O desalento da filha de Genoíno

Sugerido por Gilberto Cruvinel

‘Esperança eu não tenho, meu pai não vai durar na prisão’, diz filha de Genoino

MARINA DIAS
DE SÃO PAULO
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA – 01/12/2013 – 03h15

Miruna Kayano Genoino se lembra com detalhes da tarde em que seu pai reuniu a família e comunicou: “Lula pediu para eu ser presidente do PT e vou fazer isso porque esse projeto precisa funcionar”. O ano era 2002 e Luiz Inácio Lula da Silva tinha sido eleito presidente da República.

Filha do deputado federal licenciado José Genoino, a professora de 32 anos diz que o pai não tem arrependimentos. O petista foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no mensalão e, segundo Miruna, acredita que, “se esse é o preço que tem que pagar para que o projeto do governo Lula e Dilma funcione, ele paga”.

Genoino foi preso em 15 de novembro e levado ao Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, para cumprir pena em regime semiaberto. Após uma semana, teve uma crise de pressão alta, foi levado ao hospital e de lá seguiu para a casa da filha Mariana, onde espera o Supremo Tribunal Federal analisar seu pedido de prisão domiciliar.

“Meu pai não tem esperanças de que isso aconteça”, disse Miruna à Folha. Leia a seguir trechos da entrevista.

  Adriano Vizoni/Folhapress  
Retrato de Miruna Genoino, filha de Jose Genoino, preso no processo do mensalão, durante a primeira entrevista exclusiva que ela concede
Miruna Genoino, filha de Jose Genoino, preso no processo do mensalão, durante a primeira entrevista exclusiva que ela concede

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Julgamento e prisão
O momento mais difícil para o meu pai foi quando ele foi condenado. Durante o julgamento ele tinha esperança de ser absolvido. [Os elogios de alguns ministros antes de condená-lo] só o deixavam mais irritado. Era como se fosse um afago para depois meter a faca. Isso, hipócrita.

A prisão não teve o elemento surpresa. Por um lado, quando chegou a notícia, conseguimos respirar. Estávamos vivendo uma situação insustentável com o cerco da imprensa, os repórteres e fotógrafos querendo tirar fotos de tudo. O que vivi como mãe não desejo a ninguém. Posso entender que queiram tirar foto dele se entregando, mas não entendo o desejo de tirar fotos de dois menores de idade indo visitar o avô [os filhos de Miruna têm 5 e 7 anos]. Quando chegou a notícia, foi quase “vamos começar com essa porcaria de uma vez”.

Preso político
Meu pai está proibido de emitir opinião, de dar entrevistas, e dizem que ele não é preso político. Então por que ele não pode falar? É preso político, sim. Meu pai foi condenado porque era presidente do PT.

Lembro da vez em que ele se sentou na sala com a gente e falou: “Olha, o Lula pediu para eu ser presidente do PT e vou fazer isso porque esse projeto precisa funcionar”.

Às vezes, eu penso que se a gente tivesse falado alguma coisa… Mas não, ele não tem arrependimentos. Nenhum. Ele fala que, se esse é o preço que tem que pagar para que o projeto do governo Lula e Dilma funcione, ele paga.

Saudade
Estou sentindo muita saudade dele, muita mesmo. Na semana passada foi a apresentação de dança da minha filha e só estava eu para assisti-la [chora]. E isso nunca mais vai voltar. Ele nunca mais vai ver essa apresentação.

É difícil porque tenho uma ligação muito forte com meu pai, e o que acontece com ele é como se estivesse acontecendo aqui [coloca a mão em cima do coração e chora ainda mais], como se ele estivesse dentro de mim. Aí a minha mãe vai tentando ajudar a gente. Ela fala: “Você não é ele”. Quando tive meus problemas pessoais este ano, ela também falava para o meu pai: “Você não é ela, calma”.

Doença
Em julho deste ano meu pai estava com minha mãe e meus filhos em Ubatuba [litoral de São Paulo] e passou mal [foi submetido à cirurgia para corrigir uma dissecção na aorta]. Eu estava viajando. Faço mestrado na Argentina, e passei a noite no avião sem saber se meu pai estava vivo ou morto.

O que mais dói é que foi tão difícil o que nos aconteceu naqueles dias, meu pai tinha só 10% de chance de sobreviver e, graças a Deus, ele venceu. Agora questionam se a gente está usando a doença dele como estratégia. Isso é muito duro porque, se eu pudesse escolher, mesmo com meu pai preso e a gente longe dele, se ele estivesse bem de saúde, eu escolheria isso.

‘Querem nos destruir’
Só não larguei o mestrado por causa dele. Soube da aprovação dias depois da condenação [novembro de 2012]. Ele me disse: “Querem nos destruir e você não pode permitir. Você vai continuar lutando e fazendo as suas coisas porque não podem nos apagar”.

