Passados 42 anos, restos mortais de militante da ALN são reconhecidos

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foram 42 anos, dois meses e seis dias de sofrimento, frustrações, decepções e angústia. Esse foi o tempo que a família do militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) Alex de Paula Xavier Pereira, morto pela ditadura militar em 20 de janeiro de 1972, teve que esperar para obter o laudo oficial de identificação dos restos mortais dele.

Hoje (26), durante a solenidade de entrega do documento na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria de Direitos Humanos, em uma cadeira de rodas e com dificuldades na fala, a mãe de Alex, Zilda Xavier Pereira, disse apenas que estava “aliviada”.

“Isso representa para a família a conclusão de um luto, de uma busca, saber que realmente conseguimos resgatar e dar uma sepultura digna para ao nosso irmão. Uma sensação de conforto que muitas famílias ainda não têm”, salientou Iara Xavier Pereira, irmã de Alex. Esse foi apenas mais um capítulo de dor da família. Além de Alex, assassinado aos 22 anos, Arnaldo Cardoso Rocha e Iuri Xavier Pereira, tio e irmão dele também foram vítimas da repressão militar.

Segundo Iara Xavier, a identificação só foi possível pela persistência da família. Foram várias frustrações com resultados negativos de exames e dificuldade para fazer análises que comprovassem que os restos mortais encontrados em uma sepultura clandestina, no Cemitério Dom Bosco (Perus), em São Paulo, eram do estudante secundarista.

“Com a anistia e o meu retorno, fizemos a conexão do modus operandi da repressão que, para sumir com os corpos, eram usados documentos e nomes falsos. Naquela época, não existia [exame de] DNA e a família não tinha a ficha dentária. Passado um período, achamos uma sepultura e, pelo sorriso – arcada dentária – e uns fios de cabelo vermelhos haveria um indício que seria ele, mas a dúvida ficou”, explicou a irmã do militante da ALN.

A família levou os restos mortais para a Argentina e identificaram apenas os restos mortais de Iuri. “Em abril do ano passado, fizemos uma nova tentativa, com nova coleta de material, um osso do fêmur, que a Polícia Federal pode, finalmente, dizer que era ele”.

A partir da confirmação dos restos mortais de Alex, a Comissão Mortos e Desaparecidos Políticos intensificará as análises de material genético encontrado no local. “A identificação do Alex e do Arnaldo e o Iuri reafirma esse compromisso do Estado e nos reabastece a esperança de que é possível dar uma resposta as demais famílias de mortos e desaparecidos, hoje estimadas em 148”, disse o coordenador da comissão Gilles Gomes.

Hoje será firmado um protocolo entre a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos; a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados; e a prefeitura de São Paulo. O objetivo é  oficializar a retomada dos trabalho de identificação dos restos mortis encontrados em Perus. “Nos próximos dias, junto com os familiares e o Ministério Público Federal, vamos estabelecer um cronograma para que até o final do ano possamos por fim a primeira etapa da identificação dos restos mortais de Perus, com a análise antropológica”, acrescentou Gomes.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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    1. Nada a ver essa associação

      Entendo sua conhecida defesa da ditadura, o problema é que, se hoje podemos alegar que um caso de latrocínio é resultado de omissão do apaarelho estatal, naquele momento torturas e assassinatos eram provocados por ação direta do Estado com ordens dos Médicis da vida, simples assim

      O depoimento de Paulo Malhães prova que nossa democracia está doente: O que faremos

      http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/o-depoimento-de-paulo-malhaes-prova-que-nossa-democracia-esta-doente-o-que-faremos

  1. 42 ANOS…meu Deus! Um forte

    42 ANOS…meu Deus! Um forte abraço a esta família, que persistiu até o fim, sem sucumbir à tortura que deve ter sido essas mais de quatro décadas. A ela, mãe, aos irmãos, tios, a todos, o respeito e a admiração a todos aqueles, em especial aos jovens, que enfrentaram a repressão e deram suas vidas pela democracia, pela liberdade, pelo País.     

  2. Notícia que me levou as

    Notícia que me levou as lagrimas, apesar do conforto que a família encontrou ao confirmar que os restos mortais eram realmente de Alex,não consigo nem imaginar o tamanho da dor de uma mãe ao perder dois filhos simplesmente porque seus meninos tinham um sonho de um país justo para todos. Meus respeitos,minha adimiração e meu eterno agradecimento a todos aqueles que foram feridos no corpo ou na alma para construir um legado de democracia e justiça a todo o povo brasileiro.

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