Os ‘clubes de cavalheiros’ e a organização dos negócios mundiais, por Motta Araujo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

CLUBES FECHADOS – Uma tradição britânica que no século XIX se espalhou para as grandes cidades, os “clubes de cavalheiros” são locais onde se realizam reuniões de negócios sob reserva e discrição que não existem em restaurantes ou hotéis, locais protegidos, sossegados, não são clubes sociais ou recreativos, são para conversas sérias.

O METROPOLITAN CLUB de Nova York é um exemplo. Fundado no fim do Século XIX por nomes da sociedade novaiorquina como Morgan, Vanerbilt, Roosevelt, Whitney, Goelet,  seu primeiro presidente foi o banqueiro J.P.Morgan.

Os clubes de homens de negócios passam a ser instituições fundamentais para os acordos, cartéis, fusões, combinações e estruturação de frentes políticas comuns de empresários sobre determinados assuntos de interesse.

São Paulo teve dois desses clubes, o São Paulo Club, na antiga e majestosa residência de dona Veridiana Prado na Av. Higienópolis e o Nacional Club, antiga casa do banqueiro Orizimbo Roxo Loureiro, na rua Angatuba, no Pacaembu.

O totem desses clubes eram sua vedação ao público, a curiosos, só entram sócios, serviços de bar impecáveis, poltronas confortáveis, ambiente tranquilo, jornalistas não entram. A necessidade desses locus se propagou pela Europa continental e pelos EUA, equivale no capitalismo aos bares da esquerda, que têm no Cafe de Flore em Paris seu modelo.

São uma espécie de catedrais do capitalismo onde se rezam suas missas solenes. Hoje esses clubes diminuíram sua importância mas alguns ainda são emblemáticos, como o Bohemian de San Francisco, o Brown´s de Londres, o Circolo della Caccia de Roma, o Metropolitan de NY.  Sua utilidade foi notória, lugares de ideias e causas conservadoras.

Hoje os interesses estão mais difusos, o mundo é mais caótico, o capitalismo mais selvagem, os cavalheiros são escassos, os clubes são civilizados demais para o mundo desarrumado em que hoje vivemos.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Nos tempos do governo militar

    Nos tempos do governo militar os Ministros da area economica tinham de forma permanente conversas com dirigentes empresariais no Nacional Club e no São Paulo Club, em almoços para 15 a 20 participantes, o Ministro Mario Simonsen

    fazia otimas apresentações, depois havia um bate bola de perguntas e respostas. Temas importantes eram discutidos, havia uma comunicação proficua entre governo e empresarios de onde muitas boas ideias sairam.

    1. Boas para quem?

      André, “Temas importantes eram discutidos, havia uma comunicação proficua entre governo e empresarios de onde muitas boas ideias sairam.” Ideias boas para quem?

      1. Boas para a economia, tanto

        Boas para a economia, tanto que as taxas de crescimento do PIB foram altas na maioria dos anos desse periodo, em 1973 chegou a 11,3%.

  2. Um outro clube maior

    Você poderia dar seu pitaco pessoal sobre um clube famoso, mas um pouco maior, que ainda está funcionando a pleno vapor, o Clube de Bilderberg. 

    Aqui Wikipédia: a conferência de Bilderberg, também chamado grupo ou clube de Bilderberg, é um encontro, geralmente anual, não oficial, do qual participam, no máximo, 150 convidados, escolhidos entre personalidades influentes no mundo empresarial, acadêmico, midiático ou político. Segundo o site oficial da organização, a conferência é um fórum de discussão informal acerca de grandes tendências e questões mundiais. Os encontros ocorrem sob a regra de Chathan House, isto é, os participantes são livres para usar as informações recebidas durante a reunião mas não podem revelar a identidade ou a afiliação de quem as deu. Não existe uma agenda detalhada da reunião, nenhuma resolução é proposta, não há votações, e, após o encontro, nenhuma declaração política é divulgada.

    Quanto ao texto, gostei do arremate. Realmente o mundo está “grande” demais, os interesses estão difusos. Claro que os capitalistas atuais ainda sabe ganhar dinheiro, mas perderam o sentido histórico da economia. São ultra utilitaristas e perdulários, tem tendência a achar que o mérito é só deles. Uma prova disto entre muitas, é o fator da equivalência entre lucros e salários, pois a 50 anos atrás o empresário ganhava 30 ou 40 vezes mais que o chão da fábrica, hoje ele toma para si 500 vezes ou mais (no caso dos Bancos muito mais)…

    Um abraço.

  3. “Havia uma comunicação

    “Havia uma comunicação proficua entre governo e empresários de onde muitas boas idéia sairam”

    É, pode ser.  Se essas reuniões fossem registradas em atas iríamos ler muitas dessas boas idéias.

    E as mais geniais deveriam ter sido às dos Marinhos.

    O pessoal do “milenium” continua a fazer essas “profícuas truniões”. Sem atas.

    1. Deterioração

      Ao lembrar do Instituto Millenium você acaba também me lembrando, que embora os ricos de qualquer época tenham um sentido predador, antes ao menos eram mais “esclarecidos”, mais cultos… Agora com as idéias circulando em “clubinhos” do tamanho intelectual do Millenium e assemelhados é o fundo do poço…

      Agorinha mesmo a Grecia começou um movimento de futuro e consequências incertas com alta possibilidade de se espalhar. A Espanha pode ser a próxima… A novidade ao menos está fazendo a troika remexer as nádegas, pois está claro que o modelo de representação política atual não satisfaz as massas, e mudança real é o que menos rico quer… 

      Um abraço.

  4. grande artigo, só faltou


    grande artigo, só faltou chamar esse tipo de encontro de máfia do capitalismo.

    uma minoria se encontra e dita  as regras do jogo  para milhões.

    no começo do século dizem que os banqueiros se encontraram

    e decidiram toda a política economica até hoje existente,

    inclusive com a concentração bancária nos eua.

    agora na europa, essa máfia capitalista apropriou-se

    dos governos e faz o que quer.

    jamais houve tão elevado índice de desemprego como agora.

    é tamanha a crise, que nem mais é comparada a 29, é muito, muito pior.

    e a financeirização corre solta.

    no documentário inside job no you tube,

    ve-se que essa elite bandida  financeira expropriou o dinheiro

    público para manter seus “negócios” protegidos.

    e a crise persiste e essa máfia continua no poder real.

    no brasil, vinte generais e alguns civis que deram o golpe

    se reuniam para ditar a política – AI-5 – e a economia, que cresceu para poucos.

    era aquela eonomia delfínica, deixar o bolo crescer para depois distribuir.

    a pergunta – para quem? – é decisiva para contextualizar isso tudo.

     

  5. Que inveja

    Como é fácil a vida destes cavaleiros. Juntam-se para discutir uma ampla estratégia, definem as táticas com facilidade e ainda tudo isto regado a boas bebidas, canapés, e refastelados em confortáveis e amplas poltronas. Já nós proletas temos diversos sindicatos, várias centrais sindicais, onde dificilmente se avança em qualquer discussão sem divergências as mais variadas. Não raro brigas com cadeiras voando. Não precisamos das finas bebidas, canapés e boas poltronas, mas imagino o dia em que for possível discutir estratégia e adotar uma tática: as bebidas ficarão insuportavelmente amargas nestes encontros dos cavaleiros. 

  6. DESLUMBRAMENTO INFANTIL

    Sempre há um traco comum nos textos desse lavra : o deslumbramento infantil com os acepipes das altas rodas ……..

    ” Porque Fernando Henrique aprecia o vinho tal ………

    porque em tal época havia tal festa na casa de não sei quem ……..

    porque fulano mandava vir de não sei onde suas roupas íntimas …….. 

    Dessa forma , não importa que banqueiros e outros endinheirados facam suas tramóias banhados em agua de colonia em seus iates clubes ou tenis clubes ……. eles são finos . 

    Já se um bando de sindicalistas barbudos tentam fazer o mesmo em seus churrasquinhos na laje no fim de semana , aí não pode …….. são um bando de mal cheirosos. 

    Faca-me o favor ! Tá na hora de crescer !

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador