A Imprensa e o dever da verdade, por Rui Barbosa

Enviado por Edivaldo Dias Oliveira

A Imprensa e o dever da verdade, por Rui Barbosa

Ref. ao post O apoio de Rui Barbosa à regulação da mídia

Como prometido, aqui o outro texto do Rui sobre a mídia. 

A Imprensa e o dever da verdade

Bahia, 1924 – Pag. 15 

1920 – A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que  lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaça.

Sem vista mal se vive. Vida sem vista é vida no escuro, vida na soledade, vida no medo , morte em vida: receia de tudo, dependência de todos; rumo à mercê do acaso; a cada passo acidentes, perigos, despenhadeiros. Tal condição do país, onde a publicidade se avariou, e, em vez de ser os olhos, por onde se lhe exerce a visão, ou o cristal que lha a clareia, é a obscuridade, onde se perde,a ruim lente, que lha turva ou a droga maligna, que lha perverte obstando-lhe a noticia da realidade, ou não lha deixando senão adulterada, invertida, enganosa

Já lhe não era pouco ser o órgão visual da nação. Mas a imprensa, entre os povos livres, não é só o instrumento da vista, não é unicamente o aparelho de ver,a serventia de um só sentido. Participa, nesses organismos coletivos, de quase todas asa funções vitais. É sobretudo, mediantea publicidade que os povos respiram.

Todos sabem que cada um de nós tem na ação respiratória , uma das mais complexas do corpo, e uma das em que se envolvem maior número de elementos orgânicos. A respiração pulmonar combina-se com os tecidos, para constituir o sistema de ventilação, cuja essência consiste na troca incessante dos princípios necessários à vida entre o ar atmosférico e o sangue, da circulação da qual vivemos. Nos pulmões está o grande campo dessas permutas. Mas os músculos também respiram, e o centro respiratório se encontra, bem longe do aparelho pulmonar, nesse bulbo misterioso, que lhes preside a respiração, e lhe rege os movimentos.

Da mesma sorte, senhores, os corpos morais, nas sociedades humanas, essa respiração, propriedade e necessidade absoluta de toda célula viva, representa, com a mesma principalidade, o papel de nutrição, de aviventação, de regeneração, que lhe é comum em todo o mundo orgânico animado ou  vegetativo.

Nos indivíduos, ou nos povos, o mundo espiritual também tem a sua atmosfera, donde eles absorvem o ar respirável, e para onde exalam o ar respirado. Cada um dos entes que se utilizam desse ambiente incorpóreo, desenvolve, na sua existência, graças as permutas que com esse ambiente entretem, uma circulação, uma atividade saguinea, condição primordial de toda a sua vida, que dele depende. Não há vida possível, se esse meio, onde todos respiram, lhes não elabora o ar respirável, ou se lhes deixa viver o ar respirado.

Entre as sociedades modernas, esse grande aparelho de elaboração e depuração reside na publicidade organizada, universal e perene: a imprensa. Eliminai-a da economia desses seres morais, eliminai-a, ou envenenai-a, e será como se obstruísseis as vias respiratórias a um vivente, ou o pusésseis no vazio, ou o condenásseis à inspiração de gases letais. Tais são os que uma imprensa corrupta ministra aos espíritos, que lhe respiram as exalações perniciosas.

Um país de imprensa degenerada  ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país, que, explorado na sua consciência não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições.

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Todos os regimes que decaem para o absolutismo, vão entrando logo a contrair amizades suspeitas entre os jornais. Bem se sabe, por exemplo, o que, a tal respeito, foi o império de de Napoleão III. Mas na Alemanha, debaixo da influencia bismarckina, é que se requintou, em proporções desmedidas e com inconcebível generalidade, essa anexação da publicidade ao governo.

Vai por cerca de cinquenta anos que um historiador prussiano, dos mais notáveis de sua terra, professor WUTTKE, lente(1) na universidade de Leipzig, escrevia o seu célebre livro sobre a verba dos reptis (Reptilienfund), livro clássico no assunto.

Por ele se veio a saber que, com o nome de “Repartição da Imprensa”, “Bismarck estabeleceu às margens do Spréia, a mais vasta fábrica da opinião publica até então conhecida, e lhe derramara as filiais pelo mundo inteiro” .

É um depoimento estupendo acerca desse terrível mecanismo, graças ao qual, há mais de meio século, já o gabinete de Berlim se considerava senhor de toda a imprensa. Foi por esse meio que se aparelhou a vitória alemã contra a Áustria, em 1886, se vingou o triunfo alemão contra a França, em 1871, e estava organizada para 1914, a inundação do mundo pela Alemanha.

Por meio desses recursos diabólicos é que desde a falsificação da ordem do dia de Benedeck,  no primeiro desses assaltos, e a ordem do telegrama de Ems no segundo, até as monstruosas fábulas que caracterizaram o terceiro, se maleou, nas forjas da mentira, para a execução das vontades da casta militar, essa nacionalidade enganada e alucinada, que desperta agora aturdida entre as decepções da mais inesperada realidade.

A surpresa desse acordar entre ruínas tais, desse cair de tão vertiginosa altura em tão incomensurável abismo, lampeja com uma claridade sinistra sobre o regime, que ora se vai introduzindo no Brasil, de apagamento da consciência das nações  pela imersão habitual do seu espírito e costumes da mentira.

Ora, assim nas autocracias, como nas oligarquias o poder corre ao encontro dos maus exemplos, como a limalha ao do imã.

No Brasil, a monarquia não padeceu, sensivelmente desse vício. Mas a República, adernando logo ao começo da sua inauguração constitucional, como nau que mete água dentro ao sair do porto, simpatizou com esses modelos, e foi já, desde os seus mais verdes anos, prematurando, com a corrupção da sua primeira idade a obra do tempo.

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Três ancora deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade.

Cara nos é a pátria, a liberdade mais cara; mas a verdade mais cara que tudo. Patria, cara, carior libertas, veritas caríssima. (LIEBER, Reminiscenses, pag.42). Damos a vida pela pátria. Deixamos a pátria pela liberdade. Mas pátria e liberdade renunciamos pela verdade. Porque esse é o mais santo de todos os amores. Os outros são da terra e do tempo. Este vem do céu e vai à eternidade.

Nenhum país salva a sua reputação com os abafos, capuzes e mantilhas da corrupção encapotada.

Durante a campanha da Criméia, em 1854, o Times, o jornal dos jornais europeus, não hesitou em romper na mais tremenda hostilidade contra a administração militar da Grã Bretanha, sustentando que seu serviço era “infame, infamous”  que os soldados enfermos não achavam nem cama, onde jazessem, que o exercito, gasto, desmoralizado e miserando, não tinha, em Balaclava, nem onze mil homens capazes de entrar em combate.

Russel, o famoso correspondente desse jornal britânico no teatro da guerra, perguntava em carta, a Delane, o célebre diretor do grande órgão: “Que hei de fazer? Dizer estas coisas ou calar?”  Mas o interrogado não hesitou na resposta. As instruções, em que lha deu, recomendaram-lhe , com energia, “falar a verdade, sem indulgencia nem receios” .  O Times, declaravam elas, o Times não admitia “véus”.

Era opinião do seu editor que, “nas circunstancias do caso, a publicidade constituía o meio de cura indispensável”.  Embora chegassem a dizer que “o exército deveria linchar o correspondente doTimes”,  embora o príncipe consorte o apodasse de “miserável libelista”,  embora o presidente do conselho dissesse, no Foreing Office, que “três batalhas campais, ganhas pela Inglaterra, não a restituiríam do dano “ causado pelas correspondências e editoriais daquela folha, o Times não variou seu rumo, de atitude e de franqueza até o termo da luta do Reino Unido com o Império Russo.

Sabeis com que resultados, senhores? A Câmara dos Comuns, acabou por mandar abrir, em 1855, um inquérito sobre a situação do exército em Sebastopol. O gabinete caiu demolido pela campanha do terrível órgão londrino. As mais eminentes autoridades miliatres declararam afinal, que ele, “narrando com fidelidade ao público os padecimentos da tropa, salvaram o rosto do inglês”. O governo da Rainha Vitória, pela voz de Gladstone, agradeceu a Delane o “valioso apoio” (palavras suas), “o valioso apoio do Times, subscrevendo, sem reservas, o principio seguido por ele, de “nunca se deve encobrir ao público, circunstancia alguma, quaisquer que sejam os inconvenientes da sua divulgação”.

Biblioteca do pensamento vivo; O pensamento vivo de Rui Barbosa. Apresentado por Américo Jacobina Lacombe. Livraria Martins Editora em 1967.

 

Redação

12 Comentários

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  1. Mais de 114 anos depois nada mudou, pelo contrário, piorou

    Mais de 100 anos depois nada mudou, pelo contrário, piorou: A imprensa continua exercendo o seu livre arbítrio de assassinar reputações, achincalhar, mentir, manipular. Os barões da mídia não querem nem  ouvir falar de direito de resposta para as vítimas, q blz….

    Na aba esquerda deste blog há uns links para uns textos sobre o tema 

    http://www.josecarloslima87.blogspot.com.br

  2. Leitura do texto é contrária ao que se pretende

    Rui Barbosa defende a existência de uma imprensa independente em relação ao governo. Não sei como se pode usar esses textos para critícar a grande imprensa que faz justamente oposição ao governo e não o defende faltando com a verdade. Se a grande imprensa faz oposição ao governo não exatamente do lado da verdade, e isso não raramente acontece, não se pode usar esses textos de Rui Barbosa para criticar a grande imprensa brasileira quando ela não assume a posição críticada por ele nesse post, por exemplo. São situações claramente diferentes. O texto se aplica apenas e tão-somente aos jornalistas que defendem o governo faltando com a verdade, escondendo os fatos, distorcendo as informações.

  3. Dentre os mitos famosos, Rui

    Dentre os mitos famosos, Rui Barbosa foi o maior pilantra da história brasileira– ou entre os 5 mais.

               Enttão, que autoridade moral ele tem.além de seus própios interesses?

                       Leiam.

                         Leiam mais,galera.

    1. WHAT IS THIS, ANARQUISTA?

      Pela  primeira vez na minha vida, fiquei sabendo, agora, pelas palavras do Anarquista sério, palavras serenas, tranquilas, zelosas, sérias, que sempre buscam a verdade, doa a quem doer, que Rui Barbosa foi pilantra, um dos cinco maiores da história de nosso País. Observe-se que pilantra pode significar desonesto, vigarista, ou seja, alguém que passa a vida a enganar o próximo. Ainda há que associe pilantra à mentira, à vigarice, ao roubo, ladrão e até à corrupção. 

      Pegou pesado, Anarquista. Corrupção, eta palavrinha doída, tão em voga agora no Brasil ou seria Brazil? Puxa vida,quem diria, a Águia de Haia!

      Gostaria que você detalhasse, por favor, as traquinagens da Águia. Talvez, ele tenha algum parentesco com alguma ave que habita aqui no Brasil, principalmente em São Paulo.

      Who Knows?

      1. Rui Barbosa pilantra

        Já que querem que detalhem algumas traquinagens do Rui Barbosa, aqui vai uma pequena lista delas:

        1) No Império, era conselheiro de Sua Majestadade, Dom Pedro II, a quem e a cuja dinastia *jurou* fidelidade. No entanto, ajudou a derrubar o Imperador e seu regime democrático com um golpe militar.

        2) Seu cargo político de maior destaque foi o de Vice-Chefe da ditadura militar, período durante o qual a imprensa foi amordaçada com o empastelamento de jornais oposicionistas (leia-se, monarquistas e/ou democráticos), e a prisão de jornalistas.

        3) Enquanto era Vice-Chefe da ditadura, o bonzinho e democrático Rui Barbosa condenou toda a Família Imperial ao banimento perpétuo do Brasil, com um decreto sem julgamento nem apelação. Três dos criminosos punidos por Rui Barbosa eram três crianças – os filhos da Princesa Isabel – que, sem cometer crime algum, foram expulsos do seu pais, dois deles para nunca mais pisar em terras brasileiras. O cabeça da família, Dom Pedro II, também foi condenado sem ter cometido crime algum. Décadas depois, Rui Barbosa ainda teve a cara de pau de escrever um meloso discurso elogiando o Imperador, cuja própria vida ele arruinou, e sobre o que nunca parece ter se arrependido.

        4) Também enquanto era Vice-Chefe da ditadura, acumulou as funções de todo-poderoso ministro da Fazenda. Teve então a brilhante ideia de criar a política do encilhamento. Uma das características dessa medida foi permitir que bancos particulares – por acaso, possuídos por amigos seus – tivessem a prerrogativa de imprimir dinheiro!

