de qualidade dos instrumentos gerenciais da SABESP, o centro do meu argumento.

      Será que o uso do termo “litro” impediu a compreensão de algum leitor? Essa é a minha preocupação, pois o público do blog é amplo, extrapolando consideravelmente a categoria dos engenheiros. Caso você tenha dúvidas, terei prazer em esclarecê-las.

      1. Como vc pode afirmar que o

        Como vc pode afirmar que o indíce de perdas da Sabesp é “elevadíssimo”, se ele está consideravelmente abaixo da média nacional ? “Elevadíssimo” em relação a que ?

        Os próprios dados do SNIS (oficial, do isento Ministério das Cidades) mostram que a Sabesp possui o quarto melhor índice entre as 26 companhias estaduais.

        Logo, esse termo “elevadíssimo” que vc usa é difícil de se entender, em uma base de comparação nacional. A menos que vc esteja comparando com índices de países desenvolvidos – o que é um absurdo que certamente vc não diria.

        Também gostaria de saber com que base de comparação vc qualifica o corpo técnico-gerencial da Sabesp de “incompetente”. Não está clara a razáo da adjetivação.

        Também estranho a omissão, incompreensível para um especialista, da analise do papel de outros partícipes do setor na RMSP , como o DAEE, a Arsesp, ANA, a Secr. Recursos Hídricos e os SAAEs municipais.

        Enfim, se puder esclarecer agradeço.

         

        1. É elevadíssimo, a partir de

          É elevadíssimo, a partir de vários critérios que você quiser utilizar: 1) uma diferença irrisória perante a média nacional (31% versus 37% – com o tanto de recursos a mais que a empresa possui comparativamente às demais, o 4º lugar nacional, convenhamos, é bastante decepcionante); 2) perante os países desenvolvidos (a comparação não é em nada absurda considerando-se a autorreferenciada vocação da SABESP como uma das melhores companhias de saneamento do mundo, e a única brasileira com pretensões de ser “global player”, dada a sua abertura de capital na Bolsa de NY); 3) comparativamente, a partir dos retornos sociais baixíssimos a partir de um programa bilionário de redução de perdas (e aqui há vazão para desconfiar das denúncias de cartel, já comentadas por mim em outra ocasião). Em síntese, então, não me parece que seja difícil de compreender o porquê de eu considerar o índice elevado. Os referenciais são claros. O benchmark da SABESP nunca foi o Amapá, mas sim o Japão, não é mesmo?

          A respeito da noção de incompetência, em gestão pública é utiizada, dentre tantas possibilidades, a partir do descompasso entre a capacidade de formulação e implementação de uma política pública. Ou seja, na capacidade de conversão de ideias e ações. Lamentavelmente, essa tem sido a tônica do Governo do Estado de São Paulo em tantas áreas de resultado, e da política de recursos hídricos, em particular.

          Não há omissão na análise de outros atores da política pública. Imagino que não tenha lido todos os meus 25 artigos sobre a crise hídrica. Como este, em específico, não pretende ser uma síntese dos demais, recomendo a leitura dos outros.

           

  8. Sertão Paulista

    De tanto falar mal do Nordeste, finalmente, o estado de São Paulo começa a se tornar tão seco quanto o agreste. Felizmente, algumas pessoas (menos secas do que a maioria dos paulistas e paulistanos) surgem como fonte cristalina em meio ao desalmado sistema egoísta que impera a pretexto da grande mídia preconceituosa.

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