Pinheirinho: três anos sem respostas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

 
Jornal GGN – Há três anos, a ocupação conhecida como Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo, amanhecia com o seu fim. Reconhecida no Brasil por ser uma das maiores ocupações urbanas, e internacionalmente pelo exemplo de organização estrutural e vitórias que conquistava a cada ano, no Pinheirinho moravam 1.800 famílias. Um total de quase 9 mil pessoas.
 
A forma violenta de reintegração de posse teve a consciência do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), do então prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), da Justiça Estadual, por meio da juíza Márcia Mathey Loureiro, da 6ª vara cível da cidade, e do juiz assessor do TJSP, Rodrigo Capez. 
 
Na noite anterior, um sábado, Pinheirinho estava em festa. 
 
Já haviam passado pela primeira tentativa de desocupação, no dia 17 de janeiro, prontos a resistir com as “armas” que detinham: escudos de restos de tambores, capacetes de moto, canos de PVC, água com vinagre, panos molhados de álcool. A justiça federal interviu, e as unidades da Polícia Militar deslocadas até a cidade retornaram. 
 
Nos dias que seguiram, novos acordos: parte interessada na desocupação, a defesa da massa falida da empresa Selecta S/A, do especulador Naji Nahas, concordou com o advogado Antonio Donizete, o Toninho, ao lado do defensor público, Jairo Salvador, para a suspensão da reintegração no prazo de 15 dias. No dia 20 de janeiro, nova intervenção do Tribunal Regional Federal também enfrentou a estadual, alegando que o caso interessava à União.
 
Nos bastidores da política, Cury e Alckmin garantiram ao senador Eduardo Suplicy (PT), mobilizado com os moradores, que nada seria feito. O recado foi transmitido naquele sábado, dia 21. Providenciaram comida, bebida, saíram às largas ruas do organizado bairro ao qual havia se transformado a ocupação, e comemoraram o fim da luta. 
 
Quando 2 mil policiais militares das Tropas de Choque chegaram entre 4h30 e 6h da manhã, alguns moradores ainda voltavam para suas casas. Dormiram pouco, era domingo. A reintegração violenta durou o dia todo. Bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e de pimenta, balas de borracha, 200 viaturas, 100 cavalos, 40 cães, 3 helicópteros. Contra moradores desavisados, entre crianças, idosos e portadores de deficiência, que não puderam recolher móveis, roupas. Alguns, nem o documento.
 
Cenário de guerra nos dias seguintes. Caminhões, de doações e de outras cidades, traziam cestas básicas a 9 mil pessoas sem moradia, poucos em casas de conhecidos e famílias, a maior parte em abrigos providenciados, ginásios e escolas. 
 
Receberam do governo auxílio-aluguel de R$ 500, que hoje também completa 3 anos sem reajuste. Depois de dois anos de luta, em março de 2014, foi anunciada a construção de Pinheirinho dos Palmares, casas prometidas pelo governo federal e estadual, que também sofrem atrasos e têm previsão de entrega estendida para 2016. 
 
O terreno, que seria leiolado para pagar as dívidas da massa falida de Selecta S/A, uma parte (R$ 45 milhões) à prefeitura de São José dos Campos, está intacto. O leilão foi suspenso por processo da Justiça Federal, que pede que a União se manifeste. A empresa de Naji Nahas sofre 1.150 ações por danos morais. 
 
A juíza estadual, Márcia Loureiro – que por força de contestação de poder e autoridade, contrariou todos os acordos, entre as partes e políticos, além de decisões da Justiça Federal –, move processo de calúnia, difamação e injúria contra o sindicalista Renato Bento Luiz, o Renatão, por um samba-enredo “Covardia Nacional” de 2012. Para ela, a atuação da polícia na desocupação havia surpreendido positivamente. 
 
Assista à declação da juíza: 
 
http://youtu.be/NtupI-OpCGY width:700 height:394
 
Ouça o samba-enredo:
 
 
Dois atos são realizados na cidade, em memória ao Pinheirinho. O primeiro ocorreu pela manhã, em frente ao terreno da antiga ocupação, no Centro Poliesportivo Fernando Avelino Lopes, reivindicando o aumento do auxílio-aluguel, pagamento das indenizações pelo Estado e agilidade nas obras das casas do Pinheirinho dos Palmares. O segundo está marcado para as 17h, convocado pela Frente de Luta pelo Transporte, para além da pauta das famílias, contestar a revogação do aumento das passagens de ônibus. 
 
Leia mais:

 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

16 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. é São Paulo, é PSDB

    Nada se resolve com justiça no Estado de São Paulo, e principalmente ESTADOS governados pelo PSDB,não há estado de justiça em São Paulo, nem em outros estados governados pelo PSDB.

  2. Ato cívico

    Nassif,

    Este foi, sem dúvida, um do grandes momentos do desgovernador tucano.

    Depois de recusar a oferta do governo federal, fez o que sabe com rara competência, baixou o pau sem dó nem piedade naquelas quase 2 mil famílias.

    Depois daquele ato cívico, lavou as mãos e deu um dane-se para a turma, afinal, pobre deveria sumir do maior estado do brasilsil.   

    Houvesse uma CPI, algo que SP desconhece inteiramente, e o desgovernador estaria inelegível, só não estando preso porque isto aqui é brasilsil.

  3. Como não teve

    Como não teve resposta?

