Possíveis mudanças na economia de um segundo mandato de Dilma

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Se eleita, a presidente Dilma Rousseff não abandonará seu projeto desenvolvimentista, mas fará mudanças para atrair a confiança do mercado em três frentes: fiscal, infraestrutura e cambial, aponta reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Uma das modificações será o fim dos atrasos nos repasses dos recursos federais à Caixa e Eletrobras, antes com o intuito de melhorar as despesas da União.
 

De o Estado de S. Paulo

Dilma já estuda ajustes na área fiscal, cambial e de infraestrutura

porJoão Villaverde

Em um eventual segundo mandato, já se pensa dentro do governo em um esforço fiscal menor, mas mais realista, em 2015

Pressionada a adotar uma estratégia mais amigável ao mercado, mas sem renunciar ao “apetite” desenvolvimentista, a presidente Dilma Rousseff já começou a definir os direcionamentos da política econômica para um eventual segundo mandato. O Estado apurou que ajustes importantes serão feitos na condução da economia no campo fiscal, de infraestrutura e cambial. 

Depois de 8 anos e 6 meses de Guido Mantega, o Ministério da Fazenda trocará de mãos, como já antecipou a presidente. Embora Dilma proíba qualquer discussão na campanha quanto a nomes de substituto, o próprio governo avalia algumas propostas. Uma delas seria a colocação de um empresário para comandar a Fazenda, num plano que seria amarrado com a elevação do Ministério do Planejamento para a linha de frente macroeconômica. “Dividir um pouco o poder e colocar duas vozes com força para defender a economia”, segundo um auxiliar presidencial afirmou, em entrevista gravada.

A política fiscal vai mudar. No Palácio do Planalto e também no Ministério da Fazenda há um consenso de que devem ser terminadas as operações chamadas nos bastidores de “duvidosas”, como os atrasos nos repasses de recursos do Tesouro Nacional à Caixa e à Eletrobras promovidos para melhorar pontualmente as despesas federais. 

Há na campanha presidencial, no Planalto e também na Fazenda uma visão de que o governo deve apresentar em 2015 um esforço de recursos muito inferior no ano que vem, na faixa de 1% a 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa meta seria considerada “realista”, diante do quadro atual: as receitas estão em baixa e o PIB está saindo de uma recessão. “Se não conseguimos chegar a 1,9% do PIB em 2014, como aumentar em 2015? É preciso ser realista”, disse fonte graduada do governo. 

Questionado sobre o assunto para esta reportagem, Mantega afirmou que não concorda com a definição de uma meta fiscal menor para o ano que vem. “Não concordo. O caminho agora é de um aperto fiscal maior no ano que vem, como forma de abrir espaço para o corte de juros”, disse. Mas o ministro não fará parte de um eventual segundo mandato de Dilma. 

Segundo o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, que esteve com Dilma na quarta-feira em Campinas, o debate sobre a política fiscal “está distorcido” na campanha presidencial. “Parece que é fácil fazer um superávit fiscal com economia crescendo a zero. A austeridade não resolve o problema do crescimento, mas agrava, como vemos na Europa. O momento é outro. Quando a economia voltar a crescer, é claro, o esforço fiscal deve aumentar mesmo”, disse. 

Câmbio. Segundo outro conselheiro presidencial, Dilma entende que o real deve se desvalorizar mais para poder trazer competitividade para a indústria brasileira. No entanto, tendo a mudança de política do Fed (o banco central dos EUA) colocada para 2015, a presidente pode aguardar os reflexos disso no Brasil para promover a desvalorização desejada apenas aproveitando a “janela de oportunidade”. 

Quando o Fed voltar a elevar os juros nos Estados Unidos, o fluxo de capitais hoje concentrado nos países emergentes, como o Brasil, deve se inverter e fluir para os EUA, provocando uma desvalorização das moedas. Foi o que ocorreu no fim de 2013, quando o Fed começou a sinalizar este cenário. 

Antes disso, entre o fim de 2011 e o início de 2013, o próprio governo Dilma perseguiu uma desvalorização da moeda brasileira. De acordo com Mantega, é “arriscado fazer ajustes muito fortes em 2015, porque a indústria também importa insumos e pode ser impactada com uma desvalorização maior”. 

Propostas. Estuda-se no governo a separação entre a Receita Federal e a Aduana. A ideia tem sido defendida internamente por Alessandro Teixeira, um dos coordenadores do programa do PT na eleição presidencial. Homem de confiança de Dilma, ele foi secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento nos dois primeiros anos de mandato, antes de assumir cargo no Planalto. 

