Demora com racionamento poderá agravar crise da água

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Volume útil  do Sistema Cantareira chegou a zero há três semanas (Thiago Queiroz)

Jornal GGN – Com o agravamento da crise hídrica, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) propõe  retirar uma segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira. A empresa A concessionária busca aval dos órgãos gestores para captar mais 116 bilhões de litros da reserva profunda, além dos dos 182,5 bilhões que começaram a ser captados em junho e que devem acabar entre outubro e novembro. Antonio Carlos Zuffo, diretor do departamento de hidrologia da Unicamp, compara a situação com um empréstimo bancário no cheque especial. “Essa fatura ficará mais cara em 2015, porque vamos começar o ano no negativo. A crise será ainda pior”.

Do Estadão

Proposta da Sabesp pode deixar o nível do Cantareira negativo em 30%
 
FABIO LEITE – O ESTADO DE S. PAULO
 
Concessionária busca aval dos órgãos gestores para captar mais 116 bilhões de litros do volume morto dos reservatórios

SÃO PAULO – A proposta da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para retirar uma segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira, sem reduzir a vazão captada, pode deixar o nível do principal manancial paulista no vermelho em até 30% para o início de 2015.

A concessionária busca aval dos órgãos gestores para captar mais 116 bilhões de litros da reserva profunda dos reservatórios, além dos 182,5 bilhões que começaram a ser sugados em junho e devem acabar entre outubro e novembro.

Em janeiro deste ano, quando a crise da água foi declarada, o sistema estava no azul com 23% da capacidade.

Só das represas Jaguari-Jacareí, que ficam entre as cidades de Bragança Paulista e Joanópolis, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, a Sabesp quer retirar mais 90 bilhões de litros represados abaixo do nível das comportas. Se a quantidade for toda utilizada, os reservatórios que representam 82% da capacidade ficarão com apenas 4% do seu volume total, incluindo o útil e o morto. Até este domingo, a Sabesp já havia retirado 65,8 bilhões de litros do fundo das duas barragens, restando 38,5 bilhões de litros da primeira cota dessas represas, que devem durar até o fim de agosto.

A partir daí, a concessionária deve iniciar a captação de 78,1 bilhões de litros da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, com duração prevista até o fim de outubro, quando começa o período chuvoso. Sem a garantia de que as chuvas voltarão à normalidade e querendo manter a vazão atual de 19,7 mil litros por segundo para abastecer mais de 40% da Grande São Paulo, a Sabesp quer usar mais 116 bilhões do volume morto, totalizando 298 bilhões de litros da reserva, o equivalente a 30% do volume útil do manancial, que se esgotou no início deste mês. A proposta ainda precisa ser aprovada pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE).

Licitação. A Sabesp já abriu licitação para comprar mais 19 conjuntos de bombas flutuantes e fazer um canal subaquático necessário para retirar mais água do volume morto do Cantareira e do Sistema Alto Tietê, segundo maior manancial que abastece a Grande São Paulo e que também passa por grave crise de estiagem.

No início do mês, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia negado que usaria mais uma cota da reserva profunda do Cantareira, embora a Sabesp já estivesse planejando retirar mais 100 bilhões de litros, conforme o Estado antecipou. Agora, a empresa quer aumentar em 16% a segunda cota do volume morto, que tem ao todo 400 bilhões de litros.

Estimativas apontam que, se a vazão afluente, ou seja, a quantidade de água que chega aos reservatórios, for 50% abaixo da mínima histórica, e não houver redução no volume destinado ao abastecimento da população, a segunda cota do volume morto pode acabar ainda em dezembro deste ano, o que deixaria uma crise ainda mais grave para 2015. Em julho, por exemplo, a vazão média afluente está 68% abaixo da pior já registrada para o período. O mês será o mais seco da história do sistema, o que deve resultar em déficit de 51,5 bilhões de litros, ou 5,2% da capacidade. Na média, agosto e setembro costumam ser mais secos do que julho.

