Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Dhenni revisita Luhli e Lucina, por Aquiles Rique Reis

Luhli e Lucina despontaram no Festival Internacional da Canção, de 1972; mais à frente, gravaram quatro discos. Agora, o cantor e compositor Dhenni Santos lança Pedra de rio – A obra de Luhli e Lucina (Mills Records), um CD (o seu segundo) no qual reúne vinte músicas da dupla. Dhenni é também produtor e diretor musical do disco. Ele, Luhli e Lucina pesquisaram o repertório, enquanto os arranjos foram divididos entre Daniel Drummond e Felipe Radicetti, também produtores musicais.

“Flor Lilás” (Luhli), abre o álbum com um arranjo épico escrito por Daniel, no qual o naipe de metais pontifica em meio à massa sonora. Dhenni canta a plenos pulmões os versos de Luhli: Eu tenho medo que um dia/ Da ponta de cada fio/ De cada cabelo da minha cabeça/ Nasça uma flor lilás? Flor lilás. Sua voz aguça o que foi proposto pelo arranjo: quase se dilacerar para fazer jus aos versos iluminados pela ânsia de quem sonha com uma vida a ser vivida. Cantor de recursos, Dhenni se vale de agudos certeiros para atingir as notas mais altas da música. Para manter o canto pleno de grandiosidade, sua entrega é valiosa. Porém, tal intensidade, que de início parecia ser auspicioso, finda sendo um tanto excessiva.  

“Regando o Mar” (Luhli e Alexandre Lemos). A introdução só com o violão é anúncio de que algo mais contido vem vindo. Entra o ritmo, e, de fato, a sonoridade agora é mais suave, permitindo que Dhenni seja o protagonista, sem ter de quase competir com os instrumentos, e cante com voz tranquila os versos da canção.

Bela é “Coração Aprisionado” (Luhli e Lucina). O arranjo usa percussão e cordas para criar climas que reforçam os versos: Ai, há uma fera à solta/ E a minha garganta, amor/ Se estreita e se cala/ A solidão é assim. Ora soando em bloco, ora em pizzicato, as cordas desenham caminhos por onde passam as palavras. Dhenni se esmera e dá sabor a elas.

Igualmente bela é “Escultura” (Luhli). No arranjo, apenas a viola dá asas para a voz de Dhenni voar, ela que lhe sai plena, carinhosa, calorosa. Com a viola ponteando e a percussão ritmando, um intermezzo sonoriza um instante pleno de vida musical.

“Nunca” é uma parceria de Dhenni com Luhli. Acompanhados de baixo e percussão, os dois cantam e engrandecem a letra plena de “dicas” para bem viver. 

“Tudo de Nada” (Luhli e Lucina). O piano apoia o canto de Dhenni. Emocionado, sua voz soa pungente, afinada e bela. As cordas se juntam ao piano e, no final, ambos permitem a Dhenni um show de interpretação, com direito a uma longa e exata respiração, o que reforça a convicção de que o cara é um grande cantor.

Fechando a tampa, “Ao Menos” (Luhli e Lucina). Piano, teclado e baixo iniciam. Dhenni canta macio, comovendo. As cordas surgem e conduzem a canção a um lindo final de um bom CD, gravado por um grande intérprete, que bem homenageia o trabalho de duas grandes compositoras.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Informações:  http://distribo.kanlo.com.br/product/cds/9366/pedra-de-rio-dhenni-santos

PS. Viva João Ubaldo! Que os orixás da Bahia o iluminem.

PS. Logo depois de João Ubaldo e Rubem Alves, lá se vai Ariano Suassuna. O Brasil está cada vez mais pobre. Meu Deus! 

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

1 Comentário

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  1. Ótima

    Ótima dica ! Essa dupla inventiva de compositoras nos deu muita coisa boa, desde a década de setenta, supriu muitas canções de repertório de gigantes da nossa música, como Ney Matogrosso por exemplo. Lembro de um show das meninas, quando eu era ainda adolescente no Museu de Arte Moderna do Rio. A música delas me encanta até hoje.

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