    Alckmin se elegeu no primeiro turno. Os paulistas responderam com apoio à violência cometida contra os pobres de Pinheirinho. Inclusive em São José dos Campos, onde obteve 64,96% dos votos. Com tal consciência crítica é preciso perguntar porque vai faltar água em São Paulo? 

    1. E teve outra resposta: O

      E teve outra resposta: O Eduardo Cury, o prefeito, foi eleito deputado federal, com votação extremamente significativa (mais de 180.000 votos) quase sem realizar campanha na cidade. Esta é a resposta de São José dos Campos aos responsáveis pela barbárie cometida.

      1. Esta cidade é
        Esta cidade é curiosa.

        Existem ainda muitos sebastianistas que acreditam na volta do Emanuel Fernandes, ex-prefeito tucano, antecessor de Cury, e ficha suja.

        Robson Marinho, herói do trensalão, se criou na cidade e possui vários imóveis por lá.

    2. E o Aécio ganhou por lá de
      E o Aécio ganhou por lá de lavada.

      Agora, se faz de tudo para queimar o atual prefeito, do PT, que encerrou uma hegemonia de 16 anos do PSDB na Cidade.

  4. O PINHEIRINHO E A CARTA QUASE DE AMOR PARA THC…OPS FHC.

    Neste mesmo espaço de tempo THC ops…digo FHC aniversariava com uma conta redonda e enquato o pau comia nos moradores do Pinehirinho, minha querida DILMA discorria em uma missiva carinhosa devassos e angelicais cumprimentos ao aniversariante THC …ops…FHC, a mágoa que restou é que em nehum jornal “limpo” ou blog “sujo” ou “cheiroso” apaerceu uma condolencia aos moradores do pinheirinho, só blá ..blá…blá… de alguns deputas e o letargico Suplicy tentando aparar as arestas, Se ao invés de a DILMA ter escrito ou pronunciados algumas poucas linhas em favor dáquele povo ou que fizesse cumprir a lei pois casa de alvenaria não pdem ser derrubadas como náquela ação do PSDB contra o povo pobre em favor de um Bandido costumas que já esta até envolvido na LAVA JATO o tal NAJI, a NAJA do crime financeiro. Eu também queria uma CARTA  PRESIDENTA, mas que fosse prudente na hora da minha necessidade. O BNDES continua a negar o CARTÃO para a ME/EPP que não seja A++ ou A+ como essas empreiteiras envolvidas na LAVA JATO o obtém com facilidades, Foi estelionato eleitoral prometer esse  CARTÃO BNDES e PROTEÇÂO para as MICRO e Pequena EMPRESA, a realidade é outra. Mas como mentira tem perna curta e não se pode enganar todo mundo o tempo inteiro a história se repete. O PODER É UMA GOIABA CHEIA DE BICHOS E BICHAS. A barriga nõa doi somente uma vez.

  5. Cury foi eleito deputado
    Cury foi eleito deputado Federal pela cidade. Possivelmente leva a prefeitura em 2016.

    Capaz eleito deputado estadual.

    Alckimin reeleito.

    A juíza Márcia Loureiro continua na boa.

    O hoje aposentado Coronel Messias, da PM, tem sido livrado pela justiça.

    Suplicy perdeu para José Serra.

    Nada mudou nesta terra.

  6. São Paulo não tem água, não

    São Paulo não tem água, não tem planejamento governamental, não tem Justiça… mas tem gente no Executivo, no Legislativo e no Judiciário garantindo a ultra-violência policial para maximizar os lucros dos capitalistas . Tucanismo, entendem…

  7. NÃO PODEMOS FALAR DE CARTAS DE QUASE AMOR

    Não falem de cartas, não pode.

    Fale de amor como falei de flores, eu publico.

    Fale de aniversário, mas do aniversario meu.

    Não fale agora eu não publico, fale mudamente ou não fale.

    Tudo prometido era só uma brincadeira, que falei, mas não falei,

    você ouviu mas eu não falei, você mente quando fala a verdade, é verdade.

    Não publico, não publico, o limpo é sujo e o sujo é limpo, o cheiroso fede, mas eu não publico.

  8. Quando que o pobre tem vez na republica de sinhozinhos e sinhas?

    Pinheirinho é uma lembrança que faz mal ainda. E pensar que o governador da republica do café foi reeleito, que nada aconteceu com nenhum dos mandantes desse crime, que essa juiza diga que o que fez é correto, que Naji Nahas continue fazendo seus negocios trambiques e que o autor de uma musica sofre processo por dizer a verdade… Não, sem justiça sem paz!

  9. Uma das ações mais

    Uma das ações mais vergonhosas da Justiça paulista foi essa, de mandar pro olho da rua essas pessoas de bem, trabalhadores, crianças, gente de toda sorte, incluindo idosos, crianças e deficientes. Quanta maldade! E, afinal, para quê? Por quê? Foi muito doído ver, após a desocupação, um vídeo em que uma repórter volta ao local e filma o estrago; um monte de brinquedos quebrados; os pedaços das diversas casas, como torneira, privadas,…, e, o mais triste: os pobres cães perdidos, esfomeados.

    Essas invasões sempre ocorreram Brasila afora. O que impressiona é ver que o povo invade, constroi casas, permanece por anos, décadas, até que um dia aparece alguém se dizendo dono do pedaço, e com apoio do governo faz-se a desapropriação. Por que o mesmo governo que age impiedosamente defenestrando os moraores, deixou essas pessoas invadirem o terreno? Por que não impediu a invasão? Não dá pra entender, mas isso continua do mesmo jeito, sem solução.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador