Trecho exclusivo de “Em Busca de Iara” revela intensidade do amor de Lamarca

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A moça da imagem ao lado é Iara Iavelberg, mais uma vítima da ação sem escrúpulos das forças de repressão sustentadas pelo regime militar (1964-1985).

A jovem morreu em 1971, aos 28 anos, caçada por ser militante da extrema esquerda e mulher do guerrilheiro Carlos Lamarca, um dos ícones da revolução socialista armada contra a ditadura militar.

Longe de ser apenas mais um rostinho bonito, Iara foi mentora política de Lamarca, até então um desertor do Exército brasileiro e dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária. Membro de família judia, a jovem deixou para trás a vida afortunada, o curso na USP e até mesmo um casamento celado aos 16 anos para acompanhar o guerrilheiro nas ações contra o regime ditatorial. Ele morreu pouco tempo depois da emboscada que tirou a vida de Iara.

“A morte de Iara afetou muito a vida da minha família. Os meus dois tios, irmãos mais novos dela, também entraram para a luta armada, mas em determinado momento, quando o cerco começou a fechar, eles saíram do País. Minha avó nunca se recuperou dessa perda. Minha mãe estava grávida de mim quando recebeu a notícia da morte da irmã pelo rádio. É uma história muito dolorida”, relata Mariana Pamplona.

Mariana é sobrinha de Iara, produtora e roteirista do documentário Em Busca de Iara, que conta a trajetória da militante a partir da exumação de seu corpo, em 2003. A produtora Kinoscópio enviou ao Jornal GGN trechos exclusivos da obra que estreou no circuito nacional no dia 27 de março.

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Formada em Filosofia, Mariana decidiu mergulhar na história de Iara percorrendo os indícios de que a morte da militante não foi um suicídio, ao contrário do que sustenta o Estado. Esse é o fio condutor do documentário.

Há cenas da exumação do corpo de Iara, conquistada pós anos de luta no Judiciário. A jovem foi enterrada na ala suicida do Cemitério Israelita de São Paulo – o que, segundo a família, é uma afronta, pois Iara pode ter sido executada. O laudo médico recente produzido pelo médico Daniel Munhoz, da USP, aponta que a jovem não disparou um tiro contra o próprio peito. 

“Não é um filme ‘biography’ comum. É um filme de investigação, em que tentamos desconstruir a versão oficial [da morte de Iara] e construir uma nova para os fatos. Tudo isso com depoimentos, imagens de arquivos e documentos”, pontua Mariana.

Segundo Mariana, a família teve acesso, nos últimos anos, a documentos que estavam guardados em Brasília, em sigilo. “Havia detalhes de como o cerco [em um prédio em Salvador, onde Iara se escondia, distante de Lamarca foi montando. Quantos homens tinham, qual o posicionamento de casa um. A gente pôde entender a fundo como o cerco aconteceu”, revela.

O amor e a guerra

No documentário, os depoimentos de amigos e as cartas que Lamarca escrevia para Iara emocionam por evidenciar a intensidade do relacionamento de ambos os simbolos da resistência. O casal fez a última viagem juntos rumo à Bahia. Ele se estabeleceu em um esconderijo no interior do Estado e ela, em Salvador. Quando Iara morreu, seu corpo ficou trancado em uma gaveta de necrotério, utilizado como isca para o namorado. A família só soube da morte de Iara quando, enfim, Lamarca, foi morto pela Ditadura. 

Outras histórias

A morte de Iara é um episódio relacionado à crueldade praticada também contra Nilda Cunha. A adolescente abrigou a mulher de Lamarca em Salvador e, quando da morte da militante, foi presa e torturada de forma violenta. Diz a história que Nilda foi obrigada a tocar em Iara morta. Saiu da prisão, mas morreu pouco tempo depois.

“Temos depoimentos de Leônia, irmã da Nilda. É um momento forte, emotivo. O caso é outro que está para ser revisto. Quando ela foi solta, em pouquíssimo tempo depois ela ficou cega e morreu. Suspeita-se que foi envenenada, estuprada, e isso deve ser investigado”, sustenta Mariana.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  1. Emoção pura! Ainda mais pelas

    Emoção pura! Ainda mais pelas minhas lembranças da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras que frequentei em 1962, Muito a lamentar desta jovem e promissora elite emasculada por gorilas armados.

  2. Infelizmente demorou muito a

    Infelizmente demorou muito a morrer, ela e o canalha, rato e traidor covarde do Lamarca. Antes disso fizeram muitas vítimas inocentes, terroristas imundos.

  3. Vejo alguns jovens dizendo coisas absurdas e desrespeitosas sobre os guerrilheiros mortos, vivi minha juventude no período e preciso dizer,vocês romantizam a Ditadura demais, fomos torturados,desrespeitados, tivemos liberdades cerceadas e fomos seviciados. Devemos levantar as mãos para agradecer a esses jovens que deram sua vida pela liberdade que temos hoje.Terroristas foram os militares que nos subjugavam e nos tratavam como animais.

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