Agente da CIA colaborou com a prisão de Mandela

Do site Esquerda.net
 
CIA foi decisiva para a prisão de Mandela em 1962
 
Agente infiltrado no CNA deu todas as informações à polícia sul-africana, segundo o The New York Times. Em 1987, Thatcher afirmava que quem pensasse que Mandela iria governar a África do Sul estava “a viver na terra do faz de conta”. E Reagan dizia que o apartheid era essencial para o “mundo livre”.
 
ARTIGO | 6 DEZEMBRO, 2013 – 16:52
 
O The New York Times revelou em 1990 que a CIA desempenhou um importante papel na prisão de Mandela em 1962. A agência, usando um agente infiltrado no CNA, deu à polícia sul-africana informações precisas sobre as atividades de Mandela. Segundo o diário norte-americano, um agente da CIA relatou: “Entregamos Mandela à segurança da África do Sul. Demos-lhes todos os detalhes, a roupa que ele estaria a usar, o horário, o exato local onde ele estaria”.

 
Thatcher e a terra do faz de conta
 
Em 1987, quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva alinhou Portugal à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos num voto contra o fim do apartheid e a libertação de Nelson Mandela, a então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher dizia: “O CNA – Congresso Nacional Africano, partido de Mandela – é uma típica organização terrorista… Qualquer um que pense que ele vá governar a África do Sul está a viver na terra do faz de conta”.
 
Reagan dizia que apartheid era essencial para o mundo livre
 
Nos Estados Unidos, a opinião sobre Mandela não era diferente: o presidente Ronald Reagan inscreveu o CNA na lista de organizações terroristas. Em 1981, Reagan disse que o regime sul-africano – o regime do apartheid – era “essencial para o mundo livre”. Reagan explicou à rede de TV CBS que o seu apoio ao governo sul-africano se devia a que “é um país que nos apoiou em todas as guerras em que entrámos, um país que, estrategicamente, é essencial ao mundo livre na sua produção de minerais.”
 
Mandela precisava de autorização especial para entrar nos EUA
 
Só em 2008, Mandela e o CNA deixaram a lista americana de organizações e terroristas em observação. Até então, Mandela precisava de uma permissão especial para viajar para os EUA.
 
Outro país que se manteve ligado ao regime segregacionista sul-africano foi Israel. Durante muitos anos, o governo israelita manteve laços económicos e relações estratégicas com o regime do apartheid. Nesta sexta-feira, o governo israelita lamentou a morte de Mandela afirmando que o “mundo perdeu um grande líder que mudou o curso da história” e que ele foi um “apaixonado defensor da democracia”.
 
“Eu também era um terrorista ontem”
 
Em entrevista ao jornalista Larry King em 2000, o próprio Mandela falou sobre esta mudança de tratamento. “É verdade. Ontem, chamavam-me terrorista, mas quando saí da cadeia, muitas pessoas me abraçaram, incluindo os meus inimigos, e é isso que digo habitualmente às outras pessoas que dizem que os que lutam pela libertação dos seus países são terroristas. Digo-lhes que eu também era um terrorista ontem, mas, hoje, sou admirado pelas mesmas pessoas que me chamavam terrorista”.
Luis Nassif

7 Comentários

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  1. As palavras e as coisas

    Se ontem usaram a palavra “terrorista” para massacrar os progressistas, hoje fazem o mesmo com a palavra “mensaleiro”. Não muda nada, os personagens são os mesmos, a mesma mídia, os mesmos presos políticos, o mesmo interesse americano em detonar os que “saem da linha”, a mesma parte desinformada da população, o modus operandi que a classe dominante adota para manter seu status quo muda mas não muda, no fundo no fundo é o mesmo, o Carlos Lacerda(UDN) responde hoje pelo nome de Joaquim Barbosa. Fosse no Brasil e o Mandela presidente do PT, o mesmo estaria preso como “mensaleiro” por ter avalizado empréstimos do partido, por sinal pagos, sem que tenha havido qualquer prejuízo a quem que seja mas…

    “Eu também era um mensaleiro ontem” Em entrevista ao jornalista Larry King em 2000, o próprio Mandela falou sobre esta mudança de tratamento. “É verdade. Ontem, chamavam-me mensaleiro, mas quando saí da cadeia, muitas pessoas me abraçaram, incluindo os meus inimigos, e é isso que digo habitualmente às outras pessoas que dizem que os que lutam pela libertação dos seus países são mensaleiros. Digo-lhes que eu também era um mensaleiro ontem, mas, hoje, sou admirado pelas mesmas pessoas que me chamavam mensaleiro”.  

  2. Tem muito comentarista
    Tem muito comentarista apressado e desbocado que tá tendo que se calar. Até anteontem diziam que EUA e Thatcher pessoalmente libertou Mandela e acabou com o Apartheid e que a esquerda queria se aproveitar, mudando a verdadeira história.

  3. bombinha

    Notícia bombinha…

    1962: o que esperar de um agente da CIA?

    Hollywood, hoje, de repente, já pode até lançar algum filme sobre Miriam Makeba – digamos, com a Queen Latifah no papel principal.

    Recomendação de leitura: capítulo 10 de A DOUTRINA DO CHOQUE – ASCENSÃO DO CAPITALISMO DE DESASTRE, da Naomi Klein. Título do referido capítulo: “A democracia nasce acorrentada: a liberdade restringida da áfrica do Sul”.

    Segue abaixo um trechinho.

    “O que aconteceu foi que o CNA se viu apanhado num novo tipo de rede, feita de regras e regulações ocultas, todas elaboradas para confinar e restringir o poder dos líderes eleitos. Enquanto a rede se estendia por todo país, poucas pessoas perceberam que ela estava lá. Contudo, quando o novo governo chegou ao poder e tentou se mover livremente, a fim de dar a seus eleitores os benefícios palpáveis da libertação que eles esperavam e pelos quis tinham votado, as malhas da rede se enrijeceram e a administração descobriu que seus poderes estavam severamente limitados. Patrick Bond, que trabalhou como conselheiro econômico no gabinete de Mandela durante os primeiros anos do governo do CNA, recorda que o gracejo dentro da equipe era: “Ei, nós temos o Estado, onde está o poder?”Quando o novo governo tentou tornar tangíveis os sonhos da Carta da Liberdade [agenda genérica do CNA], descobriu que o poder estava em outro lugar.”

    Lula foi mais esperto: na CARTA AO POVO BRASILEIRO, tratou de antecipadamente tranquilizar os detentores do poder efetivo e, ao mesmo tempo, enganar a galera.

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