O Comando Geral dos Trabalhadores e a caixa preta do golpe

Enviado por Mara L. Baraúna

A caixa-preta do golpe de 64

Por Solange Bastos e Raquel Boechat

“Quem foi buscar Jango em Montevidéu fui eu. Era eu o piloto do avião do Jango a ser derrubado pela Operação Mosquito”. A fala é de Paulo de Mello Bastos, ex-piloto da Varig, hoje com 95 anos. Sabendo da conspiração de oficiais da Aeronáutica para matar João Goulart em 1961, evitou que o avião fosse interceptado fazendo duas manobras e trouxe o sucessor constitucional de Jânio Quadros vivo para o Brasil.

Como um dos integrantes e principais líderes do temido Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) – central sindical fora da estrutura oficial da Consolidação das Leis do Trabalho -, Mello Bastos participou diretamente das principais lutas que antecederam o golpe militar entre 1962 e 1964.

No agitado cenário político do começo dos anos 60, lutava-se sobretudo pelas “reformas de base”. A principal, como hoje, era a reforma agrária. Mas se reivindicavam também a reforma da educação, a reforma urbana, o voto universal (militares, analfabetos e prostitutas não votavam), a reforma fiscal e outras mais.

O CGT tinha representantes das várias federações e confederações sindicais em sua assembleia permanente, em que as decisões eram tomadas por consenso. Tinha comunistas, trabalhistas, nacionalistas de vários matizes, moderados e radicais. Apesar do que alegavam os militares golpistas, não obedecia ao presidente da República. Jango, em muitos momentos, tentou neutralizar o CGT.

Mas os setores mais reacionários das Forças Armadas tinham uma teoria delirante do risco de uma “república sindicalista”, algo como um pacto comunista-sindicalista-soviético-russo entre o CGT e o presidente Jango. E para evitar o “caos”, deram o golpe militar e instituíram uma ditadura que, sabemos, durou vinte anos.

Dez anos antes, em 1954, o padrinho político de Jango, Getúlio Vargas, tinha se suicidado porque não suportou a pressão dos grandes interesses internacionais contrariados com a formação da Petrobrás, da Eletrobrás, etc.

A BUSCA DA CAIXA-PRETA

Essas e outras revelações estão no livro “A Caixa-Preta do Golpe de 64 – A República Sindicalista que Não Houve”. O livro é o resultado da busca empreendida pelo autor do que seria a caixa-preta daquelas lutas. Acompanhado pela filha jornalista Solange e o neto cineasta Miguel, Paulo de Mello Bastos procurou sete companheiros da época. O resultado trouxe muitas revelações, algumas que nem ele próprio sabia.

Hércules Corrêa, por exemplo, ex-tecelão e deputado comunista, revelou como ele e o líder portuário Oswaldo Pacheco compraram clandestinamente armamentos e distribuíram pelos portos do norte e nordeste do país, para uma possível reação dos trabalhadores ao golpe militar.

Waldir Pires, ministro da Defesa no governo Lula, contou como fugiu de Brasília depois do golpe, junto com Darcy Ribeiro, se escondendo numa moitinha do aeroporto durante a madrugada até aparecer um teco-teco que o deputado Rubens Paiva arrumou. O mesmo Rubens Paiva que foi assassinado no DOI-Codi do Rio de Janeiro sete anos mais tarde.

A Caixa-Preta do Golpe de 64 foi lançado no Rio de Janeiro em setembro de 2006, no Espaço Cultural Palácio Guanabara, ao lado de onde o então governador Carlos Lacerda mandou construir barricadas com medo dos fuzileiros navais do almirante Aragão.

Baixe e leia o livro!! http://www.familiabastos.net/files/caixa_preta_texto.pdf – também à venda na editora e livrarias.
Copyleft© 2006, Paulo de Mello Bastos
Permitida a reprodução total ou parcial deste livro, desde que sem fins comerciais, citando o autor e com a transcrição desta nota.

Um vídeo de 16 minutos, A Busca da Caixa-Preta, foi feito pela editora que pretende completar um documentário. Saiba mais em www.familiabastos.net

Redação

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