Plano Diretor tenta mudar tendência dos condomínios fechados em SP

 
Do CityLab
 
Com Seu Novo Plano Diretor, São Paulo Mira Nos Condomínios Fechados
 
O esforço para conter empreendimentos que inibam a vida nas ruas pode ter um impacto duradouro sobre a cultura da cidade
 
JORDANA TIMERMAN | Jul 21, 2014
 
“Sr. Construtor, ponha abaixo essas paredes” poderia muito bem ser um dos slogans para o ambicioso novo plano diretor urbano de São Paulo. Ele proíbe edifícios fechados em algumas partes da cidade e incentiva novos empreendimentos que proporcionem interação da rua com o comércio.
 
O esforço para conter empreendimentos que asfixiem a vida nas ruas – especialmente os complexos residenciais murados, comuns em toda a cidade – poderá ter um impacto duradouro sobre como serão as ruas de São Paulo e como seus moradores interagem uns com os outros.

As medidas são apenas uma pequena parte de um recém-aprovado plano de 150 páginas que cria fortes incentivos para o desenvolvimento orientado ao transporte público e limita a quantidade de espaço dedicado a novos estacionamentos. O plano debatido calorosamente, que levou nove meses para ser aprovado, também inclui marcos regionais progressistas, tais como a criação de oportunidades de acesso à terra para os moradores mais pobres. Críticos (ou os construtores) argumentam que as políticas poderiam muito bem elevar os custos da moradia.
 
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1 Um típico complexo fechado de apartamentos de São Paulo
 
“A esperança é que o plano diretor possa ajudar a reverter a tendência de 40 anos de blocos de prédios cercados”
 
De fato, os construtores serão incentivados a incorporar espaços comerciais, de serviço ou institucionais no nível do solo em troca do aumento da área de construção, incluindo relaxamento das restrições de altura ao longo dos corredores de trânsito.
 
Pode não soar como uma revolução, mas em São Paulo a esperança é que o plano diretor possa ajudar a reverter a tendência de 40 anos de blocos de torres gradeadas. Uma combinação entre leis de zoneamento instituídas na década de 1970 – que incentivaram edifícios mais altos com maior recuo do meio-fio – e um crescente medo de crimes violentos levou ao surgimento onipresente em São Paulo de condomínios fechados, elaboradas áreas fechadas comuns para moradores e com pouca conexão com a vida na rua. Lazer, compras e áreas de trabalho seguiram um caminho similar. Ao final de 1990, São Paulo era uma “cidade de muros”, escreve Teresa Caldeira, professora de planejamento urbano e regional na UC Berkeley.
 
Em uma sociedade que enfrentava violência crescente, a escalada de medidas de segurança tornou-se um luxo necessário, não só para os super-ricos. São Paulo não é a única: tais projetos são comuns em todo o mundo em desenvolvimento, ainda mais em cidades drasticamente desiguais.
 
“É um modelo amplamente adotados pelo mercado, porque os compradores querem segurança e privacidade em sua casa”, explica Nabil Bonduki, o vereador paulistano, que atuou como relator do projeto do Plano Diretor. No entanto, “há uma forte oposição a esse tipo de desenvolvimento em diversos setores da sociedade, como urbanistas, ambientalistas, associações de bairro e movimentos culturais”, escreve ele via e-mail.
 
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2 dos muitos prédios de apartamentos de São Paulo, como este na Avenida Paulista, são recuados da rua e separados da comunidade ao redor por grades
 
É um caso clássico de preferências individuais que se somam resultando no pior para as cidades, de acordo com alguns especialistas. Embora eles sejam feitos para proteger os residentes de crimes violentos, eles também criam uma sociedade onde o crime é mais provável.
 
Como Caldeira observa em “Enclaves Fortificados: A Nova Segregação Urbana”, espaços separados frequentemente levam ao aprofundamento da desigualdade social. Pessoas nessas cidades têm menos encontros através das barreiras de classe, o que significa que “… as diferenças sociais são mais rigidamente percebidas, e a proximidade com pessoas de diferentes grupos é considerada perigosa, enfatizando, assim, a desigualdade e a distância”.
 
