Líderes comunitários querem ser consultados sobre obras em favelas no Rio

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Vladimir Platonow 

Da Agência Brasil
 

Os projetos de melhoramentos em comunidades pobres do Rio nem sempre têm a aprovação unânime dos moradores, que muitas vezes querem outros tipos de obras, do que as propostas pelo Poder Público. O assunto foi discutido na noite de hoje (26), na sede da Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (Seaerj), no debate Favelas da Cidade do Rio de Janeiro, Visão da Comunidade.

O líder comunitário da Favela da Rocinha, na zona sul da cidade, José Martins de Oliveira defendeu que os investimentos na comunidade sejam direcionados para as obras de saneamento, com expansão das redes de água e esgoto, em vez nos projetos de mobilidade, como o do teleférico ligando as partes altas e baixas da favela, projeto que chegou a ser proposto, mas ainda não saiu do papel.

“Os governantes acham que sabem tudo. Primeiro tem que ouvir as comunidades. Na Rocinha, nós temos uma dificuldade muito grande com saneamento básico. E saneamento é saúde. Quando temos saúde, economizamos muito mais. Esse teleférico ninguém pediu. Fizemos um estudo, com o Clube de Engenharia, e descobrimos que ele custaria R$ 700 milhões, para turista passear”, disse Martins.

A cientista social Mônica Santos Francisco, líder comunitária no Morro do Borel, na zona norte, também elegeu o saneamento básico como prioridade sobre outras intervenções públicas. Segundo ela, o maior problema na região, onde moram cerca de 15 mil pessoas, é a falta de água. “É inadmissível que, em pleno século 21, você tenha uma favela, que é parte constituinte da cidade, tendo problema de abastecimento de água, por meses. E não é só no verão. São vários períodos no ano”.

Para Márcia Vera de Vasconcelos, moradora da Cruzada São Sebastião, no Leblon, e presidente da Federação Estadual das Associações de Moradores, a principal questão é a comunidade ter voz. “Não se ouve a sociedade. Nós é que vivemos lá e percebemos os problemas. No transporte, querem fazer o que a empreiteira e o dono da empresa de ônibus quer, mas não ouvem a sociedade”, ressaltou.

O presidente da Seaerj, Joelson Zuchen, destacou que os projetos para a cidade não são discutidos com a população nem com engenheiros e arquitetos. “As obras são feitas nem sempre para atender os interesses da população, mas para atender a interesses particulares. Estamos aqui, como engenheiros e arquitetos, para ouvir as demandas dos moradores”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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    1. Vão fingir até quando?

      Pode negativar mas o que está por trás do “movimento” é o conceito de favelados do Rio de que O Estado NÃO pode entrar ali sem autorização.

      O Estado só pode entrar para ‘DAR”.

      Entrou para dizer que não pode construir ali, não pode fazer isso, não pode aquilo, sabe aquelas regras básicas do convívio em sociedade que TODOS NÓS SOMOS OBRIGADOS A CUMPRIR, neste caso eles rejeitam. Vira coisa de rico contra pobre. Coisa de estado repressor.

      Porque era assim no tempo do tráfico e eles acham muito estranho esta coisa de obedecer regras e viver em sociedade.

       

      Isso, a notícia, veio depois de reportagens sobre prédios em construção no alto da rocinha onde antes era área verde.

      E agora ESQUERDAS? O que fazer com o prédio?

      Sabe como é, basta consultar a “comunidade”.

      Se a “comunidade’ for a favor, pode derrubar a mata toda e colocar barracos.

       

      ESQUERDAS, escolham os limites das favelas QUE VCS QUISEREM, mas escolham UM LIMITE! Eu concordo com o que VC PROPOR!!!!  Porque qualquer limite, é melhor que não ter limite.

      O que vc propõe?

      Vamos para a prática, diz aí!

       

       

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