O jogo da paz nas mãos de um estrategista experiente, por J. Carlos de Assis

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por J. Carlos de Assis

O governo turco, odiado por grande parte de seu povo, não perde por esperar. Talvez tenha que esperar por muito tempo porque faz parte da estratégia militar histórica da Rússia cozinhar o inimigo e trazê-lo para perto de casa e só então liquidá-lo. Foi assim com Carlos XII da Suécia, com Napoleão e com Hitler. Os mais notáveis comandantes militares russos, o Marechal Sucorov, que derrotou Napoleão, e Marechal Zhukov, que derrotou Hitler, ganharam suas medalhas mais significativas usando o recurso da paciência.

Já vimos que Putin é um estrategista cuidadoso e de extrema eficácia. Enquanto o ocidente instigava os nazistas ucranianos a tomarem o poder em Kiev, mediante financiamento aberto do Departamento de Estado norte-americano, ele preparava com astúcia a reincorporação da Crimeia como província russa estratégica. O aparato de informação ocidental ficou desorientado. Obama, com cara de tacho, não soube como reagir a não ser impondo um injustificado e ineficaz bloqueio seletivo contra a Rússia.

Chegará a hora em que a Turquia pagará pela derrubada do bombardeiro russo e pelo assassinato covarde dos dois pilotos. Porém, estejam certos que não será dentro do modelo a ferro e fogo norte-americano, que está destruindo três países que nada tinham a ver com o World Trade Center a pretexto de combater terroristas, com o resultado fantástico de multiplicar justamente a criação de milhares de terroristas no Afeganistão, no Iraque e no Paquistão, entre outros países árabes e não árabes,  e até a bucólica Bélgica.

Na verdade, ao contrário da Rússia que se limita a defender interesses estratégicos imediatos, os Estados Unidos querem dominar o mundo a qualquer custo. Washington tem sido a grande fonte de instabilidade em todo o planeta. Agindo sem qualquer escrúpulo, transferiu para os tempos atuais suas táticas fracassadas da Guerra Fria, quando perdeu duas guerras de larga escala, Coreia e Vietnã, mostrando sua incompetência enquanto hegemon. As grandes vitórias norte-americanas foram contra Granada, Haiti e Noriega!

Se tivesse a mesma assessoria belicista dos neoconservadores americanos, Putin poderia se precipitar em aplicar uma vingança justa contra Ancara e levar o mundo à beira de uma guerra global – nas vizinhanças de uma guerra nuclear. Felizmente, há sangue frio em Moscou. O ato terrorista do governo turco gerará suas consequências, mas no momento oportuno. Temos que aprender a compreender Putin. Ele é um estrategista. Apesar dos esforços norte-americanos para isso, ele evitará que o mundo mergulhe numa guerra nuclear.

J. Carlos de Assis é economista, jornalista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política brasileira e do recente “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigatvo”, ed. Textonovo, SP.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

30 Comentários

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    1. É a nostalgia da finada URSS,

      É a nostalgia da finada URSS, como se a Russia de hoje com seu capitalismo mafioso fosse herdeira do comunismo.

      A Russia é uma potencia há 300 anos, já era uma grande potencia ao tempo de Napoleão, um dos paises arbitrais do Congresso de Viena de 1814 portanto é perfeitamente natural que a Russia projete seus interesses pelo Oriente Medio,

      area de seu interesse estrategico secular, portanto não há porque endeusar Putin, ele faz o que é esperado de um lider de grande potencia, como fizeram a seu tempo Stalin e Kruschev.

      1. curioso que, sendo a Russia

        curioso que, sendo a Russia uma potência há 300 anos, ao escolher um paralelo para a ação de Putin se recorra justamente a Stalin e Kruschev, e não a qualquer outro Czar, por exemplo. Fruto da mesma nostalgia da URSS, eu diria.

        Mas tudo bem, se não há mais o comunismo a combater, nos sobra o “capitalismo mafioso”. O importante é bater na Russia. 

      2. shortsighted view

        Putin, ele faz o que é esperado de um lider de grande potencia, como fizeram a seu tempo Stalin e Kruschev.

        O que não foi foi feito pelo EUA desde o malfadado Irã-Contras. Parece que a estratégia estadunidense para a região é escrita pelos redatores dos Trapalhões!

        Putin realmente se sobresai no meio das nulidades que perambulam por ai.

      3. Se ele faz o que Stalin e

        Se ele faz o que Stalin e Kruschev fizeram compare com o que fazem os presidentes ou primeiros ministros de países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França. São todos bonecos a serviço das grandes corporações financeiras/militares que capturaram o comando desses paises. 

        Putin é grande no sentido de manter o Estado em funcionamento. Compare com o o Brasil onde vivemos um momento de transição de captura do Estado e Dilma não tem um mínimo de estatura para defendê-lo.

         

        1. Sua leitura está equivocada.

          Sua leitura está equivocada. As corporações privadas não dominam o comando estrategico dos EUA, elas geralmente são

          alinhadas com o Partido Republicano, cuja politica seria completamente diferente da que Obama executa hoje, os Republicanos defendem uma intervenção militar plena na Siria, com soldados on the ground, Obama é frontalmente contrario, até agora, a operações em terra. Essa sua leitura é simplista, o poder nos EUA é bem mais complicado do que dizer que algum grupo sozinho domina o governo. Roosevel foi Presidente por quatro mandatos e era frontalmente combatido pelas grandes empresas e banqueiros. O mesmo acontece nos grandes paises da União Europeia, o poder politico é difuso, tanto que há continuada alternancia de poder entre esquerda e direita, esse leitura de que um grupo de empresas manda no governo é

          de uma simplificação atroz.

          1. André, por favor me esclareça.

            Você quer dizer que a Guerra do Vietnã, a invasão do Iraque, a cagada no Afganistão, etc e tal, não houve a mão da  indústria bélica americana? Foram meramente decisões políticas?

          2. FDR

            Governou de 33 a 45.

            Tinha apóio ou seria um  naufrago como Carter.

            Em cinquenta anos o capitalismo mafioso-corporativo estadunidense se aperfeiçoou de forma exponencial na capacidade de obliterar as forças que apoiavam presidentes como FDR até culminar na dominancia bifamiliar, que esta prestes a retornar ao poder nos EUA.

          3. Mas os democratas bem gostam de uma guerra

            Lembre de Vietnã com Kennedy e Lyndon Johson. Carter com o Afeganistão em 1979. Clinton com Bósnia, Kosovo. Obama e suas covert ops. E vem aí o gatilho de Ms Clinton 

      4. capitalismo

        Ainda bem que o Capitalismo americano (e global) não é mafioso…

        Aliás, ele não é necessariamente na gênese, mas na sua propria antropofagia sempre acaba, inevitavelmente, tornando-se.

  1. O povo queima

    Repulsiva tal estratégia em qualquer nação poderosa do mundo moderno:

    ” faz parte da estratégia militar histórica da Rússia cozinhar o inimigo e trazê-lo para perto de casa e só então liquidá-lo”

    “Cozinhar o inimigo” no fogo ardente e cruel da população heróica e subjugada. Milhões viraram cinzas para que o o inimigo fosse liquidado. Isto é a beleza da guerra.

  2. Tenha a santa paciência…, é
    Tenha a santa paciência…, é muito romantismo….
    O Putin não vi rechaçar pq um avião não vale uma manobra gravosa dessas, e provavelmente pq eles de fato estavam em espaço aéreo turco. É só isso mesmo.

    1. Brilhantes seus conhecimentos

      Brilhantes seus conhecimentos em física. O avião russo estava no espaço aéreo turco, mas caiu no território sírio. Os pilotos se ejetaram e também caíram no território sírio. Deve ser o vendaval.

