Projetos criam material didático para aulas sobre a ditadura militar

Sugerido por Tamára Baranov

Do O Globo
 
Histórias da ditadura que escola não contava
 
Projetos criam acervo e material didático para enriquecer aulas sobre os anos de chumbo
 
Evandro Éboli

BRASÍLIA – As lições sobre a ditadura militar nas escolas de educação básica não estão mais restritas a simples descrição cronológica ou burocrática do período. Iniciativas do governo e de pesquisadores estão colocando à disposição de professores e estudantes material didático mais próximo do que ocorreu nos porões da ditadura, como relatos de perseguidos políticos, detalhamentos de tortura, ação da censura e documentos produzidos pelos serviços de informações da época.

Na UFRJ, por exemplo, foram criados o Núcleo de Pesquisa, História e Ensino das Ditaduras e o projeto Marcas da Memória, com produção de material pedagógico e organização de oficinas para ministrar o conteúdo.

Do lado do governo, a Comissão de Anistia e a Secretaria de Direitos Humanos disponibilizam e distribuem seu acervo, como série de depoimentos de ex-perseguidos políticos e filmes. Num dos materiais da comissão — o livreto “Liberdades democráticas” — há capítulos com “o que foi a ditadura militar”, como agia e resumos de biografias de Lamarca, Marighella e Frei Tito, com dicas de livros e filmes.

As historiadoras da UFRJ não dizem que os atuais livros didáticos omitem a ditadura e suas mazelas, mas os criticam por apresentar o material de maneira cronológica e sem profundidade.

— Os novos livros abordam o tema, mas não têm visão global da ditadura. Os temas não dialogam entre si. Parece que não é um governo só, que são vários e sucessivos, quando se sabe que foram 21 anos de ditadura. E a luta armada sempre entra num quadrinho a parte, como se não tivesse relação. O que constatamos até agora é que há uma sede dos professores por material didático sobre o assunto — diz a pesquisadora Samantha Quadrat, que participa dos projetos da UFRJ.

Livros tratam período de forma pouco analítica

A historiadora Alessandra Carvalho, do Colégio de Aplicação da UFRJ, diz que os livros de História dão bom espaço para o período dos governos militares, mas sempre numa perspectiva mais descritiva do que analítica.

— Aparece assim: primeiro veio o governo Castelo Branco, depois o AI-1, o AI-2 e por aí vai. Até aparece a luta armada e o pós-AI-5, mas numa ordem cronológica direta, o que fica extenso para o aluno e difícil de perceber o eixo de explicação que organize essa cronologia. O ideal seria relacionar passado e presente. Houve uma Lei de Anistia, referendada pelo STF, mas contestada, a defesa de punição para torturadores, os julgamentos na Comissão de Anistia. Agora, a Comissão da Verdade. Tem muito mais a ser contado — disse Alessandra Carvalho.

Samantha Quadrat e Alessandra Carvalho vão ministrar uma oficina neste mês num seminário sobre o ensino da ditadura nas escolas. No material didático que apresentarão aos professores estão, entre outros, um cartaz distribuído pelos órgãos da repressão e informação sobre perseguidos políticos e cartas enviadas por cidadãos brasileiros à Divisão de Censura de Diversões Públicas, muitas endereçadas diretamente ao presidente Ernesto Geisel, sobre os mais variados assuntos. As autoridades do governo respondiam.

Nesse seminário será apresentado ainda um livro para subsidiar professores — “O Ensino da Ditadura Militar Nas Escolas: problemas e propostas de trabalho”. As pesquisadoras responsáveis por esse projeto também dão atenção a história oral da ditadura e já colheram 44 entrevistas de ex-perseguidos políticos e de parentes de vítimas e desaparecidos pelos agentes do Estado.

Esses vídeos e áudios estarão disponíveis no acervo da universidade e na Comissão de Anistia. E serão disponibilizados para professores e estudantes. As organizadoras são as pesquisadoras Maria Paula Araújo, Desirree dos Reis Santos e Izabel Pimentel. A Comissão de Anistia encomenda projetos para universidades, como o “Marcas da Memória”.

— É uma temática sensível, mas questões de direitos humanos chamam a atenção dos jovens. Diante de temas como a tortura e outras violações daquela época ninguém fica passivo — contou Izabel Pimenta, pesquisadora da UFF.

O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, promove, na sua gestão, essas iniciativas de levar o conteúdo sobre o regime militar aos estudantes.

— Penso que o ensino da História deve se apropriar da memória conquistada nestes 25 anos de democracia e refletirem sobre os efeitos do autoritarismo nesta véspera dos 50 anos do golpe — disse Abrão.

 

Redação

21 Comentários

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  1. currículos

    Esperemos que a nova orientação historiográfica sobre os eventos que redundaram no golpe militar de 1964 se reflita no currículo de História dos colégios militares.