A proposta é que, fora do guarda-chuva da Receita, os técnicos da Aduana poderiam ganhar mais autonomia e atuar mais fortemente na defesa dos exportadores brasileiros. Ao mesmo tempo, a Receita poderia ficar focada na arrecadação tributária, área onde a presidente Dilma Rousseff entende ser possível modernizar, para tornar o Fisco mais “amigável” e ágil no trato com o contribuinte. Ainda há resistências quanto a esta separação.

Na área de infraestrutura, o governo já tem definido que, se consórcios privados manifestarem interesse, os aeroportos de Salvador (BA), Recife (PE), Vitória (ES) e Curitiba (PR) podem ter seu controle transferido das mãos da Infraero. No máximo dois entre esses 4 terminais seriam leiloados. O governo avalia abrir a licitação ainda no fim de 2015, de forma a colher resultados no fim do próximo mandato.

O governo também garante ter sinal verde dos bancos privados quanto ao modelo de financiamento e operacionalização das concessões de ferrovias. De acordo com uma fonte, a presidente pode anunciar os primeiros leilões ainda em novembro, em caso de vitória nas eleições. 

Na área de portos, o Planalto mantém o tom de indignação com o TCU que, segundo um auxiliar presidencial, “travou totalmente” o setor por dois anos. “Passadas as eleições, o TCU haverá de liberar, porque a razão da trava terá acabado.” 

O governo teme as consequências de uma mudança na política monetária nos Estados Unidos, que provavelmente ocorrerá em 2015. As concessões de infraestrutura, na visão do governo, devem “voar” justamente para criar um canal paralelo de entrada de dólares no Brasil. “A insegurança de cenário será em 2015. Quando o mercado se estabilizar quanto ao Fed, o quadro deve ser outro a partir de 2016”, disse um economista que já participou do governo federal.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

39 Comentários

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  1. Possíveis mudanças num

    Possíveis mudanças num mandato de Marina.

      Ué, se Marina ainda está na frente de Dilma no turno final, por que o post é referente a derrotada?

             Pelo menos em tese.

        1. Auto retrato do troll

          Acima o trol que se auto-alcunha de “anarquista sério” mostra um auto retrato seu.

          Ele é aquele que está votando no Aécio Neves.

        2. Essa foto eh tipico dos

          Essa foto eh tipico dos analfabetos politicos, os quais colocam a culpa do mundo em cima da Dilma. A verdade eh que a pessoa sh se torna “jumento” quando nao vota no nosso candidato, nao eh mesmo? Jumento pode ser quem acha que a culpa de todos os problemas do Brasil estah na presidencia e ao mesmo tempo vota em milicianos, e todos os outros crapulas que fazem horrores nesse Brasil de jumentos que soh olham para a presidencia.

    1. Pelo menos em tese…

      Abordar as possíveis mudanças de Marina na economia seria um imenso desgosto para uma tarde de domingo…

      Serve essa?

      De nada.

    2. Em outro comentário vc

      Em outro comentário vc ficastes nervosinho comigo e bradou que sua sapiência me derrotaria em um quiz com o povo brasileiro. Pois bem, depois de ler esse comentário, não tenho duvidas disso.

    3. A matéria é do Estadão que apoia a oposição PSDB

      Mas pelo visto já desistiu, e também já percebeu que um Governo de Marina Silva sem maioria parlamentar tornaria Lula, Dima ou qualquer outro candidato do PT praticamente imbátivel em 2018.

      Salvo grandes mudanças o Estadão já está pensando na disputa de  2026.

      Vamos aguardar as pesquisas eleitorais da semana, caso confimem as pesquisas internas dos partidos,  que acusam grande queda da candidata Marina Silva, muito provavelmente não haverá segundo turno.

    4. Primeiro turno

      Dilma  precisa conquistar 3% dos votos válidos para se reelege, já a Marina está caindo, ou seja, para contrariar esta possibilidade  primeiramente precisam viabilizar o segundo turno e depois vencê-lo,  algo mais remoto (não que seja impossível). Ou seja,  jornal apenas está trabalhando com o que é mais provável na conjuntura atual (tomando por base as pesquisas eleitorais). Quem sabe nos próximos dias eles não colocam as idéias de Marina, claro, aquelas idéias da versão 10.8? Mas tem que publicar rápido, antes que saia a versão 10.9, a versão 11.0…

  2. Dilma vai precisar enfrentar o PiG…

    … que vai exigir “austeridade”, isto é, corte de gastos sociais e superaviti para pagar banqueiros.

    Mesmo perdendo as eleições,  o PiG vai tentar, como sempre faz, pautar o governo.

  3. Se a Dilma ganhar

    eu espero que ela batalhe incessantemente para fazer a reforma política e a lei do marco regulatório da imprensa. Na minha opinião essas são as medidas mais importantes que ela deve realizar. Mesmo que não consiga fazer a lei do marco regulatório da imprensa, ela tem que encontrar um meio de se comunicar com povo, pois o PIG vai continuar manipulando o povo. Eu como faço parte do povo, tenho o direito de receber noticias verdadeiras e não as noticias manipuladas pelo PIG. 

  4. DILMA – NOVA

    Prezados, se Dilma ganhar, para que possamos sair desse gargalo econômica tem que jogar o modelo de governo de Dilma velha no luxo, e começar um governo novo com visão mais moderna.

      1. EXPLICA

        Prezado Edoar, cito alguns exemplos, menor interferência no câmbio, enxugamento da máquina, mais privatizações, menos interferência do governo na economia, e normas claras no setor de regulação.

    1. Sei muito bem o que significa:

      “um governo novo com visão mais moderna.”

      Significa o retorno de um governo neoliberal, onde impera o Estado mínimo para o povo e o Estado máximo para a cambada da elite que sempre ganhou muito dinheiro com a miséria do povo. 

       

    2. Sei muito bem o que significa:

      “um governo novo com visão mais moderna.”

      Significa o retorno de um governo neoliberal, onde impera o Estado mínimo para o povo e o Estado máximo para a cambada da elite que sempre ganhou muito dinheiro com a miséria do povo. 

       

      1. OU MUDA OU PATINA

        Franbeze, sejamos racionais, por favor esqueça essa visão embaçada de socialista x neoliberal, ou Dilma muda a forma de governar ou colherá índice negativos até seu ultimo dia de seu possível governo.

  5. ….livre pensar …..( millor )

    Prezados

    Se nosso proximo presidente for Dilma  estaremos  na bancarrota.

    Ninguem acredita mais nessa politica intervencionista do PT.

    Só existiram investimentos para a massa de manobra.

    Ou seja, qualquer  empresário chimes  vai inundar o mercado brasileiro de bugigangas.

    Os Bancos estarão rindo de orelha a orelha.

    Os financiadores do PT então receberão  financiamentos  sem juros.

    Quem viver verá.

    1. acredito que essa nova

      acredito que essa nova geração só entenderá da importância de Luka voltar em 2018 se o país  ficar de igual a pior do que nos tempos de FHC.

    2. Essa conversa mole

      é repetida desde a primeira eleição do Lula.

      Simplesmente é uma mentira que não cola mais.

      Será que os reaças são tão obtusos a ponto de não perceber nem isso?

      Tudo indica que sim, mas convenhamos, é uma boçalidade impressionante.

      1. ..inocentes uteis para alguem……

        Prezaso Rui

        A  historia não se repete.

        Lula fez direitinho o que o neo-liberalismo comandou.

        Agopra é diferente.

        O Brasil esta com economia desequilibrada.

        Não é cenario externo que provoca o mercado interno.

        Mesmo para se instalar uma republica bolivariana o  Brasil precisa de livrar  desses economistas de nmeia tigela que o PT tem.

        Idealismo não enche barriga de ninguem.

        Brasil tem esquerdistas  da boca para fora. Faça uma auto-analise.

        Esquerdista que vai pro Sirio se tratar não tem conteudo para liderar uma revolução popular.

        Ou seja.continuaremos a ser uma economia de comodities e amarrada pela  falta de ousadia .

        PT não tem força intelectual para se manter.

        Tem outro tipo de força: : coação, receptação e cumpadrio.

        Isso só da certo se a economia estiver  em linha. O que não é o momento atual.

        Abra os olhos.

         

  6. O Brasil precisa de um “Haddad” no comando da economia

    E esse nome é Márcio Pochmann, para voltar a pensar o país, como se pensou entre 1930/40 a 1980/90

    1. Cruz credo, Ave Maria.
      1987 – 1990Mestrado em Economia. 
      Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
      Título: O CARATER SOCIO-ECONOMICO DO SISTEMA SOVIETICO, Ano de Obtenção: 1990.
      Orientador: ELEUTERIO FERNANDO DA SILVA PRADO. 
      Palavras-chave: Comunismo; Marxismo Sovietico; Uniao Sovietica.
      Grande área: Ciências Sociais Aplicadas / Área: Economia / Subárea: Teoria Econômica / Especialidade: Sistemas Econômicos.
       Logo depois a União Soviética implodiria….. https://uspdigital.usp.br/tycho/CurriculoLattesMostrar?codpub=47A1A7EE7274 

      1. Vc estah neurotico com a

        Vc estah neurotico com a sanha anti-comunista hein.

        Que tese vc esperaria: ” Efeitos da catarse sobre o empedimento da adocao de politicas liberais para salvar o Deus Mercado de um mundo dominado pela patuleia”?

        Possiveis candidatos:

        Armino Fraga, Mauricio Rands, Alexander Shwartiziziziziziziziz alguma coisa, et caverna.

        1. A corrupção nos governos do PT

          Os amigos estão preocupados com o Pib, valorização do real, novo ministro da fazenda, mas como fica o Petrolão, como fica a Saúde Pública, a segurança, a infraestrutura. Pior o PT sonha com o arcaico bolivarianismo de Hugo chaves.

          Tem muito mais, mas fico por aqui.

  7. Eu espero que a Dilma

    baixe os juros dos bancos públicos para um dígito logo no começo do mandato. Fazendo isso os bancos privados vão ter que baixar também.

  8. dilma pode mudar muita

    dilma pode mudar muita coisa

    e até  o ministro da fazenda,

    mas certamente não mudará a

    política que deu certo nestes últimos doze anos,

    um processo indubitável

    de inclusão social

    que nenhum país do mundo

    conseguiu realizar com tanta eficiencia

    – vide os países europeus,

    onde o desemprego é altíssimo

    e a economia está devagar,

    quase parando, senão em total recessão.

    na espanha, li ontem, não são mais

    50 por cento, são 60 por cento dos jovens

    que não conseguem arranjar emprego.

    e a equipe economica de marina

    quer importar esse caos europeu, é mole?

    assim, descaradamente.

  9. Por incrível que pareça

    As propostas mais inovadoras vem da candidata à reeleição.

    É um aparente paradoxo.

    Só entende quem conhece os interesses que se escondem por trás dos candidatos oposicionistas.

    Tanto a candidata da situação quanto os candidatos de oposição representam mudanças.

    Só que a candidata da situação apresenta mudanças para avançar e a oposição aponta apenas para o retrocesso.

  10. Empresário na Fazenda?

    Considero uma má ideia pôr um empresário na Fazenda. A grande burguesia brasileira está finaceirizada, já não distingue muito bem o que é lucro e o que é renda. Por este caminho, as curvas da produção e das finanças continuariam a se afastar. E eis o mal maior a combater se se quiser seguir pelo caminho do desenvolvimento sustentado! 

  11. Bom sinal, reconheceu o fracasso da …

    … política econômica dos últimos 4 anos. Se esse Equipe econômica não fosse tão absurdamente desastrosa, até acho que ela não correira risco de não se reeleger.

        Manter o que claramente fracassou (Economia e gestão Petrobrás/energia, no mínimo) é garantir transferência massiva de votos do Aécio p/Marina (o que acho que ocorrerá, independentemente dos acordos de segundo turno).

         O problema dos eleitores não petistas do Lula com a Dilma é a economia, e principalmente isso (embora eu perceba um certo desgaste após 12 anos). O que vocês chamam de “tucanos” jamais interessou, mera visão paulista do cenário nacional, eles são minoria e não iriam votar na Dilma de jeito nenhum (como não votaram em 2010). Quem está inflando a Marina é parte do eleitorado do Lula que desgarrou. E na maioria não são “tucanos”, iludidos ou imbecis, pelo contrário, é gente com o maior nível de escolaridade, com a mesma opinião que o Nassif, por exemplo, mas que diversamente dele não acredita mais que a Dilma possa se reinventar.

         Se o governo indicasse as mudanças possíveis na condução econômica, já seria um tremendo progresso.

         De resto, acho impressionante o pessoal daqui dar a reeleição como absolutamente certa. No horário eleitoral é só ela que aparece. No segundo turno vai ser bombardeada o tempo todo. Não acho essa eleição resolvida de jeito nenhum. Turma governista aqui do blog mostrando um otimismo que nem em 2006 eu vi.

         Outra coisa, apontar as inconsistências gigantescas do Aécio e da Marina é do jogo (até porque elas existem), mas achar que os únicos problemas do atual governo são a falta de comunicação e a oposição da mídia é estarrecedor. Total desconexão com a realidade. O atual governo tem problemas de gestão gravíssimos, só não vê quem não quer.

         Achar a essa altura que não haverá segundo turno tem contornos de piada, tem que ser muito sem noção…

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