  3. Pequena correção
    Um piloto morreu e o outro foi salvo,na operação de resgate morreu um soldado russo,vi essa informação na Sputnik newns. Gostei do texto,acho que é opinião sim,mas o que não é opinião D.P.?
    Só para lembrar que a Ucrânia levou um golpe interno,como ocorreu no Paraguai e no Brasil em 1964 e que se tentou repetir em 2015.O candidato eleito pelo voto foi derrubado pelo atual governo da Ucrânia.
    Espero mesmo que o Putin seja sangue frio,pois é claro que os EUA/Turquia não são.Derrubar avião q não oferece perigo,que cumpre missão em outro país,não há justificativa mesmo se tivesse entrado no espaço aéreo,melhor dizer não há justificativa razoável.A derrubada ocorreu por outras razões eu acho,não foi a defesa do espaço aéreo turco não,pois para isso não precisaria derrubar avião algum,gastar material bélico,sabe quanto custa um míssil daqueles gente,só para derrubar o avião que supostamente entrou no espaço aéreo turco…

  4. Em um mundo  ideal o certo

    Em um mundo  ideal o certo seria EUA, Rússia e França fazerem uma coalizão contra o E. I e fortalecer o regime do Assad, solicitando aos rebeldes que baixassem a bola.

    No mundo real isso é impossível.

    Posso estar equivocado, mas o que vejo é que é preciso negociar uma transição na Síria, pelo menos a médio prazo. Nâo vejo condições de Assad continuar.

     

  5. Turquia isolada

    Com exceção do Arzebajão, o único vizinho não-inimigo que a Turquia tem (ou tinha) era a Rússia. Derrubar o caça russo foi uma atitude que, alguns analistas dizem, foi tomada pela oposição interna ao governo de Erdogan, que teria tudo a perder com uma agressão à Rússia. Dentro do partido governista turco, o AKP, há uma briga fraticida e pública que se opõe ao autoritarismo do presidente. De resto, essa análise faz algum sentido quando se olha a opinião pública internacional a respeito da derrubada dos caças russos, com ampla simpatia por Putin, que manteve até agora uma atitude de estadista. Até quando ele manterá essa disposição serena e calculista não se sabe. O fato é que dependemos dela pra não entrarmos numa WWIII.

  6. Perfeita análise. Para os

    Perfeita análise. Para os interessados, entrem no site RT en Espanol para compreenderem melhor a situação na Síria e na Turquia – tem vídeos das operações russas e o canal fornece informações ao vivo. Vale a pena.

  7. Confundir o que Zhukov fez com paciência..

    Confundir o que o Marechal Zhukov fez com jogo de paciência e não de estratégia dentro dos limitados recursos que tinha, é não conhecer a atuação de Zhukov na defesa de Moscou.

    1. A defessa de Moscou foi uma

      A defessa de Moscou foi uma das primeiras tarefas de Zhukov na Grande Guerra Pátria. Depois houve outras memoráveis batalhas, já como Marechal. O papel dele como um dos artífices da estratégia militar soviética demonstra, sim, que Zhukov, como outros militares russos, sabia do riscado e entre as qualidades necessarias para isso estava a paciência.

  8. Reação da Rússia sobre Su-24 estraga planos da Turquia

    Especialista: reação da Rússia sobre Su-24 estraga planos da Turquia

    Mihail Mokrushin, Sputnik Brasil

    A Turquia não alcançou o que buscava com o incidente do avião russo Su-24 por causa da reação da Rússia. Quem afirma é o analista político libanês Nabil Haitham.

    De acordo com o especialista, a Turquia não tomou a decisão antes de ter o apoio da OTAN e dos Estados Unidos. A ação tinha a intenção de dar um golpe moral na Rússia e desviar a atenção da luta contra o terrorismo, disse ele.

    “Eu acredito que o passo da Turquia acabou em fracasso, como os acontecimentos que tiveram lugar após o incidente não indicaram que a Rússia caiu em uma armadilha, mas ao contrário. As declarações russas após o incidente confirmam que Moscou estabeleceu com a Turquia e seus aliados um diálogo sobre as regras de “hostilidades” e forçou as autoridades turcas a tomar uma posição defensiva”, disse Haitham.

    O cientista político não descarta que a Rússia, em resposta ao incidente, pode partir para a escalada da ação militar na Síria e para alcançar resultados rápidos, especialmente em áreas próximas à fronteira turca.

    “A Turquia iniciou uma batalha perigosa com a Rússia, mas não controla os seus passos. Putin disse que o incidente terá consequências graves para a Turquia e acho que o presidente Erdogan vai pagar um preço alto”, concluiu.

    O Kremlim afirmou que não se fala sobre uma resposta militar contra a Turquia. Após uma declaração ríspida do presidente russo, Vladimir Putin, comparando as ações da Força Aérea turca com cúmplices do terrorismo, a Rússia cancelou a visita do chanceler Serguei Lavrov a Istambul. Além disso, a diplomacia russa recomendou aos seus cidadãos não visitar a Turquia por conta do aumento das ameaças terroristas.

    1. Tudo indica que a otan sabia

      O site do jornal “El Español” (http://www.elespanol.com/enfoques/20151125/81991802_0.html) publica o artigo do jornalista Ignacio Cemberro, especialista no Oriente Médio em que ele pergunta: “¿Quién tomó la decisión de derribar el martes el avión Su-24 ruso que supuestamente había penetrado en el espacio aéreo de Turquía? ¿El comandante en jefe de la Fuerza Aérea turca, general Abidin Unal, de 62 años, o el general de división del Ejército del Aire español Rubén García Servent, de 57 años?”, esclarecendo que o general Rubén, que comanda “Centro de Operaciones Combinadas (COAC)”, órgão operacional da OTAN localizada na base aérea madrilenha de Torrejón é o responsável por todas as ordens de ataque da OTAN, já que é o responsável por 90 radares da OTAN que controlam todo o espaço aéreo que vai dos Açores até a fronteira oriental da Turquia. “Se hay que derribar un enemigo soy yo quien toma la decisión final”. Me parece impossível que a OTAN não soubesse o que estava acontecendo e que não tenha concordado, quiçá dado a ordem de fogo…

  9. Muito mais coisa entre o sol e a terra…

    … que nossa vã filosofia…

    O Putinho tem muitas cartas na manga e os Irmãos do Norte estão correndo pelo quintal como um frango sem cabeça que escapou do cepo…

    “A friend, George Abert, suggested a reason why the Turks shot down the Russian fighter-bomber over Syria. The Russians have a technology that they recently demonstrated against the newest US missile cruiser and Israel’s US jet fighters. The technology shuts down the communication systems of hostile forces, leaving them blind. He wonders if the Russian aircraft was shot down in order to encourage the Russians to use its unknown technology whenever Russian aircraft are in the vicinity of NATO and Israeli aircraft. He bets that the US has sent every Raven and ELINT specialist to the area in hopes that Russia’s use of the technology will allow them to learn enough about the system to duplicate it or learn how to block it.”

     

    http://www.paulcraigroberts.org/2015/11/24/turkey-has-destroyed-russias-delusion-of-western-cooperation-paul-craig-roberts/

     

  10. nomes errados dos gen russos

    Quem derrotou Napoleao foi Kutusov.

    “Sucorov” nao existe. O nome do respeitado Gen do final do sec XVIII (antes da ascensao de Napoleao) eh Sovorov.

    Ve-se que o articulista conhece a historia militar russa no Wikipedia…..

  11. A Turquia com 14 milhões de Curdos …

    A Turquia com 14 milhões de Curdos não estão numa situação tão confortável assim, principalmente porque este povo é um dos poucos que todos os países confiam para lutar contra o EI. A Russia tinha restrições a passar armamentos ao PKK, será que isto vai mudar?

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