O racismo nosso de cada dia

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Por Luiz de Queiroz, via Facebook

Hoje de manhã, um velho amigo de escola me procurou com uma história pra contar: “Luizão, você tá no trampo? Pode falar comigo rapidinho? Eu fui vítima de racismo mano!”. A acusação chamou minha atenção.

Ele contou que estava com a esposa dele na Rua Muniz de Sousa, no bairro do Cambuci, a caminho da padaria para tomarem um café. Ele, pele preta, quase um metro e oitenta, forte feito um touro, cabelo encaracolado, que lhe rendeu o apelido “Mola”, rosto quadrado, queixo de pugilista. Ela, uma loirinha, mignon, beirando um e sessenta, magrinha, de traços extremamente delicados. Fui padrinho de casamento deles. Ela estava linda. Ele chorou feito uma criança.

Uma viatura da polícia passou por eles e deu meia volta. Desceram dois agentes, com armas em punho: “A casa caiu vagabundo”. Vagabundo! Falaram com a naturalidade de quem diz: “Seus documentos, por favor, cidadão”.

Acontece que esse vagabundo aí é um dos sujeitos mais trabalhadores que eu já conheci na vida. Quando a gente era moleque ele passava o dia inteiro entregando panfletos pra uma farmácia de manipulação do bairro. Fizesse sol ou chuva, lá estava o Mola com um bloco de panfletos apoiado no braço. Esticava a mão pra todo mundo que passava. “E quando acaba, você vai embora?”. “Nada. Pego mais”.

A dedicação foi reconhecida e ele logo passou a ser entregador. O trabalho era maior, mas o salário também deu uma melhorada. Pedalava pelo Cambuci e pelos bairros vizinhos. Não faltava nem quando estava doente. A bicicleta ficava encostada no muro lateral da farmácia, sem cadeado, sem corrente. Lembro que uma vez um moleque passou por ali, montou na bike e tentou dar fuga. O Mola, que tava mexendo no estoque, pulou o balcão e alcançou o sujeito na corrida. O povo se aglomerou e falou pra ele bater no menino, que era ladrão, que ele merecia. Ele não fez isso. Falou pro rapaz se desculpar e mandou ele seguir o caminho dele, com a promessa de que nunca mais tentaria nada do tipo.

Não demorou e ele foi promovido de novo. Levava jeito com os clientes, era sempre muito educado e sorridente, conhecia cada remédio e o lugar na prateleira, passou a trabalhar no atendimento. Gostava do que fazia e fazia bem feito. Decidiu investir em algo que nunca sonhara: faculdade. De Farmácia. Aluno nota dez. Sempre deu um duro danado. Acho que agora até já terminou o curso. Ou vai ver está no último ano. Já trabalhou em mais de um hospital e no próximo domingo vai prestar um concurso da Prefeitura. Vunesp. Tá estudando desde dezembro. Se passar, vai ser farmacêutico em UBS.

“A casa caiu vagabundo”. Não, amigo, você entendeu tudo errado, essa casa aí só está começando a se erguer. Mexeu com o cara errado. O Mola é um preto tipo A, não um neguinho.

– Vagabundo nada. Você está louco?! Como me param deste jeito, alegando o que contra mim?
– Mão na parede!
– Não vou pôr a mão em lugar nenhum, estou com a minha esposa indo tomar café na padaria e sou chamado de vagabundo às 7 da manhã.
– Você é folgado!
– Folgados são vocês!
– Qual o seu nome?
– Pra você, Doutor Gerson.
– Esses caras com faculdade são os maiores bandidos.
– Os com farda então…
– Você sabe em que rua você mora? Sabia que tem uma biqueira logo ali?
– Não é você o policial? Vai lá fechar.

Eles foram embora. Na direção oposta da tal biqueira. O Mola, que tem um coração do tamanho do mundo, chorou de raiva ao ver a expressão assustada da esposa com a situação: “Ela tem 25 anos e nunca tinha sido abordada, ainda mais de forma tão grosseira. Essa é a polícia que nos protege, Luizão”. É, amigo, ainda bem que você sabe se defender de quem deveria te proteger.

Luiz de Queiroz é jornalista, Gerson Caetano Junior é farmacêutico

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

31 Comentários

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  1. Um absurdo

    São uns coitados esses policiais, produto da brutalidade, ignorância, prepotência que estão insauradas nessa instituição. São capitão do mato do sec XXI, são instigados por seu superiores maiores a tratarem o povo, principalmente negros e pobres, como o inimigo. 

    Desmilitarização das Polícias, profissionalização, unificação civil e militar.

    1. Eh em SP, Ivan. Ms poderia

      Eh em SP, Ivan. Ms poderia ter se passado em qualquer estado. A PM nesse ponto, age da mesma forma em qulquer lugar: o preconceito vil contra negros e pobres.

  2. nossa, foi bem leve a

    nossa, foi bem leve a abordagem se foi realmente como descrita. Nunca ouvi falar da PM levar tão na boa esse tipo de resposta e ainda sair assim sem deixar uma liçãozinha de moral. Certamente não é assim que eles agem na favela.

    agora, “O Mola é um preto tipo A, não um neguinho.”

    isso sim me parece com um “racismo nosso de cada dia”.

  3. Racismo

    Quando o ato de racismo é explicido, você se revolta.

    Pior é quando você sabe que existe o ato, mas não pode provar, nem fazer nada;

    Minha esposa foi abrir uma conta corrente,  em um grande banco,  e negaram a abertura da conta.

    A gerente alegou que não era do interesse do banco ter a conta da empresa de  minha esposa.

    Não existia nada que justificasse a negativa da gerente.

    Percebemos e sabemos que a negativa foi puro preconceito.

     

     

     

     

  4. Falar de ´racismo´ dá ibope…

         Bem, meu caro Queiroz, desculpe.

         Todo o relato foi de uma injúria, indevida e incompatível com a civilidade que se espera do braço armado do estado no policiamento ostensivo. Injúria é aquela figura jurídica típica quando se viola a autoestima do ofendido. O post está mais para propaganda de defensor da segregação de direitos raciais (cotas raciais).

         Destarte, há um exagero em dizer que houve racismo. Nem chegou a ser uma injúria ´racial´, pois a não ser na cabeça do autor do post e talvez para a vítima, não há no relato nenhuma ilação racial. Todos sabemos que a aparência faz parte dos escolhidos para abordagem. Não devia e a educação dos policiais continua falha.

         Todavia a não ser para quem pensa que o adjetivo ´vagabundo´ seja característica da ´raça negra´ não houve referência racial alguma… No ´Aurélio´ ensina: “adj. Que vagueia; errante; nômade. / Que não trabalha ou não gosta de trabalhar; vadio: aluno vagabundo. / Bras. Reles, ordinário, inferior, de má qualidade:” .

          O mesmo Aurélio ensina, com síntese o que é racismo: “s.m.. Sistema que afirma a superioridade de um grupo racial relativamente aos outros, preconizando, em particular, o isolamento destes no interior de um país (segregação racial) ou até visando ao extermínio de uma minoria (racismo anti-semita dos nazistas).” Ou seja, para bom entendedor: políticas públicas de segregação de direitos raciais é racismo.

         Não sou jornalista, mas vosso relato é lamentável. Você classifica os pretos com linguagem racista: neguinho seria o comum, o ordinário. ´Preto tipo A´ talvez seja o quase branco? Depois não se preocupa com o outro lado?

         Para a credibilidade jornalistica e não ficar apenas num relato vazio, faltou ao ´preto tipo A´ em vez de noticiar a sua angústia, faltou fazer a tarefa direito, ou ´fazer serviço de branco´ diriam os racistas: anotar o nome dos PMs, se possível a divisa, anotar a placa e a identificação da viatura, e reunir as testemunhas, inclusive sua linda esposa para um B.O. no distrito policial mais próximo. Afinal, isso daria mais credibilidade ao relato…

         Enfim, o ´preto tipo A´, ao que consta no Google deve ser esse jovem quase pardo abaixo, que no Tribunal Racial da UnB teria dificuldade de ser admitido como pertencente à ´raça negra´.

                 https://plus.google.com/109587253642434021990/posts

     

                              –   

    1. Nao?

      Pelamordedeus!? Nao e’ racismo? Quantas vezes eles fazem isso com branco??? Racismo nao precisa ser expresso, apenas fazer parte da situacao. Se nao havia motivo algum, porque pararam? O milico pensou: ai vai um negro safado e foi atras de se divertir. Perfil por aparencia, quando e’ contra a “aparencia” de um negro e’ racismo sim.

      Desculpe, Militao, respeito a sua posicao, sei que luta contra os exageros, mas o caso aqui e’ evidente.

       

    2. não concordo.

      a polícia chegaria, com uma dura destas, as sete da manha, num casal branquinho de olhos azuis?

      olhar identificação para anotar nome de pm que chega com esta atitude?!

      só louco!

      leia o texto com mais atenção!

      na prática a teoria é outra.

       

       

    3. O raciso, neste caso, é

      O raciso, neste caso, é implícito.

      Fosse o cidadão oriental ou caucaziano, certamente não seria parado, correto?

      Desde jovem. sempre vi isso acontecer.

      Muitos amigos, negros, foram parados pela polícia e sofreram grandes humilhações.

      Teve sorte de não sofrer agressão física e ter um punhado de maconha ou cocaina enfiados em seu bolso para um falso flagrante de tráfico.

      Este musndo real é bem diferente do seu mundo, infelizmente.

    4. Só mesmo um tolo ou um cínico

      Só mesmo um tolo ou um cínico recorre ao dicionário para “explicar” o que é racismo. A prática do racismo é dissimulada e mutável. Tem que ser entendida no dia a dia. Abordar um negro e tentar lhe humilhar e subjugar com palavras caluniosas na frente de sua esposa branca é uma forma de dizer: você acha que que é cidadão e pode se casar com uma branca, mas nunca será aceito. Isso é uma forma de racismo, a pior forma.

      Erra quem se apoia no dicionário ou qualquer outro tipo de saber enciclopédico quem tenta compreender categorias de opressão. Mais um exemplo é a palavra vagabundo. O que o Aurélio “ensina” está errado. Vagabundo em qualquer periferia quer dizer bandido, e assim chamar de vagabundo não é injúria mas acusação de crime. E essa acusação não foi feita à toa, mas por causa da cor da pele. Além de acusar sem provas, o policial também perpetrou um ato de racismo.

      Limitar o significado das palavras, ignorar seu uso concreto, impor um sentido descontextualizado é uma dupla forma de opressão: invalida o argumento do oponente e nega seu direito à expressão por princípio por usar uma forma de linguagem. É uma velha tática, os romanos já faziam isso com seus conquistados. E é com esse recurso retórico primário que kameis, magnolis e militões ainda tentam impedir a discussão de um problema sério que mantem o país no atraso secular.

       

    5. Caro Militão

      Caro Militão, não sou muito bom com as palvras, não irei escrever nenhum texto enorme, por isto sou farmacêutico e não escritor. Li o que você e todos no blog escreveram, ótimo, cada um tem sua opinião e respeito todas. Mas, colocar a minha foto com a minha esposa… Quem te deu o direito de fazer isto? Por que você fez isto? Peço que você reite a foto, você não tem direito algum de expor a mim e a minha esposa.

       

  5. Também já aconteceu comigo na Muniz

    A biqueira da Muniz é um estabelecimento comercial com pelo menos 20 anos de existência.

    Como podem ver é de conhecimento até do mundo mineral a existencia do lugar.

    Mas a truculência racista policial na região para com os negros é naturalmente conhecida.

    Perto dali existe o bairro do Glicério em que se concentram os dependentes de crack por acaso na rua da 1ª DP (São Paulo) e claro com biqueiras em todas as esquinas. Sem negros traficando… (os tais pardos)

    A região tem faculdades com muitos estudantes (brancos,negros amarelos e vermelhos) consumindo naturalmente na rua, perto do batalhão da vergueiro inclusive.

    1. Só um completo idiota

      Só um completo idiota consegue ver nas afirmações do Militao uma negaçao à existencia de racismo no Brasil 

      A questao não é e nunca foi negar o racismo, e sim negar o RACIALISMO que a pretexto de combate-lo so faz LEGITIMAR a existencia dessa coisa maligna

      Raça é construção politica nao biologica

      E como tal foi criada para avalizar a separaçao de pessoas iguais

      Para pelegos a adoção de tese racialista ( nao confundir com racista ) é algo bom, pq pelego vive em função do Deus Partido e  o partido lhe ensina que nao pode haver igualdade , ou seja pessoas nao podem ser apenas definidas como cidadãs , seus direitos devem vir de alguma condição que lhes sejam atribuidas

      Entao o cara nao pode ter saude, educação, segurança pq é cidadao e paga imposto, e sim pq seja negro, indio, gay ou alguma outra coisa.

      O pelego ache de comum acordo com os radicais chapa branca do movimento negro ( que nao abriram a boca para falar um A em defesa do Barbosa , vejam só! rs ) pois atraves disso eles ” tutelam ” pessoas , lhes dando privilégios ( nao confundir com direitos pois direito é necessariamento algo universal ) e com isso criam redutos eleitorais , um a especie de curral eleitoral

      Vai ter os pelegos dizendo que deficientes ou mulheres tem direitos especiais e isso nao é tutela, de fato é verdade.

      Mas a tutela nao fica configurada pois entre esses ( deficientes ou mulheres ) o exercicio do direito concedido é U-N-I-V-E-R-S-A-L ou seja para ter o direito basta ser portador de alguma deficiencia ou ser do genero feminino e nao um afro deficiente ou uma afro mulher

      O Militao é um homem comprometido com o combate ao racismo, nao é um pelego comprometido com o partido e através disso sai falando merda para confundir os incautos , os inocentes uteis de plantao…

        1. Só um idiota completo…

          Dá pra ver que Leo falou dele próprio e não de outra pessoa. E falou dele mesmo pela segunda vez ao usar o termo “pelego”.  Freud explica,

          1. Calma, amigos…

                       As imputações ad hominen com palavras fortes, agressivas, dirigidas ao argumentador, de um lado e de outro, apenas interdita os debates que antigamente aqui eram deveras interessantes e salutares!

  6. “Racismo não existe, comigo não tem disso, é pra sua segurança”
    Caro Militão, eu perguntei se ele tinha anotado o nome dos agentes e o número da viatura. Tenta você pensar nisso com uma arma apontada pra sua cara.

    Sobre ele ser um preto tipo A. A expressão é de uma música dos Racionais MCs. Me apropriei pra ilustrar o argumento de que meu amigo não se rende, não se cala.

    Se não houve racismo, conta pra mim quando foi a última vez que você foi enquadrado às sete da manhã.

    Fora isso, só achei muito feio você invadir a privacidade do meu amigo pra ilustrar sua demagogia. Usando a foto dele? Estamos perdidos se a luta contra o racismo é pra provar que ele não existe.

  7. Racismo ou falta de trato?

    Querem ter a “experiência” de serem tratados como “vagabundo”? Peguem uma moto pequena (scooter também serve) e passem por um desses bloqueios policiais, tão freqüentes em Sampa. As “apalpadas” constrangem qualquer um. Só pegam leve quando se pergunta qual é a tal da “fundada suspeita”…

  8. Não há racismo ao sul do equador…

    Na Ditadura, era dia de eleições. Tínhamos eleito Geraldo Siqueira deputado estadual pelo antigo MDB. Terminados os trabalhos de boca de urna, encontramos uma garota, que também tinha trabalhado na campanha, mas em outro lugar, informando que a comemoração da galera seria numa tal “Maria Farinha”, na Rua dos Pinheiros, bairro Pinheiros, São Paulo. Não tínhamos o número, só sabíamos o nome do estabelecimento.

    Então, nós três, eu, a garota das Ciências Sociais e o outro rapaz, da Engenharia da UNICAMP, que por acaso era negro, percorremos a rua para encontrarmos o tal estabelecimento. Um dos restaurantes não tinha placa, eu me aproximei das janelas e fiquei olhando o interior, para ver se reconhecia alguém. Negativo, nos afastamos, continuando nossa busca. Em minutos apareceu uma viatura da PM. Quem foi abordado? Claro, nosso colega preto, o estudante da UNICAMP. Perdi o decoro e passei a gritar com os policiais. Disse que segundo a Constituição, não poderíamos ser presos exceto em flagrante delito e se eles não conheciam as leis. E que aquilo era racismo, por que só abordaram o rapaz negro?  Quando perceberam que éramos estudantes universitários, “filhos d’Alguém”, entraram na viatura e sumiram na escuridão. Como podem ver, nos últimos 30 anos não houve mudanças significativas no comportamento social dos brasileiros.

  9. O Brasil é impregando de

    O Brasil é impregando de preconceitos, de todos os tipos, sendo os mais gritantes aqueles que humilham e matam negros e índios, e pobres. Se o indivídio, então, reúne várias ‘qualidades’: sendo negro e pobre, ou negro, pobre e nordestino, a coisa ainda fica pior. Pensando bem, as discriminações abundam. Há pra todos os gostos. Vejamos o caso de uma professora que há pouco não foi contratada numa escola por ser gorda. O magro demais também sofre, que dirá uma pessoa gaga, com alguma deficiência. 

    Não deve ser nada fácil para um homem de bem se ver diante de policiais que o tratam com tanto desprezo somente por ele ser negro. 

