O papel da imprensa no novo cenário após a morte de Campos

Jornal GGN – Enquanto as duas principais forças políticas do país ainda analisam, cautelosamente, seus passos diante da inesperada morte de Eduardo Campos (PSB), a imprensa hegemônica faz o seu papel de tentar desequilibrar a balança conforme seus interesses.

O poder dissimulado no luto

Por Luciano Martins Costa

O tabuleiro da política brasileira começa a se reorganizar, mesmo antes que sejam compostos os restos mortais do ex-governador Eduardo Campos para a cerimônia fúnebre. Ainda sob o efeito da tragédia e do espanto, as duas forças hegemônicas do sistema partidário fazem os primeiros movimentos para obter o máximo proveito da tragédia, sem que pareçam estar interessadas no espólio do candidato desaparecido.

O que vai na cabeça dos políticos é parte do mistério insondável que encobre a maior das paixões humanas – o desejo de potência. Portanto, pode-se apenas fazer conjecturas sobre o propósito que se oculta nas declarações e nas iniciativas que vêm a público.

Mais simples é observar como a imprensa, na qualidade de instituição que personifica o desejo de poder de uma classe especial de cidadãos, tenta se manter como protagonista relevante nesse jogo, sem no entanto explicitar seus interesses.

Para os dois extremos em que se divide a política nacional, a situação é clara: ao Partido dos Trabalhadores e seus aliados interessa que Marina Silva, provável substituta de Eduardo Campos na cabeça de chapa do Partido Socialista Brasileiro, continue sendo Marina Silva, o que equivale a dizer que ela tem potencial para reduzir o número de votos nulos e em branco, principalmente entre os eleitores mais jovens, e canibalizar o patrimônio do senador Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira, mas sem ameaçar as chances de Dilma Rousseff.

Para o PSDB, trata-se de usar Marina Silva para assegurar o segundo turno, com Aécio na disputa.

Dentro desse quadro aparentemente simples, porém, cruzam-se muitos e complexos elementos que os atores tentam administrar com cautela. Um deles é a própria natureza da aliança que aproximou Marina Silva e Eduardo Campos: pode-se dizer que a principal conexão entre eles é que compartilharam uma política de sonho, na hipótese de que se pode jogar sem praticar os vícios que são a própria regra do jogo. Diz o editorial do Estado de S. Paulo a edição de sexta-feira (15/8), sobre Campos, que suas qualidades não foram suficientes para infundir substância à “terceira via”.

O velho coronelismo

Vejamos, então, se é possível uma compreensão do protagonismo da mídia tradicional, como instituição coesa e homogênea que pretende manipular os cordões do poder político.

Já se disse aqui que a imprensa hegemônica do Brasil funciona como o Tea Party nos Estados Unidos, uma espécie de sociedade de forças reacionárias que tenta determinar o rumo da política e da economia, mesmo à revelia da vontade manifestada pela maioria. Diante desse tabuleiro, a imprensa precisa alavancar o potencial de Marina Silva, ao ponto de fazê-la crescer o suficiente para provocar um segundo turno, mas evitando que supere Aécio Neves.

Parte dessa tarefa consiste em acalmar as forças do mercado, evitando que pese sobre ela o temor que cercava a primeira candidatura do petista Lula da Silva, em 2002. Para isso, movimenta-se o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, autor da proposta de política econômica da chapa do PSB: ele ganha destaque por afirmar que há “uma forte convergência” entre o projeto feito para Eduardo Campos e a doutrina do PSDB.

O Globo, que não possui a mesma habilidade para dissimular os interesses de seus controladores como o Estado de S.Paulo, veterano de centenárias batalhas políticas, ou aFolha de S.Paulo, com seu ousado pragmatismo, vai direto nas canelas: “PT pressiona para rachar o PSB de Eduardo Campos”, diz a manchete do jornal carioca. O núcleo da notícia é a interpretação do jornal para conversas protocolares da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula da Silva com o dirigente do PSB, Roberto Amaral, que deverá conduzir o processo de substituição do candidato falecido na chapa de seu partido.

O interessante é que todos afirmam que não querem discutir política antes dos funerais, mas não se fala de outra coisa a não ser política. Até mesmo do núcleo familiar do falecido candidato brota material jornalístico apresentando seu filho mais velho, João Campos, como possível herdeiro político da dinastia inaugurada por Miguel Arraes, avô do ex-governador.

