Câmbio: a faca de dois gumes do agronegócio

Jornal GGN – Até 2020, o Brasil deve ser o maior exportador de alimentos do mundo. As condições gerais (geografia e clima) favorecem a produção nacional. Além disso, a disponibilidade de terras oferece ao país uma possibilidade de expansão que os principais concorrentes já não dispõem.

O momento atual é de cautela e atenção ao mercado global. A noção de que o dólar em alta favorece a exportação é verdadeira, mas a depender da condição de endividamento das empresas do setor, o câmbio pode ser tanto um vilão quanto um herói.

O assunto foi tema de debate no 63º Fórum de Debates Brasilianas.org.

A concentração do agronegócio

A oferta mundial do agronegócio é muito restrita. Para se ter ideia, 86% das exportações de soja do mundo são feitas por apenas três países: Brasil, Argentina e Estados Unidos.

Isso porque há uma escassez de terras cultiváveis no mundo. A maior parte das terras do planeta, cerca de 85%, está acima da linha do Equador. E mesmo assim, o Brasil detém 1/5 das terras que ainda podem ser incorporadas ao processo produtivo do agronegócio.

Argentina e Estados Unidos já praticamente esgotaram seus potenciais de expansão. Enquanto que alguns acreditam que o Brasil pode dobrar ou até triplicar sua capacidade.

A agricultura tropical e o conteúdo nacional do agronegócio

Segundo Luiz Antonio Fayet, consultor de infraestrutura e logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a dificuldade de se dominar as cadeias produtivas do agronegócio representam uma vantagem competitiva para o Brasil. “Eu posso montar computador ou automóvel em qualquer lugar do mundo. Mas fazer agronegócio tem que ser naquele lugar, com aquelas condições intrínsecas. Há uma necessidade de domínio de uma cadeia biológica que é complexíssima. Então, essa é uma grande vantagem nossa”, disse.

Além disso, os índices de conteúdo nacional do agronegócio são os mais altos da economia brasileira. “Quando vocês pegarem um grãozinho amarelo de soja ou de milho, vocês deveriam se ajoelhar e agradecer que ele tem mais de 90% de conteúdo nacional. E só não tem 97, 98 por causa do código mineral brasileiro”, afirmou.

E explicou que o desempenho é muito superior ao de outros setores mais protegidos da economia. “Em 2012 o Sindipeças registrava um conteúdo nacional de 25% no automóvel brasileiro. Há uma diferença significativa”.

O impacto do câmbio na competitividade

Para Luiz Cornacchioni, diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), é perigosa a noção de que a disparada do dólar é boa para o setor.

“No momento atual, dependendo de onde está, você vê de um jeito diferente. Eu sou cuidadoso com o câmbio. Quando você olha o preço da commodity no faturamento, você pode achar que está correndo bem. Mas quando vai para os insumos em dólar já fica um pouco diferente a paisagem. Se tiver endividamento em dólar, então, aí fica pior ainda”, disse o executivo.

De acordo com Cornacchioni, o câmbio atual também tende a agravar a retração econômica e aumentar a resistência para reduzir a inflação.

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As consequências da crise para o setor de máquinas

Ainda segundo Luiz Cornacchioni, a cadeia de valor do agronegócio também está sentindo os impactos da crise econômica.

Ele não acredita que no momento atual o agricultor vá tomar risco e comprar maquinário novo, mas isso não quer dizer que a frota brasileira não precise ser renovada. “Nós temos muito menos colheitadeiras por hectare do que os Estados Unidos”, exemplificou.

Apenas na Agrishow, a queda de vendas registrada pela ABAG foi da ordem de 30%. “Dá R$ 700 milhões. Nós vendemos no ano passado R$ 2,7 bilhões. Esse ano vendeu pouco mais de R$ 1,9 bilhão”.

O aumento do IDH no campo

Mesmo assim, a ABAG fez um levantamento de desenvolvimento humano e social em áreas rurais, por tipo de cultura. O estudo levou em conta critérios econômicos, educacionais e de qualidade de vida. “Nós demos saltos enormes”, disse Cornacchioni. “Já estamos, nesses municípios agrícolas, muito mais próximos das áreas urbanas”.

O desenvolvimento em áreas produtoras de algodão, por exemplo, melhorou 131% entre 1970 e 2010. Em regiões de cultura de milho, a melhora foi de 73%, cana 65%, soja 64%. Em áreas não agrícolas, o Índice de Desenvolvimento Humano cresceu 57%.

Leia também: O agronegócio e o comércio mundial

Leia também: O déficit de infraestrutura e o desafio logístico do agronegócio

Redação

6 Comentários

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  1. Como sempre, achei que os

    Como sempre, achei que os especialista iriam dar uma explicação coerente do por que o câmbio ser uma faca de dois gumes para o agronegócio. Decepcionei-me mais uma vez. Alguns lugares comuns e um pouco de conversa fiada e nada de análise mais profunda. O próprio artigo diz que 90% do soja é de conteúdo nacional. Logo, a depreciação do Real só pode fazer bem aos produtores, uma vez que o custo somente crescerá em proporção semelhante à elevação da taxa de câmbio, sobre 10% do valor da safra. Quanto a endividamento em dólar, somente loucos teriam recorrido a esse tipo de indexador, com tanto crédito barato à disposição no mercado, inclusive para investimento. Os demais produtos agrícolas, se a proporção de conteúdo nacional não for igual à da soja, deve ser muito semelhante. Gostaria de ouvir mais explicações sobre o assunto, para não ficar com a impressão de ue  mais uma vez os agropecuaristas estão chorando de barriga cheia…

  2. Contradição

    Ué, se o índice de nacionalização do produto (alegadamente 90%) é alto, por que a preocupação com a alta do dólar? Será que é porque esses 10% de conteúdo estrangeiro tem um peso desproporcional no valor final do produto?

    1. Os fertilizantes tem papel

      Os fertilizantes tem papel fundamental nesse custo importado. E a estratégia de nacionaliza-los foi completamente paralisada pela Petrobras com a paralisação da construção de suas 2 novas fábricas de fertilizantes em Uberaba e Três Lagoas. Estamos jogando a estratégia de país de lado para atender ao desejo dos rentistas… 

        1. Situação financeira das empresas

          Para quem está com as contas em dia a alta é boa. É menos benéfica para produtores que dependem mais de insumos importados. E é perigosa para quem tem endividamento em dólar. 

  3. A alta do dólar é boa sim…

    Para quem produz o único problema é a venda do produto.

    Se com a alta do dólar melhorar as exportações então é bom.

    Produto encalhado é o terror para o agricultor.

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