Risco. “O volume morto é como se fosse o cheque especial do banco. Mas, em vez de poupar e reduzir o consumo, o governo quer ampliar o limite para gastar mais. Essa fatura ficará mais cara em 2015, porque vamos começar o ano no negativo. A crise será ainda pior”, afirma o engenheiro e diretor do departamento de hidrologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antonio Carlos Zuffo. Segundo ele, quanto mais fundo a Sabesp for buscar água, maior o risco de contaminação. “A dragagem está revolvendo muito lodo do fundo, onde ficam os poluentes, os metais pesados”, completa.

O uso da segunda cota, caso seja autorizada, também deve retardar o processo de recuperação do Cantareira. No início do mês, o Estado revelou que uma análise estatística mostrou que a chance de o sistema acumular entre dezembro deste ano e abril de 2015 um volume de água suficiente para tirá-lo da crise após o término da primeira parte da reserva profunda era de apenas 25%.

Outro lado. A Sabesp informou em nota que “não houve um aumento na proposta de uso da segunda parte do volume morto” e que a “empresa segue em processo de avaliação para definir se o volume será de 100 e 116 bilhões de litros”. Segundo a concessionária, caberá aos órgãos reguladores decidirem sobre a proposta. O pedido precisa de aprovação da ANA, do governo federal, e do DAEE e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), ambos do governo paulista.

Segundo a Sabesp, a proposta apresentada aos órgãos gestores tem por objetivo garantir a vazão atual retirada do Cantareira para não ser obrigada a decretar racionamento de água na Grande São Paulo. “A companhia quer manter a vazão de 19,7 mil litros por segundo, porque é necessário para garantir as condições atuais de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo. Do contrário, grande parcela da população seria prejudicada, sobretudo aquela mais carente”, afirmou.

A concessionária informou que “não há nenhum risco” de utilizar mais 90 bilhões de litros das represas Jaguari-Jacareí e disse que fará dragagem para a retirada de água do fundo dos reservatórios. “Na Represa Atibainha, a empresa continuará com o bombeamento existente em cotas mais baixas. No Jaguari-Jacareí, será feita uma nova ensecadeira e um novo sistema de bombeamento, mas sem dragagem”, completou.

A Sabesp disse ainda que é “irresponsável e temerária a inferência de que haveria problemas para a qualidade da água” com o uso da nova cota. “A água distribuída pela Sabesp segue todos padrões de qualidade e potabilidade do Ministério da Saúde”, disse. A empresa informou ainda que 76,5% dos 400 bilhões de litros do volume morto já são liberados para a região de Campinas por meio das descargas de fundo, conforme o Estado revelou em maio. “É justamente esse fluxo contínuo da água na reserva profunda uma das garantias de a água ter boa qualidade para o abastecimento público”, completou.

 

Redação

29 Comentários

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  1. Não há nada mais elementar,

    Não há nada mais elementar, natural e imprescindível para a vida humana do que a água.

    O que o governo do PSDB deixou de fazer para evitar essa crise é de uma irresponsabilidade total.

    E o governador segue com sendo o preferido nas eleições.

    Definitivamente, não entendo o eleitor paulista.

    1.   Acredito que um dos motivos

        Acredito que um dos motivos é que o eleitor paulista está entre os mais expostos à lavagem cerebral imposta pela ditadura do “jornalismo único”.

        Começo a me perguntar é se os jornalões vão lentamente desembarcando de Alckmin (e em seguida o eleitor teleguiado) para fazer um opositor assumir uma massa falida, abrindo espaço para a triunfante volta do PSDB daqui a quatro anos – e no interregno, dá-lhe paulada na cabeça do governador “interino”; assim como no caso da prefeitura, vão ‘lembrar’ quanta coisa é obrigação estadual.

        Tivessem feito isso em 1998, o PT governaria no máximo até 2002. Se insistirem com Alckmin, o desastre vai ficar tão grande que bye-bye PSDB paulista depois de 2018; não volta mais ao governo do Estado.

  2. “Não é apenas uma catástrofe

    “Não é apenas uma catástrofe ambiental, é uma catástrofe econômica.

    O sistema que abastece quase a metade de São Paulo começou o mês com 200 bilhões de litros. Vai terminá-lo com quase 60 bilhões de litros a menos, com algo como 142 ou 143 bilhões de litros.