     

    Graças a Deus, existem os bons policiais. Ontem vi na telvisão um caso incrível. Duas mulheres presas por seus pais, que eram policiais. Elas entraram no camborão xingando os repórteres com palavrões e entraram na delegacia com as caras limpas, de quem nada haviam feito. Na verdade, a quadrilha, por meio de emboscada, pôs uma das mulheres pra enganar o besta que parasse pensando que ela estava só e que seu carro se encontrava com problemas na estrada. O resultado foi trágico demais. Com essas mulheres estavam dois ou três homens, Levaram o carro do bom samaritano, que foi amarrado pelas mãos, e jogado numa represa, encontrado morto ontem, dois dias após o crime. Coicidentemente eram os pais das duas mulheres que estavam investigando o caso, quando se surpreenderam em ver suas filhas na prisão. O homem era casado e tinha um filho de meses. Os policiais, pais das desqualificadas, aparecem na telvisão pedindo desculpas à família do morto. 

     

  10. Racismo ´implícito´…

     

                 Prezado Luiz, Nilva e demais.

                 Evidente que na condição de antirracista sempre estive no ativismo da denúncia do racismo, como causa e no combate aos seus efeitos: as discriminações e as ofensas à honra das vítimas do racismo.

                Porém, tal como pensava FANON o primeiro grande ativista contra o racismo logo após a tragédia do racismo estatal na 2a guerra mundial, e também os maiores ativistas que o sucederam (Luther King, Malcolm X, Mandela) compreendo que a luta da civilidade é para destruir a ideia da crença em ´raças´ e sua de fato presumida hierarquia e a favor da pedagogia estatal da unicidade humana: “Numa sociedade com a cultura de raça, a presença do racista será, pois, natural.” dizia Frantz Fanon em 1956.

               Todavia nessa luta o combate eficaz se destina a repressão da manifestação do racismo. E no caso, essa manifestação está sendo deduzida, presumida.

               O que exige denúncia é a manifestação de qualquer um dos efeitos do racismo. Quer seja por qualquer ato de discriminação ou por atitudes que violem a autoestima – e que produza a violação de direitos da vítima e essa manifestação não pode ser presumida ou implícita, pois, no fundo todos nós somos vitimas da cultura racista em que fomos educados e, portanto, todos de alguma forma ´implícita´ podemos ser condenados em razão da cultura defeituosa. “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da pele. Eles foram ensinados a odiar. São humanos, por isso, podemos lhes ensinar a amar.” disse MANDELA já no exercício da presidencia e pacificação da África do Sul.

              Para o bom combate ao racismo, não podemos nega-lo. Nem cria-lo, por presunção.

    1. Demagogo!

      Desculpe, Militão, mas você está longe de combater o bom combate. Só porque não dá pra enquadrar o policial de acordo com o nosso ordenamento jurídico não podemos dizer que não houve racismo. Racismo implícito sim. Se ao invés de vagabundo ele tivesse dito “preto”, aí tudo bem? Você está negando algo que está lá: um branco não teria sido abordado. Aliás, todo esse seu discurso de raça estatal parece ser uma bela demagogia pra dizer que o racismo não existe. Essa bobagem de caldeirão de raças é que faz do racismo no Brasil um inimigo invisível. E quando trazemos esse inimigo à luz você o devolve às sombras? O maior triunfo do racismo no Brasil foi fingir que não existe. 

      1. “Essa bobagem de caldeirão de raças…”

                 Eis o que você pensa Luiz: você acredita em ´caldeirão de raças´ portanto na presença de raça tal como afirmado desde o século 18 pelos ideais do racismo. Eu refuto essa idéia de caldeirão de raças.

              Demagogia é apoiar políticas públicas estatais inéditas no mundo pós-segunda guerra, em que o estado faça classificação humana pela ´raça´ para exercer direitos. E o estado passa a classificar a todos os pretos e pardos, como seres humanos inferiores, pertencentes à ´raça negra´ que o racismo diz ser a ´raça´ inferior e que precisam ser tratados como coitadinhos. Uma violação à dignidade humana dos afro-brasileiros. Nem os EUA nosso patrocinador de políticas públicas raciais estatais possuem nenhuma lei, desde 1964, segregando direitos.

              Aprendi com SERGIO BUARQUE (1936) em ´Raizes do Brasil´ que somos o encontro forçado de de três povos. E que essa é uma vantagem em relação aos demais países. “Nós não estamos presos à crença do pertencimento racial. Somos ´o ser nacional´ livres da prisão racial” dizia Sérgio. A crença racial é uma prisão a quem acredita nela jamais será liberto, conclui o grande pensador brasileiro.

