Madame Chiang Kai-Shek e o perigoso moralismo americano

 
Por André Araújo
 
A chinesa Soog May Ling, filha de um pastor protestante americanizado, Charlie Ling, nascida em 1898 e falecida em 2003, portanto esteve em três séculos, foi a célebre esposa do líder nacionalista chinês Generalíssimo Chiang Kai-Shek, governante da China de 1930 a 1949.
 
Já escrevi aqui neste blog sobre essa interessante peronagem mas hoje a trato de outro ângulo.
 
A Madame Chiang Kai-Shek foi o subproduto mais simbólico de uma crença de missão divina do moralismo americano.
 
Os EUA foram formados por emigrantes muito religiosos e crentes na vida regida por princípios morais. Essa dimensão ficou imantada no ethos e no subconsciente dos americanos em geral. Até hoje, depois de tantas aventuras pelo mundo, eles se acham imbuídos de uma bandeira moralista superior a de todos os demais povos. Falsa ou não na sua essência, essa ideia de “missão da moral e da ética” faz parte da visão americana do mundo.

 
Uma das grandes cruzadas onde essa missão se tornou realidade foi a tentativa de evangelização da China, a partir do começo do século XIX, casais de pastores americanos invadiram a China especialmente a partir da Primeira Guerra do Ópio, em 1842. Antes evangelizadores britânicos já percorriam a China mas o americanos vieram em muito maior número e com objetivos bem mais amplos, tornar a China toda cristã, no que falharam completamente.
 
Sempre em casais, porque um pastor homem não poderia pregar para mulheres chinesas, percorreram toda a China, um trabalho árduo naquele tempo de condições muito precárias no grande País. Em 1900 eram cerca de 2.500 casais de pregadores americanos no País, todo o sistema sustentado pelas igrejas americanas que financiavam a missão.
 
Soong May Ling e sua irmã Chiang Ling, primeira dama da República da China, casada com o fundador da República em 1911,  o Dr.Sun Yat-Sen, tambem protestante convertido por pastores americanos, eram a máxima expressão do resultado dessa missão religiosa moralista dos pastores americanos. As duas irmãs foram primeiras-damas da China, educadas nos EUA, com todo o verniz de moças americanas, elas foram o resultado da missão moralista civilizadora.
 
O resultado, a Madame Chiang Kai Shek foi a mulher mais corrupta do Século XX, roubou tanto que morreu bilionária com 105 anos em um apartamento de 27 quartos em Manhattan. Seu irmão Tse Ven, conhecido como T.V. Soong foi Ministro da Fazenda e Presidente do Banco da China durante o regime do cunhado e roubava a folha de pagamento do Exército que lutava contra os japoneses, enviada pelos Estados Unidos. O Generalíssimo vendia munição e artilharia americana para os japoneses que ele deveria combater. Essas narrativas constam das memórias do General Joseph Stilweel, adido militar americano junto ao QG do Generalíssimo. Stilwell mandava relatórios semanais para Washington sobre a corrupção do regime mas era inútil. A Madame foi capa da revista TIME por três vezes, apresentada como a “mulher do bem” que iria salvar a China. Seu lobista principal em Washington era Henry Luce, dono das revistas TIME e LIFE, ele mesmo filho de pastores que pregaram na China e fanático pela admiração ao casal Chaing Kai-Shek.
 
Outro símbolo do moralismo americano foi o Presidente Wilson, um homem sempre fora da realidade em função de seus princípios, fez uma Presidência desastrosa, ao fim quem governava era a esposa, quando ele ficou doente por longo período. Wilson via a Europa e os europeus como altamente corruptos, a América Latina então era terra de bandoleiros e essa visão até hoje subliminarmente se mantem na mente americana.
 
Todavia, muito do moralismo americano é retórica pura. Os EUA, a partir da Guerra Civil, foram construídos basicamente por aventureiros e ladrões, a época das ferrovias (1865-1890) era a época da trapaça, os poíiticos de Nova York (Tammany Hall), de Chicago (família Daley, até hoje no poder), Huey Long na Lousiana, Tom Prendergast no Missouri, políticos que fariam o Coronel Odorico parecer coroinha. No início do século XX, a construção dos trustes do petróleo, do aço, do telefone, da química, dos carros, do alumínio, do cobre, tudo isso foi realizado com grande dose de malandragem e pirataria. Mas nada muda a “missão moralista” expressa hoje em leis que tornam a vida das empresas complicadas ao limite, com sua “compliance”” ao infinito, hoje ocupa-se mais gente e gasta-se mais dinheiro com compliance do que com o resto da empresa.
 
O pior do moralismo americano é quando não americanos tentam copiar o discurso pelo que está no papel, sem entender a história por trás da prédica, aí a coisa fica feia. O moralismo americano sempre foi mas hoje mais do que nunca é um grande teatro do absurdo, um evangelho que serve de capa dura para todas as mazelas da civilização americana antes e agora. Ele convivia junto com as máfias, com a podridão de Hollywood, com truques financeiros.
 
Chamei a atenção para a Madame Chiang Kai-Shek porque ela fez toda a política de seu marido e construiu sua história a partir do discurso moralista que, no caso dela e da família, era completamente falso, mas seu cacife era ser a “moça boazinha que falava inglês perfeito”, enquanto roubava o pão dos chineses. Enganou bem e por muito tempo.
Redação

24 Comentários

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  1. Sempre foi e ser]a assim com

    Sempre foi e ser]a assim com os EUA. Ditadores cruéis amigos são grandes democratas e ladrões amigos são honestíssimos. Enquanto isto os inimigos sse não têm defeitoa eles põem.

  2. Superiores

    Quando qualquer grupo se julga superior, escolhido por  Deus, por motivos religiosos ou raciais e étnicos, logo se torna perverso, com muito crédito no “Céu” e por isso autorizado a fazer um monte de maldade, porque acham, hipocritamente, que pertencer a esses grupos, geralmente excludentes dos demais, já garante a salvação eterna e o paraíso. Para mim, é uma das psicoses de religiões em geral, mais ou menos acerbadas em umas ou outras. Um perigo, esse excesso de autoengano.

  3. Superiores

    Quando qualquer grupo se julga superior, escolhido por  Deus, por motivos religiosos ou raciais e étnicos, logo se torna perverso, com muito crédito no “Céu” e por isso autorizado a fazer um monte de maldade, porque acham, hipocritamente, que pertencer a esses grupos, geralmente excludentes dos demais, já garante a salvação eterna e o paraíso. Para mim, é uma das psicoses de religiões em geral, mais ou menos acerbadas em umas ou outras. Um perigo, esse excesso de autoengano.

  4. (Falar mal dos americanos da

    (Falar mal dos americanos da ibope no publico progressista, A.A?.)

      

     

     

     

    Omal primordial o orgulho nosso de cada dia – Leandro Karnal

     

    Santo Antão foi um homem que morreu aos 105 anos dos quais quase a vida inteira passou morando numa caverna jejuando e sendo atacado diariamente pelo demônio – o demônio o elegeu como meta corporativa, precisava desviá-lo de seus propósitos e se concentrou em Antão por quase oito décadas (…) Quando olhava para o crucifixo, ao invés do Cristo, via uma mulher nua; fazia jejum e aparecia sobre a mesa a comida mais extraordinária (…) E Antão era um homem excepcional – praticamente um não humano – e resistiu a tudo.

     

    Oscar Wilde nos vai dizer, no século XIX, que se eu resisto à tentação é que ela não foi forte o suficiente, porque, sendo forte, eu não resisto; mas, como sabem, Oscar Wilde está no inferno e, Antão, no céu. Antão resistiu e, segundo uma tradição apócrifa, não da Legenda Áurea, não dos santos, uma tradição que bebe de várias fontes, inclusive que virou texto com Flaubert, no século XIX: o demônio desistiu de Antão; quando este estava com seus 105 anos, virou-lhe as costas e disse, “Você venceu! Pela primeira vez na história alguém foi mais forte que eu” e se retirou da caverna, e, Antão caiu de joelhos e agradeceu a Deus com uma oração simples, “Muito obrigado, agora me tornei um santo”, o demônio sorriu e voltou.

     

    (…) Antão resistiu a todos os pecados, menos ao da vaidade – a vaidade de ser santo e de ter resistido aos pecados. Isso mostra que, no fundo, a pessoa virtuosa, a mulher fiel, o homem dedicado, o filho exemplar, comentem o pecado de dizer “eu não sou como adúltera, como o infiel ou o filho rebelde”. Por trás de cada virtude há exuberância que se aproxima do vício.

     [video:https://www.youtube.com/watch?v=rsad5TsYik8%5D

     

  5. O André Araújo já está

    O André Araújo já está sabendo que tem um danado usando seu nome ou nickname aqui no portal GGN?

    Pior: imitando até mesmo o estilo e o vocabulário. Sem contar que conhece com a mesma profundidade História;  em particular a dos Estados Unidos. 

    Sim, porque só pode ser um insidioso comunista ou bolivariano o autor desse texto desnundando o caráter do Tio Sam. 

    Bem, agora sério. 

    .Se há um traço bem próprio dos americanos, este será a  hipocrisia, que nada mais é que o devir do moralismo.  Qualidades eles tem, isso é inegável. A começar pelo pragmatismo e a construção de uma sociedade que desde o seu nascedouro  se alicerçou num valor até então relativizado: a liberdade. Visão de mundo que também inspirou a revolução francesa. 

     

    1. precisa perguntar para o

      precisa perguntar para o Moro(aquele que acha está re(a)fundando a República)porque Deus faz as pessoas hipócritas quando falam em nome dêle.

       

      Será que êle é americano?

       

      Será que é por isso que o Moro quando precisa vai se aconselhar nos EUA?

  6. Não vejo mal nenhum nem no

    Não vejo mal nenhum nem no fato dos EUA se julgarem “imbuídos de uma bandeira moralista superior a de todos os demais povos” nem no de julgarem a América Latina “terra de bandoleiros”. Cada louco com sua mania.

    O problema está em, nós, brasileiros, adotarmos esses julgamentos como se fossem nossos, como você diz, André:

    “O pior do moralismo americano é quando não americanos tentam copiar o discurso pelo que está no papel, sem entender a história por trás da prédica, aí a coisa fica feia. O moralismo americano sempre foi mas hoje mais do que nunca é um grande teatro do absurdo, um evangelho que serve de capa dura para todas as mazelas da civilização americana antes e agora. Ele convivia junto com as máfias, com a podridão de Hollywood, com truques financeiros.”

  7. André, sempre foi assim: os

    André, sempre foi assim: os mais moralistas são sempre os mais corruptos. A “lei política” da “mulher de Cesar” não surgiu por acaso. A horda de pastores charlatões e políticos moralizadores para lá de podres da atualidade só revigora a máxima. Não é à toa que, em todo o mundo, os partidos mais conservadores, defensores da moral e dos bons costumes, são também os mais corruptos. 

  8. outros e diferentes

    O tio Sam vende hamburguês, armas e a moral de uma bíblia interpretada. Estes casais tanto na China como neste Brasil, seguem um padrão de interesses do mundo dos negócios. Sabem por definição que os católicos são escravos do Vaticano e do Papa, sabem que estão certos.

    Alexis de Toqueville no seu livro a Democracia da America percebe que naquela sociedade não existe conflito religiosa, o tudo que eles sabem está escrito no livro a ser interpretado a belo prazer. Nada de conflitos, frutos de disputas teológicas e filosóficas como na velha Europa, nada disto nesta sociedade primitiva.

    A diferença é gritante entre esta colonização recente e de outros os tempos, segunda metade de 1500, quando da chegada à China do jesuíta Matteo Ricci e outros confrades.

    Cultos nas mais novas disciplinas e tecnologias da Europa mergulham na cultura e sabedorias deste povo e agregam os conhecimentos matemáticos e astronômicos e geográficos absolutamente precários dos sábios da corte imperial.

    São aceito no novo ambiente e agregam conceitos teológicos da sua formação à filosofia do Confúcio.

    Matteo foi o único estrangeiro que teve permissão para ser sepultado em Pequim, até hoje um monumento o lembra.

  9. Uma das razões para eu ter

    Uma das razões para eu ter saltado fora das religiões, foi o fato  de ter convivido com religiosos totalmente canalhas. Usam a religião para enganar, se dar bem, passar a perna nos outros e posar de bons moços.  Jamais vi exceção, quanto mais “religiosos,” piores são.  Quando vejo alguém se apresentar a mim, como religioso, ou muito religioso, eu tenho vontade de sair correndo a gritar, pega canalha!

    Hoje a gente vê o IE matar pessoas da forma mais cruel possível, caso  não se convertam ao islamismo deles.  No passado foi a ICAR quem assim procedeu.  Poderia ficar aqui horas a enumerar casos envolvendo os ditos religiosos que conheci na vida, tamanha é a quantidade de casos a relatar.  O pior é que as religiões que os representam não praticam o dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.  Misturam o espiritual com o material.  E o pior de tudo, é que fé independe de templos e de religião.

    A religião sempre teve um propósito claro, dominar para oprimir e depois dividir, basta ler a história das religiões, principalmente as religiões ocidentais e as do Oriente Médio.  Nada é mais infalível que a manipulação da consciência das massas, através da religião.  Promete-se o céu aos eleitos, e o inferno aos inimigos, ou aqueles que ousam discordar de suas meias verdades.   São infalíveis na arte de enganar, distorcer e manipular consciências.

    Enquanto as pessoas tiverem a necessidade de frequentar templos, existirá os espertalhões, os mercadores da fé, os tarados, os pedófilos, os endinheirados com o trabalho alheio, a fim de imputar-lhes penas, bênçãos e recompensas que somente a eles cabe determinar e distribuir.  Se auto denominam os representantes de Deus na terra, mas não passam de sepulcros caiados.  

     

  10. “O pior do moralismo

    “O pior do moralismo americano é quando não americanos tentam copiar o discurso pelo que está no papel, sem entender a história por trás da prédica, aí a coisa fica feia.”

    Nessa você acertou em cheio, AA. Os brasileiros “americanistas” de disneylândia e de MBA são a evidência maior disso. Bem mais grave do que os que sofreram o proselitismo dos missionários.

  11. Sequencia

    O caráter messianico-moraliista dos Eua é uma sequência do o mote civilizatório britânico ( usado para justificar o colonialismo e sintetizado no “Fardo do Homem Branco” de Kipling).

    O apóio ao casal Ca$h my Check pela Time e pelos Luce ( que são responsáveis direto pelo ostracismo chines quebrado por Nixon ), vai custar aos EUA a perda do lugar de primeira economia do mundo em alguns anos. O PCC agradece.

  12. Hipócritas

    O autor apenas quer dizer que os ianques são mais hipócritas do que os outros. O que dizer dos eslavos, dos asiáticos?De mais  ou de menos sabemos que todos carregamos a índole da hipocrisia.

  13. Não gostei.

    Deixa os evangélicos em paz. Vamos acabar com os golpistas. Não podemos denunciar intolerância procurando fragilidades alheias. 

     

    Há evangelicos que leva o evangélho a sério e ver nele um quê de Progressita. Quando valorizamos o ser humano não vemos erro algum nele. 

    1. Não se trata de alvejar os

      Não se trata de alvejar os evangélicos. O fato de a chinesa em questão ser evangélica não é a questão. O problema com a política americana é que ela era pautada por um falso moralismo que só servia como demagogia para cometer os crimes que os americanos sempre cometeram contra outros povos. Ou seja, ela pagava de boa cristã para as massas nos Estados Unidos, enquanto roubava tanto quanto podia. Essa é a mesma história que a gente conhece da nossa moralizante oposição de direita no Brasil hoje, a cara pública que os coxinhas golpistas não renegam, por ignorar que eles são sujos, corruptos e hipócritas até não mais poder. Essas observações valem tanto para o Eduardo Cunha, evangélico e corrupto (um falso moralista do pior quilate), quanto pro Aécio Neves, que pagou de bom moço e rapaz responsável com toda a blindagem que a mídia fornecia de suas maracutaias.

  14. É tudo pose

    Desconfio muito de quem vive invocando deus e citando a biblia. Esses são os piores. Superficiais, tolos e venais. Se deus existe mesmo (coisa que eu duvido), vai mandar todos eles pro inferno, e eles nem se dão conta disso. Talvez por que não sejam crentes de verdade. Estão só fazendo pose.

  15. Eles são cegos, pois são

    Eles são cegos, pois são hipócritas e não percebem a trave que lhe cegam os olhos. O governo americano é tão ou mais corrupto que qualquer outro do mundo, tem até um livro, que me esqueci, que diz que os EUA foram construídos à base de corrupção e lavagem de dinheiro. O que eles querem é que somente eles possam explorar e roubar o mundo à vontade impunimente, aos aliados tudo de bom, para os países dependentes as sobras, e aos inimigos todo o rigor da lei. Eles obrigam os inimigos a cumprirem rigorosamente leis e tratados internacionais, enquanto eles não cumprem nada, e às vezes nem se submetem a eles, como é o caso do Tribunal Penal Internacional.

    Eles só conseguem isso, porque a mídia ocidental é totalmente conivente com isso, é uma relação simbiótica, onde eles a protegem os interesses dos grandes conglomerados midiaticos, e os grandes conglomerados midiaticos protegem seus interesses, estimulando a imposição de sua agenda, e não divulgando nada que os prejudique e vice e versa.

    Agora quando digo EUA, é algo muito maior do que o povo americano, que não sabe de nada que acontece, é algo muito maior que envolve um poder oculto, que pretende impor sua agenda e seu domínio total e quando eles o conseguirem a população do mundo vai sofrer, pois eles veem os de fora como gado.

  16. Globo

    A Globonews não acredita em nada disso que foi contado.  Os Marinhos na sua organização, que se espelha na terra do seu tio o SAM, não toleram corrupção nem hipocresia.

    1. O Grupo TIME LIFE de Henry

      O Grupo TIME LIFE de Henry Luce teve enorme importancia na formação da TV Globo.

      Claire Booth Luce, esposa de Henry Luce foi Embaixadora dos EUA no Brasil.

  17. É isso. Tem muito brasileiro,

    É isso. Tem muito brasileiro, que nem mesmo fala esse inglês todo, que está doido para roubar o pão dos brasileiros em troca de migalhas. Sobretudo o pão pre-sal.

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