Isso é o que tornam esses novos incentivos para estimular a vida nas ruas tão relevantes. Criar uma barreira mais permeável entre o público e o privado, como acontece no uso misto de ruas comerciais, é um dos objetivos de uma fachada ativa, de acordo com Bonduki. O novo plano diretor de São Paulo toma medidas para reverter as tendências de mercado que legitimamente responderam às preferências dos consumidores, mas criaram resultados negativos para a cidade como um todo. “Achamos que é necessário mudar hábitos e estilos de vida”, diz o vereador.
 
O que resta observar é como os consumidores e construtores reagirão às novas diretrizes. Edifícios murados ainda podem ser construídos, mas eles serão muito mais caros e mais distantes dos principais corredores de trânsito.
 
Já há sinais de mudança. Um artigo recente na Folha de S.Paulo cita um par de construtores locais que já estão trabalhando em projetos de uso misto, com lojas no térreo, embora, em São Paulo, isto ainda seja visto como uma ideia nova. Ou melhor, uma ideia retrô que parece destinada a retornar.
Redação

8 Comentários

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    1. Uai, e cadê essas paredes

      que tanto afligiam o tal R. Reagan? Alias me lembro de um grande discurso do Kennedy em Berlim, mas nada de muito importante falado pelo seu ídolo R. Reagan…

  1. Como sempre,

    cada vez que se mexe no tal código de ocupação do solo, os gabaritos sempre sobem, os empresários agradecem e os novos moradores acabam se espremendo em moradias cada vez mais apertadas. 

    Só que a chamada “tecnologia disruptiva” pode pegar o ramo da construção civil de calças curtas. Imaginemos uma onda de transferência do trabalho para o home office, quando então o deslocamento para o serviço deixa de ser relevante. O morador poderá então se mudar para cidades menores, mais baratas. Ou transformar uma casinha de campo ou de veraneio em sua residência e local de trabalho, desde, claro a dita cuja tenha acesso à Internet por banda larga. 

    E isso não me parece muito longe não. Toda a tecnologia já existe e está em uso bastante disseminado. 

  2. Não é só isso

    Meu filho está estudando na Inglaterra e envia fotos (além de eu pesquisar no Maps). Quando viveremos em uma cidade sem muros?

  3. Teresa Caldeira e Jane Jacobs

    Teresa Caldeira e Jane Jacobs foram grandes defensoras desse modelo de cidade mais inclusivo, mais translúcida. Há alguns anos postei aqui sobre o livro de Cidade de Muros de Maria Teresa Caldeira, que falava sobre esse problema na cidade de São Paulo, mas que poderia ser facilmente estendido às demais capitais brasileiras. O modelo de cidade contemporânea não mais se sustenta foi criado para se proteger da violência, no entanto, acabou por se tornar seu maior aliado. Os muros inibem a visão, o que acontece tanto dentro, quanto fora dos muros não é visto, isso acaba sendo um estímulo à violência em si.
    Acho que São Paulo está dando um grande passo para uma cidade mais humana, mais viva e mais inclusiva, um modelo de cidade digno do século que estamos vivendo.

  4. Novo PDE

    O novo conceito é bastante obvio.

    Adensar a cidade onde ela já conta com transporte publico de massa, permitindo construir até 4x o terreno sem limite de gabarito altura, porem com limite para numero de vagas.

    Não permitir o adensamento em areas que nao usufriem de transporte publico, permintndo apenas 2x o terreno  e com gabarito de altura de 28 m de altura ou no maximo 8 andares mais terreo.

    Permitir a construção de edificios multiuso, principalemente residenciais com comercio no térreo. Sendo que esta area de comercio não compuratá na area construida em até 20% do total. ( um grande incentivo para o comercio local)

    E por fim, o novo PDE trouxe devolta a ideia que muitos edificios antigos exploravam. É  permição de lojas comerciais no embsamento da edificação. Ou seja, para comprar pao, ir a farmacia, ou ao tintureiro, voce não precisa mais pegar o carro ou o transponrte publico para realizar tal tarefa. Enfim, um PDE pensado para vc não precisar se deslocar a não ser quando necessario.

    Com este novo PDE, conseguiram agradar a todos praticamente, menos aqueles que so sabem reclamar e nao sabem nem pelo quê.

  5. Só o fato dos condomínios ter

    Só o fato dos condomínios ter por obrigação abrir os seus espaço de lazer pela semana para que a comunidade pudesse ter um pouco disto, já ajudria muito na convivência mais social de toda comunidade

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