        O encilhamento destruiu as economias de enorme parte da população brasileira, e de muita gente honesta no país. Por outro lado, deixou riquíssimo, da noite para o dia, um pequeno grupo de espertalhões, entre os quais um cunhado de Rui Barbosa, que o presenteou com um automóvel caríssimo, que até hoje está na garagem da sua casa.

        5) Ainda Vice-Chefe da ditadura, Rui Barbosa teve a coragem de aceitar do Ditador Deodoro o ridículo posto de “General” do glorioso exército revolucionário brasileiro! Logo ele, que nunca havia antes participado nem de batalha de confete e nem pegado numa espada, até porque era menor e mais leve do que ela…

        6) Outro ponto bastante legal do general Ruim Barbosa foi a sua capacidade de fazer dinheiro. Ainda nos primeiros anos da república, assumiu a “presidência” de empresas fantasmas, algumas possuídas pelo banqueiro que ele ajudou a enriquecer com a mesma política. Ganhou rios de dinheiro apenas assinando papéis em troca de salários altíssimos. 

        7) Quando Rui Barbosa decretou o encilhamento, fez isso apenas em conluio com seu único superior na ditadura: o Marechal Deodoro. Por outro lado, passou uma rasteira em todos os demais integrantes da junta ditatorial, entre eles Campos Sales, que, um dia antes, tranquilizara um monte de gente dizendo que nenhuma medida radical seria tomada pelo novo governo. Mas Campos Sales, logo depois, ficaria sabendo do encilhamento pelos jornais, junto com todo mundo. Nunca mais perdoou RB por isso…

        8) A suposta apoteose de Rui Barbosa em Haia é um mito. Um barão e diplomata que lá esteve declarou que “Barbarossa era o mais chato de todos”. O interessante também foi o trocadilho do Barão, já que Barbarossa, como se sabe, é nome de pirata…

        9) Para construir sua imagem de Águia de Haia, RB pagou – com dinheiro público! – um jornalista inglês para inventar essa suposta apoteose. O recibo desse pagamento, por incrível que pareça, está na sua casa.

        10) RB disputou várias eleições para presidente e perdeu todas. Certamente, porque os eleitores daquela época sabiam muito bem quem ele era, ao contrário do que acontece hoje em dia…

         

        1. A inversão revolucionaria/ cognitiva e o parto dos idiotas

          É, tinha razão Hitler ao afirmar que a mentira contada um monte de vezes se transforma em verdade. Como salvar um país onde corruptos são tratados como heróis na própria escola?

  4. Rui Barbosa, crítico da imprensa

    “Um país de imprensa degenerada  ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país, que, explorado na sua consciência não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições.”

    RB só falou da imprensa tupinquim nessa parte, os elogios são dirigidoa a uma imprensa que não a nossa, ao NYT por exemplo.

    Por Marcos Fabrício Lopes da Silva em 30/09/2014 

    Além de jurista renomado, Rui Barbosa também se destacou como notável jornalista e crítico da mídia. Ele depositava fé no compromisso da imprensa em pronunciar a verdade sobre os fatos. Verdade compreendida filosoficamente como a exata correspondência entre o conhecimento e a causa. Em 1919, nosso autor lança A imprensa e o dever da verdade, uma obra de fôlego investigativo em torno da ética e das questões relativas à liberdade de imprensa. As teses de crítica à imprensa defendidas por Rui Barbosa expõem a tradição do modelo opinativo de imprensa, suporte utilizado por ele para defender posicionamentos argumentativos e programáticos, a exemplo da defesa voltada para a qualidade editorial dos jornais. Trata-se de um exercício comunicacional inspirado no “jornalismo de combate”, conforme destaca José Marques de Melo, em O jornalismo de Rui Barbosa (1993).

    Para Rui Barbosa, “a imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça”. É por isso que a corrupção da imprensa pelos governantes na República oligárquica adquire para Rui Barbosa um aspecto condenável e, mais que isso, criminoso (uma forma de peculato). O jornalista, a partir de exemplos concretos vividos em países nos quais as liberdades estavam mais avançadas – Inglaterra e EUA –, explica o que entende que deveria ser o papel da imprensa, capaz de denunciar e criticar livremente os governos, contribuindo assim para o ajustamento ético destes: “Nenhum país salva a sua reputação com os abafos, capuzes e mantilhas da corrupção encapotada”.