Se você me perguntar quem é o sujeito do “querem”, de cara vou falar que a mídia teve muito a ver com isso. Meu pai teve muitas decepções. Mas com a mídia ela foi devastadora, o coração dele começou a rasgar ali. Ele tem uma mágoa profunda, uma dor com tudo o que é publicado. Quando os jornalistas ficam lá fora de casa, essas manchetes, essa agressividade, esse recorte da realidade é um punhal para ele.

Vontade de morrer
Depois da cirurgia, meu pai se perguntou: “Por que a vida não me levou?” Ele não tinha medo de morrer, mas se questionou muito. Na época da ditadura, ele não tinha nada a perder, mas hoje ele tem os filhos, os netos e minha mãe.

Solidariedade
Lula, Dilma e o PT sempre tiveram solidariedade com o meu pai. E eu só estou falando isso aqui porque se tiver uma pessoa –e só uma– que ache que ele esteja fingindo e, depois de ler essas minhas declarações, mude de ideia e se convença que ele está mesmo doente e precisa de cuidados, para mim já vai ser suficiente.

Laudo médico
Meu pai passou mal na Papuda e precisou ir para o hospital em Brasília. Ele teve uma alteração de pressão que durou dois dias. Nós tínhamos quatro laudos dizendo que a situação era grave. Quando chegou a junta médica do STF já era o final de dois dias no hospital. É claro que a pressão tinha baixado. Ali ele estava medicado e com a família.

Minha pergunta é: esses médicos foram na Papuda? Foram ver a alimentação do meu pai na prisão? Viram que na Papuda não tem plantão médico noturno? Foram ver? Não foram. E eles se sentiram autorizados a dizer que meu pai não precisa ficar em casa.

Companheiros de cela
Já falei que se eu tivesse mil vidas e durante todas elas eu ficasse dizendo “obrigada” não seria suficiente para agradecer ao José Dirceu e ao Delúbio [Soares] por tudo o que eles estão fazendo pelo meu pai. Porque se teve alguém que cuidou do meu pai foram o Zé Dirceu e o Delúbio.

Eles foram atrás de água mineral para o meu pai parar de beber água da torneira. Insistiram e a polícia levou. É por isso que meu pai deve querer ficar na Papuda caso o STF não dê a domiciliar. Eles não querem se separar.

Próximos dias
Esperança eu não tenho. O único dia em que minha mãe perdeu a cabeça foi quando ele passou mal e o médico disse que ele precisava ir ao hospital, mas o juiz não autorizou. Ela gritou, chorou, ficou nervosa, se descontrolou.

 

 

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Revoltante!

    Toda esta covardia que estão fazendo com José Genoíno é revoltante.

    A condenação injusta, a crueldade da prisão, o regozijo dos farsantes… 

     

  2. Silêncio dos Ministros

    É sadismo o que está acontecendo. O que não entendo é o silêncio dos outros Ministros, estão coniventes com a sandice do Min Barbosa? E o Senado? É desumano. Assistiremos a essa afronta aos direitos e os desmandos do Min Joaquim até quando? O poder emana do povo ou dele?

  3. Todo esse calvário do Genoíno

    Todo esse calvário do Genoíno é música para os ouvidos da imprensa bandida e para a oposição. Essa imprensa que nunca esteve preocupada com a verdade dos fatos, seu comprometimento é apenas com o que seus patrões pensam e querem. Sei que o sofrimento do preso é grande, porém o que poucos pensam é no sofrimento da família que é atroz, às vezes maior até que o do condenado e falo não só do Genoíno e dos outros presos políticos, mas de qualquer outro preso. O sofrimento já é grande por seu ente querido estar preso, somado a preconceitos e discriminações por parte da sociedade é de dar dó. Acho que a oposição sabe bem disto, talvez seja por isso que se blindam tão fortemente para não serem pegos pelas própras cacas que fazem, apesar de serem cacas imensas.

  4. Eu fico querendo entender por

    Eu fico querendo entender por que ela ainda dá entrevistas para o mesmo pessoal que massacrou o pai dela. 

    É mais um troféu a ser exibido pela Falha.

    Eu simplesmente não entendo.

    1. Mordaça da ditadura barbosista

      Apesar do veículo, concordo nesse ponto com vc, a Mônica Bergamo tem moral prá isso, trata-se de uma grande jornalista, sabemos disso, torço para que ela publique outras matérias com parentes dos presos políticos, uma vez que os mesmos foram amordaçados por Barbosa, na ditadura a palavra mágica para massacrar era “terrorista” e agora é “mensaleiro”, os presos são os mesmos, a raivosa e atrasada elite é a mesma, o modus operandi é o mesmo, parte da população desinformada por causa da censura imposta pelo impressalão tmbm,,,..não mudou nada.