    É a “conta do chá” para chegar às eleições.

    Esta é uma tragédia da qual, desde dezembro do ano passado, se podia antever e rigorosamente nada foi feito para amenizá-la.

    Esta é a medida da crise, em termos bem concretos.

    Só menor do que a da cumplicidade dos que a disfarçam diante dos olhos dos paulistanos.”

    Trechos de Fernando Brito

  3. Geralllldo!

    A única coisa que o Geraldo quer é que a água dure até as eleições, depois que o povo e o manancial se lasque.

    O difícil é acreditar como os paulistanos e paulistas reelegem esse povo sistematicamente.

    Se não for Vudu deve ser magia negra, não tem outra explicação.

    1.   E ainda há quem considere

        E ainda há quem considere ser “ingenuidade”(!) pensar que Alckmin está metendo os pés pelas mãos por causa da eleição – ou que é “partidarismo” levantar o assunto da escassez.

  4. E aí ?

    Mas e a pergunta básica e simples ? E daí ? Tudo bem com isso ? A falta de abastecimento de água, num país com estes recursos é de uma incompetência brutal, de uma gestão absurda de tão amadora, seja de quem for a tal da culpa, da Dilma, do Lula, do Lulinha, do Haddad, do Mercadante. Não importa quem deixou o navio arrebentar nos recifes, mas há um ou mais culpados. Só que neste assunto específico nossa mídia tradicional parece ter apenas um ligeiro incômodo com o asunto, mas é bem “responsável”, e não aponta culpados de forma açodada. Quem sabe já um sinal da maturidade e da isenção que tanto cobramos neste país. Luz no fim do túnel ? Tomara, e com muita, muita chuva em cima dos reservatórios.

    1. “seja de quem for a tal da

      “seja de quem for a tal da culpa, da Dilma, do Lula, do Lulinha, do Haddad, do Mercadante.”

        Se fosse um desses, ou seja, se fosse do PT, já haveria muitos dedos apontando o culpado.

      1. Desconfiança

        Poios é, André, se eu fosse um sujeito desconfiado (o que não sou, acredito em tudo que leio), também pensaria que há uma ligeira, quase imperceptível seletividade no assunto, e na indignação. Será que o tema não é tão grave quanto estou pensando ?

  5.   Alckmin deveria ter

      Alckmin deveria ter iniciado o racionamento no ano passado; não precisava estar na cadeira de governador pra saber disso.

      As perguntas que faço são outras: e os reservatórios destinados à produção de energia, como estão? Há interligação? Quem controla o quanto fica de água em uns e em outros, isso também foi “concedido”? A Sabesp foi sequestrada por interesses privados do mesmo modo que a ARTESP na questão dos pedágios?

      Para quem não lembra, em 2009/2010 um bairro da Zona Leste da capital ficava inundado dia sim dia também, independente de chuvas – durante o ano anterior os reservatórios foram mantidos cheios para produção de energia por obra e graça dos controladores concessionários, e quando chegou o período das chuvas só restou soltar todo o excesso de uma vez. 

      Meu palpite: em um período de seca forte mas administrável, a ação humana (Alckmin, mas não só) piorou muito a situação. Acredita quem quiser no papo de “pior seca dos últimos 234656875 anos”.

  6. Tem alguem na grande S.Paulo

    Tem alguem na grande S.Paulo que não falta agua em casa? Aqui em casa falta agua todos os santos dias e faz tempo.Vai racionar o que?

    1. Aposto que em higienópolis

      Aposto que em higienópolis não falta água. As piscinas das mansões e edifícios de luxo devem estar cheias, como se estivesse tudo normal. 

    2. Nossa! Preciso descansar

      Nossa! Preciso descansar, estava me preparando para lhe dar uma bordoada. Tinha entendido que havia água na sua casa todos os dias, então, para que racionar. Por pouco não pago o maior mico.

       

  7. não aprovado

    “A concessionária busca aval dos órgãos gestores para captar mais 116 bilhões de litros da reserva profunda, além dos dos 182,5 bilhões que começaram a ser captados em junho e que devem acabar entre outubro e novembro”

    Os orgãos responsáveis NÃO devem aprovar. O que resta de água vai ter que acabar sendo usado.

    Mas os orgãos RESPONSÁVEIS só deveriam autorizar após extensa campanha informativa à população.

    Liberar sem mais, como já fizeram anteriormente, apenas aumenta o problema e dá espaço à IRRESPONSABILIDADE do desgovernador Alkimim. 

    Por enquanto a população informada (minoria) acredita que apenas há um probleminha por conta da falta de colaboração de São Pedro. Imagina os desinformados!

  8. Captação mais 116 bilhões de litros do volume morto

    Pelo andar da carruagem, a autorização sera concedida. Porém, faz se necessário que esta liberação esteja condicionada à decretação de estado de calamidade pública e início imediato do racionamento. Embora o governo federal não seja o responsável pela leniência do governo estadual é fundamental que ele atue em socorro a população paulista, abandonada à sorte.

    1. Agir em socorro…

      Não sei se estou certa, mas acho que o Governo Federal só pode intervir em caso de solicitação do governo estadual. Os colegas que têm conhecimento do assunto poderiam opinar. Acho mesmo que o Sergio, poderia explicitar melhor toda essa possível ajuda. Nem mesmo sei se há tempo disponível para sanar problemas oriundos da falta de providências que o governador deveria ter adotado há anos atrás. 

  9. Até outubro, talvez ainda dê

    Até outubro, talvez ainda dê tempo dos paulistas/paulistanos depositarem seus votos em Alckimin e depois viajarem com cheiro de gambá para o litoral praiano .

  10. A água é nossa, não da Sabesp

    A Sabesp não passa de uma adutora e distribuidora de águas públicas que cobra pelo serviço.

    Ela não é dona das águas públicas.

    A água é nossa, e a Sabesp também.

    Ela não tem o direito de retirar quanto quer e ganhar quanto quer por isso.

    Nem de entregar o dinheiro aos acionistas antes de nos entregar a água.

    Alckmin vai para o tudo ou nada, não vai ganhar nada e nós vamos perder tudo…

  11. Meus poderes paranormais

    Meus poderes paranormais estão ficando mais fortes.

    Antes de ler a reportagem, eu justamente pensei na analogia do cheque especial para o volume morto do sistema Cantareira. E não é que a matéria usou exatamente a mesma analogia?

  12. e agora!

    Este é o triste momento das constatações. Todas as vacas foram pró brejo seco e não correm perigo. Preocupa saber que “aforante” o inevitável racionamento que mesmo não declarado está em andamento, qual é o planejamento hídrico destes administradores. Medidas emergenciais atestam a improvisação, despreparo e para evitar o justo julgamento inicia-se a procura dos culpados sempre amparados nas melhores mentiras disponíveis e sustentadas pelos interessados de sempre.

    Mesmo o inevitável racionamento não resolve muita coisa, precisa-se de um horizonte para os que planejam investir e morar, qual é este horizonte?

  13. Novamente

    Pergunto novamente. Cadê os órgãos do Legislativo e Judiciário que deveriam dar um basta nesta irresponsabilidade. Porque este governador incompetente ainda continua tampando o sol com a peneira e todo mundo diz amém? Isso mostra como nossas instituições estão podres.

  14. Votar em Alckmin é a solução para o racionamento de água

    Solução para o racionamento de água em São Paulo: votar em Alckmin, da Opus Dei, na próxima eleição.

    Conga, la conga, conga, conga, conga!

  15. Racionamento???

    Não haverá…  Como o governador vai suprir de água os bairros ricos de seus pares?  Aos pobres a água está chegando a conta gotas e não diariamente. Afirmo isso baseada em alguns comentários de colegas paulistas, aqui mesmo neste espaço.  

  16. o probllema é de gestão,

    o probllema é de gestão, sim…se fosse um governo progressista não haveria interferencia privada na administração da sabesp, que só toma medidas depois de consultar seus acionistas….conforme quer a gestão alkimin

    essa é a gestão tucana – a gestão de um alquimisita volume morto….

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