    Compreende-se, na esteira dos escritos de Rui Barbosa, o fato de que um país só alcança plenitude epistemológica, quando todos os seus membros estão a par da verdade dos fatos, sendo estes construídos a partir da investigação e da publicação das múltiplas versões ou perspectivas que os cercam. A imprensa, na concepção de Rui Barbosa, tem o dever de fazer com que a coletividade conheça as coisas como elas efetivamente são, e nunca como os jornais e os jornalistas gostariam que fossem. É o fato bem noticiado e interpretado que as gazetas de notícias são obrigadas a transmitir.

    A garantia de todas as garantias

    O desejo dominante de descobrir a verdade é o mandamento maior da imprensa, ensina Rui Barbosa. E porque essa é a regra máxima, o mais grave dos pecados capitais da imprensa é o da “distorção”, proposital ou inadvertida. A imprensa como “a vista da Nação”, segundo Rui Barbosa, não deve ser aquela instituição comunicativa que, ao separar do joio do trigo, só publica o joio. Considerando que a imprensa tem o dever de comunicar a verdade, tem, por conseguinte, o encargo de comunicá-la por inteiro, no que ostente de bom e naquilo que encerre de ruim. Caso o contrário, a imprensa se torna cúmplice da ideologia dominante e praticante do regime sensacionalista. Ambas as práticas são reprováveis na contundente avaliação feita pelo nosso Águia de Haia:

    “Com a sombra destas [administrações endinheiradas], a seu soldo e sob as suas ordens, se instauram, chamando-se jornais, esses armazéns, essas fábricas, esses teares da mentira, onde noite e dia se urdem e tramam, se negociam e retalham, se expendem e distribuem à circulação da mais baixa curiosidade perfídias, vilanias, escândalos, horrores, tudo, em suma tudo quanto possa alimentar a indústria da falsidade, o comércio da intriga, a desprezível arte da vilipendiação, o ministério professo de adulteração da verdade.”

    No campo da comunicação, a verdade deve emanar da pesquisa isenta da causa a ser noticiada, para que, quando divulgada, a notícia efetivamente expresse o fato, não a sua ilícita manipulação. O juízo crítico do jornalista a serviço do direito público à informação correta e veraz deve vir desprovido de sensacionalismos ou apelos emocionais deturpados. Rui Barbosa chama a atenção para a cegueira editorial, que inviabiliza eticamente o trabalho jornalístico:

    “Um país de imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições”.

    Na sequência da abordagem crítica dirigida ao fenômeno da imprensa sensacionalista, Rui Barbosa propõe um ideal de imprensa que consagra o jornalismo sob a perspectiva de tribuna ética a favor do esclarecimento público: “Todo o bem que se haja dito, e se disser da imprensa, ainda será pouco, se a considerarmos livre, isenta e moralizada. Moralizada, não transige com os abusos. Isenta, não cede às seduções. Livre, não teme os potentados”. Por acreditar nestes valores, o Águia de Haia confirma em seu manifesto a tese de que a imprensa é a garantia de todas as garantias voltadas para os ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade. Porém, a reforma pelo jornal, como acreditava Rui Barbosa, deve partir primeiramente do exercício da autocrítica midiática, isto é, da reforma permanente e consistente no jornal, dentro dele: “‘Aimprensa deve tocar o encargo de se corrigir a si própria’, – por isso mesmo não há, para qualquer sociedade, maior desgraça que a de uma imprensa deteriorada, servilizada, ou mercantilizada.”

    ***

    Marcos Fabrício Lopes da Silvaé professor da Faculdade JK, jornalista, poeta e doutor em Estudos Literários pela Faculdade de Letras da UFMG http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed818_rui_barbosa_critico_da_imprensa

     

  5. Rui Barbosa é um dos melhores

    Rui Barbosa é um dos melhores exempolos do câncer que é o bacharelismo para o Brasil. Fala em defesa da verdade, mas mandou queimar os arquivos sobre a escravidão. Não passa de um hipócrita sem vergonha.

  6. concordo com barbosa desde

    concordo com barbosa desde que se leia isso

    como uma crítica de corrupção da grande mídia golpísta.

    duvido que ele dissesse isso hoje contra o pig,

    como conservador e liberal que era. .

  7. Foi pilantragem ou não, mas o

    Foi pilantragem ou não, mas o grande Ruy Barbosa, republicano de última hora, recebia da república o soldo de coronel. Não ele não tinha farda, muito menos patente, só soldo e conivência.

     

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