A foto do jovem de apenas 20 anos, imagem principal na primeira página do Estado de S. Paulo, também publicada com destaque na Folha e no Globo, é a face nova da velha política: à direita ou à esquerda, representa o poder republicano como herança familiar – o velho e confiável coronelismo.

Redação

14 Comentários

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  1. Só discordo quando fala que a

    Só discordo quando fala que a direita quer a Marina forte o suficiente para provocar o segundo turno, mas não para ultrapassar Aécio. Isso é o ideal. Mas o pig está sim disposto a correr o risco de Marina ir para o segundo turno.

    A ideía fixa deles é “tudo, menos Dilma”. O jogo agora é tentar transformar Osmarina num ventríluco. Aceitar suas vaidades e idiosincrasias, mas impor a agenda neoliberal e o desmonte do projeto petista. Tudo leva a crer que ela não se oponha. 

    Botem o Gianetti e o Paulo Coelho para escrever o “programa” de governo dela e o pig faz o resto. Ainda bem que eu boto muita fé na inteligência do povo brasileiro

  2. Sinceramente, pode-se colocar

    Sinceramente, pode-se colocar a maior parte da midia, dos politicos, dos empresarios, dos “cientistas politicos” (esses são a propria piada pronta), analistas economicos, todos na mesma lata de lixo, não é o país que deve a esses senhores como tanto gosta de matraquear a nossa midia, esses é que devem muito ao povo pela paciencia de atura-los.

  3. Nem o JN nem o Band-News deu, mas em Minas aconteceu

    A mídia corporativa tem desempenhado um papel eficientíssimo na blindagem dos crimes de seus candidatos.

    Vejam, por exemplo, a notícia que vem de Minas,

    publicada em 16/08/2014 no Conversa Afiada:

    PiG mineiro
    esconde o Aecioporto

    “Em Minas, 64% dos eleitores desconhecem a obra do Aecioporto do Titio”.

    Se 64% dos eleitores mineiros desconhecem a obra do Aecioporto, quantos por cento desconhecem as denúncias que se encontram neste vídeo?  E olha que são denúncias estarrecedoras, para ministério público nenhum botar defeito.

    http://youtu.be/i_hJDNvaeKM

  4. A midia e rentistas fazem a festa mas podem não faturar

    MAIS DO QUE EDUARDO, MENOS QUE EM 2010

    Leonardo AttuchLEONARDO ATTUCH16 DE AGOSTO DE 2014 ÀS 08:21Candidata, Marina dificilmente será vitoriosa, mas deve confirmar Aécio no segundo turno

     

    A morte trágica e precoce de Eduardo Campos reabriu a temporada de especulações e apostas sobre a sucessão presidencial. Uma delas, a de que Aécio Neves será atropelado pela provável candidata Marina Silva, deixando o PSDB de fora do segundo turno. Outra, a de que até a presidenta Dilma correria o risco de não participar da etapa decisiva da disputa.

    A essa altura, enquanto ainda se chora a morte do líder do PSB, e não se sabe nem se Marina será mesmo candidata, toda e qualquer previsão pertence ao mundo da “chutometria”. Mas, aos analistas políticos, não cabe escolha e é inevitável tentar antecipar cenários.

    Primeira questão: Marina será ou não candidata pelo PSB? Tudo indica que sim, a menos que ela própria não queira. Mesmo com todas as dificuldades de convivência entre membros da Rede e do PSB, que alternativa resta ao partido que foi comandado por Campos? Se desistir da disputa, transmitirá ao público a imagem de que se deixou cooptar pelo PT – o que seria o caminho para a ruína. Lançando candidato, não há nome de peso disponível na legenda, a não ser Marina. O que havia, Ciro Gomes, se bandeou para o Pros, em protesto contra a candidatura de Eduardo.

    A segunda questão é: que força terá a candidatura da ex-senadora? Menor do que se imagina. Apesar de candidata, ela provavelmente será sabotada por alas do PSB mais próximas ao PT ou ao PSDB. Governadores, como Renato Casagrande, do Espírito Santo, e Camilo Capiberibe, do Amapá, preferem Dilma Rousseff. O principal prefeito socialista, Marcio Lacerda, de Belo Horizonte, é aecista.

    Isso significa que Marina terá força eleitoral, mas pouca capacidade de articulação política. O mais provável é que tenha mais votos do que Eduardo Campos, que havia estacionado nos 10% nas pesquisas, e menos do que os 19,6 milhões (19,33% dos válidos) obtidos por ela em 2010. Ou seja, algo no meio do caminho, que talvez seja o bastante para garantir a presença de Aécio no segundo turno.

    A aposta numa avalanche de votos em Marina, que terá pouquíssimo tempo de televisão, parece precipitada. Apesar da comoção, Campos ainda era desconhecido de 40% dos brasileiros. E tanto PT quanto PSDB têm eleitores cativos. Não será dessa vez que a polarização será quebrada.

     

    1. E se Eduardo Campos voltasse?
      E se o Eduardo Campos voltasse?

      Como a mídia que hoje coloca a Marina como melhor opção que ele? As candidaturas do Aécio e do Eduardo estavam estagnadas, sem novidades e sem emoção, até porque haviam perdido com a aposta de não haver copa, e se houvesse copa, a mesma seria uma vergonha nacional.

      Com a tragédia, a mídia se entusiasmou, pois via no fato a oportunidade de promover uma comoção que pudesse se transformar em votos.

      Pela primeira vez assisto o filme onde o artista principal não é o titular mas o reserva. O Eduardo era o candidato, mas a mais capaz era a Marina, que era candidata a vice.

      Será que, com esse frenesi da mídia, a tragédia foi providencial para lhes dar um oportunidade para lutar contra a re-eleição da Dilma? Ou seja, para derrotar a Dilma vale tudo?

      E os eleitores, como se comportariam diante da volta do Eduardo?

      (Carlos Barba dos Santos)

  5. Nem o JN nem o Band-News deu, mas em Minas aconteceu

    Nem o JN nem o Band-News deu, mas em Minas aconteceu

    A mídia corporativa tem desempenhado um papel eficientíssimo na blindagem dos crimes de seus candidatos.

    Vejam, por exemplo, a notícia que vem de Minas,

    publicada em 16/08/2014 no Conversa Afiada:

    PiG mineiro
    esconde o Aecioporto

    “Em Minas, 64% dos eleitores desconhecem a obra do Aecioporto do Titio”.

    Se 64% dos eleitores mineiros desconhecem a obra do Aecioporto, quantos por cento desconhecem as denúncias que se encontram neste vídeo?  E olha que são denúncias estarrecedoras, para ministério público nenhum botar defeito.

    OBS: se não foi possível abrir o vídeo na mensagem anterior, cliqui aqui :

    https://www.youtube.com/watch?v=i_hJDNvaeKM&feature=youtu.be

     

  6. O Frenesi da mídia direitista

    E se o Eduardo Campos voltasse?

    Como a mídia que hoje coloca a Marina como melhor opção que ele? As candidaturas do Aécio e do Eduardo estavam estagnadas, sem novidades e sem emoção, até porque haviam perdido com a aposta de não haver copa, e se houvesse copa, a mesma seria uma vergonha nacional.

    Com a tragédia, a mídia se entusiasmou, pois via no fato a oportunidade de promover uma comoção que pudesse se transformar em votos.

    Pela primeira vez assisto o filme onde o artista principal não é o titular mas o reserva. O Eduardo era o candidato, mas a mais capaz era a Marina, que era candidata a vice.

    Será que, com esse frenesi da mídia, a tragédia foi providencial para lhes dar um oportunidade para lutar contra a re-eleição da Dilma? Ou seja, para derrotar a Dilma vale tudo?

    E os eleitores, como se comportariam diante da volta do Eduardo?

    (Carlos Barba dos Santos)

  7. É interessante ver que um

    É interessante ver que um candidato praticamente desconhecido para os brasileiros que amargava o 3º lugar, de repente, a mídia o trata como se estivesse no primeiro lugar e sua substituta capaz de ganhar a presidência. Se é mesmo, só o tempo dirá. A imprensa vai fazer de tudo para levar o cadáver atrás da Marina até às urnas. O tempo vai passar, a poeira vai baixar, vai depender da percepção dos eleitores sobre a forçação de barra da imprensa e da oposição. Vai chegar o tempo que os eleitores vão querer saber se as possibilidades da Marina vão além do “programático”, “sonhático” e “performático”.

  8. a grande mídia golpista quer

    a grande mídia golpista quer praticar impunemente o chamado estelionato eleitoral..

    acho tb que não  vão conseguir, mas é bom ficar alerta, né. .

    esse post já é um bom alerta.

  9. O calor da campanha, paixões,

    O calor da campanha, paixões, interesses, tendem a lançar fumaça dificultando a visão, que só o tempo, quando consegue, aclara, permitindo racionalizar os processos históricos e políticos.

    A saída do Serra e sua substituição por Aécio melhorou consideravelmente a qualidade da disputa presidencial.  Infelizmente a direita no país está presente nas forças de apoio do Aécio Neves, e isto evidente influenciará um provável governo seu, com pressões para o retrocesso na área social, por outro lado está presente no seu “DNA” o legado do seu avô. Tancredo Neves foi o maestro da redemocratização do país e pagou com a própria vida pela sua imprudente (quanto a própria saúde) prudência política em ocultar a doença até a posse. Hoje parece fácil, mas havia muito risco no momento de uma reviravolta do poder militar. Foi o jurista General Pires que aconselhou pela posse definitiva de Sarney. Tancredo também esteve presente contra o golpe na derrubada do Jango e no último governo de Getúlio Vargas. É memorável o seu discurso quando na posse do governo de Minas, em pleno regime militar, fase abertura, “O primeiro compromisso de Minas é com a Liberdade”, é este peso familiar e histórico que servirá como contrapeso as forças citadas inicialmente.

    Embora a Dilma encabece uma proposta política, mas focada nos valores sociais e nas necessidades dos mais carentes, seu estilo pouco simpático que mal disfarça enfado no trato político, apressada para voltar ao gabinete e cobrar o comprimento dos objetivos. Seu método atemoriza os subordinados, fazendo seus colaboradores não mais externarem idéias, com receio de uma dura pública, incentiva os carreiristas, que sempre concordam com o chefe, mesmo sabendo que o chefe vai se ferrar. A gerente foi boa para o Lula, pois ele era o político, mas cadê o político da Dilma, ela continuou sendo a “Gerentona”, podia até dar certo se a economia continuasse funcionando, mas não foi o que ocorreu. O mau humor não faz uma liderança. Juscelino e Lula demonstraram isto fazendo o país sonharem junto com a sua liderança. Apesar da crítica, a Dilma também é sonhadora, pagou com marcas na sua juventude por lutar por seus ideais, é uma pessoa profundamente ética, que ama sinceramente o nosso país, uma escolha de auxiliares de porte, tipo Jatene para a saúde e objetivos claros ajudaria na renovação do voto de confiança depositado em 2014.

     

    E a Marina, teria pelas suas qualidades mais do que pelos seus defeitos dificuldade de administrar o país. Ela está a frente de sua época. Marina é integra. È engraçado que um país que votou no Collor, embalado pela oligarquia, temerosa de Covas, Brizola e Lula, tenha medo de Marina. Se Marina conseguir demonstrar que é possível desenvolver o país com uma política ecológica realista os outros que a temem disseminando que ela não construiria hidrelétricas, estradas, portos, que jogaria o país na estagnação econômica pelo seu radicalismo ambiental é que teriam que se explicar. Mas vamos refletir, o aquecimento global, a seca no sudeste não é um sinal de alerta que devemos prestar atenção para ter um desenvolvimento mais inteligente e sustentável. Será que seguir este caminho não seria, ao invés de um retrocesso, um atalho para o futuro .

    Não tenho certeza que Marina possa conciliar seus valores, com a necessidade de desenvolver o país, isto caberá a ela provar na campanha como proposta e na gestão se eleita.  

  10. E se o Eduardo Campos
    E se o Eduardo Campos voltasse?

    Como a mídia que hoje coloca a Marina como melhor opção que ele? As candidaturas do Aécio e do Eduardo estavam estagnadas, sem novidades e sem emoção, até porque haviam perdido com a aposta de não haver copa, e se houvesse copa, a mesma seria uma vergonha nacional.

    Com a tragédia, a mídia se entusiasmou, pois via no fato a oportunidade de promover uma comoção que pudesse se transformar em votos.

    Pela primeira vez assisto o filme onde o artista principal não é o titular mas o reserva. O Eduardo era o candidato, mas a mais capaz era a Marina, que era candidata a vice.

    Será que, com esse frenesi da mídia, a tragédia foi providencial para lhes dar um oportunidade para lutar contra a re-eleição da Dilma? Ou seja, para derrotar a Dilma vale tudo?

    E os eleitores, como se comportariam diante da volta do Eduardo?

    (Carlos Barba dos Santos)

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