Reportagem sobre Dirceu na Papuda repete método de julgamento da AP 470

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A reportagem de capa publicada pela Veja sobre a vida de José Dirceu na Papuda expõe uma imprensa que passou a recorrer a entrevistas em off, sem nenhuma preocupação em alicerçar-se em fatos.

A repercussão foi grande, por ser a revista de maior circulação do país. Entretanto, muitos veículos que hoje divulgaram colunas criticando, não notaram que um dia já cometeram o mesmo: a reportagem repete uma história vivida pela própria Justiça brasileira, no julgamento da Ação Penal 470.

Há três exemplos.

O primeiro, e mais objetivo, é o material de provas, que não ultrapassou declarações de delatores, envolvidos e demais testemunhos.

O segundo é como a Justiça, mais especificamente o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, vale-se de uma reportagem divulgada pela Folha de S. Paulo, exclusivamente declaratória – afirmando que José Dirceu usou o telefone celular de dentro do presídio. De nada adiantou a direção e funcionários da Papuda negarem o ocorrido e não se encontrar nenhuma prova, consultando o sistema de controle interno.

O terceiro, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal – ocorreu no início da prisão dos réus da AP 470.

Sob o zelo do Ministério Público do Distrito Federal, no dia 28 de novembro de 2013, a VEP identificou que era necessário tratamento isonômico a todos os presos. Uma inspeção foi realizada nos dias 25 e 26 de novembro. A conclusão dos magistrados da Vara foi:

“Essa quebra [de isonomia] encontraria justificativa apenas se fosse possível aceitar a existência de dois grupos de seres humanos: um digno de sofrer e passar por todas as agruras do cárcere e, outro, o qual dever ser preservados de tais efeitos negativos, o que, evidentemente, não é legítimo admitir”.

Em outras palavras, não é legítimo admitir dois “grupos de seres humanos”, sendo que todos devem passar pelas mesmas condições: sejam elas de um eficiente sistema carcerário, sejam de precárias condições. Neste caso, como as prisões brasileiras encontram-se na segunda descrição, os magistrados da VEP defendem que todos devam passar pelas “agruras do cárcere”. Legítimo papel justiceiro.

Em novembro, a citação do magistrado não ganhou tamanha repercussão.

Apenas em somatória, tem-se o último depoimento de Joaquim Barbosa, confessando que manipulou as penas do julgamento para conseguir maiores condenações.

***

Depois de tais exemplos de como a Justiça vem atuando no julgamento e execução da  Ação Penal, não é de se surpreender que o veículo publique a reportagem.

E, assim, repete-se o denominado efeito Sheherazade na revista: “No banheiro, em vez da latrina encravada no chão, que os detentos chamam de ‘boi’, há um civilizado vaso sanitário”; “Dentro da cela, já foram recolhidos restos de lanche do McDonald’s”, entre outras declarações.

Com manipulação, supostas verdades, relatos.

Também não será surpresa o Ministério Público do Distrito Federal utilizar a matéria da Veja para denunciar e solicitar transferência para um presídio federal.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. COVARDES e CANALHAS

    Nesta história só covardes e canalhas: a Veja, com essa perseguição, demonstra que sua editoria sofre de covarde obsessão compulsiva;  Promotor e Juiz da VEP, por acreditarem em reportagens sem pé nem cabeça, são de uma canalhice sem medida.

    Quando começar a aparecer jornalista com as fuças quebradas, vão sair por aí falando em falta de liberdade de imprensa.

  2. Provocação mesmo; querem que

    Provocação mesmo; querem que o PT cometa um erro; pq acerto eles não conseguem produzir há muito tempo. Para derrubar o PT, só se o PT errar.

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