O agronegócio e o comércio mundial

Jornal GGN – A vocação brasileira para o agronegócio é muito criticada por outros setores, de bens manufaturados e industrializados, que temem que o país esteja condenado a ser um eterno exportador de commodities.

Mas sua importância é enorme e não pode ser ignorada. Em 2014, o Produto Interno Bruto do agronegócio foi de R$ 1,178 trilhão, 21,3% do total. Apenas a pecuária registrou R$ 378,3 bilhões de PIB. E a agricultura outros R$ 800,6 bilhões.

Além disso, o setor é fundamental para reduzir o déficit da balança comercial.

Em 2014, o agronegócio teve um superávit de US$ 80,13 bilhões na balança comercial. Os demais setores tiveram déficit de US$ 84,09 bilhões. O Brasil ainda ficou deficitário em US$ 3,96 bilhões, mas sem o agronegócio o resultado teria sido muito pior, acreditam especialistas presentes no 63º Fórum de Debates Brasilianas.org.

 

Para o secretário de Produção e Agricultura Familiar do Estado do Mato Grosso do Sul, Fernando Mendes Lamas, o agronegócio é importante na formação de um saldo menos negativo para o Brasil. Mas algumas questões – como barreiras não tarifárias e a sanidade vegetal e animal – ainda emperram o acesso a mercados.

“O Brasil tem um potencial enorme para ocupar mercados e prover o mundo de fibras, alimentos e energia. Mas temos desafios. Prioritariamente, a questão sanitária, tanto no produto de origem vegetal quanto animal. E no mesmo nível de importância, o desafio de desenvolver a tecnologia”, disse.

Aumento de produtividade

Mesmo assim, o Brasil registrou aumentos substanciais de produção nos últimos anos. E isso se deu muito mais por um aumento de produtividade do que pela abertura de novas áreas.

“A evolução da área plantada foi de 37,3 milhões de hectares em 1976/1977 para 57,4 milhões de hectares em 2014/2015, um crescimento de 54%. No mesmo período, a produção deu um salto de 46,9 milhões de toneladas para 200 milhões de toneladas, um crescimento de 326%. Ou seja, crescemos muito mais em produtividade. Em 76/77 a produtividade era de 1.258 kg por hectare, agora é de 3.486 kg”, explicou Lamas.

Mercados consumidores

Mas toda essa produção depende muito do mercado internacional. 41% do algodão produzido no Brasil em 2014 foi exportado. Assim como 53% da soja, 53% do café, 28% do milho, 32% da carne de frango, 21% da carne de boi, 15% da carne de porco, 58% da celulose, 68% do açúcar, 11% do álcool.

E a previsão do Ministério da Agricultura é que, até 2023, todos os produtos, com exceção do farelo, óleo, carne bovina e carne de frango, produzam mais para exportação do que para o consumo interno.

O principal destino dos produtos agropecuários brasileiros é a China. E a desaceleração do crescimento chinês traz apreensão. “42% de tudo que o MS exporta vai para a China”, detalhou Fernando Lamas. “Então, nesse momento, nós estamos preocupados”.

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Para Rui Daher, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola e colunista da Carta Capital e do Jornal GGN, a queda não virá porque a China vai parar de consumir. “Estava previsto. Há anos se pedia que a China diminuísse o crescimento de dois dígitos para 7,5%. Esse dia chegou e está todo mundo apavorado”.

Cotações desfavoráveis

Para Daher, mais grave do que uma eventual redução de consumo pela China, é a influência do mercado financeiro nos preços. “A cesta de preços de commodities caiu em um ano 25%. Isso que é preocupante”, disse. “Bastou os Estados Unidos produzirem bem, sem nenhum desastre climático, Argentina idem, Brasil idem, para os estoques subirem e os preços caírem. O que está salvando é a alta do dólar”.

Enquanto isso, o setor bancário está limitando o acesso ao crédito. “Os bancos vivem desse tipo de situação. É um mundo diferente daquele que se vê. Ainda há uma necessidade de financiamento do crédito rural. Isso foi limitado. Os juros ainda são bastante subsidiados, mas há uma preocupação”.

Os déficits do setor

Daher lembrou que não é todo o setor agropecuário que consegue fazer superávit na balança comercial.  “Nesse prato da balança, não é colocada essa dependência de insumos agrícolas”, afirmou.

Entre 1984 e 2014, o consumo de fertilizantes cresceu quatro vezes, passando de 8 milhões de toneladas para 32,2 milhões de toneladas. Para se ter noção da curva de crescimento nos últimos dez anos, em 2004 foram 22,8 milhões de toneladas.

Mesmo assim, a produção nacional, prevista para crescer com a privatização, manteve-se estagnada e até registrou baixas. Em 2004 foram 9,8 milhões de toneladas. Em 2014 8,8 milhões. O gasto que era de US$ 3 milhões chegou a US$ 5,9 milhões, ou seja, dobraram os gastos com importações.

As importações de agrotóxicos (herbicidas, inseticidas, fungicidas, etc) tiveram uma alta ainda mais agressiva. No período de 2004 a 2014 o gasto passou de US$ 0,8 bilhão para US$ 4,5 bilhões.

A questão ambiental

Daher reforçou o dado de Lamas sobre o aumento de produção pela produtividade, mas questionou a motivação.

“É verdade dizer que crescemos por produtividade. Sem dúvida. Crescemos em produtividade muito mais do que em expansão de área. Mas não foi porque nós temos uma consciência ecológica. Foi porque é muito mais caro abrir área do que se tornar mais produtivo”.

A pauta de exportação e a cadeia de valor

Na pauta de exportação do agronegócio, o complexo soja representa 32%, o complexo carnes 18%, o complexo sucroalcoleiro 11%, os produtos florestais 10%, o café 7%, cereais e farinhas 5%, couros 4%, fumo 3%, sucos 2%, fibras e têxteis 2% e demais produtos 6%.

O PIB do agronegócio é composto 31% pela área de distribuição, 28% pela agroindústria, 12% pela área de insumos e 29% pela agropecuária.

“Por que a agropecuária e a agricultura são tão importantes? Porque é o que nós temos”, arrematou Rui Daher.

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Redação

1 Comentário

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  1. Boi de canga ou parelha são coisas do passado!

    O que os detratores da pauta de exportação brasileira se esquecem é que Boi de canga ou parelha são coisas do passado, ou seja, que o agronegócio é muito mais do que um setor de produção primária, é um setor que pode promover modernização tecnológica.

    Quando se visita uma feira agropastoril a maior parte das pessoas ficam tremendamente impressionadas pelas máquinas agrícolas que se utilizam nos dias atuais, a inovação tecnológica é algo expantoso que supera muitas vezes a industria automobilística tradicional.

    Vou dar um exemplo que vivencieis há mais de 20 anos. Quando por volta de 1989 visitei na França o antigo Centre National du Machinisme Agricole CEMAGREF – (atual IRSTEA) os pesquisadores deste centro já estavam estudando a possibilidade de movimentação de máquinas agricolas de grande porte de forma autônoma georefernciadas por GPS, ou seja, colhetadeiras ou outras máquinas agrícolas que trabalhariam de forma autonoma sem a necessidade de um piloto. Vejam, a agricultura francesa há vinte e seis anos já pensava o que os fabricantes de automóveis começaram a pensar há menos de quinze anos. 

    Esta observação mostra que a agricultura, que não é mais feita por parelha de bois, pode estar na linha de frente da pesquisa tecnológica. Estou falando na parte de máquinas agrícolas, porém se falarmos em termos de OGM e outras tecnlogias de ponta esta atividade pode ser um vetor de desenvolvimento tecnológico.

    Agregando também a estas atividades, a agricultura orgânica ou a agricultura familiar, há uma gama de pesquisas nos mais diversos ramos das ciências que são ainda pouco desenvolvidas devido um grande espírito de negação a ciência de parte dos seus produtores (negação a ciência externa, pois para uma boa agricultura orgânica ainda se utilizam métodos semi-empíricos de geração de tecnologia.

    Enfim, achar que a agricultura não gera valor agregado é desconhece-la e ficar numa postura retrógada.

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