A relutância dos BCs no mundo, por Andrés Velasco

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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A relutância do Federal Reserve em assumir seu papel na economia global

Jornal GGN – Supostamente, esta deveria ser a era dos poderosos bancos centrais, prontos para exercer seu poder de fogo em todo mundo. Contudo, o mais poderoso de todos – o Federal Reserve, dos Estados Unidos – mostra-se um dos mais relutantes em reconhecer seu alcance global. A afirmação foi feita por Andrés Velasco, professor e ex-ministro da Fazenda do Chile, em artigo publicado no site Project Syndicate.

“Como em todos os Bancos Centrais, o Fed possui um mandato local, centrado na estabilidade dos preços domésticos e de emprego. Mas, diferentemente da maioria dos bancos centrais, o Fed possui responsabilidades globais. Esta tensão é a raiz de alguns dos mais ameaçadores problemas enfrentados pela economia no mundo de hoje”, diz o articulista.

A autoridade monetária norte-americana possui razões intimamente relacionadas, e nenhuma das quais está ligada à necessidade de se evitar “guerras cambiais” que preocuparam o ex-ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega.

Um primeiro ponto é que, apesar do nascimento do euro e da ascensão do renminbi (yuan) chinês, o dólar continua sendo a moeda de escolha para os empréstimos e financiamentos em todo o mundo. “Quando um banco ou corporação em Kuala Lumpur, São Paulo ou Joanesburgo toma emprestado no exterior, o empréstimo é mais provável a ser denominado em dólares do que em qualquer outra moeda”, diz Velasco. “Se os bancos locais sofrem uma corrida, ou se as empresas têm problemas para rolar sua dívida, eles precisam ser capazes de tomar emprestado de dólares do banco central local, que por sua vez pode não ter escolha a não ser obter os dólares do Fed”. Em 2007/2008, quando o Federal Reserve ingressou com contratos de swap em 14 países, incluindo quatro economias emergentes (Brasil, México, Cingapura e Coreia do Sul), ele reconheceu que é o último recurso como credor global em dólares.

Entretanto, e os representantes do Fed debatem tal ponto, não se pode esperar que isso seja feito regularmente. Em discurso de 2015, Stanley Fischer (atual vice-presidente do Fed) reconheceu que a estabilidade financeira mundial poderia ser apoiada por um banco central global, e ressaltou que o Federal Reserve não é esse banco.

Segundo Velasco, a segunda razão pela qual o Fed tem responsabilidades globais é que suas políticas afetam as condições monetárias em todo o mundo. “Há evidências crescentes de que os choques de política monetária afetam os prémios de risco, e que este canal opera internacionalmente, bem como a nível nacional, com efeitos consideráveis”. Em 2013, a mera sugestão de que o Fed poderia abrandar o ritmo do seu programa de compra de títulos desencadeou um quadro de fuga de capital e quedas nos preços dos ativos da maioria das economias emergentes.

A resposta tradicional do Fed, expressada pelo ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, é simples: a flutuação de sua moeda. “O trilema padrão da política monetária internacional afirma que os países não podem ter taxas fixas de câmbio, independência monetária e livre movimentação de capital ao mesmo tempo, mas eles podem ter dois dos três. Países que flutuam suas moedas podem ser livres para definir as taxas de juros e determinar as condições financeiras em casa, mesmo com a mobilidade substancial do capital internacional. Se eles não flutuam – porque eles têm metas para a exportação ou a taxa de câmbio real – é um problema”. O Fed, segundo a argumentação de Bernanke, não deve ser esperado para socorrer.

Contudo, tal argumentação não é totalmente convincente, conforme citou Hélène Rey, da London Business School, ao dizer que o canal “de risco” da política monetária é tão poderoso internacionalmente que a política do Fed ajuda a determinar as condições de crédito em muitos países de forma totalmente independente de seus regimes cambiais. “Quando o Fed afrouxa a política, o crédito cresce em todo o mundo, e vice-versa. Portanto, não é um trilema político, mas um dilema: restrições da conta de capital – e não taxas de câmbio apenas flexíveis – podem ser necessárias para os bancos centrais exercerem controle efetivo sobre as condições de crédito no mercado interno”.

De acordo com Velasco, a relutância do Fed para servir como credor do mundo de último recurso, ou a reconhecer que os movimentos da taxa de câmbio não podem desfazer suas ações no exterior, parece condená-la a ser uma instituição paroquial e introspectiva – o que é a última coisa que o mundo precisa, segundo o articulista.

“A história financeira recente sugere que a próxima crise de liquidez está ao virar da esquina, e que tais crises podem impor enormes custos econômicos e sociais. E em uma economia mundial em grande parte dolarizada, a única ferramenta determinada para evitar essas crises é um credor de última instância em dólares. O FMI (Fundo Monetário Internacional) poderia ter sido o credor, mas não é. O Fed é. Quanto mais cedo os EUA e o resto do mundo totalmente reconhecerem isso, mais segura a economia mundial será”, pontua o economista.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. E ……………….

    Duscutir politica econômica com viés ideologico, como fazem muitos, é dizer o mais do mesmo!!!

    Todos sabem, ou pelo menos deveriam saber que a dolarização da economia interesssou a muitos, e foram os escravidzados de hj que possibilitaram ao império capitalista sser o que é!!!!

    Se gora, surgem descontentamentos, cabem aos prejudicados buscarem novas alternativas,. Isto se tiverem competência, para sairem das garras de seus predadores, senão……………………

  2. Maravilha ser “livre”: definir as taxas de juros pelo COPOM.

    “Países que flutam suas moedas “podem ser livres” para definir as taxas de juros… ” Oh, misericórdia, ó Deus seja por nós os escravizados.

    Credor de última instância não, de primeira instância e da segunda. O FED é o dono do mundo que se esconde atrás da burrice dos economistas e governos de idiotas que aceitam o imperialismo como sistema de pagamentos, porque não dão crédito (valor) pelo valor do trabalho para o seu governo repassar ao ciclo de crescimento da propria produção.

    A resposta tradicional do Fed, expressada pelo ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, é simples: a flutuação de sua moeda. “O trilema padrão da política monetária  internacional  afirma que os países não podem ter taxas fixas de câmbio, independência monetária e livre movimentação de capital ao mesmo tempo, mas eles podem ter dois dos três. Países que flutuam suas moedas “podem ser livres para definir as taxas de juros” e determinar as condições financeiras em casa, mesmo com a mobilidade substancial do capital internacional. Se eles não flutuam – porque eles têm metas para a exportação ou a taxa de câmbio real – é um problema”. O Fed, segundo a argumentação de Bernanke, não deve ser esperado para socorrer.

    Até a nota de 1 real com o Beija-Flor que flutua entrou em extinção.

    Os americanos que abrigam em si este disparate de criar a forma social flutuante sabem que juntos com o FED e  Bancos Centrais são responsáveis pela fome e a desgraça do subdesenvolvimento do mundo todo. Mas, assim como nas guerras para roubar mais poder dos governos, eles não socorrem as suas vitimas.

    Infelizes, meros desgraçados pela perversão moral.

    Uma merda dessa ai ser considerada política monetária internacional é o maior absurdo que pode existir, para vergonha da ciência, em pleno século XXI. O sujeito ir na Tv e dizer que é formado em economia, PHD em ciência política e do diabo a quatro, é de uma estupidez incomensurável.

     

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