Morre Sérgio Rodrigues, a alma do design brasileiro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Sérgio Rodrigues morreu ontem, aos 86 anos, no Rio de Janeiro, em sua casa, em Botafogo. Sem notícias oficiais sobre a causa da morte, pode-se apenas dizer que Sérgio Rodrigues lutava contra um câncer pulmão há alguns anos e tinha a saúde já debilitada.

Há alguns anos atrás, quando pedi que definisse seu trabalho, Sérgio Rodrigues declarou que “críticos poderão definir meu trabalho” e, como cliente de si mesmo, fazia exatamente o que o coração mandava, “o que me causa prazer estético”. Sérgio se pautou na busca de uma identidade brasileira, em seu amor pela madeira e “rejeitando qualquer modismo e tendência” que porventura tentassem impingir.

A entrevista foi feita para realização de matéria para o Anuário Casa&Mercado, e nunca mais o deixei de fora de meu radar de preferências. O amor deste carioca pelas formas e seu mergulho diuturno na brasilidade alçaram o país ao mapa do design mundial.

Sérgio Rodrigues nasceu em 1927 e formou-se pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil. Finalizando o curso, em 1952, foi parte da equipe responsável pelo projeto do Centro Cívico em Curitiba. Trabalhou em São Paulo, por pouco tempo, na Forma, voltando ao Rio e, ato contínuo, fundou a Oca, um misto de loja, galeria de arte e estúdio, onde permaneceu até 1968. Em 1956 abriu indústria no Rio, a Taba.

A poltrona Mole foi o marco do seu trabalho e do design nacional. Em 1961, venceu o IV Concurso Internazionale Del Móbile em Cantú, na Itália, batendo 438 concorrentes de 27 países. A Mole fez tanto sucesso que, por um período, tirou de outras criações mais impactantes em suas soluções de design, o devido reconhecimento.

A questão do meio ambiente foi um traço incorporado aos projetos. “Quando comecei a criar, nem se falava em ecologia”, diz ele, “por isso o uso de madeiras nobres, como o jacarandá, era indiscriminado, abusivo mesmo”, completou, mas em um tempo que a oferta desta madeira era grande, o que dava um sabor especial ao projeto. “Só muito mais tarde tomamos consciência do ecologicamente correto”, completou ele.

Em 2000 foi inaugurada a LinBrasil, a empresa que produz e comercializa suas peças e, no ano de 2004, Sergio recebeu a condecoração Rio Branco, em Brasília, e foi tema de uma exposição individual na galeria R 20th Century, além de receber homenagem na Galeria Espasso, ambas em Nova York.

O grande designer sempre imprimiu a marca da brasilidade em sua obra, o que foi registrado em várias publicações nacionais e internacionais. E seu trabalho o coloca em evidência como um designer do Brasil, e não somente no Brasil, o que carrega um significante bem mais amplo. Sua busca constante da expressão e forma baseada em seus próprios valores, o tornam um mestre de mais de uma geração de designers. O tornam um exemplo. Salve, Sergio!

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. Ha algum tempo uma revista

    Ha algum tempo uma revista francesa citou o Sérgio Rodrigues entre os maiores designers de cadeiras (chaise ou fauteuil mole) do século XX. Sua maior criação, a mais conhecida, ficara para sempre entre os objetos de desejos dos que admiram os belos moveis que duram gerações.

  2. O mais brasileiro dos designers brasileiros de móveis

    Amo a Poltrona Mole. Um clássico. FHC tem uma no seu Instituto e tirou uma foto, há alguns anos, sentado de lado, fazendo uma pose malandra.

    Contudo, das poltronas de Sérgio, a minha preferida é a da primeira foto deste post, com o próprio sentado. Ela é espetacular. Superconfortável, como se fosse estofada. Além de ser linda. Pena que, como disse o Gilberto, o preço seja estratosférico. Mas é obra de arte e vale.

    Suas entrevistas, em geral, eram divertidas, com histórias e tiradas engraçadas. Dizia que a Poltrona Mole era boa para cachorro pois ao chegar na fábrica para o primeiro teste, encontrou um cachorro dormindo gostosamente no protótipo. Anos mais tarde, em Hollywood, em visita à casa de Audrey Hepburn, que possuia um conjunto da série Mole, deu de cara com a cabra de estimação da atriz aboletada na poltrona. Logo, concluiu, a Poltrona Mole é boa para gente, para cachorro e também para cabras.

    Foi o mais brasileiro dos designers brasileiros de móveis.

  3. Vamos honrar seu legado

    Seu nome está sem dúvida entre aqueles que deram uma “cara” ao design brasileiro. 

    Seu domínio sobre a madeira e suas técnicas, talvez só encontre paralelo em Zanine Caldas e Joaquim Tenreiro.

    Meu coração se divide entre os três. A principal diferença é que Sérgio e Tenreiro eram sobretudo artistas. Suas peças são quase únicas pois mesmo produzidas em escala, não terão preço para atingir um público amplo. 

    Zanine foi o único dos três a conseguir, além de qualidade, escala e preço para seus projetos. Com isto atingiu um público bem maior.

    Vale lembrar ainda Geraldo de Barros, e seu lindo projeto com a Unilabor, embora suas belas criações não atinjam a sofistificação de execução do trio de nossos “mestres marceneiros”.  Quem aprecia trabalhos em madeira, saberá bem do que eu falo.

    Enfim, são todos grandes mestres, desbravadores de caminhos. Fica nas nossas mãos e dos jovens designers brasileiros, honrar seu legado.

    Obrigado Sérgio Rodrigues! 

      

     

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