      </p />
</p><p>“Não manifestar opiniões e/ou expressões pessoais à mídia em geral por meio de entrevistas ou coletivas.” </p>
<p>Art. 5, inc. IX da Constituição Federal de 88</p>
<p>Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:<br />
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;</p>
<p>Quer dizer os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal são desrespeitado pelo Ministro Joaquim Barbosa, para José Genoino dane-se os direito, o que vale é "AS LEIS DE BARBOSA". Apesar de "*¹Vários estudiosos de Direito consideram essa exigência anticonstitucional", mesmo assim Ninguém faz nada.</p>
<p>QUE PAÍS É ESSE? </p>
<p>*¹Paulo Moreira Leite.

    2. COMPANHEIRO

      Companheiro, no meio do lodaçal todo ainda tem uma Mônica Bérgamo e a Miruna muito sabe bem a quem pode dar uma emotiva entrevista. É preciso ocupar espaço, mesmo que seja no pig. Abrs.

  5. Mãe de Dirceu não sabe que filho está preso

    O que mais me revolta é o sofrimento imposto às famílias:

     

    Mãe de Dirceu não sabe que filho está preso
    By  Por Redação •  msn.com
    Lilian Venturini – O Estado de S. Paulo

    Quase três semanas após a prisão do ex-ministro José Dirceu, a mãe do petista, Olga Guedes da Silva, de 93 anos, não sabe que o filho está preso. Por escolha da família, foi dito a ela que Dirceu está viajando.

    Um post publicado nesta segunda-feira, 2, no blog oficial de Dirceu, relata a visita do irmão do petista, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, na penitenciária da Papuda, onde Dirceu (o petistas) e outros dez condenados cumprem pena por envolvimento no mensalão. No texto, escrito pela equipe de comunicação de Dirceu, Luiz Eduardo disse que a primeira pergunta do ex-ministro foi pela mãe. “Não se preocupe, Zé, ela está bem. Sabe que você não vai passar Natal e Ano Novo em Passa Quatro, porque estará em viagem”, respondeu. O encontro ocorreu no dia 29 de dezembro.

    Ainda de acordo com o texto, dona Olga, como é conhecida, está lúcida, “mas já começa a confundir alguns fatos”. Antes mesmo da prisão de Dirceu, os outros filhos preferiram que a mãe não mais assistisse a noticiários.

    Após a visita ao irmão, Luiz Eduardo disse que Dirceu estava bem disposto e ansioso para ir ao regime semiaberto. O ex-ministro ainda aguarda também a decisão sobre o pedido para trabalhar como gerente em um hotel de Brasília. A Vara de Execuções Penais do Distrito Federal vai analisar a solicitação.

    Equipe. Antes de ter a prisão decretada, no dia 15 de novembro, Dirceu adaptou seus negócios. O ex-ministro mantinha uma consultoria em São Paulo, que chegou a ter 15 funcionários. Parte deles foi dispensada, mas três jornalistas continuam atualizando o blog do ministro.

    Source: http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/mensalao/story.aspx?cp-documentid=261282226

  6. Ex-ministro quer usar blog como ‘QG’ de sua defesa

    Dúvido muito que a “justiça” vá permitir que Dirceu se expresse por qualquer meio que seja:

    Ex-ministro quer usar blog como ‘QG’ de sua defesa
    By  Por estadao.com.br •  msn.com
    Quando deixar o Complexo Penitenciário da Papuda para cumprir o regime semiaberto, o ex-ministro José Dirceu pretende transformar seu blog na peça de resistência de sua defesa. Segundo seu advogado criminalista, José Luís de Oliveira Lima, não há restrição legal para isso.

    O que ainda não está definido, e depende da petição ao juiz, é qual o nível de liberdade que Dirceu terá para organizar eventos políticos. “Não há vedação de que ele tenha atividade política. Fora do presídio não há cerceamento ao direito de expressão”, afirma o advogado Pierpaolo Botini, advogado do ex-deputado petista Luiz Carlos da Silva – o Professor Luizinho, na fase inicial do julgamento do mensalão.

    Enquanto cumprir a pena, porém, José Dirceu não poderá se afastar mais de 100 metros do local onde estiver trabalhando, fora do presídio de Brasília.

    O ex-ministro revelou para amigos que também pretende fazer um curso de inglês e um mestrado em Direito, iniciativa que poderia levar a uma redução da pena. Nos primeiros meses do ano que vem, ele retomará as gravações de um documentário sobre sua vida. / P.V.

    Source: http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/ex-ministro-quer-usar-blog-como-qg-de-sua-defesa

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