O Festival Choro Jazz sob o vento de Jericoacoara, por Aquiles Rique Reis

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Lá vai o ônibus coalhado de músicos para Jericoacoara. O vento dominical o conduz. A ventania era ainda forte quando entramos na vila. Graças ao vento, amanhecemos num lugar majestoso, à beira-mar. Lá, na terça-feira, começaria a sexta edição do Festival Choro Jazz de Jericoacoara.

Tudo “culpa” do Capucho, um empreendedor à frente do tempo, responsável pela ideia genial de levar música brasileira de qualidade a um lugar aparentemente tão distante, onde o vento agita a calmaria e os coqueiros vencem a areia marinha, transformando o deserto cultural em oásis.

Oficinas, nas quais alguns dos músicos convidados davam aulas aos jovens de Jeri e também a brasileiros vindos de outros estados e alguns estrangeiros, eram um dos diferenciais do festival. Nelas se destacou um moço local, de 26 anos: Jânio Silva. Sempre participando ativamente das oficinas de arranjo, ele, hoje, já é um compositor e arranjador reconhecido por alguns de seus mestres: André Mehmari, Laércio de Freitas, Gilson Peranzzetta e Cristovão Bastos.

Foram dois shows por noite na pracinha de Jeri: louvo aos quatro ventos os improvisos dos violões do Duo Taufic, e louvo a ventania que deu asas às mãos do baterista Marcio Bahia.

Louvo a brisa marinha que nos arrepia os pelos diante do som dos violões do Duofel; e louvo o balanço que o vento emprestou aos choros tocados pelo sexteto Água de Moringa e também pelo craque do bandolim, Joel Nascimento.

Louvo a guitarra de Ricardo Silveira, que parece ser seu terceiro braço – irresistível; e louvo o vento de Jeri que fez Francois de Lima alçar voo em sua apresentação.

Louvo o pianista André Mehmari e o clarinetista italiano Gabriele Mirabassi – a apresentação deles foi a que mais me emocionou, junto com a de Ricardo Silveira; e louvo o pianista português Mário Laginha e seu Novo Trio.

Louvo a banda Choro Jazz, integrada por jovens alunos da escola de música de Sambaíba (pertinho de Jeri), outra iniciativa do Capucho; louvo a cantora Ana Cristina, que eletrizou a garotada na pracinha de Jeri; louvo as crianças da Filarmônica Israel Gomes, de Carnaíba, no sertão pernambucano – comovente.

Louvo João Donato, homenageado pelo festival por sua obra e por seus oitenta anos de vida. Ele que, com um quarteto de grandes músicos, contagiou o público.

Quem abre a última noite é o Só Alegria, uma das gratas surpresa do festival, junto com o Duo Taufic e o Bandão Choro Jazz. Este último, integrado por jovens músicos da cidade aperfeiçoados pelas oficinas do festival, encerrou o evento tocando arranjos escritos pelo Jânio Silva.

Findo o evento, relembro versos de “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto: É belo porque corrompe/ Com sangue novo a anemia/ Infecciona a miséria, com vida nova e sadia/ Com oásis o deserto, com ventos a calmaria.

E assim a vida segue em Jericoacoara, lugar onde o vento faz a curva e onde existe um oásis de educação, com sangue novo infiltrando-se ignorância adentro.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. jeri já é mágica em sua

    jeri já é mágica em sua beleza natural.

    imagine com esses craques aí apontados´pelo grande aquiles.

    deve ter se transformado num paraíso  do som.

    abraços a esses batalhadores da mpb.

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