     

    1. Quer dizer que é a

      Quer dizer que é a esquerdolandia que vai escrever os curriculos das escolas militares? E porque os militares tem que pensar igual a esquerdolandia? O curriculo que ALGUEM vai reescrever é uma visão desse alguem, porque deve ser

      a mesma dos militares?  O Exercito tem 400 anos e fez o Brasil, não foi a esquerda.

      É muita pretensão querer ensinar os militares como devem conduzir seus cursos.

      1. Num regime de força, as armas

        Num regime de força, as armas mandam e ditam os currículos.

        Na democracia, o povo manda (diretamente ou por seus representantes eleitos) e as armas obedecem.

        1. O “representantes do povo” ,

          O “representantes do povo” , agora tem uma turma em Nova York passeando às suas custas desde a semana passada,

          mandam até certo ponto. Não mandam alem desse ponto e os goernos apos 1985 tem respeitado isso.

          Não são os governos que escolhem os generais para promoção ou deslocam tropas no territorio nacional,

          os militares continuam pela atual Constituição sendo garantidores das instituições. Se um Presidente maluco (sempre tem algum louco pretendendo ser Presidente) mandar fechar o Congresso, as Forças Armadas podem constitucionalmente intervir.

      2. Não me leve a mal, mas…

        Não me leve a mal, mas… Saia de fininho e vá estudar um pouco. Liberte-se dos parâmetros doutrinários da  Coleção Marechal Trompowsky. Acredite: tentaram comigo também. Mas só tentaram… A propósito: Selva! Brasil acima de tudo!

  2. Logo chegará um tempo em que

    Logo chegará um tempo em que nada ou qause nada será dito ou lembrado dessa ursupação de poder, típica de república de bananas, que nos atingiu em abril de 1964. Vai de retro!

    1. O Brasil só teve um regime

      O Brasil só teve um regime legitimo de berço, o Imperial de 1822. Os demais foram resultantes de movimentos, revoltas ou revoluções, não foi 1964 o primeiro.

      1.A Republica foi um golpe de Estado dado pelo Exercito contra a Monarquia.

      2.A Revolução de 1930 foi uma revolta contra o resultada das eleições legais, formado por tenentes sob chefia de um civil

      e que governou SEM CONSTITUIÇÃO até 1934, com o titulo de “”Governo Provisorio”.

      3.O Estado Novo de 1937 derrubou o regime constitucional de 1934 e implantou uma ditadura absoluta, com fechamento do Congresso e perda de independencia do Judiciario.

      4.O Estado Novo e sua constituição autoritaria ( “a polaca”) foram derrubados por um golpe militar em outubro de 1945.

      5.O regimes constitucional de 1946 teve um Presidente legal (Carlos Luz) derrubado por golpe militar de 11 de Novembro.

      Então não vem com essa que 1964 implantou republica de bananas, algo que o Brasil nuncafoi e tampou o sistema politico brasileira era um cristal nunca trincado.

  3. Desde que contem os pontos

    Desde que contem os pontos negativos, repressão, prisões. E que contem os pontos positivos do Governo militar

    1.Construção de Itaipu, Sobradinho, Tucurui e mais 30 grandes usinas que equivalem a METADE da energia hidroeletrica que o Brasil consome.

    2.Descoberta, engenharia e inicio de exploração maritima de petroleo pela Petrobras.

    3.EMBRAPA

    4.EMBRAER

    5.Metrôs de São Paulo e Rio

    6. As mellhores Rodovias do Pais, Bandeirantes e Imigrantes

    7. Oito das 11 grandes refinarias de petroleo do Pais.

    8.Implantação da petroquimica no Brasil.

    9.Implantação da industria de bens de capital no Pais.

    10.Construção de todos os aeroportos internacionais do Brasil.

    11.Ponte Rio Niteroi.

    12.Criação do Banco Central

    13.Criação do Fundo de Garantia

    14.Criação do Programa PRO ALCOOL, o primeiro do mundo em energia biomassa para veiculos.

    15.Expansão politica e economica do Brasil na Africa em 1975 cm o reconhecimento em primeiro lugar do governo de Angola, entrada das empreiteiras brasileiras na Africa e no Oriente Medio..

    16.Industria belica, AVIBRAS (misseis), ENGESA (tanques) emais 50 outras.

    17.Gasoduto Brasil-Bolivia

    18.Sistema Nacional Integrado de Telecomunicações, TELEBRAS, EMBRATEL e DDD em todo o Pais.

    19.Programa Nuclear Brasil-Alemanha e usinas Angra I e II.

    20.Industria naval brasileira, estaleiros Ishikawajima, Verolme,  desativada pós-1985.

     

     

    1. Amigo a lista é boa mas vc

      Amigo a lista é boa mas vc comoteu alguns erros.

       

      9- Foi JK.

      15 – O Brasil tomou inúmeros calotes. O Brasil, não as empreiteiras. Foram pra lá atrás de obras pq o Brasil já tinha quebrado. Não era interesse do Brasil e sim das construtoras. Não havia plano. Nada.

      17 – Foi FHC por solicitação da BP.

      19- Angra 1 é da Westinghouse e veio cheia de defeitos. Depois…por causa disso, do acordo com os americanos, encerrou-se a pesquisa nuclear no Brasil. A UFMG por exemplo tinha um projeto de reator de tório. Hoje existem diversos protótipos semelhantes no mundo…apenas HOJE.

       

      Por fim, ficaram tanto tempoq ue o modelo se esgotou.

      Neste meio tempo…

      Não organizaram o país politicamente nem economicamente. O BC por exemplo existia só no papel. Quem controlava a moeda era o BB. A parte fiscal era uma piada de mal gosto. Caixa único. etc..

      Enfim, não fizeram reformas básicas de gestão…que poderiam ter feito com FACILIDADE pois era uma DITADURA.

       

      Por fim, construir ponte enquanto o povo não tem escola…não tem hospital é fácil. Eu quero ver é construir pagando tudo.

       

      1. 1-JK impnatou a industria

        1-JK impnatou a industria automobilistica, a de bens de capital foi o Presidente Geisel pelo II PND, foi nesse periodo que vieram a Siemens transferindo para o Brasila sua fabricação mundial de hidrogeradores por causa de Itaipu, Sobradinho, Tucurui, Rosana, tambem a Voith com sua fabricação de maquinas para papel e a Schuler com fabricação de grandes prensas, tudo isso foi no Governo Militar..

        2.As empreiteiras só levaram calote quando a guerra Irã Iraque, não antes, a Mendes Jr. era paga com petroleo que o Iraque abastecia o Brasil, quase todo petroleo consumido no Brasil vinha do Iraque, a Mendes tambem tinha obras na mauretania, a Odebrecht entrou em Angola nessa época e não levou calote, ao contrario, é a maior empresa privada de Angola. Quando ocorreu o calote na Mendes no Iraque já era o Governo Sarney.

        Hoje é diferente, as empreiteiras tem obras por todo o mundo mas quem banca o risco é o governo brasileiro através do BNDES que vai ficar com o calote na conta do contribuinte brasileiro.

        3-O gás boliviano é criação dos brasileiros, foi Alberto Soares Sampaio quem iniciou os trabalhos, Os dois maiores campos eram da Petrobras (Evo Morales estatizou), San Alberto e San Antonio, os campos da Pan American Energy, sociedade entre os irmãos Bulgheroni, reis do gás na Argentina e a BP eram o 3º campo em reserva, o Gasbol transporta ´petroleo dos campos da Petrobras. Alejandro Bulgheroni esteve em Brasilia no começo de 2003 propondo ao Governo brasileiro um novo gasoduto com o nome de Corredor Bioceanico com pontas em Iquique no Chile e em Santos. A apresentação do projeto foi feita no Palacio do Planalto à então Ministra de Minas e Energia Dilma Roussef na presença do então Chefe da Casa Civil Jose Dirceu. Mas o projeto não andou. Depois a BP vendeu a sua parte na Pan American para os chineses.

         

        https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-jogo-do-gas-boliviano

  4. estranho nao conseguido

    estranho nao conseguido creditar os comentarios do Motta…

    De qualquer forma essa galera que fala mal de ditadura é uma piada mesmo

    A maioria deles ( vejam só ) apoia o regime cubano…rs

     

    1. Jango foi eleito

      Jango foi eleito vice-presidente com maioria dos votos. Os militares reescreveram as regras por ‘mimimi’ e colocaram o parlamentarismo, ou seja, o golpe já começou em 1960. Já começaram errado. Aí a população votou em presidencialismo no Plebiscito, votando em Jango para presidente DIRETAMENTE. Aí os militares não aguentaram a pressão e deram outro golpe. Mas o pior não foi isso.

       

      Pessoas ficaram loucas por causa de tortura. Quem defende isso é sadista do pior calibre.

  5. Adorei. Acho que o pessoal

    Adorei.

     

    Acho que o pessoal ainda tem uma visão romântica do que é a educação no Brasil.

    Eles imaginam grandes textos, debates. rsrsrs gezuis oooo gente sem noção.

     

    Amigo, não é só a abordagem da ditadura que é superficial. Tudo é superficial.

    É decoreba.É isso aí e acabou. Decoreba e pronto.

     

     

  6. O grande irmão zela por ti…

    e teus filhos… serão todos doutrinados e abduzidos pelos esquerdopatas.

    A ditadura militar destruiu a liberdade, embora numa escala muito menor que a pretendida pelos seus adversários da luta armada.

    Se os militares mataram 400, um regime chefiado pelos Marighelas da vida, mantendo alguma proporção com os resultados verificados nos países nos quais venceram, mataria pelo menos 1.000 vezes mais. Em Cuba só as execuções oficiais somam 17.000 assassinados. Mais do dobro per capita dos Videlas…

     

  7. > Num dos materiais da

    > Num dos materiais da comissão — o livreto “Liberdades democráticas” — há capítulos com “o que foi a ditadura militar”, como agia e resumos de biografias de Lamarca, Marighella e Frei Tito, com dicas de livros e filmes.

    Tem resumo da biografia do Ulysses Guimarães, não?

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