               Aprendi com GILBERTO FREYRE (1933) em ´Casa Grande & Senzala´ que cultivamos uma democracia social, em que pretos, pardos, indígenas e brancos se encontraram e se intercruzaram. Somos miscigenados. É muito comum entre os mais pobres as famílias misturadas. Com loiros sararás e pretos de cabelos lisos. Isso não cabe em nenhuma classificação racial. É sim um inédito caldeirão de povos diferentes que encontraram.

              Aprendi com ORACY NOGUEIRA (1953) em ´Tanto Preto Quanto Branco´ que no Brasil o que discrimina é a ´marca´ (a nossa cor) e nos EUA é a ´origem´ (a raça), portanto, que não cultivamos a herança de sangue.

               Aprendi com FLORESTAN FERNANDES (1965) em ´Classe e Raça´ que os pretos eram discriminados no Brasil, não por sua origem racial mas pela herança escravocrata. “Os pretos são excluidos não por pertencerem a uma raça inferior, mas são excluidos pela descendência escrava”, dizia Florestan.  “O mito da democracia racial consistiria em tomar o que eram desigualdades – próprias da ordem escravocrata – como desigualdades de classes da ordem competitiva – próprias do capitalismo industrial. A burguesia e a classe média brasileiras projetavam tal ideal de comportamento de classe de modo a encobrir o seu racismo”.

              Aprendi com FHC, com OTAVIO IANNI, com CLOVES MOURA, com DARCY RIBEIRO a reconhecer o racismo pela cor e não pela raça.

             Aprendi com meu saudoso amigo prof. MILTON SANTOS, que nós não queremos a classificação racial, nós queremos apenas ser ´brasileiros´, como um outro qualquer. O que você considera um ´caldeirão de raças´, MILTON considerava “.. que essa relativa tolerância no Brasil é uma vantagem, algo virtuoso, do qual não podemos abrir mão.” Aqui a sábias e sempre respeitáveis palavras de MILTON: https://jornalggn.com.br/video/milton-santos-nao-apoiava-%C2%B4cotas-raciais%C2%B4

              Quem crê em raças, conforme você alude, infelizmente deve também ser visto como vítima dos ideais do racismo que nos impôs a cultura defeituosa.

              Os norte-americanos, através de sua Foundacion´s nos últimos 30 anos, estão investindo milhões de dólares na formação de uma elite política, intelectual e acadêmcia defensora de direitos raciais segregados, aquilo que eles acreditam: na classificação racial dos afrodescendentes. Eles acreditam na subalternização dos afro-americanos. Fazem isso desde 1865.

        1. “Preto tipo A, não neguinho”
          Militão, eu tô confuso, você sabe ler? Eu disse que esse argumento de caldeirão de raças é uma bobagem. Essa história de que no Brasil a raça foi diluída a ponto de nao se perceber a que grupo se pertence é uma bobagem. A polícia sabe quem é preto e quem é branco. Basta notar a eficiência deles em distingui-los no camburão e na vala. Eles matam e prendem mais pretos do que brancos. Isso é um fato. Há um sem número de levantamentos e estatísticas. Você falou o nome de muito autores, diz que aprendeu com eles, mas mal consegue organizar o que eles disseram pra cita-los com alguma coerência. Blá blá blá Sérgio Buarque, blá blá blá Gilberto Freire, blá blá blá Darcy Ribeiro. Desculpa, mas eu não estou aprendendo nada com você. Não vale de nada ter lido O povo brasileiro e Casa grande e senzala se você ignora a realidade como ela é hoje. Ora, essa, você combate o racismo estatal. O que isso quer dizer? Então você é contra a lei de cotas porque ela é racista e trata os pretos como coitados. É isso? Não estamos então falando de uma ação afirmativa para diminuir as distancias sociais historicas entre pretos e brancos? É assistencialismo barato? Ok. Essa é sua visão sobre um “instrumento racista do Estado”. Então o que voce tem a dizer sobre os agentes racistas do estado? Eles não são racistas??? Somos nós que estamos vitimizando os pretos? Você é militante anti racista ou advogado da PM??? Lobo em pele de cordeiro. Reveja sua tese, você está prestando um grande desserviço ao povo preto. Negando-lhes a luta e os direitos conquistados. Quando eu chamei o Mola de preto tipo A você disse que ele era pardo, quase branco e perguntou se era isso que a expressão queria dizer. Não é, seu tolo. É justamente o contrário. É o preto que tem consciencia de si e orgulho de sua raça. É o preto que se afirma mesmo que sua miscigenação queira nega-lo.

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