Dilma, Bolsa e o aparelho excretor, por José Roberto de Toledo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Estadão

Dilma, Bolsa e o aparelho excretor

José Roberto de Toledo

A Bovespa derreteu nesta segunda-feira por dois motivos: 1) a expectativa da “bala de prata” contra Dilma Rousseff (PT) que fez o mercado subir na sexta mostrou-se um traque; 2) a desvalorização da esperança de agentes do mercado na candidatura de Marina Silva (PSB), após o Datafolha de sexta-feira mostrá-la quatro pontos atrás da petista na simulação de segundo turno.

Isso não quer dizer que a Bolsa não possa voltar a subir se as pesquisas desta terça-feira, do Ibope e do Datafolha, mostrarem uma diferença menor a separar Dilma de Marina no segundo turno. O mercado é antes de tudo bipolar. Alterna humores com a velocidade e regularidade de um pisca-pisca.

A “bala de prata” seria uma denúncia bombástica, uma gravação incriminadora, uma prova irrefutável que ligasse a corrupção na Petrobras à presidente. O que saiu era tão frágil que virou uma antinotícia – a percepção de que a tal “bala de prata” é tão real quanto o lobisomem. Logo, metade da queda da segunda-feira foi para compensar a alta infundada da sexta-feira.

A outra metade da baixa desta segunda foi provocada por um choque de realidade com as contradições e fragilidades da candidatura de Marina. Percebeu-se que ela não ganhará esta eleição na base da inércia. Não existe um eleitorado que votará nela não importa o que faça ou deixe de fazer. Ao contrário, o eleitor precisa ser conquistado, e, para isso, é preciso fazer uma campanha consistente e convincente. Não tem sido o caso.

A incerteza já era grande desde o começo da semana passada, o que fez diminuir o volume de negócios voluntários – descontadas as negociações de ajustes obrigatórios e trocas de chumbo entre fundos diferentes de mesmos gestores. Com baixa liquidez, aumenta a volatilidade. Quaisquer vendas de maior volume têm influência grande sobre o mercado e viram quedas expressivas.

A ciclotimia do mercado não encontra refresco nem na hipótese de Aécio Neves (PSDB) vir a capturar eleitores que estão abandonando a canoa de Marina e, eventualmente, vir a tomar dela o segundo lugar e ir para o turno final contra Dilma. Nesse cenário, investidores e petistas concordam: seria uma reedição da eleição de 2010, e provavelmente com o mesmo desfecho.

Como em toda reação ciclotímica, há que se descontar os exageros. Esta eleição já mostrou mais de uma vez que muito pode mudar até que os votos sejam confirmados na urna eletrônica. O próprio pessimismo do mercado – que aposta deliberadamente contra Dilma – pode acabar ajudando-o a se tornar mais otimista.

Se o pessimismo continuar a desvalorizar o real frente ao dólar e isso vier a aumentar a inflação antes do segundo turno, a previsão negativa pode se autorrealizar, afetar o bolso dos eleitores e acabar atrapalhando as chances de Dilma. Ou não.

A presidente recobrou o favoritismo, não cometeu nenhum erro fundamental nas últimas semanas e ainda conta com a sorte. O “aparelho excretor” de Levy Fidélix (PRTB) foi tudo o que sobrou nas redes sociais do debate dos presidenciáveis no domingo à noite. Sua repercussão foi tão avassaladora que ninguém se lembra de eventuais gafes da petista. Quando não perde, o favorito ganha. Sem querer, a homofobia nanica ajudou Dilma.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Indicaticações dos que tem informações em “OFF”
    Hoje repassando a linha de frente dos colunistas e os editorias da maior parte da grande mídia, parece que estão todos jogando a toalha, tá um chororô danado, mas eu não tenho dó. Já está ensaindo até as escolhas dos responsáveis pela derrota.

    1. Roberto, o mi mi mi já

      Roberto, o mi mi mi já começou na sexta, de Josias a Merval.

      Merval, que previa uma Marina trucidando eleitoralmente Dilma no início de Setembro, está sendo um dos mais “críticos” e “profundos”… é aonde vemos a que nível foi a imprensa brasileira pós Lula.

  2. Só num país como o nosso,

    Só num país como o nosso, desprovido de efetivos órgãos reguladores é que essa meia dúzia dos de sempre pode agir criminosamente sobre a bolsa de valores e o mercado de moedas externas. Em qualquer lugar decente – digo, com pessoas compondo uma sociedade decente – do planeta esses aproveitadores estariam fora do mercado há muito tempo: talvez, na cadeia. Jogar sobre a candidatura da atual presidenta, em processo de reeleição, problemas não decorrentes de sua administração (e da administração Lula) é, no mínimo, apostar na imbecilidade das pessoas e, pior, aproveitar para dar “pulos e pulos de gatos” apardacentados mesmo à luz do dia.

  3. Quantos candidatos, para o

    Quantos candidatos, para o Estadão, concorrem à eleição presidencial? Pelas leituras de seus colonistas, segundo PHA, há apenas uma candidatura  à ser derrotada. Nenhuma a ser eleita. Tanto faz.

  4. O óbvio

    Nassif,

    Bem faria o jornalista, se trouxesse alguma novidade a respeito desta reta final de campanha presidencial.

    A visão a respeito do Ibovespa, quando se trata de um jornalista de grande jorna, é triste, visão medíocre e reduzida sobre como sempre funcionou o mercado acionário. Acreditar que o especulador se orienta pelo sobe e desce das pesquisas é algo assustador.

    Quanto à desvalorização do real, existem muitos que comemoram neste momento, exportadores e aqueles que tem aplicações em dólar, e comemoram com razão, pois ganho de quase 9% em 30 dias é algo bastante expressivo.Entretanto, acreditar que a cotação irá disparar é tão razoável quanto avião pousar em edifício.

    Sobre o comentário do candidato nanico, serve apenas para um grupo descer do muro e bater tambor, afinal, quem é, o que faz, qual é a importância deste Levy Fidélix ? Até aqui, fizeram o jogo do idiota, que conseguiu esta notoriedade passageira e logo será esquecido. Prá mim, tanto faz como tanto fez, pois o cidadão não passa de traço.

     

  5. A direita, a oposição ja está

    A direita, a oposição ja está se entregando a reeleição de Dilma no domingo já, 5 de outubro. Cada vez que leio algo de alguém da oposição, fica mais evidenciado a vitória de Dilma em primeiro turno. 

  6. Triste país, o nosso, que faz

    Triste país, o nosso, que faz de campanhas eleitorais, não oportunidade para revisões, reflexões e projeções, mas um teatro dantesco onde dão o tom as  manifestações de pequenezas, mediocricidades e oportunismos de todos os naipes, inclusive em ambientes que pelo em tese deveria prevalecer a responsabilidade e a austeridade, a exemplo da Bolsa de Valores e o mercado de ativos financeiros em geral. 

    Como se admitir que para a consecução dos objetivos últimos – ganhar o pleito – ganhe contornos de racionalidade a torcida para que o indicadores sociais e macro econômicos se deteriorem e assim enfraqueça a reeleição para quem está no Poder? Ou seja, os interesses do país ficam em segundo plano porque o que está em jogo se sobrepõe, ou seja, os ganhos especulativos?

    É salutar o desvirtuamento de uma instância que deveria fomentar e mediar o debate político-ideológico para colocá-la a serviços de candidaturas, como sói ocorrer com a imprensa nativa e sua busca desesperada por “balas de prata”, sendo que essa “bala” ao fim e ao cabo acaba se virando contra seu próprio “coração”(ou que deveria ser), no caso a integridade ética?  

    Campanhas eleitorais de há muito deixaram de ser momentos cívicos e de civilidade para se transformarem em verdadeiros guerras nas quais as vítimas são(não necessariamente nesta ordem): a Verdade, a Cidadania, o Futuro, a Esperança, o Patriotismo e a busca do bem comum. 

     

  7. Um colunista e duas falhas

    A primeira: sequer citou as novas do tio Sam com relação aos juros. A segunda: A homofobia salvou, em parte, a Marina, pega na mentira.

     

    Como disse o filósofo alemão Robert Kurz, morto em 2012, bolsa de valores é cassino. 

  8. pois é, ninguém lembra das

    pois é, ninguém lembra das gafes do autor

    do post, só as do fidelix,

    uma excrescencia,

    como ele mesmo falou…

    ele se enxerga…

  9. Vitória.

    “Falem de mim (PT)  quem quiser falar”. Mas o PT é o partido mais inteligente do Brasil, apesar de ter como presidente Honorário um operário; E o mais burro de todos, aquele que tem como presidente honorário um Sociolólogo, que jamais conheceu o povo brasileiro, pois sempre estudou os “franceses” e “Americanos”. No 1º ou no 2º turno, a vitória virá !

  10. Boa essa expressão:

    Boa essa expressão: “desvalorização da esperança de agentes do mercado na candidatura de Marina Silva”. Será que é o retrato da coisa? Nesse caso, pode-se entender porque estão passando a malhar a Marina. Se continuar assim, Marina vira a Geni desses “agentes do mercado” que a inventaram como alternativa.

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