Os últimos momentos do parlamentarismo

O gabinete Brochado da Rocha foi a última tentativa de manutenção do regime parlamentarista – que o então presidente da República João Goulart aceitou, antes de voltar para o presidencialismo. E um dos avalistas de Jango perante a comunidade financeira e empresarial era o embaixador e banqueiro Walther Moreira Salles.

***

Demissionário, junto com o gabinete Tancredo Neves, Walther desembarcou em Paris e esperava-o no aeroporto o embaixador Alves de Souza. No hotel, novos recados de Augusto Frederico Schmidt, Roberto Marinho, Horácio Lafer e do Ministro da Guerra Nelson de Mello. Todos apressando-se em informá-lo  que seu nome iria ser reapresentado ao Congresso, como Ministro da Fazenda do gabinete Brochado da Rocha.

Era 14 de julho de 1962. Seu nome foi aprovado antes mesmo que se manifestasse.

Seu principal objetivo, aceitando o cargo, foi o de tentar preservar o acordo sobre a dívida externa que ele mesmo havia assinado no governo Jânio. O acordo corria risco. O Clube de Paris mostrava-se inquieto.

Dias depois, reempossado ministro, o embaixador seguiu para Brasília para ser apresentado ap Brochado, em um almoço no Rancho Fundo, residência oficial.

Passado o almoço houve a primeira reunião de gabinete sob sua chefia. Na frente de cada ministro, com exceção dos ministros militares, havia grandes dossiês sobre o programa de governo. Brochado queria a opinião de cada ministro sobre as propostas apresentadas. Chegando sua vez de falar, Walther escusou-se. Pediu que opinião pudesse ser dada dias depois, quando já tivesse tido a oportunidade de ler atentamente “documentos tão importantes”.

Depois da reunião soube que todo o programa tinha sido coordenado por Cibilis da Rocha Vianna, conhecido economista do Rio Grande do Sul, e contrariava frontalmente as orientações do primeiro gabinete de Tancredo.

***

Walther percebeu que não dava para continuar. Ainda fez uma última tentativa, indo a Paris renegociar os débitos brasileiros com o Clube de Paris.

Atravessou o oceano com a promessa de Jango de que não aprovaria a nova lei de remessa de capitais. Chegou a Paris, às 9 da manhã encontrou-se com Giscard que, com sorriso irônico, disse que a nova lei acabara de ser aprovada no Congresso.

Imediatamente Walther voltou ao Brasil. Chegando, não foi ao Ministério.

Dias depois foi chamado.

Jango e Brochado ensaiaram um apelo tímido para que Walther permanecesse no ministério. Walther argumentava da impossibilidade de permanecer, pois idéias e princípios que defendia tinham sido desbaratados.

Aí Brizola apresentou a proposta surpreendente:

– Caso tu julgues não poder permanecer no Ministério, não seria possível que assinasse uma carta de demissão condenando o regime parlamentarista?

– Mas não é esta minha opinião. As dificuldades já vêm num crescendo há tempos devido a outras causas, e não tão somente ao regime parlamentarista.

Quando Jango caiu e se exilou no Uruguai, foi imediatamente procurado pelo presidente do Banco Mercantil do Uruguai, comunicando-lhe que tinha crédito irrestrito no banco, a pedido de Walther Moreira Salles.

Luis Nassif

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O problema no Brasil não é a

    O problema no Brasil não é a forma política que o país se organiza – mas sim os políticos que elegemos. 

    E Walter Moreira Salles mostrou-se de uma lealdade que Jango não tinha tido com ele.

     

    E Brizola, pra variar, jogou mais gasolina na fogueira -rs 

  2. Prezado (a) ?, Jô Lima,

    Prezado (a) ?, Jô Lima, lamento discordar, pois seu comentário revela claramente seu desconhecimento, de tudo que estava realmente em jôgo. Ora, bolas, parlamentarismo fôra solução remendada e ansiada pelos golpista que não queriam cumprir o que determinava o livrinho, A constituição, ou seja , empossar o vice. Brizola, quando Governador do Rio Grande do Sul já encampara a ITT, para desgosto dos imperialistas, oportunistas, e exploradores Americanos. Lenha na fogueira quem a colocara, como sempre, haveria de ter sido, sem surpresas, Carlos Lacerda e sua UDN, aliada aos  Banqueiros, Burocratas, Militares e Empresários do iNSTITUTO DE PESQUISA ECÔNOMICA e SOCIAL, com o prestimoso e eficiente auxílio do IBAD. Instituto Brasileiro de Ação Democrática, veja bem a farsa “DEMOCRÁTICA. Se há alguém probo, idôneo e coerente nesta história toda é Leonel Brizola com seu Nacionalismo não entreguista. A cadeia da legalidade foi o que nos levou ao Plebiscito, onde maciçamente a população optou pelo retorno de GOULART e do Presidencialismo. Com relação à generosidade de Walter Moreira Salles, caro (a) Jô Lima, não surpreende, por ser o único personagem , o Banqueiro,  que , em quaisquer circunstâncias, paga e recebe com um sorriso nos lábios. Aproveito a oportunidade e,  imploro ao excelente jornalista Luis Nassif, que entreviste, em seu programa Brasilianas  da rede BRASIL, o professor da UNICAMP, para a qual Universidade,  o IBOPE doou a pesquisa, convenientemente sabotada pelos golpistas e, que indicava apoio esmagador âs reformas de Goulart, até mesmo no túmulo do samba, na  vanguarda do atraso, São Paulo, a quem Mino carta reputa abrigar a pior elite, jamais vista. Goulart, obviamente, sairia vencedor das eleições programadas para 1965, o que foi interrompido pela farsa encenada então.

    1. A ideia da entrevista é boa.

      A ideia da entrevista é boa. E sobre Brizola e o governo Goulart ha mesmo muito desconhecimento. Brizola tinha razão ao pedir o apoio de Walter Moreira Salles ao presidencialismo. O problema é que o banqueiro preferia, ao que consta, o parlamentarismo, e este so fez diminuir as forças de Jango.

  3. “…e não tão somente ao

    “…e não tão somente ao regime parlamentarista”.

    O que significa esse “tão somente”? Que o regime parlamentarista contribuía, sim, Senhor, pra instabilidade, mesmo que não fosse a única causa. O Brizola estava certo. O banqueiro em questão estava errado de novo; se omitiu de contribuir para o país. Agiu de acordo com as forças contrárias à democracia intencional ou ingênuamente. Não foi leal ao Jango, pelo que entendi por raivinha por ter ficado com cara de tacho diante da nobreza européia. Emprestou uma grana depois. Muy amigo.

  4. A história  do  Brasil

    A história  do  Brasil naquele malfadado período continua a ser obscurecida pela má fé  e a ignorância.
    Às  vezes ambas juntas.

    Enquanto colocarem  Jango como  joguete nas mãos  de Brizola,será então  melhor acreditar   que  comunistas

     afiavam os espetos para comerem criancinha e lógico a mãe  delas. Os militares, se vale o coletivo,  eram um exército de  “vacas fardadas”,na feliz  concepção  do responsável pela movimentação do  rebanho.

    Esses  sobreviventes  daquele  movimento  de manada, acreditam até agora,que salvaram  a pátria dos vermelhos,que o o padre Peithon era devoto da Virgem,que  república sindicalistas  tomou forma noite de 13 de março e que o clube militar  era e  é  o fórum legítimo de discussão  dos problemas nacionais e que três ministro militares  eram muito pouco diante  da maioria de civis ou paisanos como gostam de  chamar.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador